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quarta-feira, 6 de julho de 2005

Oscilações socráticas

A propósito da entrevista do Sr. Primeiro Ministro dada ontem à SIC, surpreendeu-me a demagogia com que comparou a pensão média dos "700 mil funcionários públicos" com a dos "4 milhões de funcionários privados", quase a roçar a mais populista desfaçatez.
O Sr. Primeiro-Ministro sabe que esta comparação não é honesta face às diferenças nas bases de incidência e de carreiras contributivas dos dois regimes. Aliás, nem se percebe a necessidade deste discurso que, se não tem por objectivo degradar a imagem do funcionalismo público, é óbvio que gera esse efeito na população menos esclarecida.
Se a preocupação - legítima, de resto - é a de afirmar que a medida é adequada e é justificada (mais do que é justa), então bastaria, sem mais, assinalar a falta de racionalidade na existência de dois sistemas de garantia de prestações em situação de reforma ou aposentação, uma vez que a convergência entre eles é pacífica mesmo entre a maioria dos funcionários, e já quase todos se convenceram da insustentabilidade financeira do actual modelo.
De muito positivo, sublinhe-se que o Primeiro-Ministro demonstrou um sentido de Estado que vai sendo raro reconhecer na classe política, quando (não) respondeu à provocação sobre a alegada intenção de substituir do Procurador Geral da República. Era só o que nos faltava que assuntos de Estado envolvendo instituições fundamentais, fossem discutidos com jornalistas no espaço entre duas telenovelas...
Quanto ao resto, em especial quanto à nova promessa de não voltar a aumentar a carga fiscal, suspeito que o Sr. Engº Sócrates majus dixit quam voluit.
A ver vamos se por esta razão não irá ser uma entrevista muito lembrada nos próximos tempos.

1 comentário:

Suzana Toscano disse...

Excelente, Ferreira d'Almeida, é necessário que se comece a exigir um mínimo de seriedade mesmo nas afirmações mais demagógicas. A comparação entre os valores médios das pensões é recorrente e sempre ocultando os seus pressupostos, o que torna um facto objectivo numa mentira intolerável. Se a convergência de pensões tem justificação bastante porque é que o próprio 1º Ministro se presta a estas mistificações? Qual o interesse em agredir quem trabalhou uma vida inteira para ter direito a uma pensão para a qual sempre descontou? É esta motivação que deve ser apontada.