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quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

"Autodomesticação"

A morfologia e a fisiologia dos seres humanos, assim como das outras espécies, são frutos de uma interacção com o ambiente, caldo e força determinante na selecção dos genes mais adequados à sobrevivência das espécies.
Durante milhões e milhões de anos, os diversos ambientes, físico, químico e biológico, foram as forças primordiais. Só muito recentemente é que foi criado um novo ambiente, o cultural.
Tem-se perguntado se, no caso dos humanos, a evolução continua ou parou. Será que o homem atingiu o ponto final da evolução, escapando às forças que estiveram na sua origem? Parece que não. Apesar do ambiente cultural ser muito recente, tudo aponta para que tenha já feito das suas, alterando a composição genética de algumas espécies, inclusive a do próprio criador.
Estudos recentes revelam alterações de cerca de 1.800 genes, 7% do total do genoma humano, motivadas pelas forças culturais. Há como que uma “autodomesticação humana” comparando com o observado, por exemplo, a nível do genoma do milho, face aos antecessores do mesmo.
Passaram apenas 50.000 anos de ambiente cultural, o que à escala global é uma pequeníssima fracção de tempo, mas, mesmo assim, tudo aponta para que a pressão selectiva, agora a outros níveis continue a processar-se. Importa conhecer mais este mundo e especular sobre o que poderá acontecer no futuro. A própria forma de conviver, em termos sociais, com aglomerações constantes e contínuas propiciando uma maior facilidade na transmissão de doenças infecciosas “exige” modificações genéticas de forma a tornarmos mais resistentes às infecções. Do mesmo modo, o nosso cérebro e as suas múltiplas funções não deixarão de sofrer alterações, e, quem sabe, se a nossa própria morfologia não se revestirá de novas formas no futuro.
O que acontecerá aos valores e princípios ditos universais? Manter-se-ão, evoluirão, serão substituídos por outros que nem sonhamos ou pensamos? Quase que poderíamos afirmar que o homem não é um produto acabado, mas sim um produto em permanente e constante evolução, apesar de lenta aos nossos olhos, mas rápida à escala universal, sem que se saiba o que irá acontecer a seguir. Mas a beleza de tudo está precisamente aí, não saber o que vai acontecer no futuro…

6 comentários:

Suzana Toscano disse...

Caro Prof. Massano Cardoso, esperemos que essa evolução por pressão do ambiente cultural possa resultar num aperfeiçoamento da espécie, também não era assim muito bom considerar que estavam encerradas as probabilidades de melhorar...

Tonibler disse...

Forças culturais que afectam as novas células de um indivíduo ou que afectam as células reprodutivas levando a uma evolução de facto? É a isto que chamam o Neo-Lamarkismo?
Este tema é fabuloso, é um pouco a negação de Darwin por aquilo que nos salta à vista mas que não tem uma lógica química. É fabuloso!

Suzana Toscano disse...

Não terá uma lógica química, Tonibler? Como pura ignorante destas matérias atrevo-me a admitir que a lógica química,que já explicou - ou identificou - outros processos emocionais, possa agora vir a explicar este...

Tonibler disse...

Não tem, cara Suzana, no sentido em que afecta uma espécie inteira sem a lógica "do contacto". E relativamente à espécie humana, já há séculos que pode assumir-se que evolui sem ser pelos mecanismos de selecção natural previstos por Darwin, mas pelos estímulos da envolvente sobre alguns agregados da espécie. E é aqui que a lógica química se desvanece, por ser a afectação do agregado e não de uns quantos indivíduos isolados que se sobrepõem sobre os demais, como no tamanho dos Holandeses, por exemplo, ou no raciocínio dos Indianos.

Massano Cardoso disse...

A ideia base é simples de explicar. O ambiente cultural tornou-se predominante. A sua força é inquestionável. A pressão selectiva pode explicar algumas variações na frequência de certos genes em detrimento de outros. É curto o tempo de intervenção (apenas uns míseros 50.000 anos). A domesticação das espécies animais e vegetais é um acto de cultura e tem originado variações da frequência de certos genes face aos seus equivalentes selvagens. Os seres humanos não são excepção e, sendo assim, podem vir a sofrer variações na estrutura genética da qual dependerá a sua sobrevivência nos novos meios ambientais criados pelo próprio. É uma hipótese muito plausível e que merece a nossa atenção. A sua confirmação permitir-nos-ia a afirmar a continuidade da evolução da nossa própria espécie.

Suzana Toscano disse...

Obrigada, Tonibler, a sua explicação é muito clara, nunca tinha pensado nessa diferença.
Prof. Massano Cardoso, uma vez mais os seus posts nos abrem a curiosidade para temas fascinantes, é realmente um dom...