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sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

Escutas e escrutinadores

A propósito das escutas telefónicas, destaco um parágrafo do texto assinado por Mangadalpaca e publicado por José na Grande Loja:

"Na verdade, os que hoje se dizem tão preocupados com listas de dados de tráfego, deveriam preocupar-se com verdadeiras escutas que se realizam sem qualquer escrutínio."

Subscrevo apenas com um senão: sem escrutínio ou com escrutínio, tudo depende do escrutinador e eu cada vez menos acredito em escrutinadores, dado que não posso acreditar em escrutinadores que não conheço, não controlo nem ninguém controla.

7 comentários:

Suzana Toscano disse...

A cvonfusão está instalada e a verdade é que, com culpa ou sem ela, com intencionalidade ou sem ela, a informação referente a vida privada das pessoas circula por aí sem grandes cautelas. Mesmo admitindo que ninguém queria escutar ninguém (versão minimalista deste escândalo todo) o facto é que só não foram ouvidas as ditas gravações porque não calhou, orque a informação foi transmitida e chegou às mãos de alguém que, poe sua vez, a deu ao Jornal que por sua vez, a publicou com o detalhe necessário para não ser ignorada! Grave, gravissimo, quantas vezes acontecerá o mesmo com os milhentos ficheiros onde consta a nossa vida? Neste caso, soube-se, sobretudo porque envolveu quem pode fazer-se ouvir, mas quando assim não é? Quabtas vezes já aconteceu a divulgação de dados fiscais de pessoas sem que se saiba como evitá-lo? Lá vem mais um inquérito, como diz DJustino. Porquê só agora, se este problema já foi levantado há que tempos e com graves consequências? Instalada a ideia da impunidade, podemos imaginar o que vem a seguir. Big Brothero écran que o vê sem ser visto, aí está, bem concreto.

josé disse...

Cara Suzana Toscano:

Vi um nome parecido com o seu na lista publicada no 24 Horas.

COmo já disse aqui ( e só aqui o disse) exerço profissionalmente o cargo de magistrado do MP. No entanto, nunca confundi a minha profissão que exerço diariamente e me esforço por fazer o melhor que sei e posso, com o que escrevo nos blogs, onde uso o meu próprio nome como pseudónimo.Nunca poderia confundir porque isto aqui não é um local onde possa exercer a profissão. Tão simples quanto isso.

Dito isto, a PT já esclareceu que não forneceu conteúdo de escutas porque bem se tratavam de gravações. Logo, nunca poderia ter sido escutada neste caso.
Mesmo assim, parece, tanto quanto me foi dado a entender que poderá ter havido um lapso de alguém...da PT. Não sei bem ainda.

O que conta no entanto é o abuso do 24 Horas que ninguém quer apontar: os jornalistas pegaram nos elementos do processo e extrairam das disquetes o que elas continham e aparentemente não deveriam ter, com um efeito óbvio de causar escândalo, sem sequer se preocuparem em verificar a autenticidade dos factos.

Publicaram assim elementos apócrifos e causaram todo este broua broua.
Se a responsabilidade for da PT, espero ver se alguém vai pedir a cabeça dos administradores!!
E espero ainda ver alguém a pedir a resposabilização dos jornalistas...

VOu esperar sentado. E vou ver mais alguém a pedir a cabeça do SOuto Moura, como se isso resolvesse a questão de fundo.
O próximo vai ter os mesmíssimos problemas, como aliás já teve antes o Cunha Rodrigues.

Quanto à privacidade:

Todos nós que vamos ao banco depositar ou pedir dinheiro deixamos lá os nossos dados. Basta que tenhamos um cartão de débito MUltibanco,ou um de crédito para quem quiser perceber a nossa vida. MUito mais que um registo de chamadas alguma vez o poderá fazer.
Esses dados estão confiados a...bancários! Que podem,sempre que entenderem, consultar dados e fornecê-los a quem entenderem. Acha que isso não acontece?!

josé disse...

A razão de ter vindo aqui comentar, no entanto,prende-se com outra circunstância:

Sempre que estas coisas acontecem, é sempre o PGR que é posto em causa.
E o modo de lidar com o problema é sempre desajeitado.

A meu ver, num caso como este, durante a manhã, toda a gente envolvida ( Os investigadores particularmente), deveriam ter recolhido todos os dados disponíveis e deveriam comunicar os mesmos numa conferênca de Imprensa.
Explicar ao povo o modo de funcionamento da justiça ainda é considerado bizarro, em Portugal do séc XXI, num tempo de internet, comunicação instantânea e circulação de informações, rápida.
Esse, é um dos males reais da PGR. Esse, sim.

Ruvasa disse...

Viva, Prof. David Justino!

Sim, as escutas sem escrutínio é que deviam causar engulhos. Parece, porém, que não. Sabemos, todavia, por que razão apenas estas os causam...

E constitui motivo de riso (amarelo, diga-se) constatar a pressa - terrível pressa - que anima tantas gentes (acerca de um assunto que é do conhecimento de muita gente, há anos!), agora que se está a 10 dias do "day after" e que se sabe que o provável vencedor, entrevistado há tempos sobre a possibilidade de exoneração do PGR, respondeu que entendia que os mandatos devem ser levados até ao fim.

Está-se mesmo a ver, não é verdade? Há que acelerar para que não se deixe passar o "day before".

O resto? Puro folclore! Com a qualidade de ópera bufa.

http://ruvasa.blogspot.com/2006/01/640-23-de-janeiro-est-j-muito-perto.html

Apresento-lhe cumprimentos

Ruben Valle Santos

Tonibler disse...

Caro josé,

Relativamente aos dados do multibanco quero fazer um reparo:

Não se conhece um único caso de fuga de informação da banca portuguesa, apesar das insistentes tentativas das policias e do fisco nesse sentido, ao contrário dos vários agentes da justiça portugusesa que parecem um passador. Haverá aqui uma grande diferença de profissionalismo entre uns e outros;

Os bancários são presos se tal acontecer, certamente despedidos e são facilmente apanhados no caso de se conhecer a fuga, apesar de terem vários milhares de empregados. Na justiça portuguesa sabe-se que a informação esteve nas mãos de 20 ou 30 pessoas, é impossível perceber de onde veio a fuga e despedimentos não há.

Arrebenta disse...

As Escutas

Curiosamente, e num frenesi que há muito se não notava na sociedade portuguesa, voltou à luz o tema das escutas telefónicas.
Suponho que não seja novidade para ninguém, excepto para os idiotas, os indecisos e os crentes na virgindade da Maria Elisa, que, em Portugal, e por todos os meios, desde há muito que toda a gente escuta toda a gente.
Há nisto um factor sociológico, a meu ver, determinante: pela estrutura da nossa malha social, polícias e ladrões costumam vir do mesmo bairro, e suponho que assim fica o retrato integralmente traçado.
Espantoso é que pessoas com responsabilidade na formação da Opinião Pública leiam o tema, "Altas figuras do Estado sob escuta", como um atentado à chamada "vida privada" dessas mesmas pessoas. Acontece que as altas figuras do Estado têm, ou deveriam ter, uma teia ética que se estendesse à sua própria esfera privada, como acontece no Mundo Civilizado, e o que nos deveria inquietar não era o facto de que houvesse escutas desgarradas, mas a simples suspeita de que essas escutas pudessem indiciar um envolvimento generalizado das mais altas figuras do Estado em assuntos reputados... turvos.

A mim, como a qualquer português, interessa-me pouco saber em que "pizzaria" se faziam as encomendas gastronómicas de Paulo Pedroso ou Souto de Moura, e se era, ou não era, a mesma. Preocupa-me, sim, o que certas pessoas estavam a fazer, em Portugal, quando não estavam a comer "pizza", e pelo que se murmura por aí, faziam MUITAS, mas mesmo MUITAS COISAS.

Igualmente me choca que um pasquim, chamado "24 Horas", surgido pelas mãos e dinheiros do Clã Pedófilo, para propalar uma infinita inocência dos pobres acusados, tenha, subitamente, honras de Estado, e seja tema de uma comunicação à Nação de uma figura que, embora eu considere pouco digna de apreço, ainda é o Presidente da República Portuguesa, e, logo a seguir, coadjuvado por aquele a quem os mesmos Portugueses concederam, por logro, ou não, o dever de nos Governar durante 4 anos.
Para quem tem dúvidas sobre em quem se apoia o Eng. Sócrates, verifique quem eram aqueles de que ele se rodeava

Isto é a paródia da Democracia, a paródia do Poder Judicial e a Paródia do Estado de Direito.

Ingenuamente, sempre pensei que Souto de Moura, um dos homens que em Portugal tentou fazer o equivalente a uma "Operação Mãos Limpas", pudesse calmamente terminar o seu mandato. As forças sinistras, que, neste momento, a coberto da Campanha Presidencial, se estão a posicionar no nosso sórdido xadrez político, parecem estar a preparar-se para deixar a tarefa suja de escorraçar o Procurador-Geral da Republica, já não nas mãos de Soares, ou Cavaco, nossos eventuais futuros presidentes, mas num lúgubre pacote dois-em-um, do sai Sampaio e sai com ele o Ogre que tanto mal nos fez, inocentes políticos lusitanos...

Tudo isto me seria indiferente, porque apenas mais um sinal da porcaria vigente, não fosse igualmente um evidente sinal do "Golpe de Estado" que inevitavelmente se irá dar em 22 de Janeiro: independentemente do vencedor, o Estado de Direito já está condenado, ou seja, a independência dos Órgãos Judiciais ficará definitivamente debaixo da alçada de um Poder Político turvo, cuja única função será a de branquear, "à portuguesa", como se nunca tivessem existido, os processos Casa Pia, Apito Dourado, Furacão, e quejandos.

A 22 de Janeiro, não são Cavaco ou Soares que nos esperam: é tão só ISSO.

Suzana Toscano disse...

Caro José, concordo consigo e não acusei a Justiça. Embora seja muito evidente, como diz Tonibler, que estes lamentáveis casos, pelo menos os que vêm a público, estejam sempre associados à sua intervenção (mal ou bem, não sei, porque nunca se conclui nada sobre os envolvidos). Depois da dose maciça de "informação" que entretanto correu sobre este lamentável episódio tudo isto parece ridículo, talvez tenha sido SÓ um lapso da PT indecentemente explorado por um jornal sensacionalista que ganha um publicidade totalmente imerecida. Talvez, e era bom que assim fosse. Mas que o mal está feito, isso está, e eu percebo bem que a eventual calúnia sobre a Justiça o indigne, da mesma maneira que pacíficos cidadãos se indignam de ver o seu nome misturado em todas estas trapalhadas, mesmo que não passem disso mesmo:trapalhadas. Seja no âmbito da Justiça ou noutro âmbito qualquer, quem tem acesso a ficheiros sobre a vida das pessoas não pode pedi-los de qualquer maneira, nem fornecê-los às três pancadas. Ou então teremos todos que nos preparar para ver as nossas vidas devassadas, por motivos cada vez mais alargados, por razões cada vez mais aleatórias, em breve por rotina ou um motivo qualquer. Há alertas que podem ser muito úteis, muitas vezes incidentes como este, que pode, em si mesmo, ter sido fortuito, evidenciam um laxismo geral que de outra forma não veríamos.E é isso que nos deve preocupar, muito mais do que pedir cabeças ou fazer alaridos políticos para desviar as atenções do essencial.Só por esse motivo - que não é pequeno - é que a notícia de hoje merece mais do que o nosso desprezo por quem a deu...