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sábado, 11 de março de 2006

À conversa...

Conversar é óptimo e por isso encontrar quem saiba e queira fazê-lo é um enorme gosto. O sucesso de alguns blogues resulta exactamente desse encontro entre pessoas que, muitas vezes sem se conhecerem, conseguem acertar o “tom” para que a conversa se instale. Quando isso acontece, os temas vão aparecendo uns atrás dos outros, conforme o gosto e a inspiração, e o círculo vai-se alargando a pouco e pouco, já com traços bem definidos, porque os que vieram para desconversar não fizeram estragos e os que têm opiniões diferentes dão uma grande animação à conversa.
A verdade é que é cada vez mais difícil fazer isto acontecer quando as pessoas se encontram em reuniões, ou festas, ou visitas, quer porque há pessoas que só gostam de se ouvir e não querem saber para nada do que os outros possam dizer, quer porque há um tempo marcado e a coincidência é um acaso, mas também porque há uma enorme tendência para se falar de pessoas em vez de se falar de assuntos. Não digo que não seja divertido uma fofoca de vez em quando, ou um comentário mordaz de má língua, mas ficar reduzido a apreciar este ou aquele é realmente um deserto. E por isso a conversa vai esmorecendo, alguns ficam constrangidos, outros tornam-se agrestes, outros acham que, quando virarem costas, é deles que vão falar de certeza. E os encontros ficam por aí.
Num tempo em que a comunicação é uma obsessão, há o absurdo de cada vez nos sentirmos mais isolados porque é cada vez mais fácil ocupar o tempo sem precisar de ninguém. E, quando se repara no vazio à nossa volta, já é muitas vezes tarde demais para aprender a falar e a ouvir sem ser só para “dizer coisas”.
Aprender a conversar é um bem valioso, sem isso pode até saber-se falar dez línguas diferentes que é como se se fosse mudo.

7 comentários:

Arrebenta disse...

Os Portugueses Fundamentais


Refere o "Público" de hoje que "100 000" Portugueses fundamentais vão receber a vacina da Gripe das Aves.
Eu, evidentemente, comecei logo a contar pelos dedos: o "Major", o Soba da Madeira, o Pacheco Pereira (claro), a Diana Andringa (a pedido do Spartakus), a Maria Elisa Domingues (por cunha minha), as Mães de Bragança (originais), a Irmã Lúcia (pelo sim, pelo não), o Luís Delgado, o Saramago, a Margarida Rebelo Pinto, o Paulo Pedroso, o Hermann José, a Marcela, o Mourinho, Fátima Felgueiras, o "Conde" Castelo-Branco (vulgo Tatiana Romanoff), o Vasco Graça-Moura e o Quim Barreiros (ex-aequo), o Anão de Fafe, a Socratina, Belmedo de Azevírus, Carlos Cruz, e como aqui se me começavam a cansar os dedos de tanto contar, saltei logo para o fim... ah, sim... para o fim, mas mesmo para o fim... a noiva de Portugal, Maria Cavaco Silva.
Que as vacinas lhes sejam leves.

Massano Cardoso disse...

Minha cara amiga Suzana

A sua observação é notável. De facto, através do nosso blog é possível testar as suas teses. Acabamos por falar com pessoas de elevada craveira e cujas opiniões despertam em nós o sentido da curiosidade e o estímulo a novas e criativas abordagens. Aqui está um exemplo claro de diálogo, com a particularidade de não sofrermos constantes interrupções. Mesmos as tentativas de interferências, com o objectivo de arrebentar uma boa discussão, são interessantes, já que, sendo frutos de mentes pateticamente superdotadas em criar disparates, não deixam de provocar sensações hilariantes.

just-in-time disse...

Concordo com o Prof. Massano Cardoso, o texto da Suzana está magnífico.
É verdade que também no blog é preciso acertar o tom.
Com algumas vantagens e alguns inconvenientes, os blogs começam a substituir os cafés tradicionais (é espantoso que num país com o nosso clima os velhos cafés tenham sido substituídos por agências bancárias; também é verdade que os centros das cidades estão vazios e nos tornámos todos periféricos).
É assim que se arrebenta com o convívio.
Mas, qualquer dia, o Arrebenta ainda nos vai surpreender!

O Reformista disse...

Porque é que o futebol e as telenovelas são tão importantes?

Porque são temas sobre os quais todos podem conversar. E o importante é mesmo simplesmente conversar...

Lembro-me em tempos de ter lido sobre a questão de as crianças passarem a vida em chats em vez de copnversarem de viva voz, que isso era melhor do que nada. E é verdade.

No meu tempo não cabíamos em casa e íamos para rua jogar à bola...

just-in-time disse...

Caros quartarepublicanos e afins

Este tema está ser um sucesso em coments e novos posts.
Se pensarmos na Idade Média, em que, apesar de tudo, as pessoas mudavam de morada com alguma frequência, as casas eram, também por esse motivo, desprovidas de comodidades desnecessárias.
Não era hábito frequentar a casa de outros, mas o convívio na praça principal do burgo era uma obrigação geral de fim de dia; a vida social na praça pública era uma constante.
Esta prática tinha vantagens evidentes: o convívio público satisfazia muitas das necessidades de sociabilização e até afectivas, reduzindo muito a pressão sobre o núcleo familiar básico, onde, hoje, todas as necessidades têm de ser satisfeitas.
Quem não tem saudades das tertúlias do Vává, da Copacabana, ou do Canas, para só falar de Lisboa.
Entretanto, os hábitos e os condicionalismos têm evoluído enormemente.
Quando, há quase vinte anos, fui passar uma temporada numa conhecida cidade norteamericana e encontrei um apartamento esplêndido no quarteirão preferido dos portugueses, interroguei-me se os ia ter a bater à porta de maneira informal e sem aviso. Afinal, tudo se fazia através de convites formais para jantar,os quais eram, no mínimo pseudo-informais.
Entretanto apareceram os blogues, onde, com algumas dissonâncias, se desenvolvem conversas bem interessantes; mas os hábitos estão mudados: hoje passei à porta de um bloguista que conheço, de que já li alguns dos posts e que , porventura, também já leu alguns dos meus, mas, obviamente, não ocorreria bater-lhe ao ferrolho.
Falta a praça pública, faltam os velhos cafés, falta as pessoas viverem nas cidades (no sentido físico e também etimológico).
Neste aspecto os nossos vizinhos espanhóis têm sido bem mais sábios que nós.
E, para acabar, não haverá casos em que será mais fácil conversar na blogosfera, do que vis-à-vis?

Massano Cardoso disse...

Bom o melhor é ir beber uma cerveja de vez em quando. Por mim está comvidado just-in-time.

Suzana Toscano disse...

Olá Jardimdasmargaridas, muito obrigada pelo seu voto de confiança! E, pelo andar da carruagem, este blogue ainda dá uma bela tertúlia...Além disso o David Justino respondeu de forma imbatível no post mais acima!