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quarta-feira, 6 de julho de 2005

A parábola do fariseu

"Propôs Jesus esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, como se fossem justos, e desprezavam os outros. Subiram dois homens ao templo para orar: - um fariseu, e outro publicano. O fariseu orava de pé, e dizia assim: Graças te dou, ó meu Deus, por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros. E não ser também como é aquele publicano. Eu, por mim, jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo quanto possuo. Apartado a um canto, o publicano nem sequer ousava erguer os olhos para o céu; batia no peito, e exclamava: Meus Deus apiedai-vos de mim, pecador. Digo-vos, acrescentou Jesus, que este voltou justificado para sua casa, e o outro não, porque todo aquele que se exalta será humilhado, e todo aquele que se humilha será exaltado." (Lucas, 18:9-14).

A parábola do fariseu e do publicano tem inúmeros ensinamentos, mas se a trago a este "ponto de encontro" é porque não me ocorre nada mais ilustrativo do que me parece que tem vindo a acontecer, insensivelmente, na vida política nacional.
Não está em causa a necessidade absoluta de se imporem critérios de credibilidade ou de respeitabilidade na vida pública, como o combate à corrupção ou a exigência de condutas íntegras, nem isto se confunde com o que agora refiro.
Se repararmos com atenção no sentido de muitos discursos, mais e menos recentes, e na atitude de quem se apresenta ao eleitorado, foi-se substituindo a apresentação de ideias e a crítica leal aos opositores pelo recurso à avaliação moral.
A atitude farisaica, a soberba dos que ousam apresentar-se como detentores de uma superioridade moral que, julgam , deverá merecer só por si a admiração e o favor daqueles a quem se apresentam, tem ganho um relevo crescente no dia a dia e distorce de forma intolerável o que deveria ser um debate franco e aberto, duro ou moderado, mas sempre num plano de igualdade moral.
Os "bons" e os "maus" ocuparam o lugar dos que governam bem ou governam mal (conforme a perspectiva), o debate resvala subtilmente para o confronto entre atitudes. Não se fazem propostas de acção porque trazem mais progresso e justiça social do que outras também possíveis, mas porque se fundamentam na "consciência" e são ditadas por "imperativos morais". É um caminho perigoso e profundamente desanimador para quem ouve, porque as pessoas querem confiar em quem saiba fazer e e explicar porque decidiu e não optar entre o "justo" e o "pecador".

1 comentário:

Anónimo disse...

Boa lembrança, esta da parábola do fariseu.
Este maniqueísmo de que a comunicação social se alimenta, porque é talvez o único produto de venda garantida, e de que alguns dos nossos políticos se aproveita por questões de afirmeção pessoal é, no entanto, um discurso perigoso. Como a história recente documenta, normalmente a pregação cedo ou tarde se volta o pregador.
Mas ao fariseísmo reinante, que se exibe em cada intervenção pública dos dirigentes partidários, acresce a facilidade com que se apontam alegados culpados de violação da moral oficial.
Nestas ocasiões, lembro-me do meu avô Zé que me dizia ser de desconfiar da bondade das beatas e dos que permanentemente batem com a mão no peito...