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terça-feira, 31 de janeiro de 2006

A Dança das Laranjas - 2

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O apreço pessoal que tenho por Marco António Costa não me inibe de denunciar as ideias surpreendentes que expressou nos últimos dias. Como se já não chegasse a crítica à medida tomada pela Direcção Nacional visando moralizar o pagamento de quotas, justificou a mesma pela situação social dos militantes do PSD que têm dificuldades em pagar 1 euro por mês. Pelo que se pode ler aqui, "Marco António Costa anunciou que «numa última acção enquanto presidente da distrital do Porto» irá enviar uma proposta para que os jovens até 30 anos fiquem isentos do pagamento de quotas e que, para os militantes com mais de 30 anos, o pagamento seja facultativo". Presumo que sejam os militantes com mais de 30 anos de militante a que se juntariam todos os "jotinhas", dado que é a idade limite para o deixar de ser.
Não dá para acreditar!

Na mesma notícia, também tomamos conhecimento da iniciativa de Agostinho Branquinho de convocar todas as distritais para um jantar no sentido de: «Vamos ver se há pontos de encontro entre as distritais. Podemos apresentar uma proposta ou sensibilizar a direcção do partido para as nossas ideias». Os dirigentes das distritais, pelo que se lê, já têm ideias precisas sobre os estatutos, mas que eu saiba nenhum deles consultou os militantes sobre essas ideias.

É interessante como numa simples notícia se percebe tão bem o que é que vai mal no PSD.

Mão estendida e eterna pedinchice!...

Hoje viajei uma boa parte do dia e ouvi um número infindável de noticiários da rádio.
A grande notícia era a vinda de Bill Gates a Portugal.
Vinha para impulsionar o Plano Tecnológico, diziam umas notícias, para proferir uma Conferência, no âmbito da administração pública, destinada a Membros do Governo e Autarcas, enfatizavam outras, ou ainda para assinar um Protocolo com o Governo, no quadro de formação em informática ou para ser condecorado pelo Presidente da República.
Pelo teor e tom das notícias, comecei a desconfiar que o tratamento dado à vinda de Bill Gates estava a traduzir, de forma esplendorosa, o poder de influência na informação das Assessorias de Imprensa, desde a da Presidência da República, à do Gabinete do 1º Ministro ou à do Ministro que tem a seu cargo a Reforma Administrativa, e que os diversos editores dos vários jornais radiofónicos se estavam a limitar a gerir as diversas versões do acontecimento recebidas das várias Assessorias de Imprensa.
Com efeito, cada qual, à sua maneira, procurava explorar, em proveito político próprio, a vinda de Bill Gates.
Ao fim do dia, vim a saber, por um jornal, que o objectivo da vinda de Bill Gates a Portugal foi a participação na Conferência Anual Europeia da Microsoft, tendo os outros factos sido agendados à margem desse evento.
Se os nossos políticos não olhassem apenas para o seu umbigo, veriam que acontecimento importante a ser enfatizado era a capacidade que Portugal e a Microsoft revelaram quanto à realização daquela Conferência em Portugal.
Essa realização é que é o factor importante.
Esquecer isso e dar ênfase à condecoração, à conferência e ao apoio para a formação é a forma lamentável encontrada para patentear o espírito existente de mão estendida e de eterna pedinchice.

Tinta visível


Causou alguma surpresa o lançamento do livro de Pacheco Pereira "Quod est Demonstrandum" logo a seguir às eleições. Conforme ouvi o autor explicar em entrevista à televisão, a compilação de todos os textos que escreveu e publicou ao longo do período em que as presidenciais foram tema teve como objectivo permitir uma avaliação global das suas opiniões (não estou a citar, é a minha interpretação). Uma espécie de responsablidade assumida pelo que disse e influenciou, como analisou e previu, por considerar que as opiniões expressas pelos comentadores ou analistas devem depois ser confrontadas com a realidade que veio a verificar-se.
É um exercicío de seriedade e responsabilidade pessoal mas também uma forma exigente de lembrar que quem quer ter influência e ser ouvido não pode ver diluido o que disse depois de passado o momento, deixando à memória vaga do público a sucessão de intervenções.
Pacheco Pereira não precisava deste exercício que sublinha a sua exigência intelectual. Por isso o seu exemplo tem ainda mais força, pode ser que crie o precedente para muitos analistas mais preocupados em chocar ou criar polémicas instantâneas do que em contribuir para criar um pensamento ou avaliar uma situação.
É a diferença entre quem quer marcar com as suas intervenções e os que opinam usando tinta invisível...

Quarentena

Mesmo antes de se conhecer a etiologia infecciosa de algumas doenças já se tomavam medidas de carácter preventivo. Aquando da epidemia da peste negra, que assolou a Europa no século XIV, foram tomadas as primeiras medidas de controlo. Foi em Rogusa, em 1377, que se aplicou a primeira medida obrigando os viajantes a aguardarem dois meses antes de entrarem na cidade. Mas a lei conhecida pela Lei da Quarentena foi estabelecida na cidade de Marselha em 1383.
Nos nossos dias, as autoridades sentem-se na obrigação de aplicar medidas de isolamento e de quarentena com o fito de travar ou minimizar os efeitos de uma epidemia. Foi o que aconteceu em 2003 com a chamada pneumonia atípica e agora vêm propor que se apliquem igualmente na próxima pandemia da gripe.
Portugal dispõe de um plano de contingência que vem sido anunciado e publicitado de tempos a tempos. Agora surgem, veiculadas pela imprensa, mais algumas medidas tais como: criação de clínicas especificas para casos suspeitos de gripe, rede laboratorial apropriada ao diagnóstico do vírus, a distribuição controlada de tratamento, medidas de quarentena e internamento compulsivo.
Como e onde é que vão ser criadas as tais “clínicas”? O que fazer, segundo as estimativas mais optimistas, com 25% da população atingida e 33.000 indivíduos com necessidade de internamento? Onde é que vão ser internados? Claro que nem todos adoecem ao mesmo tempo, mas, mesmo assim, desconfio que não haverá camas pelo país fora para absorverem todos os casos. Dizem os peritos que, na tal melhor das hipóteses, o número das consultas médicas atingirá os 1,4 milhões! As medidas de quarentena e de isolamento constituem duas medidas clássicas de controlo das epidemias. O isolamento é muito provavelmente uma medida desejável em termos de saúde pública, mas a quarentena é mais controversa. As razões são fáceis de explicar: a quarentena de massas populacionais inflige custos significativos de natureza social, psicológica e económica. Os modelos probabilísticos permitem-nos determinar quais as condições em que podem ser úteis. Os resultados demonstram que o número de infecções evitadas (por cada indivíduo infectado) através do uso da quarentena é muito baixo desde que o isolamento seja mesmo eficaz, aumentando de uma forma abrupta caso a eficiência do isolamento diminua. Quando o isolamento falha, a aplicação da quarentena está recomendada e é benéfica, desde que o período de transmissão assintomática não seja muito curto ou muito longo.
Mas quem vai aplicar as medidas de quarentena? As autoridades, claro, com base em legislação adequada. Como é que vai ser a preparação das mesmas? E como se auto controlam em termos de contactos suspeitos? O que acontecerá às pessoas impedidas de se movimentarem em caso de contactos com casos suspeitos? Quem é que lhes assegurará a subsistência e os respectivos rendimentos? Os que são funcionários por conta de outrem poderão não ter problemas, mas os outros? O estado garantirá esses direitos?
O plano de contingência tem objectivos concretos, mas não deixa de levantar alguns problemas que poderão ser graves. Não podemos esquecer que o vírus da gripe tem uma capacidade notável de se propagar e, muito provavelmente, não se intimidará com as medidas anunciadas.
A propósito do internamento compulsivo não vejo que um cidadão atacado de uma verdadeira gripe se oponha a ser tratado. A gripe é uma daquelas situações em que qualquer ser humano se sente verdadeiramente miserável. “Heróis” na gripe? Nem um. Coitados do Hércules e do Sansão se apanhassem uma gripe…

Actualizar leituras

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A última obra de Benjamin M. Friedman, The Moral Consequences of Economic Growth, é de leitura quase obrigatória, em especial para aqueles que invocando correntemente o Adam Smith de An Inquiry Into The causes of the Wealth of Nations se esquecem ou ignoram The Theory of Moral Sentiments. Friedman recorre à história económica e política do mundo ocidental, especialmente a dos Estados Unidos, para destacar o crescimento económico como fundamento das democracias e da liberdade e o risco que a estagnação poderá ter para o ruir das sociedades abertas e livres.
Para aperitivo deixo-vos ainda duas citações retiradas o último capítulo da obra, uma alheia e outra própria:
"[A] slow and gradual rise of wages is one of the general laws of democratic communities. In proportion as social conditions became more equal, wages rise; and as wages are higher, social conditions become more equal", Alexis de Tocqueville, Democracy in America.
"Countries where living standarts improve over sustained periods of time are more likely to seek and preserve an open, tolerant society, and to broaden and strengthen their democratic institutions. But where most citizens sense they are not getting ahead, society instead becomes rigid and democracy weakens." Benjamin Friedman
De certa forma Friedman recupera e relança a própria ideia de progresso tal como ela foi lançada pelo iluminismo e concretizada pelo capitalismo oitocentista.

Poderes efectivos


Alan Greenspan deixa o leme da Reserva Federal ao cabo de 18 anos.
Leio as referências ao imenso poder que este homem teve nas suas mãos. Poder que exorbitou em muito da influência sobre a economia dos Estados Unidos para se situar no plano dos condicionamentos à economia global. Que sobreviveu a umas largas dezenas de líderes mundiais e a uns tantos do seu próprio país.
Dá que pensar. Greenspan, à semelhança dos governadores dos bancos centrais dos Estados Europeus, nunca se sujeitou ao sufrágio dos seus cidadãos. Mas condicionou-lhes a vida mais do que qualquer governante eleito, sobretudo em momentos em que teve de tomar decisões que no imediato se refletiam na vida das empresas e das famílias! E fê-lo, como nenhum outro poder, de forma insindicada e, em boa verdade, quase insindicável.
Observando o fenómeno, salta à vista este evidente paradoxo. Quantas disputas, quantas querelas sobre cargos e funções cujo poder é meramente simbólico. E, em contaponto, quanta liberdade concedida a centros às vezes unipessoais de poder, nos quais se confia cega e inquestionavelmente, que jogam um papel decisivo no nosso futuro colectivo.
As loas que se ouvem, de toda a parte, sobre Greenspan, serão um hino a alguns dogmas da democracia, sobretudo o que romanticamente crê que todo o poder radica no Povo?
E entre nós?
Não é necessário pensar muito para perceber que também é assim no nosso cantinho à beira-mar plantado. Também entre nós existe quem exerce o poder efectivo com discrição; e quem se dedique a manifestações fantasiosas de poder que não tem. A estas últimas deu-se em Portugal a curiosa designação de ´magistraturas´. A que alguém, bem avisado, acrescentou ´de influência´...

segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

Nascido para destruir





De acordo com o governo britânico o efeito estufa é pior do que se pensava. O próprio gelo da Gronelândia irá desaparecer.
Conclusão: estamos tramados. Damos cabo de tudo.

A dança das laranjas

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A vida interna do PSD anima-se com a convocação do Congresso. Com a revisão estatutária na agenda, as última movimentações permitem prever que o conclave será bem mais do que uma discussão sobre o modelo de organização do partido.
Menezes continua a fazer marcação homem a homem à actual direcção.
Mas a surpresa - só para os mais distraídos - veio de Passos Coelho, vice de Mendes, que aproveitou a oportunidade para se demarcar face ao "rumo que o PSD tem vindo a seguir". Conhecido o seu afastamento desde a campanha para as autárquicas, não foi decerto o rumo recente que o fez descolar. A oportunidade para divulgar o facto junto da comunicação social e a sua consumação em Conselho Nacional, só permitem tirar uma conclusão: Pedro Passos está na corrida, a dúvida está em saber se prefere correr atrás da lebre, resguardando-se para o sprint em 2008, ou se vai já para a cabeça da corrida.
Entretanto, são interessantes as movimentações nas duas das principais disitritais.
No Porto, Marco António Costa anunciou a sua demissão abrindo caminho a Agostinho Branquinho, actual deputado e ex-vereador de Rui Rio na Câmara do Porto.
Em Lisboa, fala-se de eleições antecipadas e já se ouvem nomes, desde Carlos Carreiras até Marina Ferreira, Helena Lopes da Costa e Vasco Rato.
Concluindo: está a definir-se um clima de todo em todo inapropriado para uma reflexão séria dos estatutos e do modelo organizacional do PSD e não ficarei surpreendido se os debates ficarem inquinados por esta irresistível dança das laranjas. Será que não há emenda?

Paz e harmonia

O Ministro Silva Pereira, em entrevista na Sic-Notícias de hoje, foi muito explícito: o PS conta com Manuel Alegre, nas funções que tinha antes das eleições, e deve reassumir o seu lugar no Parlamento. Movimentos cívicos? São muito bem vindos. Um milhão de votos? Pois sim, mas como Manuel alegre bem dizia, ninguém é dono dos votos...
Paz e harmonia, que o Eng. Sócrates tem mais que fazer do que alimentar polémicas. E deu outros exemplos da magnanimidade do Presidente do Partido: Manuel Maria Carrilho, Alberto Martins, todos têm lugar se quiserem entrar nos eixos.
Ponto final na aventura de Manuel Alegre e ele certamente agradece, é por demais evidente que não contava com o efeito desta candidatura e que não foi um projecto de dissidência que o moveu. Foi um ajuste de contas, e estão ajustadas.

domingo, 29 de janeiro de 2006

"O chimpanzé humano"




Periodicamente vem à baila a discussão sobre o grau de “parentesco” do Homem com outros primatas. Não vale a pena remontarmos ao momento da publicação da famosa obra de Charles Darwin que escandalizou o mundo vitoriano, e não só, ao proclamar origens comuns com os “macacos”.
Recentemente, os cientistas demonstraram que, além de partilharmos 99,4% da sequência funcional do ADN com duas espécies de chimpanzés (chimpanzé comum e chimpanzé pigmeu), a cultura, atributo considerado como exclusivo dos seres humanos, também está presente nestes animais. De facto, o nosso ancestral comum está muito mais próximo do que se julgava, 1 milhão de anos versus os anteriores 7 milhões. A esperança de vida ronda os 40 e os 50 anos e têm uma gravidez de oito meses e levam também bastante tempo a atingir a maturação sexual.
O género Homo só tem uma espécie: a sapiens. Coloca-se a possibilidade de incluir no nosso género, os nossos antecessores hominídeos, assim como as duas espécies de chimpanzés já referidas.
As consequências desta inclusão são para alguns cientistas muito relevantes, nomeadamente por exigir uma postura diferente da actual. Deste modo, os chimpanzés adquiriam mais direitos, tais como: não serem sujeitos a experiências médicas, poderem garantir a sua sobrevivência, e, quem sabe, até terem “territórios próprios”.
Na Nova Zelândia, o governo já recebeu uma petição pedindo a criação de direitos para os chimpanzés.
Não sei como seriam estabelecidas as relações diplomáticas! Mas, se não se concretizar a “hominização” das duas espécies em causa, o que seria uma forma de manifestação de humildade por parte dos seres humanos, então podemos recorrer ao inverso.
Jared Diamond, notável fisiologista, ecologista e ornitólogo norte-americano, descrevia, há uma dúzia de anos, que o Homem deveria ser considerado como o Terceiro Chimpanzé. Na altura, já propunha três espécies do género Homo: o Homo troglodytes (chimpanzé comum) o Homo paniscus (chimpanzé pigmeu) e o Homo sapiens (chimpanzé humano).
Não sei qual é a opinião dos chimpanzés, mas, estes provavelmente não se oporiam a que fossemos “chimpanzénizados”! E daí não sei! Face ao que os homens costumam fazer…

Arquivado

A história remonta a uma conferência de imprensa por mim realizada no dia 30 de Dezembro de 2003. O tema centrava-se nas “cunhas” para a colocação de professores e no anúncio de abertura de dois processos disciplinares aplicados a dois dirigentes do Ministério da Educação.

No final alguns jornalistas perguntaram-me: então e os outros 11 casos denunciados pelo Sindicato dos Professores da Região Centro?

Resposta do então Ministro: esses outros casos estão a coberto da lei como podem verificar pela documentação junta.

Perante a insistência dos jornalistas tentei explicar não chega os sindicatos terem dúvidas sobre a legalidade de um procedimento para se poder abrir um processo de inquérito e que gostaria de o SPRC fornecesse as informações que permitissem fundamentar a irregularidade, caso contrário teria de concluir que estavam apostados numa “campanha de descredibilização” e ao continuar a invocar esses casos só poderiam estar de “má fé”!

Nesse mesmo dia, à tarde, Mário Nogueira, coordenador do SPRC contestou a posição do então ministro e numa clara expressão de descontrolo apelidou o dito ministro de “vigarista”. Consciente da acusação que tinha feito, trata de convocar uma nova conferência de imprensa no dia seguinte anunciando que iria apresentar uma queixa-crime contra o Ministro. Durante o mês seguinte fez mais 4 conferências de imprensa sobre o assunto, alimentando a voragem da comunicação social por mais uma cena de “sangue”.

Passados alguns meses, já o então ministro regressara aos bancos da Assembleia da República, levanta-se de novo a polémica com o pedido de levantamento da imunidade parlamentar para poder responder no Ministério Público sobre a referida queixa.

A pedido expresso do então deputado foi levantada a imunidade parlamentar e algumas semanas depois lá respondi ao inquérito do Ministério Público que havia já compulsado alguns milhares de páginas de documentos, testemunhos, recortes de imprensa, relatórios técnicos, que perfaziam uma considerável e grossa resma do processo.

Comunicaram-me mais tarde que o Ministério Público entendia não dever acompanhar a acusação por falta de fundamento idóneo.

O SPRC entendeu então deduzir acusação particular que viria a ser apreciada pelo Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa. Aberta a instrução e o respectivo debate despachou o respectivo Juiz no sentido de “não pronunciar o arguido”, entendendo que “as afirmações em causa no contexto político em que foram proferidas não são idóneas a ofender a credibilidade, prestígio ou a confiança” do SPRC, “não integrando o crime de ofensa à pessoa colectiva”, pelo que ordenou o “arquivamento dos autos”.

Conclusão: Haverá algum jornal ou televisão que se disponibilize a dar esta notícia com a frequência, destaque e duração, atribuídas à apresentação da queixa-crime? Posso comprovar as muitas dezenas de notícias que foram então produzidas e difundidas, quase diariamente durante mais de um mês.

Arrefecimento global


Há já algumas horas que neva na região de Lisboa.
Fenómeno estranho mas fascinante!


sábado, 28 de janeiro de 2006

Neutralidades


Os frequentadores da 4R por certo já repararam no extremo cuidado com que os ´postadores´ omitem qualquer referência as suas preferências clubísticas.
Tacitamente, foi-se afirmando entre nós o princípio da estrita neutralidade em matéria de futebóis.

Só isso me impede de assinalar aqui a gloriosa noite do Leão, vivida em plena Luz.


Toca a encerrar!

O país está a ser varrido por uma onda de encerramentos. Abrem-se os jornais e lemos notícias do género: estado vai encerrar maternidades, estado vai encerrar serviços de atendimento ao público em vários centros de saúde, estado vai encerrar escolas, estado vai encerrar postos policiais ou da GNR, a par do tradicional e permanente encerramento de empresas. Há qualquer coisa que não bate bem. As populações cada vez mais envelhecidas começam a ficar extremamente preocupadas e bem querem protestar mas não conseguem convencer os responsáveis das suas necessidades. Contra-argumentam os zelosos governantes e decisores que as mudanças propostas são sempre para melhor, a fim de respeitarem as normas internacionais e para que os cidadãos tenham a possibilidade de usufruírem melhores e sofisticados recursos. Tudo feito sempre nessa filantrópica medida que é o bem-estar e a saúde das populações.
No caso do encerramento das maternidades, o argumento principal proposto é o facto dos respectivos hospitais não cumprirem os requisitos necessários que assegurem os nascimentos em boas condições clínicas. Até pode ser, mas não deixa de amputar as diversas comunidades de um serviço que apreciavam ficando condicionados às novas regras. Acresce a tudo isto a falta da produção nacional de crianças. Espero que não surja um dia destes uma epidemia de gravidezes obrigando à criação de maternidades de campanha!
O segundo ponto prende-se com as medidas a tomar na área do encerramento das urgências dos centros de saúde, passando a haver unidades de urgências básicas, estrategicamente localizadas e apetrechadas com o pessoal adequado e meios técnicos mais ou menos sofisticados. O argumento para o encerramento assenta na afirmação ministerial de que as urgências nos actuais centros de saúde darem uma “falsa sensação de segurança”. O facto de haver médicos nesses locais com o estetoscópio ao pescoço é enganador da segurança e bem-estar do doente! O senhor ministro pode pensar o que quiser mas fazer uma afirmação destas é um atentado às capacidades clínicas de qualquer profissional de saúde. É preciso ter em conta o que é que um cidadão pensa a propósito de uma emergência. O seu conceito é variável e flutuante. Muitos acorrem aos serviços de urgência angustiados pensando que estão a sofrer algo de muito grave. O médico é a pessoa mais qualificada para definir se é ou não. Às vezes, numa questão de minutos, o tal indivíduo com estetoscópio faz o milagre de transformar algo urgente numa perfeita e controlável banalidade, eliminando a angústia de muitos. Também tem a possibilidade de o vigiar e, caso seja necessário, enviá-lo para a instituição mais adequada. Sempre é melhor do que o tal famoso call center a ser implementado a fim de dar a resposta aos necessitados. Não sei em que medida é que este serviço garantirá mais segurança. O argumento de que hoje as distâncias são medidos com base no tempo e não na quilometragem pode ser apelativa e até aceite pelas comunidades mais jovens, mas extrapolar este conceito aos mais idosos parece-me não ser correcto, já que foram criados e educados a medirem as distâncias no espaço e não no tempo o que lhes provoca uma verdadeira angústia. Saber que a poucos metros ou a poucos quilómetros de distância se encontra “um médico com um estetoscópio ao pescoço” é suficientemente tranquilizador para dar confiança aos mais necessitados e idosos que pululam pelo país sobretudo no interior.
As perspectivas tecnocráticas e “altamente evoluídas” daqueles que vivem no conforto dos bons gabinetes e das grandes metrópoles não justificam o encerramento dos meios actuais. Se continuarem nesta senda de encerramentos, o melhor é encerrar o interior ou até mesmo o país…

sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Califórnia, poluição e tabaco.

A poluição atmosférica constitui um grave problema para a saúde. Os dados mais recentes apontam para a necessidade da redução, entre outros, das partículas, as quais agridem não só as vias respiratórias, mas também desencadeiam e agravam outras doenças como as cardiovasculares. Os veículos automóveis são uma das principais fontes, além da combustão do carvão.

O Estado da Califórnia, através da agência responsável pela qualidade do ar, classificou o fumo do tabaco como poluição tóxica do ar, equiparando-o aos produtos eliminados pelos veículos a gasóleo. Tal classificação irá permitir que o Estado amplie as restrições sobre o fumo. Sendo assim, qualquer dia, os californianos terão de restringir o uso de veículos nas cidades a par da proibição de fumar em locais habitados. Ás tantas ainda terão de correr para os Estados vizinhos ou darem um saltito ao México para darem uma passa no cigarrito…

Os partidos-sabonete

O post do David Justino lança um debate sobre o sistema partidário português que o fim deste ciclo de contínuas eleições e a circunstância de não ser previsível durante pelo menos os próximos dois anos, a existência de uma disputa pelo poder (salvo ocorrência de convulsões internas no Partido Socialista, pouco provável), encontra condições para ser aberto porque menos condicionado pelas conjunturas e conveniências eleitorais.
Luis Paixão Martins (LPM), assina hoje um artigo no DN na assumida qualidade de "trabalhador", como consultor de marketing, nas campanhas vitoriosas de Sócrates e de Cavaco Silva.
O referido artigo tem por sugestivo título ´O desgaste das marcas partidárias´ e merece ser lido e atentamente ponderado por quem se interessa, justamente, pelo papel dos partidos na democracia.
A visão de quem adquiriu a experiência que LPM adquiriu não é de desprezar para a compreensão da chamada crise do sistema de representação política, e nela em especial do reconhecimento do papel mediador da vontade popular interpretado pelos partidos políticos.
Li o artigo, e procurando decodificar uma linguagem que me não é muito acessível, confesso, entendi assim:
LPM reduz literalmente o eleitorado a um mero mercado de votos. A lógica da disputa eleitoral é a lógica do mercado.
Despe os principais partidos de quaisquer referências ideológicas e vê o sucesso eleitoral como mera reacção ao estimulo mediático sobre os milhões de votos que no mercado oscilam entre um polo e o outro polo do sistema.
Explica que é a imagem, não a praxis ou a ideologia, a responsável pela afirmação de pequenos partidos nas franjas do sistema.
O artigo pode ser entendido como aproveitamento de publicitário dos sucessos que LPM obteve. Já vi feita esta leitura na blogosfera. Pode ser que sim. Não admirará que um bom técnico de marketing saiba valorizar os produtos que ele próprio coloca no mercado...
Julgo, porém, que o que menos interessa é saber o que motivou o referido artigo.
O que deve de ser motivo de reflexão é o facto de os principais partidos ou candidatos, em especial os que disputam o poder, nem por um momento duvidarem da essencialidade de recorrerem aos serviços de quem assumidamente pensa que nada de substancial distingue a publicidade aos bons sabonetes da promoção no mercado eleitoral da marca dos partidos (ou dos candidatos)...

Os Partidos e a confiança dos portugueses

A vitória de Cavaco Silva e o excelente resultado de Manuel Alegre recoloca no centro do debate político o problema da confiança dos portugueses nos partidos políticos. Todos sabemos que as eleições presidenciais não são uma escolha entre alternativas partidárias, porém sabemos também que o apoio mais ou menos manifesto das estruturas partidárias a cada um dos candidatos deixou de ter valor acrescentado positivo. Antes pelo contrário, o caso Manuel Alegre cuja candidatura se faz à revelia - e em alguns aspectos por oposição - aos partidos políticos, vem demonstrar que esse apoio poderá ter valor acrescentado negativo.

Os portugueses não têm confiança nos partidos políticos. Esta conclusão é de há muito conhecida e foi retratada de forma objectiva nos resultados do Eurobarómetro divulgado em Setembro último.

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Questionados sobre se confiam ou não nas instituições políticas os portugueses e os europeus demonstram de forma inequívoca confiarem muito pouco nos (por ordem do gráfico) parlamentos nacionais, nos governos, nos partidos políticos e no sistema de justiça. Porém, é de longe nos partidos políticos que os níveis de confiança são mais baixos.
O que parece mais relevante é o facto de o nível de desconfiança nos partidos políticos em Portugal ser precisamente igual à média apurada nos 25 países da UE.
Quer em Portugal, quer na Europa, há uma manifesta crise de confiança nos sistemas políticos e nas instituições das democracias representativas. Os partidos políticos, enquanto "players" centrais deste sistema concitam a maior desconfiança.
É bom que se tenham em conta estes resultados na reflexão sobre o papel dos partidos, a sua organização, a sua prática, a sua cultura e o seu papel nos sistemas representativos.
Se o PSD, no processo de regeneração que se pretende iniciar, ignorar este quadro, dificilmente poderá encontrar saída para um futuro mais auspicioso.

O inacreditável existe!...

Jerónimo de Sousa tem vindo a ser muito elogiado pela Campanha que fez.
Acontece que muitos se centraram na pessoa e esqueceram as ideias que defende.
E vejam o mimo dessas ideias!...
Segundo o Diário de Notícias de anteontem, 25 de Janeiro, o Comité Central do PCP manifestou-se contra um projecto de resolução que vai ser debatido na próxima Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa e que “propõe a condenação internacional dos crimes dos regimes comunistas”.
Para o Partido Comunista Português, o projecto representa “um novo passo na ofensiva anti-comunista” e, a ser aprovado “conduziria a um brutal salto na repressão sobre os trabalhadores e os povos, assim como às forças políticas empenhadas na sua defesa”.
“O Comité Central do PCP afirma a sua inequívoca condenação de um projecto de carácter profundamente anti-democrático, anti-comunista e fascizante”.
Para além desta declaração impensável, veja-se também a contradição.
Ao referir que estar contra os crimes levados a cabo pelos Partidos Comunistas é ser anti-comunista, é o próprio PCP que está a identificar esses crimes com os regimes e partidos comunistas!...
E criticar os crimes conduz a um “brutal salto na repressão sobre os trabalhadores”!...
Ouvido e lido, custa a acreditar!...
Mas isso é o autêntico PCP!...

Mas, se tu me cativas...


A vida moderna está centrada no combate ao sofrimento. Tudo nos impulsiona para viver melhor, prevenir as doenças, passear e gozar a vida, combater o stress, evitar o desgaste….
A mentalidade do sacrifício deu lugar à afirmação do direito a viver bem,a aproveitar com qualidade uma existência longa, saudável e feliz.
Mas esta tendência para nos defendermos de tudo o que possa perturbar este ideal de vida também pode trazer alguns amargos de boca.
No caso dos afectos, por exemplo, este reflexo traduz-se num crescente egoísmo, quando não mesmo num isolamento escolhido como forma de evitar desilusões.
Ouvi em pouco tempo três casos que me chamaram a atenção para isto: uma mãe que instigava o filho para não se apaixonar “porque isso só te vai trazer desgostos”; uma neta que não queria ir visitar o avô doente, com medo do desgosto que teria se ele morresse; um homem que não queria comprar um cão porque inevitavelmente “se ia afeiçoar ao animal” e isso lhe ia criar dependências. Três casos tão diferentes com a mesma raiz – o medo de sofrer a sobrepor-se ao prazer de amar plenamente, de se entregar a um afecto.
O calculismo egoísta a bloquear o impulso de cativar e ser cativado, como se a felicidade fosse um bem vazio e estéril.
E, de repente, as pessoas olham e não lhes falta nada, compram tudo o que cobiçam, vão onde lhes apetece, nada as tolhe. Mas sentem-se infelizes, deprimidas, sem vestígio de paixão porque se tornaram avarentas de si próprias. Guardam-se de tudo o que as possa afectar e esquecem-se de que não há amor, nem amizade, nem interesse, sem compromisso, sem que uma parte de quem gosta fique nas mãos do objecto do seu sentimento.
Esquecem-se também que a felicidade não é a ausência de qualquer tipo de sofrimento, antes é muitas vezes o prazer de ser capaz de prescindir de si próprio a favor de algo que vale a pena. Correndo o risco de a perder, sem dúvida, mas ganhando a cada momento o prazer de a ter tido.

"(...)E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...
(…)- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa
. "


Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho

Ao longo da vida


A formação ao longo da vida está hoje na ordem do dia. Seja como factor de maior produtividade para a empresa, seja como estímulo à motivação pessoal e profissional, seja como oportunidade para encontrar novos caminhos profissionais, a palavra chave vem sempre à baila: formação.
No entanto, nem sempre há uma noção clara do que se procura ou do que se pode, de facto, obter desse esforço adicional que se faz em simultâneo com a vida “normal”.
Há dias, uma pessoa muito inteligente e profissional em quem não se suspeitaria insatisfação, dizia que não tinha encontrado nenhum retorno do MBA que fez, há 3 anos, com óptimas notas. Mais: que já se tinha esquecido do que aí aprendeu, uma vez que a sua vida continuou como dantes, o mesmo trabalho, as mesmas exigências, pouco reconhecimento. Pouco faltou para considerar que dois anos de intenso esforço se saldavam por tempo perdido…
A questão é o que se deve realmente esperar de uma formação digna desse nome, sobretudo se for gente qualificada que não se contenta com mais uma linha no currículo. De facto, o conhecimento é um fenómeno complexo e não se esgota na aprendizagem de novas matérias nem se traduz apenas numa promoção ou num aumento de ordenado (embora esses possam ser bem vindos!). Esse é apenas o primeiro nível da resposta, ou seja, aprender o que já sabíamos que nos faltava.
Mas um programa bem feito deverá também ajudar a revelar que há conhecimentos que a experiência deu, ou que se assimilaram mas estavam esquecidos, e que não eram valorizados –o que não sabíamos que sabíamos. Passar a ter consciência do que se foi aprendendo sem se dar por isso, ou simplesmente passar a ter esses saberes estruturados de modo a serem aplicados, aumenta a auto confiança, ajuda a tomar decisões, potencia a experiência acumulada e pode constituir um valor ainda mais precioso do que o que se conseguiu aprender de novo.
Mas há também o que se julgava saber e afinal não se sabia. Ou o que se pensava não existir ou não ter importância e eis que surge como essencial ou diferente do que se tinha como certo. Esta dimensão da formação é talvez a mais marcante, porque é a que se obtém sem que se procurasse, uma vez que quem julga que sabe não procura saber mais e acha-se suficiente na sua pequenez. Esta dimensão está geralmente associada à arrogância ou à falta de capacidade para ouvir opiniões diferentes, leva as pessoas a isolar-se ou a desprezar quem podia dar um excelente contributo nessas matérias.
Um bom programa de formação deverá tocar estes três factores – aumentar o conhecimento, valorizar a experiência, trazer a humildade de ouvir e estar disposto a corrigir o que se julgava saber.
E estes valores não se perdem com o tempo nem são diminuídos com a falta de reconhecimento – tornam-se num bem que integram a grandeza de cada um. Ao longo da vida.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

A Magnanimidade!...

Num tempo em que as guerras entre as cidades-estado gregas eram permanentes e não havia perdão para os vencidos, Aristóteles definiu, na sua Ética, uma nova moral, ao apresentar a magnanimidade como virtude e norma de conduta.
A magnanimidade que propôs seria o meio termo entre o perdão, que nunca se praticava, e a aniquilação e destruição total, que traduzia a moral dos vencedores.
Na Campanha Eleitoral, Mário Soares atacou pessoalmente e ofendeu sistematicamente Cavaco Silva, ofendendo e atacando todos os portugueses que nele, de alguma forma, se reviam.
Mesmo na declaração final, não deixou de verter alguma dissimulada raiva, ao invocar eventuais perigos que adviriam da eleição de Cavaco.
Não sei, nem me interessa, se essa atitude espelhou ou não a ética republicana que tanto apregoa.
Soares não está perdoado, mas as suas diatribes estão em vias de esquecimento.
E está bem, já que, quanto a mim, prefiro a ética aristotélica e também serei magnânimo sempre que me referir a Soares!...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Todas as condições reunidas para fazer “Portugal Maior”

Na semana passada realizou-se em Lisboa a Conferência The Economist, organizada pela prestigiada revista com este nome, e centrada nos problemas e perspectivas da economia portuguesa.
O destaque maior da nossa comunicação social foi, como não podia deixar de ser, para a interpelação do ex-coordenador do Plano Tecnológico, José Tavares, ao Primeiro-Ministro, sobre o eventual desinteresse de um Ministro do actual Governo relativamente a uma parceria do MIT (o Massachusetts Institute of Technology, uma das mais prestigiadas universidades do mundo) com universidades portuguesas; no entanto, não poderia deixar de chamar a atenção para a excelente entrevista que o “Diário Económico” fez a Ania Thiemann, a analista do The Economist Intelligence Unit para Portugal.
Da análise extremamente lúcida que A. Thiemann fez sobre a evolução recente da economia portuguesa, em particular por que nos encontramos na actual situação, e quais as perspectivas, não posso deixar de transcrever alguns parágrafos:
“(...) Portugal fez erros horríveis no final dos anos 90. O que está a acontecer agora é que Portugal está a pagar o preço dos excessos cometidos nessa altura. Quando as taxas de juro começaram a descer e a liquidez inundou o país, as pessoas começaram a gastar como loucas. E numa situação destas, o Governo deveria ter pago dívida pública e consolidado as finanças públicas. Em vez disso, o problema é que temos, em Portugal, uma política pró-cíclica. O Governo deveria ter deixado que os estabilizadores automáticos funcionassem. Tudo correu muito bem até termos o grande abrandamento em 2000/2001, quando o país se apercebeu que o défice orçamental era de 4.4% (...).
Depois, A. Thiemann “culpa” o Governo PSD/CDS-PP por não ter atacado de forma estrutural o problema do défice público (o que, em parte, é, de facto, verdade...), referindo que o país perdeu, assim, dois anos nesta matéria. Finalmente, diz que o Governo de José Sócrates vai no bom caminho (se, acrescento eu, as boas intenções até agora reveladas forem, de facto, passadas à prática...).
Finalmente, refere que “(...) não creio que seja um grande problema se Cavaco Silva vencer as eleições, porque se há uma área na qual Sócrates e Cavaco Silva concordam é na necessidade de reformas estruturais. Estaria muito mais preocupada se Soares fosse eleito (...). Agora é tempo de levar a cabo reformas estruturais muito profundas, primeiro no sector público, depois no mercado de trabalho. É claro que se tivermos um Presidente como Soares duvido muito que Portugal consiga levar por diante este tipo de reformas. Por isso, estou bastante optimista se for Cavaco Silva a ganhar as eleições (...)”.
Voilà. Como se sabe – e ainda bem, não posso deixar de o referir –, Cavaco Silva ganhou mesmo as eleições presidenciais de domingo passado. E, portanto, temos realmente reunidas as condições para fazer o que tem que ser feito. Para fazer “Portugal Maior”. As reformas na administração pública, no mercado de trabalho, como A. Thiemann referiu – e, acrescento eu, também na justiça, na segurança social e na fiscalidade. Estas são essenciais. Cavaco Silva não impedirá, certamente, que elas se façam. Mas não é ele que tem o poder de as fazer. É ao Governo que cabe essa tarefa. Subir os impostos já foi errado e mau, muito mau – como aliás se está a ver (e a sentir...). Esperemos que não haja mais desilusões.

PSD vai a Congresso

Revelando alguma pressa, a direcção do PSD decidiu sujeitar a Conselho Nacional a convocação de um congresso extraordinário para a alteração dos estatutos. O tema das eleições directas do líder do partido será decerto o ponto forte, mas desenganem-se aqueles que centrados exclusivamente nesse ponto esperam a partir daí um movimento de regeneração das estruturas partidárias. Não chega! Há muito mais para além das directas a precisar de alguma inovação: abertura à sociedade, limitação de mandatos dos dirigentes intermédios e das estruturas de base, forma de recrutamento de candidatos a lugares electivos, etc.
Esta sim, é uma oportunidade única para começar a dar sinais no sentido de reganhar a sua confiança. Mas trata-se de uma oportunidade que não se compadece com precipitações e pressas. Faço votos que o ímpeto congressista se traduza num verdadeiro ímpeto reformista do próprio PSD.

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

Vinho ou cerveja?

De vez em quando sou levado a comentar o papel de certos alimentos e bebidas na prevenção das doenças.
O papel do vinho e, recentemente, também, da cerveja na prevenção das doenças cardiovasculares generalizou-se a ponto de todos ou quase todos saberem das suas virtudes “milagrosas”. Mas, será que é bem assim? Os investigadores procuram o segredo das mesmas nas diferentes substâncias químicas. Muitas são consideradas como sendo as responsáveis. No entanto, é preciso tomar em linha de conta outras variáveis. As pessoas menos saudáveis não bebem tanto, os que bebem que uns desalmados morrem antes do tempo “evitando” a morte por doenças cardiovasculares! Mas há outros factores que distinguem as diferenças protectoras entre o vinho e a cerveja. Os produtores da última fazem todo o esforço por a “vender” de um modo idêntico ao vinho. Mas parece que há diferenças. Os consumidores moderados de vinho têm hábitos mais saudáveis. Um estudo recentemente publicado veio revelar que estes comem mais azeitonas, mais fruta, mais legumes, usam mais óleos vegetais e consomem menos gorduras saturadas do que os consumidores de cerveja. Por outro lado os perfis de compras nos supermercados entre os dois tipos de consumidores de bebidas alcoólicas são também diferentes. Os adeptos da cerveja compram mais comidas pré cozinhadas, mais açúcar, carne de porco, manteiga, salsichas e soft drinks. Em contrapartida, os enófilos têm tendência para comprar mais fruta, vegetais, aves, azeitonas, queijo com teor baixo de gordura, leite e azeite. O fenómeno foi observado na Dinamarca, França e Estados Unidos e envolveu mais de 3,5 milhões de compras.
Aqui está uma razoável explicação para um fenómeno que anda a ser aproveitado de uma forma pouco saudável, e para o qual contribuem alguns responsáveis da área da saúde.
Com estas atitudes é impensável ser convidado para fazer parte dessas confrarias. Deixá-lo! Não é por isso que vou deixar de apreciar um bom vinho, mas daí a considerá-lo como um preventivo vai uma grande distância.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

Há memórias que importa guardar

"O que está em causa no domingo é eleição de um Presidente que obedece à
Constituição, não é uma tentativa de fazer o que seria um verdadeiro
golpe de Estado constitucional
." - Augusto Santos Silva,
Ministro dos Assuntos Parlamentares do governo em funções, em comício de
apoio a Mário Soares, Vila Real, 15 de Janeiro de 2006.

Isto foi dito. Mas claro que ninguém retirará consequências do que foi dito. Pelo contrário, da esquerda à direita todos acham que a política e, em especial as campanhas eleitorais, acomodam todos os dislates, todas as irresponsabilidades. É até provável que o primeiro encontro entre Santos Silva e o presidente eleito seja cordial e pleno de cortesias. Nem sequer me admirarei se vir um destes 10 de Junho Santos Silva a ser agraciado com uma qualquer comenda...
Convém, porém, guardar a memória de algumas coisas que foram ditas por quem, pela posição que ocupa, deveria ter mais sentido de Estado e de responsabilidade. Porque talvez um dia, quem sabe?, as coisas mudem e estes sejam os exemplos a afixar em jornal de parede para repúdio colegial.

Portugal Maior!...


Portugal Maior !
Chego atrasado... porque andei a festejar o Portugal Maior que as eleições de ontem nos deram!...

Expressões de mau perder e arrogância

Aproveitando uma deixa de Pacheco Pereira aqui vão mais alguns contributos:

Rui Pena Pires, a maioria enganou-se!

Um petulante Masson que costuma escrever no Almocreve das Petas destila vinagre e arrogância por todos os poros.

João Pedro Henriques, sem máscara e sem elegância.

A despromoção de Vital Moreira e a tese da vitória fraca.

O erro de Sócrates, revisitado

Há pouco mais de três meses, tive oportunidade de comentar o que me parecia ser um erro estratégico de José Sócrates. O desfecho das eleições presidenciais confirma em absoluto o quadro então traçado.
O Primeiro-ministro José Sócrates enfiou-se num buraco muito estreito de que não é fácil sair. Perdeu o centro para Cavaco e perdeu a esquerda para Alegre.
O PCP e o BE já prometeram aumentar a conflitualidade social, em especial o primeiro que sente-se reforçado com os resultados de Jerónimo.
Obrigado a governar ao centro e a concretizar as reformas de que o país necessita - para isso conta com a cooperação estratégica do futuro Presidente - não poderá assim abrir qualquer flanco à sua esquerda. Ou seja, vai ter que encontrar uma solução para enquadrar a contestação potencial da esquerda socialista.
A manta de Sócrates encurtou muito em menos de um ano: nem tapa os pés nem a cabeça. Tem agora três anos e meio para a fazer crescer, correndo o risco de até lá enregelar.

Fora dos intervalos de confiança

Tive oportunidade de avançar com algumas estimativas feitas das leituras das sondagens disponíveis. Os desvios verificados merecem alguns comentários:
1. Cavaco Silva abaixo dos 53%-55%. Não encontro no decorrer da campanha qualquer explicação para o facto, a não ser a hipótese de alguns potenciais votantes em CS terem desviado a sua intenção com base numa vitória já garantida. Se assim foi, Manuel Alegre foi o principal beneficiado. Uma parte do eleitorado foi cativado pelo postura digna e quixotesca de um "cavaleiro da liberdade" a lutar contra os donos do aparelho. Há muito voto em Manuel Alegre que é contra Sócrates e Soares.
2. Soares + Alegre acima dos 30%. Mérito para Alegre que venceu o "seu" desafio.
3. Jerónimo acima dos 5%-7%. Fez uma excelente campanha e com simpatia e humildade chegou junto do eleitorado que o PCP vinha a perder.
4. Uma quebra significativa na abstenção: parabéns portugueses que perceberam o que estava em jogo!

Eurosondagem

Subscrevo a sugestão de Paulo Gorjão: era bom que a Eurosondagem tentasse encontrar uma explicação técnica convincente para, à revelia de todos os outros estudos, ter dado sistematicamente Soares à frente de Alegre.
Tal como a mulher de César ...

A legitimidade duvidosa

O PC já começou a pôr em causa a legitimidade reforçada da vitória à primeira volta de CS. Lembram que foi só "por umas escassas décimas".
Se vamos por números então há que lembrar que Sampaio em 2001 foi eleito por 2,4 milhões de eleitores, em 2006 Cavaco Silva foi eleito por 2,8 milhões.

A deselegância de Sócrates

Aquela de "queimar" a declaração de Manuel Alegre é de mau perdedor.
Sócrates não terá resisitido a expressar o seu reconhecido mau feitio e deselegância.
Não acredito em distracções e se as houve são imperdoáveis.

Presidente Aníbal Cavaco Silva

Nem tento esconder a alegria que sinto por detrás de qualquer discurso pretensamente isento e independente. É uma vitória histórica. Pela primeira vez na história da democracia portuguesa é eleito um presidente que não se assume de esquerda.

Foi também Cavaco Silva que rompeu com o grilhão que parecia tolher o sistema político português, incapaz de gerar maiorias absolutas.

Vale a pena perguntar como ACS construiu esta vitória. Deixo algumas hipóteses explicativas:

  1. Convém não esquecer os 46%, correspondentes a 2,6 milhões de votos, que CS obteve nas eleições de 1996 contra o candidato único da esquerda, Jorge Sampaio. O PSD nas legislativas imediatamente anteriores não tinha ido além dos 34%.
  2. Relativamente a 1996, CS passou de 2,6 milhões de votos para 2,8 milhões. Onde os foi buscar? Ao centro-esquerda, precisamente aos votantes que deram a maioria a José Sócrates.
  3. Mais tarde ou mais cedo, iremos reconhecer que esse ganho só foi possível porque CS se demarcou de Pedro Santana Lopes, há cerca de uma ano. Esse sinal foi decisivo para uma parte do eleitorado do centro esquerda perceber que se tratava de duas culturas políticas não só diferentes, mas também antagónicas.
  4. Uma estratégia eleitoral construída e cumprida ao milímetro, dando um outro sinal: quem quer ser Presidente da República tem de se comportar como tal e não entrar na “politiquice” e na “retórica”, cumprir a sua agenda e não andar atrás da agenda dos outros, defender as suas ideias e não entrar em concursos de “misses” ou de saber quem é o “dono da pátria”.

Muitas mais razões existirão, fico por estas como sendo as mais importantes.

Portugal Maior

Sempre acreditei que Portugal ia escolher Cavaco Silva e que hoje termina um longo período de desânimo no futuro. Não é por acreditar em super homens nem por querer que venha alguém tomar conta de nós. É porque este resultado é um sinal da vontade colectiva de mudar e de mudar com coragem, com exigência, com ambição, deixando para trás os discursos de condescendência ou de falsos paternalismos. Portugal vai ser maior, como deve e pode ser.

Portugal ganhou!

No escasso período de um ano e meio o voto dos portugueses definiu a novíssima configuração do sistema político português: pela primeira vez, um presidente que não se assume de esquerda, eleito com uma legitimidade reforçada por uma vitória à primeira volta contra 5 candidatos de esquerda; uma maioria socialista inédita e um governo que é obrigado a governar ao centro; um poder local maioritariamente afecto ao maior partido da oposição.

Para os que defendem a tese de um sistema político esgotado há que reconhecer que os portugueses descobriram mais uma combinatória que não estava nos manuais. O desafio à imaginação é grande. Portugal voltou a ganhar!

sábado, 21 de janeiro de 2006

Poluição atmosférica e enfarte do miocárdio

O relatório sobre Ambiente e Saúde publicado pela Agência Europeia do Ambiente realça os efeitos da poluição na saúde humana. As consequências ocorrem a vários níveis e resultam de vários poluentes. Dentro destes destacamos os níveis excessivos de partículas no ar provenientes da utilização dos diversos combustíveis os quais provocam elevada mortalidade. A O.M.S. calcula que as partículas no ar sejam responsáveis por 100 mil mortes e 750 mil anos de vida perdidos (dados de 2004).
As partículas mais finas estão a ser alvo de atenção redobrada de forma a reduzir a sua produção. A inalação crónica de baixas concentrações provoca graves problemas de saúde: desencadeiam ataques de asma além de graves doenças pulmonares e cardíacas. Os novos limites a propor são manifestamente inferiores aos existentes o que exige a tomada de medidas bastante drásticas. Não esqueçamos que os veículos a gasóleo e as fontes que utilizam carvão são as principais fontes destas partículas.
Ultimamente tem sido discutido o papel da poluição atmosférica nas doenças cardiovasculares caso do enfarte do miocárdio e dos acidentes vasculares cerebrais. Aparentemente esta associação não seria de esperar. No entanto, alguns estudos epidemiológicos e experimentais em animais revelam que a associação existe e poderá ser explicada através de fenómenos inflamatórios que ocorrendo a nível pulmonar acabam por se repercutir a nível sistémico. Assim, no caso de artérias apresentarem lesões aterocleróticas o processo inflamatório pode agravá-las e desencadear uma situação de obstrução.
A obesidade constitui uma das mais graves epidemias do mundo ocidentalizado e tem uma influência negativa na saúde dos vasos sanguíneos. Os portugueses e sobretudo as portuguesas estão cada vez mais obesos, ao ponto de 52% das últimas, com idade igual ou superior a 18 anos, ultrapassarem um perímetro abdominal de 88 cm, o que constitui um risco elevado de virem a sofrer diabetes, hipercolesterolemia, enfarte e acidente vascular cerebral.
Deste modo, podemos afirmar que ser obeso é um factor de risco cardiovascular nada desprezível, mas se viver em meio poluído, caso das grandes cidades ou zonas industrializadas, o risco de enfarte ou de acidente vascular cerebral aumenta de forma significativa. Se for obeso ou praticar uma dieta não saudável, por exemplo rica em gorduras, é melhor não respirar as partículas provenientes da combustão de gasóleo ou do carvão.
Comer uma refeição rica em gorduras num restaurante ou numa esplanada da Avenida da Liberdade em Lisboa ou na Fernão de Magalhães em Coimbra pode constituir uma associação muito perigosa para as nossas artérias…

Bem-vindo a este mundo





Quem dividiu, não pode ser o Presidente de todos!...

Terminou a Campanha Eleitoral.
Mário Soares, Manuel Alegre e os restantes candidatos que diziam representar a “esquerda” nada fizeram para unir e mobilizar os Portugueses em torno de grandes ideias e objectivos para Portugal, talvez a mais decisiva e relevante das funções informais do Presidente .
Pelo contrário, limitaram-se a falar contra: contra Cavaco, contra a direita, contra as forças da direita que estariam atrás de Cavaco, contra, sempre contra.
Discriminaram os Portugueses: os Portugueses da “esquerda” que os apoiava, face aos portugueses da “esquerda” que não os apoiava e uns e outros contra os Portugueses da direita.
Preconizavam a derrota da direita, isto é a derrota dos Portugueses que pensavam diferente, simplesmente porque pensavam diferente, já que nem se deram ao trabalho de os convencer da valia das suas razões.
Lamentavelmente esqueceram-se que, mesmo aceitando a sua terminologia, há Portugueses de direita e Portugueses de esquerda e que os Portugueses de “direita” são tão Portugueses como os portugueses de esquerda.
Como tal, pela discriminação que fizeram, não poderão nunca ser o Presidente da República Portuguesa, o Presidente de todos os Portugueses.
Apenas um Candidato, Cavaco Silva, falou para todos os Portugueses e não agravou nenhum, qualquer que fosse a sua ideologia.
Merece e vai ser o Presidente de todos nós.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Exemplo único.

A Ponte Fortificada de Ucanha, ali para os lados de Tarouca. Exemplo único de ponte fortificada. Arquitectura militar gótica do séc. XII, constituia a entrada monumental no couto do Mosteiro de Salzedas. Aliás, de caminho, vale a pena visitar este mosteiro.

Mais um “cientista” vigarista"!

Um investigador norueguês, Jon Sudbo, inventou os dados para realizar um estudo sobre o efeito protector dos antiinflamatórios no cancro oral. O trabalho foi publicado numa prestigiada revista médica. Ah! o trabalhou “revelou” um efeito protector dos antiinflamatórios.
Mais um vigarista. Está bonito, está!

Os Governantes e a Verdade

Ainda a propósito da “confissão” do Ministro das Finanças sobre o facto de, daqui a 10 anos, a Segurança Social deixar de ter dinheiro para pagar pensões e reformas, há duas questões para as quais não posso deixar de chamar a atenção:

1. Na edição de Sábado, Janeiro 14, 2006, do “Expresso”, há um comentário de outro membro do Governo (que obviamente não se quis identificar), a propósito destas declarações do Ministro das Finanças, que é uma autêntica pérola: “Entusiasmou-se, esqueceu-se de que estava na televisão e disse a verdade”. Lê-se, relê-se, e não se acredita! Mas então... não é suposto que os nossos governantes nos digam a verdade?! Ou devemos ficar definitivamente convencidos de que não devemos acreditar em nada do que dizem – e que só quando estão desatentos ou distraídos, e se esquecem de onde estão, como parece ter sido o caso, podemos acreditar neles?! Admirável é também este pormenor ter passado despercebido... pelos vistos a toda a gente!

2. Na mesma peça jornalística, o “extraordinário” Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva veio desdramatizar porque, afinal, no seu entender, o que vai acontecer, lá para 2015, é que o actual modelo de financiamento da Segurança Social entrará em défice, se nada for feito até lá. Ora, vamos lá ver: entrar em défice significa, neste caso, que deixa de haver capacidade para pagar todas as reformas e pensões. Certo? Certo. Logo, onde é que isto é diferente do que disse o Ministro das Finanças?! Estarei doido, ou o facto de não se poder pagar a totalidade das pensões e reformas a partir de 2015, mais coisa menos coisa, e se tudo se mantiver como hoje, é o que disse o Ministro das Finanças?! Então, porquê os “paninhos quentes” do Ministro Vieira da Silva?!

Para mim, é óbvio que o Ministro das Finanças está mais do que certo – e ainda bem que ele disse a verdade; e também é evidente que (oxalá estivesse enganado!), com este Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social – que está a fazer tudo para não admitir a verdade... –, só muito dificilmente a Segurança Social será objecto das alterações – impopulares, mas extremamente necessárias – que se impõem.

Mais uma machadada

No meio das mensagens corriqueiras e dos chochos discursos desta campanha eleitoral, foi possível, aqui e ali, quase sempre no meio de rancores antigos, ódios recentes e republicanas desinteligências, surpreender porque razão é a classe política vítima de si própria.
Ontem Mário Soares produziu esta pérola, mais um contributo para o descrédito de quem se dedica à actividade político-partidária:
Aqueles que falam contra a política, que desprezam os partidos
políticos, mesmo que tenham o cartão de membro de um partido político para
qualquer circunstância
, esses estão a fazer um papel necessariamente
infeliz
.
Referia-se, como é óbvio, ao seu camarada Manuel Alegre, a quem acusa de manter o cartão partidário "para qualquer circunstância". Alegre não é "um qualquer" no PS. Foi ao longo dos tempos exibido como uma referência do socialismo português. Afinal ficamos a saber que para Mário Soares, Manuel Alegre afinal só é do Partido Socialista por circunstantes conveniências.
Pode julgar-se que o Povo liga pouco a estas diatribes. Estou convencido, no entanto, que no subconsciente colectivo, afirmações destas avolumam o descrédito geral neste modelo de democracia.
Poucos serão, porém, os que censurarão a afirmação, independentemente de a mesma se dirigir a quem se dirige e ter sido proferida no contexto de uma campanha eleitoral onde se oficializou a ideia de que tudo o que nela se diz não é para levar a sério.
Mas ainda que assim não fosse, a Mário Soares tudo se perdoa e continuará a perdoar. Um fenómeno!

Uma maioria, um governo, um presidente

Não sei se o velho sonho de Sá Carneiro expresso na frase "uma maioria, um governo, um presidente" alguma vez se concretizará no quadro das soluções governativas do centro do espectro político português.
Sei apenas que essa combinatória só se concretizou à esquerda e de forma limitada. Primeiro com Guterres e Sampaio, mas sem maioria absoluta, depois num escasso período de um ano prestes a completar-se, com Sócrates e Sampaio.
Está por avaliar que consequências poderá ter este último ano. Sei, entretanto, que consequências teve a primeira experiência. Com um presidente, um governo, uma maioria relativa na Assembleia e uma maioria clara nas autarquias, assistimos a um dos períodos mais negros e mais irresponsáveis da história política portuguesa, pelo qual pagamos hoje e continuaremos a pagar nos anos vindouros.
O sonho de Sá Carneiro foi transformado num pesadelo e poderia tornar-se numa reedição revista e ampliada caso não se concretizasse a candidatura de Aníbal Cavaco Silva.
Com Guterres, Vitorino, Soares ou Alegre, o projecto de Sócrates não passaria, a médio prazo, de uma versão aggiornata do Guterrismo e do pesadelo. Afinal, com algumas honrosas excepções, a tralha é a mesma.
Com a esperada vitória de Cavaco Silva, Sócrates poderá sentir-se obrigado a governar o País e a fazer as reformas que todos reconhecem como necessárias e urgentes. Esperemos que Sócrates saiba ler os resultados do próximo domingo e retire as devidas consequências.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

Sunrise by the bay


"The north tower of the Golden Gate Bridge frames the Bank of America Center, San Francisco tallest building, as the sun rises through a layer of fog on Tuesday.
(AP/The Chronicle photo by Frederic Larson)
Jan. 18, 2006"


Há momentos de rara beleza.

Os grandes artistas também caem!

Fotografia de Franck Fife (18 de Janeiro de 2006)




... e quando caem são desclassificados.

Uma boa escolha!...

Está a terminar a Campanha para as eleições presidenciais.
Cavaco Silva afirmou-se por si próprio, pelas suas ideias e pelas suas ambições para Portugal.
Fez uma campanha positiva.
Não atacou, não caluniou, muito menos ridicularizou os outros candidatos, nem alguma vez lhes atribuiu intenções menos nobres.
Respeitou-os sempre, mostrando assim respeitar os portugueses que os apoiavam.
É um homem informado, culto, atento às questões sociais, mas também à economia, determinado, mas capaz de gerar consensos, defensor da coesão social e um garante da estabilidade política. Cavaco fez uma campanha construtiva, procurando mobilizar os portugueses para os grandes desafios do nosso tempo.
Vai ser, segundo penso, escolhido por uma grande maioria de portugueses para ser Presidente da República.
Se assim for, será a melhor coisa que acontece em Portugal nos últimos tempos!...

Decidir ou divagar?

O voto diletante é um luxo a que continua a entregar-se uma parte não negligenciável dos que se consideram bem pensantes. Apesar de entrar pelos olhos dentro que o País precisa de políticos de qualidade, de quem seja capaz intervir com a palavra certa, de quem tenha experiência e provas dadas, enfim, de quem inspire confiança e contribua para a estabilidade, apesar disso há quem prefira refugiar-se no voto-que-não-decide-nada. Não por fidelidades partidárias, que essas ainda as podia perceber, mas por avaliações completamente marginais ao que está para decidir: quem é, de facto, o candidato que poderá desempenhar melhor o cargo de Presidente da República? Objectivamente, a grande parte dessas pessoas descrevem Cavaco Silva ou, nos casos mais exóticos, para não dizer irresponsáveis, consideram que ainda não é desta que podem eleger alguém digno da sua exigência. Mas depois entram com aquelas considerações de gente mimada, tipo “não simpatizo com a pessoa” ou “o tom de voz”, ou “a dentada no bolo rei”, ou a rigidez na postura, ou sei lá que mais detalhes absolutamente irrelevantes. Mas, se as ouvirmos falar do Director do seu emprego ou da Administração da empresa, não hesitam em dizer que preferiam um “tipo capaz” em vez de um simpático que não sabe o que faz, que estão desmotivados com “a falta de rumo”, que um incompetente não pode valorizar o trabalho dos outros… Se tivessem que votar para a sua empresa em dificuldades, em quem votariam? Num poeta simpático e com uma bela colocação de voz que vive de sonhos passados ou num homem decidido, estruturado, exigente e que sabe o que é preciso para andarmos para a frente?
É que há um tempo para divagar e um tempo para decidir.
Acredito que a grande maioria não tem dúvidas sobre isso e que Cavaco Silva vai ganhar, já no Domingo.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Índice Robin Hood

O estudo recentemente publicado sobre as desigualdades dos rendimentos, entre os mais ricos e os mais pobres, nos diferentes países da União Europeia, coloca Portugal numa situação verdadeiramente desconfortável já que o fosso ricos-pobres está a alargar-se de ano para ano. Se somarmos estes dados aos cerca de 2 milhões de portugueses que têm um rendimento inferior a 350 euros por mês ficamos com uma ideia muito precisa do que está a acontecer na nossa sociedade.
As implicações destes dados traduzem-se a diferentes níveis, dos quais destacamos a saúde.
A emergência da epidemiologia social, há alguns anos, permitiu analisar a saúde e a doença numa perspectiva diferente da habitual. As comunidades mais ricas são geralmente mais saudáveis. Todos concordarão com esta afirmação. No entanto as razões prendem-se não com o facto de haver diferenças no acesso aos cuidados de saúde ou na qualidade dos tratamentos, mas sim com os comportamentos e estilos de vida dos mais pobres. Estes são mais obesos, bebem mais, fumam mais, vivem em áreas mais violentas e poluídas, têm menos acesso aos confortos, sentem mais na pele o facto de não terem os mesmos níveis de bem-estar dos mais favorecidos, sendo, inclusive, massacrados com os estereótipos das individualidades de referência social, enfim são de facto mais pobres e fazem-nos sentir isso mesmo, o que é manifestamente mau. Deste modo, sempre que o gradiente socio-económico aumenta é de esperar agravamento do estado de saúde dos menos favorecidos (medido pelo índice Robin Hood). Não é por acaso que a esperança de vida é mais baixa e que a mortalidade por diversas doenças, desde as cardiovasculares passando pelas tumorais atingem valores elevados nesta importante fatia da comunidade. Ora aumentando o gradiente socio-económico em Portugal é de esperar um agravamento da saúde dos nossos compatriotas. Os mais favorecidos conseguem controlar melhor os factores de risco que põem em causa a sua saúde, assim como conseguem manter os factores que a promovem. Nos pobres é precisamente o contrário. Como estes estão a aumentar – o conceito de pobreza relativa é muito importante – e os seus rendimentos estão a diminuir face aos que ganham mais, então é de esperar um agravamento do estado de saúde do país. O problema de acesso aos cuidados de saúde, assim como a realização de exames, mesmos os mais sofisticados, não vão resolver o problema, além de constituírem um factor de agravamento em matéria de financiamento da saúde, que já é muito preocupante.
Em termos sociais o investimento público do qual resulte bem-estar para todos, mas sobretudo para os mais desfavorecidos permitindo-lhes mais rendimentos e aquisição de comportamentos mais saudáveis diminui de uma forma acelerada à medida que os mais favorecidos se afastam dos mais pobres. Aqueles desviam os seus rendimentos para o seu próprio bem-estar: seguros de saúde, condomínios fechados, escolas privadas, águas engarrafadas, enfim todo um conjunto de conforto virado para o seu próprio bem-estar deixando de investir no bem comum. Esta recusa de investimento começa a verificar-se em muitos países em que o status socio-económico se vai alargando. Portugal face aos últimos dados comporta-se como um desses países em que o fosso se alarga de ano para ano. Sendo assim, é de prever um agravamento substancial do estado de saúde que não se conseguirá travar com as medidas de apoio e cobertura médicas ciclicamente anunciadas. Longe disso, se quisermos dar saúde aos portugueses a solução passa não só por um acesso universal aos cuidados – que já é um dado adquirido – mas sim através de uma diminuição das desigualdades dos rendimentos, um maior investimento público nos instrumentos sociais, assim como um controlo dos agentes stressógenos de origem social que fazem sentir mais pobres os que efectivamente já o são.
Aumentando os rendimentos de um povo permitiria de uma cajadada eliminar ou reduzir um sem número de doenças que nos atormentam a toda a hora.

Leituras das sondagens

Ao contrário de muitos observadores e comentadores, entendo que as sondagens são um instrumento fundamental para avaliação do desempenho dos candidatos e para identificação de tendências das intenções de voto do eleitorado. Se poderei aceitar a expressão corrente de que "as sondagens valem o que valem", também defendo que elas valem bastante se não transformarmos a sua leitura numa manifestação de "wishful thinking", ou seja tentar ver o que queremos ver e não o que lá está para ser visto.
Vem isto a propósito da animação provocada pela quebra nas intenções de voto em Cavaco Silva e no alarido em torno da probabilidade acrescida de realização de um segunda volta. A publicação diária de resultados por parte da "pool" TSF/DN/Markteste decerto alimentou essa imagem e o problema está em saber o que terá influenciado essa quebra.
Será que a campanha de Cavaco Silva está mal organizada e as dos restantes candidatos muito bem organizada? Exceptuando o caso de Jerónimo de Sousa que tem vindo a fazer uma boa campanha no terreno, não creio que CS tenha cometido muitos erros nem que os restantes candidatos tenham concretizado grandes sucessos.
Haverá alguma explicação para o sucedido? Entendo que há e essa explicação passa pelos elevados níveis apresentados pelas sondagens no período imediatamente antes do Natal e a primeira semana de Janeiro. Nessa altura a maior parte das sondagens davam a vitória certa a CS, à primeira volta e com um resultado esmagador próximo dos 60%. Com estes valores é sempre mais fácil descer do que subir, mas a sua divulgação tem um efeito sobre o comportamento do eleitorado: "já está tudo decidido!". Até havia quem dissesse que o período de campanha seria uma perda de tempo.
É bem provável que se tenha registado uma desmobilização do eleitorado de CS, mas esta reacção, em princípio, não deveria revelar-se nas sondagens. Não sei porque razão técnica, mas julgo que os 60% do princípio do mês estão sobreavaliados e à medida que se vão repetindo os inquéritos, os resultados vão-se aproximando do que é previsível, ou seja, CS com valores próximos dos 53 a 55%, Manuel Alegre à frente de Soares (somados deverão andar pelos 30% correspondente ao núcleo consolidado do eleitorado do PS) e Jerónimo de Sousa ligeiramente acima de Louçã (cada um entre os 5 e os 7%).
Como sempre, o Margens de Erro dá-nos uma imagem do conjunto de sondagens realizado, sendo de consulta obrigatória. Agora há que aguardar pelos resultados que serão publicados 5.ª e 6.ª feira para se ter uma ideia mais precisa das projecções.
Uma coisa é certa: se uma parte significativa do eleitorado convencer-se que está tudo definido e que o melhor é ficar em casa, então as sondagens vão mesmo errar nas suas estimativas.

A calamitosa falta dos bombos!...

Indo Mário Soares em Viseu, aconteceu-lhe o mais terrível dos percalços que podia atingir a sua campanha.
Não, não foi a falta de povo, apesar de não ter mais que poucas dezenas de pessoas à sua espera.
Também não foi a falta de pastelarias, onde Soares se refugia, quando a coisa não corre bem: em Viseu há muitas e boas!...
O grande percalço é que os bombos não apareceram.
Segundo o insuspeito DN, “devia haver bombos para o passeio pela zona histórica, mas os Abelhões de Oliveira de Barreiro ainda não tinham chegado. Sem barulho, sem multidão e com muito frio, ficariam todos ali a olhar uns para os outros, se José Junqueiro, o líder distrital do PS, não tivesse dado ordem de marcha:
"Vamos andando!"
"Mas vamos andando sem bombos?...", estranhava Soares..."
Pois é, o povo parece que se fartou de ser o bombo das festas de Soares!...

terça-feira, 17 de janeiro de 2006

O porta-voz do Governo

Mário Soares quis fazer passar uma visão minimalista dos poderes presidenciais. Ao Governo PS poderá interessar ter em Belém um Presidente da mesma cor que não faça ondas nem questione a sua acção.
Abanar o espantalho do presidencialismo, classificando-o de "golpe de estado constitucional", ou invocar a "ameaça cavaquista" expressa por "interesses ilegítimos", faz parte da velha cultura política de lançar suspeição sobre o adversário, mas também revela o receio do PS e do seu Governo de ter de lidar com alguém que não controla nem se sujeita aos mesmos ditames partidários.
O que não seria previsível é o facto de Mário Soares assumir a função de porta-voz do Governo a propósito dos boatos sobre a privatização dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Se é essa a concepção dos poderes presidenciais por parte do candidato do Partido Socialista, ficamos elucidados sobre o que desejaria o PS e o Governo e ao que se dispunha Mário Soares, a bem da boa harmonia da família socialista.
Se dúvidas houvesse ...

O meu testemunho

Apoio Cavaco Silva, porque tem ambições para os Portugueses e não visa a mera glória do poder.
Apoio Cavaco Silva, porque vê na Presidência da República uma missão e não o coroar de uma carreira, por muito meritória que tenha sido.
Apoio Cavaco Silva, porque, conhecendo por si o que é o povo, e não por ouvir dizer, sabe bem interpretar os seus anseios mais profundos.
Mas também apoio Cavaco Silva, porque foi o homem das rupturas necessárias com os preceitos mais retrógrados da Constituição de 1975, que permitiram o início da modernização do tecido económico português.
Apoio Cavaco Silva, porque é um homem honesto, rigoroso, competente, sinceramente preocupado com o povo.
Apoio ainda Cavaco Silva, porque tendo servido a política, nunca se serviu da política.

De vez em quando, boas novas

Sei que destoo da atenção geral dos meus companheiros de blog e dos nossos habituais comentadores ao assunto do momento. Será por certo desatenção minha, mas confesso que não consegui ver até ontem um único momento de interesse nesta campanha (salvo, talvez, algumas anedotas ditas no tom mais solene do mundo, como esta, deliciosa, aqui oportunamente lembrada pelo Pinho Cardão). E, ao que vai parecendo, nem o golpe de teatro que eu esperava - a desistência de Mário Soares a favor de Alegre e o apelo geral à união da chamada esquerda - se dará!

Entretanto o País não se reduz, felizmente, ao "carnaval" da campanha presidencial. E vão acontecendo coisas. Há, de facto, mais vida para além das presidenciais. Infelizmente quase sempre coisas que atingem as famílias na sua estabilidade, na segurança e na esperança de um futuro garantido.

Mas de vez em quando - muito de vez em quando, ao ritmo próprio dos Estados que ocupam os últimos lugares das estatísticas dos factores de desenvolvimento - lá se ouve falar de ocorrências positivas. E hoje a imprensa relata duas. A primeira teve honras de Primeiro-Ministro e tudo, tratando-se de declarar o interesse público de dois empreendimentos turísticos em pleno litoral alentejano e, pelo menos um deles, não sei se ambos, em Rede Natura 2000. A segunda, a "conquista" de uma fábrica da multinacional IKEA no Minho, um investimento estrangeiro substancial para os tempos que correm.

No caso do primeiro é bom verificar que o Sr. Engº Sócrates ganhou sensatez no que às políticas de aproveitamento sustentável do território respeita. Não vão longe os tempos em que a demagogia impediu a introdução de factores de racionalidade e equilíbrio entre interesses de conservação e interesses de produção com base na definição de critérios de compatibilidade de usos, aplicáveis à Rede Natura como à REN. Muito por culpa de uma concepção "socrática" que rejeitava liminarmente o reconhecimento de interesse público a empreendimentos de iniciativa privada mas importantes para a economia nacional.

Mas é sobretudo uma boa notícia para o Alentejo. Se os projectos forem bons, podem contribuir aí como noutras zonas para aumentar os níveis de emprego e, com eles, os índices de fixação de população em áreas de outro modo condenadas ao despovoamento. Sem que se destruam os valores naturais que os regimes de protecção visam garantir.

O mesmo se diga da fábrica da IKEA, dos poucos investimentos que, nos últimos tempos não foram atraídos pela notável dinâmica da Galiza.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Creio que me enganei!...

Á medida que vai descendo nas sondagens, Mário Soares, directamente ou através dos seus acólitos, vai fazendo subir o grito lancinante de que a eleição de Cavaco traria, de imediato ou a breve prazo, instabilidade política à República.
Cavaco teria o sinistro propósito de fazer a vida negra ao Governo, de modo a criar condições para a concretização, à direita, segundo dizem, do célebre lema “Uma Maioria, um Governo e um Presidente”.
Primeiramente pensei que essa propalada ideia da instabilidade a criar por Cavaco seria uma questão de total falta de argumentos ou da mais primária má fé.
Hoje, creio que me enganei!...
Os homens talvez sejam sinceros e o que fazem é julgar os outros pela sua própria bitola.
Como não têm da política qualquer ideia de serviço a prestar ao povo, e a política para eles é apenas um instrumento para se servirem a si próprios ou, na melhor das hipóteses, para se promoverem a si próprios ou um jogo para manterem o seu amor próprio, projectam nos outros a sua própria atitude.
É uma atitude de espírito pequenino(os romanos tinham no latim a palavra adequada, parvus, isto é , pequenino), que os portugueses mostram rejeitar.
E é uma atitude tanto mais “parva” quanto, à medida em que é rejeitada, nela cada vez mais vão insistindo!...
São políticos politiqueiros.
Num tempo em que tanto se invoca a qualidade, não podem ser Presidentes da República!...

Rede de escolas do 1.º ciclo

O há muito anunciado plano de reordenamento da rede de escolas do 1.º ciclo parece estar a ser concretizado de forma determinada. Segundo o Jornal de Notícias, "até ao final da legislatura, em 2009, o Governo projecta fechar, em todo o país, mais de quatro mil escolas com menos de dez alunos, ou com menos de 20 alunos e com taxas de aproveitamento inferiores a 89% (média nacional)".
Esta é uma das matérias em que terá de haver convergência de esforços. A concretizar-se este plano, consumar-se-á uma das mudanças mais profundas na realidade educativa nacional. Os sacrifícios que esta mudança exige e a muita incompreensão que despertará não deverão dissuadir a intenção nem fazer alterar o rumo traçado.
Para que tal aconteça é decisivo que o Ministério da Educação perceba que não há nenhum pai que esteja disposto a aceitar que os seus filhos tenham de deslocar-se mais 10 ou 15 Km para frequentar uma escola com as mesmas condições daquela que foi encerrada na sua aldeia.
Para que o reordenamento tenha êxito terá de haver qualificação do ambiente escolar, nomeadamente das infraestruturas. Sem isso, o que poderia ser uma excelente medida pode transformar-se numa enorme dor de cabeça.
A tese da "desertificação do interior" vai ser muito badalada, mas há que esclarecer que não é o encerramento da velha escola primária que trava a tendência. Ou se assume que é necessário sacrificar algumas aldeias para salvar as vilas e cidades do interior ou então a vaga desertificadora esvaziará tudo.

O que dizem as estrelas

Se pudéssemos imaginar uma campanha eleitoral sem a informação das sondagens, decerto perceberíamos as tendências através das declarações dos últimos dias.
Tomando por base de informação o que vem hoje publicado no DN será fácil perceber quanto o desespero é mau conselheiro. Vamos a alguns exemplos:
1. Manuel Alegre que se revelou tão seguro do seu projecto ameaça agora de forma iniludível que "ao fim de seis meses vamos ter uma crise política a partir da Presidência da República para que se cumpra o velho sonho da direita - um Governo, uma maioria, um Presidente."
2. Augusto Santos Silva saca da sua veia conspirativa para acusar que "o que está em causa no domingo é eleição de um Presidente que obedece à Constituição, não é uma tentativa de fazer o que seria um verdadeiro golpe de Estado constitucional."
3. Martim Silva manifesta-se contrário ao "fingimento" e à pose de "cabide" de Cavaco Silva.
4. Joana Amaral Dias cai num tom nostálgico e pretensamente erudito para desmascarar Cavaco Silva e Manuel Alegre.
Conseguiríamos arranjar outros tantos exemplos desta insuportável menorização dos eleitores. Sim porque a esquerda não suporta que o seu "povo" possa, pela primeira vez, colocar um "homem de direita" em Belém. Para essa esquerda, esse povo que tanto invocam, funciona como uma espécie de coutada eleitoral que nunca pensaram perder. Por isso mesmo vêm acenar com a história do capuchinho vermelho e do lobo mau.
A esquerda será, mais tarde ou mais cedo, confrontada com os seus paradigmas bafientos e com uma cultura política obsoleta que os leva a não perceber o que realmente se está a passar em Portugal.

domingo, 15 de janeiro de 2006

sábado, 14 de janeiro de 2006

Lembrei-me do Tonibler...

Ao ler esta notícia não resisti a divulgá-la, por causa do Tonibler!

"Líder checheno defende poligamia no país"

A verdade e a mancha

É verdade que a PGR, no uso das suas competências, pediu à PT a discriminação da factura de telefone de uma pessoa investigada no âmbito de um processo.
É verdade que a PT forneceu umas disquetes contendo a informação pretendida, a qual estaria misturada com muitos outros registos.
Parece ser verdade que os registos não solicitados, mas agrupados no mesmo suporte, foram previamente “blindados”.
É verdade que os telefones dos membros do Governo e de outros órgãos de soberania são desde logo considerados confidenciais, pelo que faz todo o sentido que as tais listagens fornecidas incluíssem um grupo de telefones tratados da mesma maneira.
É verdade que as listas publicadas só incluem pessoas cujos telefones estavam nessas condições, por os seus titulares se encontrarem nas funções que o determinavam.
É verdade que é profundamente ridículo admitir que Presidente da República, o Presidente do Supremo Tribunal, o próprio Procurador Geral, vários Ministros e Secretários de Estado das mais variadas pastas e Governos estivessem a ser alvo fosse de que suspeitas fossem no âmbito do referido processo.
É verdade que as ditas disquetes foram parar a um jornal sensacionalista.
É verdade que a informação que estaria oculta foi, algures neste caminho, desvendada e publicitada.
É verdade que o que foi publicitado não tem, em si mesmo, qualquer significado, é uma espécie de lista telefónica disparatada que revela que o telefone é um instrumento utilizado por todos.
É verdade que tudo isto produziu um escândalo total quando não deveria ter merecido mais do que um gesto de impaciência perante o absurdo que a notícia pretendia insinuar e um forte castigo sobre quem terá entregue o material ao jornal violando os seus deveres profissionais.
É verdade que deveria ter havido um clamor de repúdio sobre a atitude do jornal.
Mas também é verdade que vivemos um clima de suspeição doentia, que raia o irracional, em relação aos titulares de quaisquer cargos públicos, sejam eles de que natureza forem, sem poupar ninguém. Sem esse clima, a notícia de hoje teria apenas merecido uma forte censura a um tipo de jornalismo que se alimenta disto mesmo – da desconfiança cega, do desrespeito pronto, da falta de credibilidade alimentada, acrescentada, muitas vezes mistificada.
Está na altura de ganharmos algum juízo e, de uma vez por todas, medir bem as palavras quando se trata de fazer juízos de valor precipitados – sobre pessoas e instituições. Porque a vergonha recai sobre todos e causa muitos danos, mesmo que se continue a teimar em fingir que a imagem se limpa com o rolar precipitado de algumas cabeças mais a jeito.
Não limpa, a mancha fica sempre. Sobre as pessoas, sobre os cargos, sobre o País.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

Cuidado quando acordar…

Determinadas profissões exigem grandes esforços e longos tempos de actividade violando não só o ciclo vigília-sono, como obrigam a permanecer muitas horas sem dormir. Nestas circunstâncias é óbvio que o indivíduo procure descansar um pouco. Quem, como os médicos, que fazem bancos, sente a necessidade de retemperar forças não deixa de aproveitar os tempos mortos para dormitar um pouco. Acontece que esta prática pode ser nociva. Ao acordar, devido à necessidade de observar um doente, pode cometer graves erros já que as suas capacidades mentais estão diminuídas durante algum tempo. É certo que todos os que fazem ou já fizeram bancos sentem um certo entorpecimento após o acordar.
Agora, um estudo veio revelar aspectos muito interessantes sobre esta matéria. A nossa capacidade de raciocinar é baixa nos primeiros minutos depois de acordar, a tal ponto que a mesma consegue ser melhor depois de um noite sem dormir ou mesmo após uma bebedeira!
As implicações deste achado têm de ser tomadas em linha de conta nas situações em que se exigem decisões imediatas como acontece com os médicos. Os três primeiros minutos são os mais importantes em termos de memória imediata, habilitações matemáticas e capacidades cognitivas. Os efeitos mais graves da inércia do sono desaparecem ao fim de dez minutos embora se possam detectar alterações mesmo ao fim de duas horas. De acordo com o investigador ninguém deveria fazer nada realmente importante nos primeiros 15 a 30 minutos depois de acordar. Deste modo, condutores (que dormem nas áreas de descanso no decurso das viagens), médicos, bombeiros, motoristas de ambulâncias e outros indivíduos, que trabalhem em serviços de emergência, deverão tomar em linha de conta estes dados evitando situações que podem ser de risco quer para os próprios quer para os que são alvo da sua atenção.
Agora podemos compreender as afirmações de alguns indivíduos, segundo os quais não conseguem produzir, estar atentos ou serem criativos da parte da manhã. Sendo assim, o melhor é esperar pela tarde para conversar ou discutir algum assunto mais delicado, enquanto não inventarem um aparelho que meça a boa-disposição matinal…

Escutas e escrutinadores

A propósito das escutas telefónicas, destaco um parágrafo do texto assinado por Mangadalpaca e publicado por José na Grande Loja:

"Na verdade, os que hoje se dizem tão preocupados com listas de dados de tráfego, deveriam preocupar-se com verdadeiras escutas que se realizam sem qualquer escrutínio."

Subscrevo apenas com um senão: sem escrutínio ou com escrutínio, tudo depende do escrutinador e eu cada vez menos acredito em escrutinadores, dado que não posso acreditar em escrutinadores que não conheço, não controlo nem ninguém controla.

Escândalo de grampos atinge presidente de Portugal

A BBC Brasil publicitou a notícia das escutas telefónicas. O curioso é ver a imagem do Presidente da República!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

Ainda a questão da Segurança Social

Caros amigos,
Depois de ter lido todos os comentários relativos ao meu texto anterior, cumpre-me ainda responder à questão que me foi colocada pel’ “O Reformista” e que o José Mario Ferreira d’Almeida também subscreve.
Ora, os dados mais recentes que consegui reunir apontam para que, em 2003, existissem cerca de 2.715 milhões de pensionistas, com uma pensão média de cerca de EUR 454. Nesse mesmo ano, o número de trabalhadores ascendia a 5.118 milhões e o salário médio ascendia a cerca de EUR 738. Verificava-se, assim, que em 2003, já nem sequer existiam dois trabalhadores para um pensionista (é 1.88 era o rácio, quando há dez anos, por exemplo, ultrapassava 2).
É verdade que o salário médio é ainda substancialmente superior à pensão média (62.6%), mas a tendência é para aumentar o número de pensionistas e para diminuir o número de empregados, e isto devido a dois efeitos: (i) a diminuição da taxa de natalidade; e (ii) o aumento do desemprego (creio que chegaremos a 8% em breve e de lá não sairemos tão cedo – e se sairmos é, infelizmente, para mais e não para menos, mas isso fica para um outro texto...).
Acresce que não vejo como os nosso salários poderão crescer muito num futuro mais-ou-menos longo, e isto nem decorre das restrições orçamentais (lá vem o défice e o PEC!). Não – tal decorre do facto de nos últimos dez anos, por exemplo, os nosso salários terem sido aumentados, em média, sistematicamente acima da nossa produtividade e, também, de os custos unitários de trabalho terem aumentado mais de 2 pontos percentuais acima da média da EUR-12, o que, evidentemente, deteriorou a nossa competitividade (e de que maneira, basta ver a perda de quota das nossas exportações...).
Isto, claro, para além de, no escalão dos salários mais elevados, Portugal ser já um país que se situa acima da média europeia (o que não acontece nos níveis médios e mais baixos), o que configura uma situação de desigualdade que se tem vindo a agravar.
Portanto, os salários não crescerão muito (não podem – não tem como, enquanto a produtividade não aumentar mais...), o número dos que trabalham, infelizmente terá igualmente tendência a não aumentar e, como ao nível dos pensionistas, o efeito será o contrário, mesmo que as pensões também não cresçam muito, há sempre o efeito quantidade, pelo que, basicamente, se nada fosse feito, o Ministro das Finanças teria toda a razão: lá para 2015, os problemas da Segurança Social seriam de facto, muito, muito graves.
E, portanto, espero (esperamos todos, aliás, acho eu...) é que as medidas necessárias, por mais impopulares que sejam, sejam, de facto tomadas.