Número total de visualizações de páginas

terça-feira, 6 de setembro de 2005

Manuais escolares

Permitam-me um desabafo, mais do que justificado depois de andar há mais de uma semana atento às notícias sobre manuais escolares. Nesta altura do ano não há jornal ou televisão que não faça a sua reportagem sobre as despesas das famílias com o material e os manuais escolares. A cena já é tão repetitiva que só os de fraca memória esquecem o que foi feito no ano anterior. Lança-se a jornalista no supermercado, passa-se o microfone pela frente dos compradores de material escolar, ouvem-se os desabafos de quem vai abrir a bolsa a mais uma despesa e conclui-se sempre pela carestia e pelo "escândalo" que é o "negócio dos manuais escolares". Outros fazem "jornalismo de investigação": tiram os preços, fazem umas médias, comparam com o ano anterior e aí está: um escândalo!
Eu só me pergunto porque não têm a mesma preocupação com o aumento dos preços dos bilhetes de futebol, do cinema ou porque não fazem contas ao consumo de revistas cor-de-rosa, aos livros cabalísticos, ao consumo de DVD's pornográficos ou ao que cada português gasta em média nas suas férias. Por favor, calculem quanto é que cada português gasta em tabaco, em whisky, ou em gasolina para acelerar nas auto-estradas. Aí não há escândalo.
Só há escândalo com o que os portugueses gastam em manuais escolares.
Mas se há alguém que vem demonstrar que os preços estão praticamente congelados desde 2003 (vá-se lá saber quem foi o doido que determinou tal aleivosia) ainda há quem responda: não me interessa, continua a ser um escândalo!
É assim que se eleva o valor social da educação.
Desabafei!

14 comentários:

josé disse...

E desabafou bem , meu caro. Agora, permita que faça umas pequenas reflexões que nem são desabafo algum.

Aqui há uns anos, sei lá, para aí uns vinte, havia uma editora a fazer coisas muito interessantes esteticamente. Livros bem feitos, bem desenhados, com capas apelativas e textos talvez úteis.

Essa editora chamava-se Asa.

Passados mais alguns anos, visitei a Porto Editora, perto da Ribeira do Porto.
Lá, os professores encartados têm direito a um certo desconto e a livros grátis, para eles.

Numa visita recente ( o ano passado) a essa editora, fiquei deveras impressionado pelo profissionalismo do negócio; pelos títulos disponíveis e a arrumação da loja. Muito bem, pensei.

Mas depois repensei: quem é que paga tudo isto e toda esta pujança?!
Alguém tem de ser...

Uma anedota, a despropósito:
Foi nessa visita que deparei num certo sector, com os livros "pedagógicos".
Meu caro djustino: talvez não valha a pena mencionar isto aqui, mas acredite que uma pequena vista de olhos por esse sector específico e a leitura manuseada de alguns livritos vale um discurso sobre o estado do nosso ensino.

Vi lá um livrito que referia até de que modo os professores devem dirigir-se aos alunos e que cores de roupa devem usar...

Tonibler disse...

Está bem desabafado, sim senhor!

Tonibler disse...

Caro josé,

Diria a Alcina Lameiras 'não negue à partida uma ciência que desconhece'. Não que esteja a insinuar que não sabe o que é o ensino, longe de mim que não percebo nada disso. Mas hoje, formação comportamental é uma vertente fundamental em todos os sectores de actividade. E eu, que sempre fui um céptico, tive que dar a mão à palmatória.
Acho increditável, por exemplo, que apareça alguém, que é suposto ser um educador, de t-shirt e calças de ganga em frente aos alunos numa sala de aula. Há um comportamento, uma postura a ter, em todas as situações de acordo com importância que todos os intervenientes têm que dar à situação. Um educador nesses preparos está a transmitir, ainda antes de abrir a boca, que aquilo tem menos importância que ir beber um café.
E esse livrinho de que fala, que não conheço, é se calhar a coisa mais importante que um professor neste país devia comprar. Porque são coisas que não custam nada e que, ao fim do dia, fazem toda a diferença.

josé disse...

pois bem, tonibler. Por causa desta conversa, fui ali à estante procurar um livrito que sei que tinha e que se chamava A psicologia do vestir,uma colectânea de pequenos textos de autores italianos ( et pour cause) editado há anos pela Assírio & Alvim. Já lá não está, e estará em boas mãos por causa de certas mudanças, mas ainda assim recordo.
Eco dizia que o hábito fala por si. É um elemento de linguagem, de semiose.
É aliás, um lugar quase comum, pois todos sabem que em certas ocasiões se veste o fato novo e noutras o fato- macaco.

Não obstante, a simples existência de uma livrito de pedagogia onde se procura dizer coisas óbvias e chãs, faz-me pensar que muitos dos professores não têm essa preparação prática a que se refere.
Tome como exemplo, o ensino universitário!
Em Direito, verá nas aulas, engravatados e saias-casaco. POucos, mas verá.
Em Medicina, já será mais raro e só nos descendentes daqueles médicos tipo Gentil.
E em Ciências e Tecnologia, nunca verá qualquer espécime de produto italiano da Ferragamo ou dos tessutos di seta.
Experimente e verá se não tenho razão.
Então, onde está o saber já antigo do Eco e de outros Alberoni?!
Passou de moda, é o que é!
COmo, aliás, eles previam...

Tonibler disse...

Pois,(desculpe lá djustino por usar o espaço para insistir no 'vestir'), mas o aspecto da pessoa e a forma como se comporta revela a importância que dá ao evento. Este tipo de detalhe devia dar despedimento imediato.
Não se trata de ser conservador ou não. Para terem uma ideia, metade do orçamento de formação da minha empresa é gasto em formação deste tipo. E também não é uma questão de moda, é uma questão de respeito.

É claro que a outra metade do orçamento de formação é gasto a ensinar aquilo pelo qual já paguei em impostos, mas isso é outra história...

Tonibler disse...

Só mais uma coisinha. Se alguém conhecer o Louçã, diga-lhe que um representante do povo não se apresenta como se tivesse acordado à 10 min com a roupa com que se deitou há duas semanas.....

josé disse...

Perdoe-me não ter ido consultar os sítios que recomendou, mas prefiro não ficar contaminado ( ainda) porque estou nesta matéria em perfeito estado virgem ( como um cd virgem está- sem informação gravada).

A vestimenta correcta para determindadas profissões pode/deve normalizar-se?
Parece que sim, a ver pelos exemplos.
Na sede da CGD, na rua do Ouro, nos anos da nacionalização(70 e 80) e do poder dos trabalhadores, sentia-se isso mesmo: empregados "á vontade", vestidos "casual".
A mim, nunca me incomodou.
Incomoda muito mais um engomadinho que me tenta impingir um "produto financeiro", com falinhas mansas e cheirinho a Boss ou a Armani.
Mas enfim, nos bancários, a gravatinha da praxe, mesmo de risquinhas de lojas da Baixa, de pronto a vestir barato, torna-se a indumentária como dantes se via. Faltam as mangas de alpaca, mas sobram os maneirismos.

Porém, no professorado em geral, exigir uma idêntica tenue de scène já me parece um tanto ou quanto exagero. Sabem quanto ganha um pobre professor, não sabem?
E fatinhos, mesmo os da Maconde estão ao preço de dois pares de calças de ganga ou "chinos" de algodão. E gravata, para professores, só mesmo aqueles que perduram do tempo de antes da reforma Veiga Simão: já não há disso.Aproveitaram para se reformarem com vencimento por inteiro.

Quanto aos profs universitários, caro djustino: deve ser caso raro e isso porque está em humanidades certamente.
COmo disse, nas ciências, um prof. universitário, confunde-se com um contínuo, perdão, auxiliar de educação.
E está bem, quanto a mim. A ciência é coisa concreta e precisa e não vai em tretas ou lérias...

Agora quanto a outra profissão: os magistrados, que conheço bem.
Há quem se vista de BOss e quem se vista de material tipo feira. A diferença, por baixo da beca, só se nota se a metalidade for semelhante.
Geralmente, tendo a acreditar que não é.
Mas já fui mais convicto.
Há demasiadas manifestações de mau gosto e que nada tem a ver com a vestimenta.

NO entanto, nota-se que entre advogados, a tendência para o uso do fato e gravata é maior. Há advogados que nem toleram estagiários que não tenham esse cuidado mínimo.

Pensando bem, prefiro aqueles que tem bom gosto, independentemente do modo de vestir. COntudo, isso é eminentemente subjectivo.E dificilmente padronizável.

Tonibler disse...

Caro josé, um pobre professor em início de carreira ganha mais 50% que um profissional na minha área, ou em qualquer área, que se tem que apresentar decentemente.

Essa coisa de que os professores são mal pagos já teve os seus dias, desde que o contribuinte português se tornou um mãos largas que isso não acontece.

josé disse...

Talvez tenha razão. Porém, mudar mentalidades custa mais do que um qualquer fato, mesmo os do Carlo Viscontti ou até dos espanhóis da Massimo Dutti.

Outra coisa:

Esta notícia que agora li, parece-me uma excelente notícia. Será para valer?

"Sete mil professores do ensino básico vão receber formação em matemática já a partir do próximo mês. A medida, já anunciada anteriormente pela ministra da Educação, vai avançar este ano lectivo com todos os professores do terceiro e quarto anos do primeiro ciclo do básico com turma atribuída, anunciou ontem Maria de Lurdes Rodrigues no Parlamento."

Tonibler disse...

Caro josé,

Pois isso das mentalidades...Sabe que reparei que no estado do Rio de Janeiro os esudantes uniformizados não pagam transportes públicos. Achei estranho, porque associei uniforme escolar a escola de rico. Não, todos os estudantes têm uniforme, nem que seja uma t-shirt com as cores e símbolo da escola. Razão? Na escola não há uns bem vestidos e outros mal vestidos. São 'todos iguais' perante a escola. Imagino que o sistema educativo do estado do RJ seja da dimensão do português, com alunos francamente mais pobres. Mas a coisa não tem nada que ver com dinheiro.

Quanto à boa notícia, sim é. Aliás a senhora que lá está, que não consigo fixar o nome para além do Maria, parece-me rija para isso. É claro que nós contribuintes poderíamos questionar porque é que existem 7 mil professores que necessitam de formação em matemática, mas o melhor é nem pensar nisso para não entrevar mais a coisa.

Tonibler disse...

Caro djustino,

Não confundimos, penso eu. Só elaborámos a partir daí.

Eu vendo matemática. Parece algo impossível de fazer neste país, mas é o que faço e existe um mercado. Significa isto que enquanto o resto do país sofre com as deficiências ao longo dos anos, eu sofro no imediato com o lixo (duro, mas real) que o sistema de ensino coloca na rua.
Por isso, qualquer coisa em frente me parece boa. Não digo que seja ideal mas, bolas, alguém se mexe!
Quanto ao problema geral da matemática. Lembro-me de uma frase de um ministro que alguém aqui já chamou de doido, que era qualquer coisa como 'se pedirmos 5 aos alunos, eles dão 5. mas se pedirmos 1 eles só dão 1'. O sistema de ensino está construído no pressuposto de que o futuro das crianças se divide em trolhas, empregados de mesa e doutores(e a avaliar pelos investimentos públicos prioritário, se calhar está certo...). Portanto, se passarem a fase trolha, podem seguir para empregado de mesa e assim sucessivamente.
Se olharmos para as crianças e dissermos 'aqui está 1 milhão de potenciais 'nobeis' da física', certamente deitamos todo o sistema de ensino no lixo, porque as etapas que queremos que as crianças queimem são completamente diferentes.
Como estamos, ficamos com 1 milhão de doutores-empregados de mesa-trolhas que, francamente, não servem para nada. Mais vale, como diz o outro, sermos um país de eventos para aproveitar os palhaços...

Tonibler disse...

Caro PJ,

Falando por mim, estou-me nas tintas para o que diz o Espada, nem faço ideia daquilo a que ele se refere. Aquilo que digo é que a sociedade não é um conjunto de meios fechados. O facto da tese de doutoramento francesa parecer uma reunião de gente sem-abrigo não demonstra nada a não ser que aquilo é um meio fechado. E é, de facto.
O vestuário faz parte da comunicação. Transmite algo de forma imediata sobre a pessoa. E, certamente sabe, o tempo que as pessoas têm para interagir de forma eficiente é limitado. Falando pela minha experiência, que tenho reuniões com pessoas do meio universitário, quando me aparece alguém vestido como o meu filho mais velho, a minha primeira reacção é 'mais uma perda de tempo com um inútil iluminado'. Isto é tão grave que quando ouço falar de cooperação entre empresas e universidades, só me dá vontade de rir. E começa logo aí, no primeiro contacto, no primeiro olhar.
Quanto à matemática e aos manuais, os manuais reflectem aquilo que é o programa. Se o programa é um lixo, os manuais diferenciam-se pela 'critividade' como o reciclam, mais nada.

Tonibler disse...

Caro PJ:

Isso levava-nos à questão do que é o valor. Aquilo que me descreveu é claramente um grupo fechado que, provavelmente, não sei, terá valor noutro grupo com o mesmo protocolo de comunicação. Melhor?

Pois, mas a primeira coisa que me oferecem é falta de respeito e sobranceria, porque certamente não vão aos casamentos, nem aos batizados, nem a entrevistas, nem para receber comendas naqueles preparos. Porque eu, se me estivesse nas tintas para eles, era assim que aparecia. Normalmente, procuro outro melhor...

Tonibler disse...

Caro Pinho Cardão, muito bem fechado.