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domingo, 12 de março de 2006

Blogosfera e capital social - 1

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O post anterior da Suzana Toscano deu-me o pretexto para partilhar com os leitores uma ideia muito simples sobre o papel da blogosfera. A ideia não é nova e nos últimos anos tem sido o suporte para muita investigação em sociologia: a Internet e as ciberredes como fonte e factor de desenvolvimento de capital social.
O conceito de capital social desenvolveu-se e discutiu-se muito durante a última década, principalmente entre sociólogos, economistas e investigadores da ciência política. Entre as muitas definições que correm nos meios científicos, retenho a que o identifica com a capacidade de mobilização de recursos sociais (valores, informação, conhecimento, confiança, entreajuda, solidariedade, identidades) que se acumulam a partir do funcionamento de redes de indivíduos ou de grupos.
A generalização do acesso à Internet, a utilização cada vez mais intensa do correio electrónico e o fenómeno mais recente dos blogues, são exemplos de como há mais informação a circular, maior interacção e mais conhecimento. O correio electrónico, os “chats” e a blogosfera são as plataformas mais utilizadas e no meio do turbilhão de fluxos que se estabeleceu à escala mundial não será difícil de identificar milhões de comunidades virtuais que se estruturam em torno de interesses comuns.
Para aqueles que ainda têm saudade das tertúlias à mesa do café, das reuniões domésticas de amigos ou dos comícios e reuniões partidárias, seria bom que pensassem que, não tendo desaparecido essas oportunidades, surgiram novos espaços de confronto de ideias, de troca de informação e conhecimento, de partilha de ideais e de causas, de construção de novas identidades.
Quer isto dizer que a blogosfera encerra um inestimável potencial de capital social que em muito poderá compensar a perda lenta mas segura das sociabilidades tradicionais que se desvanecem perante a atomização e isolamento da vida urbana.
Sobre os efeitos positivos e negativos desta nova fonte de capital social falaremos em futuro post.

6 comentários:

TAF disse...

Gostava de contactar consigo por causa do assunto deste post. Pode enviar-me o seu contacto de email para taf@etc.pt?
Os meus outros contactos todos estão também online em http://taf.net/.

Os meus cumprimentos.

António Viriato disse...

O conceito de capital social terá certamente interesse, como DJ o define, e conterá potencialidades várias também. Já que compense o desaparecimento das tertúlias de café, acho difícil. Nestas, o convívio era real, imediatamente interactivo. Nelas surgiam verdadeiros líderes de opinião, gente muito bem informada, cultural e cientificamente bem preparada, com grande capacidade de persuasão, que estimulavam imenso todos os que nelas participavam, que, por vezes, até pertenciam a gerações diferentes. O confronto pessoal de opiniões, nessas tertúlias, obrigava os intervenientes a maior responsabilidade e prudência, não estimulava o ataque gratuito e soez, como se vê, infelizmente, em muito local da blogosfera. Para além disso, os laços que aí se estabeleciam eram muito mais fortes e, não raro, daí nasciam grupos, movimentos de múltipla vocação : na ciência, na arte, na cultura, na política, etc., de cuja actividade resultavam fortes sentimentos de identidade, de solidariedade, alguns de dilatada perduração temporal. Nada disto se viu ainda na blogosfera, embora o seu potencial seja presumivelmente grande. Mas no fim perguntar-se-á : para que serve efectivamente tanta «tagarelação» ? Que efeitos visa tanta expressão de opinião, para lá de uma hipotética auto-satisfação, semelhante à que os antigos retiravam da escrita dos seus diários, mesmo que não pensassem em publicá-los ? Não estaremos todos a alimentar uma nova mania, uma prática de interminável verborreia, sem objectivo real e sem consequência de espécie nenhuma ? Serão os blogues meros escapes à falta de debate político-cultural, que se supunha existir nos Partidos, antes de estes se terem convertido em simples agências de empregos, com a criação de cumplicidades grupais, cujo único fim é chegar ao poder e, uma vez este atingido, promover a distribuição de sinecuras e prebendas pelos mais proficientes no comércio das trapaças, que, no caminho, tiveram de ser engendradas ? Se houvesse Partidos abertos ao debate, formados por pessoas de recta intenção, moral e intelectualmente sérias, movidas por ideais e não por empregos, ainda que pudessem vir a exercer cargos socialmente relevantes, com prestígio e bem remunerados, mas para cujo acesso contasse mais a capacidade científico-cultural-profissional e o perfil ético que o conhecido compadrio aliado à mais despudorada ausência de escrúpulos, será que haveria necessidade de semear tantos blogues pela internet ? Poderá alguma vez o convívio virtual prescindir do contacto pessoal, presencial, facial, que prevaleceu deste tempos imemoriais até há pouco anos, com a entrada da Humanidade na era da comunicação instantânea, tornada possível pelo aparecimento do computador pessoal e da internet ? E será isto suficiente para a nossa necessidade de comunicação ? Chegaremos a passar da actual fase de permanente «tagarelação» ? Já o Marx se lamentava de que os filósofos haviam gasto demasiado tempo a interpretar o Mundo, esquecendo a necessidade de transformá-lo, objectivo a que ele se propunha, como intelectual, aliado das classes intrinsecamente revolucionárias. Infelizmente, o seu intento resultou mal, demasiado mal, como sabemos. Mas, com isso, não se segue que a necessidade tenha desaparecido, com ou sem marxismo interveniente. E aqui termino, pedindo desculpa por me ter alongado, retomando a questão principal : para que serve efectivamente este imenso capital social da era da comunicação instantãnea ?

just-in-time disse...

Caro Prof. David Justino

Ficamos à espera da tréplica.

Suzana Toscano disse...

Valeu bem a pena alongar-se DJ, ficámos com uma excelente lição sobre as sociabilidades e agora já vamos pensar duas vezes antes de lamentar o desaparecimento das "velhas" sociabilidades. O que interessa é que, de uma maneira ou de outra, sempre se encontram formas de conversar.

António Viriato disse...

Gostei da evocação histórica e concordo grandemente com ela. Mas a questão fundamental subsiste : para que serve tanto latim internético, tanta dissertação bloguista, sem um propósito prático, objectivo, a orientar essa actividade ? Saberá sempre a pouco tanto exercício mental, apesar da sua remanescente utilidade, pelo menos para o aperfeiçoamento da escrita da portuguesa língua, num tempo que a desvalorizou para lá do imaginável.Os mais jovens já a querem arredar das canções, preferindo-lhe o inglês, supostamente dominado. Dir-se-ia que o espírito moderno criou certa aversão às línguas de raiz latina, por causa da trabalhosa gramática destas. Com a Matemática, o problema será de outro tipo : tratar-se-á de disciplina pouco democrática, com a qual não vale fazer fantasias, pelo menos sem lhe prestar primeiro o devido culto, pagando-lhe o corresponente tributo. Com a Física também muitos jovens não se dão bem , porque requer Matemática, tem muitas fórmulas e exige compreensão encadeada dos fenómenos, não bastando papaguear definições. A História é vista como uma confusão de movimentos, de actores e de ideias, ainda por cima com muitos nomes e datas para relacionar e fixar. A Geografia só interessa a da nossa região e as restantes ciências igualmente requerem entendimento aprofundado, para lhes apreender o objecto e o sentido. Que resta então de verdadeiramente acessível senão o inglês básico cantarolado, o tal das 2000 palavras, mais do suficiente para fazer um vistão ? Bom, com isto desviei-me um tanto do tema central e acabei a bater no ceguinho, figura risível em que se transformou o nosso democrático ensino...
Boa noite e boa preparação para os que vão a Congressos.

Anthrax disse...

Olá olá,

Tenho andado arredado destas lides mas, normalmente, meto sempre o nariz nestes temas porque me interessam (acima de tudo por questões profissionais).

Gostei de ler a lição do Dr. D. sobre as sociabilidades, é sempre bom ler algo estruturado, com o qual concordamos mas nem sempre encontramos a melhor forma de o expressar (seja porque motivo for). A única coisa que me ocorre, é uma frase feita, um cliché: Nada se perde, tudo se transforma.

Já no que respeita ao último comentário do António Viriato é assim, na internet as coisas não precisam de ter um objectivo. Podem existir só porque sim. Nem sequer precisam de existir para serem partilhadas, simplesmente existem porque quem as criou entendeu que deviam existir.

Quanto à defesa da língua portuguesa, entramos num campo completamente diferente, mas não me parece que isso choque com o facto da língua inglesa ser, efectivamente, uma língua franca (tal como o francês o foi no passado). Mas se entendermos estas hegemonias como ciclícas, verificamos que este se trata de mais um ciclo, com um princípio e com um fim, sendo que o final corresponderá à emergência de um novo ciclo que pode - ou não - ser dominado pelos mesmos actores.

O que eu acho particularmente interessante no post do Dr. D, não é tanto o efeito de substituição que estes novos meios de comunicação têm na sociedade (que também tem o seu interesse), mas o efeito revolucionário que têm na percepção do indíviduo sobre o mundo e no modo de relacionamento desse indíviduo com o mundo. Isto produz efeitos ao nível local e global. É claro que para isto há que transformar a informação em conhecimento e para se conseguir, a única via é através da Educação.

Enfim, este comentário já vai fora de tempo mas eu interesso-me muito sobre este tipo de temas, por isso aqui fica ele.