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sexta-feira, 10 de março de 2006

A produção e a distribuição

Todos os dias aparecem publicitados os resultados dos diversos Bancos.
Mercê das reestruturações levadas a cabo, a Banca portuguesa modernizou-se e os Bancos nacionais estão entre os mais avançados da Europa e até da América do Norte.
Têm, em geral, boa gestão, bons quadros, pessoal habilitado, tecnologia adequada.
Por isso, a Banca portuguesa é um sector lucrativo, que conseguiu passar, sem crise, o ciclo económico baixo que atravessamos.
Aliás, os Bancos portugueses atingiram em 2005 um máximo de lucros: BCP, 753 milhões de euros, Caixa Geral de Depósito, 537 milhões, Totta, 340 milhões, espírito Santo, 280 milhões e BPI, 250 milhões de euros.
São números impressionantes para o nosso meio económico.
Todavia, como em qualquer análise, é sempre preciso comparar os resultados com a base de capital de que os Bancos dispõem.
Ora o ROE, “return on equity,” rácio que resulta do cociente entre os resultados líquidos e os capitais próprios e que mede o tempo de recuperação do capital investido, apresenta, como valores extremos para os Bancos considerados, o máximo de 30,2% para o BPI e o mínimo de 13,5% para o BES, o que significa que os resultados são de molde a que os accionistas recuperem o investimento em 3,3 anos e em 7,4 anos, respectivamente, sendo de cerca de 5 anos o valor médio dos Bancos considerados.
Os accionistas e os gestores têm que estar satisfeitos, mas têm também que se lembrar das responsabilidades sociais que cabem às Instituições de que são donos ou administram, nomeadamente no que respeita aos seus clientes e colaboradores.
Não é compreensível que os Relatórios venham a salientar o contínuo aumento dos resultados e da margem financeira e os clientes venham a ser sobrecarregados com comissões por tudo e por nada e os colaboradores venham consecutivamente a perder na distribuição da riqueza gerada.
Não é equilibrado nem ético numa economia de mercado sadia que sejam os accionistas os ganhadores exclusivos.
É que os grandes activos das empresas são os clientes: sem clientes satisfeitos não há empresa saudável e para ter clientes satisfeitos não podem os colaboradores andar insatisfeitos.
A Banca tem sido lúcida, como revelam os resultados a que chegou.
Mas parece que chegou a hora de, tendo assegurado a produção, cuidar mais da distribuição, sob pena de destruir o que, com esforço, veio a obter.

3 comentários:

trainzeiro disse...

Será que chegou a altura de distribuir?
Afinal para que serve tanto dinheiro enclausurado?
Mas porquê esta corrida louca para ter mais e mais?
sabem que % do dinheiro existentes seria preciso para acabar com a fome de vez?

Tonibler disse...

O número do BES é muito mau. Toda a gente sabe que o BES "faz" por deter alguns previlégios a que os outros não têm acesso e, mesmo assim, apresenta 13% de ROE?
Acho que devemos começar a pensar que vai ser vendido.

just-in-time disse...

Caro Pinho Cardão
Conhecemos várias economias de mono actividade; todas deram com os burrinhos na água.
Não é concebível uma economia baseada exclusivamente na actividade bancária.
É caso para dizermos: de vitória em vitória, até à derrota final.