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segunda-feira, 15 de maio de 2006

Natureza em plena cidade


Insólitas, por vezes, as manifestações da natureza em pleno boliço da cidade.
Uma abelha-mestra resolveu fixar seu séquito de abelhas de mel nada mais nada menos do que num dos semáforos da Avenida de Berna, ali mesmo ao lado dos jardins da Gulbenkian, como a fotografia captada pelo meu telemóvel documenta.
Trouxe-me à memória tempos da minha adolescência quando, justamente nos meados de Maio, com o meu avô, ía atrás de mais um enxame que o cortiço libertou armado com um velho fumigador. Mas ali, nos quintais que ainda abundavam nos interstícios da cidade de província - meio-campo, meia urbe - não havia semáforos. Aliás, era palavra desconhecida. As abelhas, então muito menos cosmopolitas, preferiam os galhos mais altos dos bardos das videiras ou a forquilha de uma cerejeira que então exibia os seus primeiros frutos maduros.

5 comentários:

Anónimo disse...

A natureza, a custo, ainda vai resistindo…
E, as abelhas têm um notável sentido de disciplina. Talvez, por isso, tenham estacionado no semáforo. :)
Os condutores, esses, terão que observar com cautela as paragens no vermelho. O risco de serem picados aumentou… pelo menos até à próxima lavagem do semáforo. É a vida. Nem sempre é fácil conciliar diferentes habitats.

Por falar de ambiente, ler abaixo a notícia do Diário Digital, de 2006-05-15. Afinal, parece que nem tudo vai mal no terreno das emissões… mas, há sempre um se…
Este artigo só prova que estas matérias não dependem do “feeling”, mas sim de uma abordagem científica, sistemática e rigorosa. Os investidores industriais deveriam dispor de um simulador num “site” público na Internet, para aferirem a viabilidade dos seus projectos (com as soluções energéticas alternativas e, eventualmente, os custos extraordinários decorrentes dos impactes ambientais). Tudo seria mais transparente e “simplex”.

“EMISSÔES DE CO2 EM PORTUGAL ABAIXO DAS LICENÇAS EMITIDAS

As emissões de dióxido de carbono (CO2) em Portugal no ano passado ficaram abaixo das licenças emitidas, indica um relatório hoje divulgado pela Comissão Europeia em Bruxelas, no âmbito do mercado europeu de carbono.
De acordo com os números hoje divulgados por Bruxelas, as indústrias portuguesas emitiram 36,413 milhões de toneladas de dióxido de carbono em 2005, quando o plano nacional de alocação de licenças de emissão para o período de 2005 a 2007 prevê uma quota média anual de 36,898 milhões de toneladas.

O primeiro levantamento alguma vez feito a nível comunitário sobre a relação entre as licenças emitidas às indústrias e a emissão de CO2 nos diversos países da União Europeia revela que as emissões ficaram abaixo das licenças emitidas na generalidade dos Estados- membros.

No conjunto de 21 Estados-membros - quatro dos «Vinte e Cinco» não têm ainda registos de alocações operacionais -, as grandes indústrias consumidoras de energia emitiram no ano passado 1.785 milhões de toneladas de dióxido de carbono, quando a quota média anual é de 1,829 milhões.

Em Portugal, foram cobertas por este levantamento 243 fábricas com registos de emissões, e apenas uma não reportou as emissões até à data prevista, 20 de Abril de 2004.

Hoje, a Comissão Europeia indicou que, «à partida», os números finais desta relatório constituem «boas notícias para o Ambiente», mas ressalvou que é necessário analisar cuidadosamente os dados ao longo das próximas semanas para perceber por que razão as emissões ficaram abaixo das quotas, já que pode haver várias explicações.

O executivo comunitário sublinhou todavia que os dados agora divulgados permitirão aos diversos Estados-membros planificar melhor os planos de alocação de licenças de emissão para o segundo período do comércio de emissões, de 2008 a 2012, sobre os quais devem notificar Bruxelas até 30 de Junho próximo.

O mercado europeu do carbono, em funcionamento desde 01 de Janeiro de 2005, foi criado no quadro da aplicação do Protocolo de Quioto, que visa reduzir as emissões de CO2, um dos gases de efeito de estufa responsáveis pelo aquecimento global.

O sistema distribui às grandes indústrias da Europa quotas de emissão de CO2, com base em planos de alocação definidos pelos Estados-membros e aprovados por Bruxelas, e as instalações que não atingirem a sua quota podem vendê-las àquelas que ultrapassaram os seus créditos ou guardá-las para o ano seguinte.

Em 2004, por ocasião da aprovação dos planos, muitas organizações ambientalistas, incluindo portuguesas, criticaram o número de quotas atribuídas, considerando que os planos elaborados pelos Estados-membros haviam sido muito generosos, e apenas parcialmente reduzidos pela Comissão.”

Massano Cardoso disse...

Nichos ecológicos vazios? Nem pensar! A Natureza sabe o que faz. Seria interessante apreciar o mel citadino que, atendendo às diferentes fontes existentes, deverá ter características interessantes...

Suzana Toscano disse...

Notável fotografia! As abelhas também aderem às tecnologias...

Anónimo disse...

E não é que o caro mafr deu conta da mensagem subliminar?
Infelizmente se estava interessado no andar do edifício cor-de-rosa ele já não está à venda. Bom "golpe" este das abelhas... ;)
Aliás, deve dizer-se, que a procura para um lugarzito no edifício cor-de-rosa é enorme. Pelo que não ficam vagos por muito tempo nem carecem de grande publicidade...

sandra costa disse...

insólito e bonito, de facto (e algo arrepiante, para mim, que tanto medo tenho das abelhas) :)

e a memória dos tempos da adolescência com o avô, "justamente nos meados de Maio", fez-me lembrar outras palavras, caro JMFA:

(...) Nasci no campo, onde se cruzavam os cheiros de flor
Do limoeiro
Com o de hortelã e o do estrume. Brinquei
Por entre o milho, queimei em fogueiras o rosmaninho,
Persegui lagartixas, cobras e ouriços, capturei e destruí
Escaravelhos,
Defendi as carochas, roubei ninhos com ovos e pássaros
Implumes,
Colhi cachos ainda verdes, desesperei pelo amadurecimento
Dos figos, das romãs e dos alperces,
Tingi-me com amoras, fui irmão das abelhas, discuti com o
Vento
E mais do que a erva e as árvores aproveitei-me da chuva.
Agora moro num quarto andar e tenho um automóvel tão
Sólido como a minha infelicidade,
Viajo às vezes entre as árvores, e colinas com árvores e
Planícies com árvores
Mas está tudo longe, fora do alcance, fugindo de mim
Rapidamente, em sentido contrário,
Com a mesma rapidez com que a infância me fugiu.
Sou hoje um cidadão da pedra e do betão. Os meus pés não
Pisam já o alecrim,
Os meus olhos não se habituam já ao escuro da noite para
Observar o voo dos morcegos,
Guardo uma ideia vaga de como era um arado, tenho
Saudades
De ver o meu pai descalço a regar morangos e abóboras.
O piar dos tentilhões e dos picanços foi substituído pelo
Ruído do tráfego,
O desajeitado voar das borboletas parece-me às vezes vê-lo
Nos papéis
Que o vento levanta do chão, levando-os daqui para acolá,
E a minha vida é vivida de forma a comemorar o dia disto
E o dia daquilo
Sem comemorar nunca o dia em que começa a primavera.
Bom dia!, diz-me o cliente. Bom dia!, diz-me o fornecedor.
Bom dia!, digo eu, sem dizer nada.

Joaquim Pessoa, Vou-me Embora de Mim, Ed. Hugin, 2000, págs. 48-49