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terça-feira, 24 de maio de 2005

Estranha, esta súbita preocupação presidencial

Não me surpreende este clima de histerismo provocado ao redor do deficit de um orçamento que vai a meio da sua execução. Era inevitável que um partido que na campanha eleitoral prometeu medidas de apoio a tudo e a todos, tenha agora de dramatizar. Cria-se o também já esperado ambiente para as medidas impopulares que já se sabia serem inevitáveis e que amanhã serão divulgadas.
Também não me surpreende o papel nesta novela desempenhado pelo Senhor Governador do Banco de Portugal. Basta recordar as suas intervenções nos primeiros dias da governação socialista, claramente no sentido de poupar às primeiras censuras o Executivo até então inerte.
Muito menos fico admirado com o bom serviço prestado pela generalidade da comunicação social que, no interesse do PS e do Governo, se tem deixado pilotar por uma eficaz e, desse ponto de vista, irrepreensível política de comunicação governamental, assim contribuindo para preparar o terreno e o clima para o que aí vem.
O que me espanta é a muita preocupação agora manifestada pelo Senhor Presidente da República para quem, até há bem pouco tempo, o combate ao deficit não era a essência da vida. Esqueceu-se, porventura, que foi ele Presidente que, após ter decidido dissolver a Assembleia da República, acabou por viabilizar este orçamento, bem sabendo que seria outro o governo que teria a responsabilidade de o executar, tendo como alternativa a bem mais lógica solução de manter a execução duodecimal do orçamento de 2004, que permitiria controlar, com algum automatismo, as eventuais derrapagens.
Mas mais: não foi o Senhor Presidente da República quem anunciou, salvo erro na posse do Governo de PSL, que seria particularmente vigilante das acções do novo Executivo para que não se inutilizasse o esforço de consolidação orçamental - e os pesados onus que implicou para os cidadãos - levado a cabo nos dois anos anteriores?
Não ficaria mal ao Senhor Presidente, se entende que é grave a situação do deficit anunciado, assumir a sua quota de responsabilidades. Pelo menos ficar-lhe-ia melhor do que esta inconsequente
súbita preocupação.

1 comentário:

crack disse...

Totalmente de acordo com o que aqui se escreve.