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quinta-feira, 18 de maio de 2006

Pois, pois...estação de serviço público!...



Aqui há dois ou três dias, vi na RTP 1, estação de serviço público, uma reportagem sobre as simpáticas vaquinhas espalhadas pelas ruas da capital, que constituem a chamada “Cow Parade”.
Achei uma interessante iniciativa, não percebendo, contudo, o porquê desse novo-riquismo erudito de usar expressões estrangeiras, quando as temos bem portuguesas.
Nessa reportagem vi miúdos e menos miúdos às cavalitas nas ditas vaquinhas, com os pais tanto ou mais divertidos que os seus irrequietos rebentos.
Até porque há uma votação para a melhor vaquinha, achei estranho esse comportamento, que poderia, em pouco tempo, deteriorar o objecto artístico. Mas, depois, até pensei que seria mesmo assim.
Ontem tive oportunidade de as ver ao vivo. São bem engraçadas, pachorrentas e amigáveis.
Mas no pedestal de cada vaquinha está um letreiro bem visível que diz qualquer coisa como isto: “ não entrar em contacto com o objecto exposto”.
E numa delas, ouvi este diálogo:
- Não ponha o miúdo em cima da vaca, não vê o letreiro?
- Ah!... mas como vi na televisão os miúdos em cima da vaquinha...pensei que não fazia mal!...
Pois, pois…estação de serviço público!...

3 comentários:

Anónimo disse...

«- NÃO ME TOQUEM NA VACA SAGRADA» - diz mafr a espumar de raiva.
«- Sim, falo da RTP, este sublime monumento de serviço público, só comparável à majestade metafísica das Catedrais Góticas.» - diz mafr, já lívido, a anunciar um desmaio, vai que não cai...
«- Não perceberam. Cambada de analfabetos! O Serviço Público de televisão é um bem puramente público, à semelhança da saúde, da educação e das vias de comunicação.» - retruca, mais uma vez mafr que, desta feita, se havia esquecido de mencionar a água e a electricidade. Talvez porque sentia a garganta seca, de tanta emoção. Explodia de ansiedade. Desejava ardentemente um copo de água, bem fresco, para apagar a chama da sua cólera.
mafr estava bravo. Qualquer coisa o punha fora de si. Normalmente é um homem pacífico, bem-falante, com uma ponta de ironia a roçar o escárnio. mafr gosta de falar da sua iliteracia, do seu humilde saber... como ponto de partida para, de rajada, e após escrever 500 palavras, sem levantar os dez dedos do teclado, concluir que afinal, no comparativo com a inteligência alheia, até não está mal dotado de sinapses neuronais. Como toque pessoal, termina sempre as suas glosas com um amável “respeitosamente”. Como quem diz: «- Percebeu, ou quer que lhe explique?! Se não percebeu sempre lhe posso fazer um desenho, bem esquemático, ajustado a débeis mentais.». Não o diz mas, lá no fundo do seu íntimo, pensa.
Ao abrigo dos “typing mistakes”, utiliza termos de singular erudição como: “saloisse”, em vez de saloiice, e “sonorífero”, em vez de soporífero ou sonífero. O primeiro, compreendo perfeitamente. Estava a sonhar com um Opel Vectra e 10.000 míseros euros de rendimento mensal. Mas, como é um nobre desempregado, mandou tudo à fava e, com os olhos rubros de ódio, gritou: «- Exploradores, capitalistas, ..., míopes (as reticências não são reproduzíveis, por decoro). Não percebem com quem estão a falar. 10.000 euros (pausa), devem estar a gozar comigo. Eu sou o Ronaldo da comunicação Global. Eu sou o Serviço Público. Sim, ele mesmo, em pessoa.». O segundo “mistake” também goza de uma condição de exclusão da ilicitude, de uma causa justificativa, as pálpebras do mafr pesavam-lhe que nem chumbo e os neurónios, congestionados com tantas sinapses, entraram em curto-circuito.

Há uns “posts” atrás, o nosso amigo Pinho Cardão, homem de fino recorte, olhar profundo, bem-humorado e de genuíno bom trato (poderia ser diplomata até no Irão), lembrou-se, a propósito de um comentário do mafr, de declarar: « - Magistral lição! (...)Dê-nos a honra de aparecer mais vezes, que o seu contributo é uma mais-valia.».
A diplomacia prega destas partidas.
De facto, aquele comentário do mafr até parecia razoavelmente equilibrado, dentro de uma determinada perspectiva – a defesa apologética do Serviço Público de televisão, e presumo que também de rádio, etc. O “companheiro” mafr esquece-se da concorrência, do cabo e da liberdade de escolha em igualdade de condições. O mafr sofre de amnésia compulsiva. Mas, enfim, quando alguém acredita numa causa, mesmo que dogmaticamente, temos que ser tolerantes.

Felizmente vivemos em liberdade. Digo, em razoável liberdade. Mesmo quando os nossos impostos são torrados pelo dito Serviço Público de televisão, contra a nossa liberdade de escolha. Bem, pelo menos servem para pagar vencimentos milionários a alguns amigos (ou conhecidos?...) do mafr, nem tudo é mau. Pena que ele não aproveite os seus conhecimentos e esteja a viver o drama do desemprego (espero que não seja uma brincadeira de mau gosto!!!).

Esta liberdade mitigada tem pelo menos uma vantagem. Senão vejamos:

Um dos últimos comentários do mafr foi um panegírico, algo excitado, ao programa da RTP relativo à inauguração da nova superfície comercial do Campo Pequeno. Parece que também é um espaço de entretenimento. Para uns cultural, para outros (os amigos dos animais) de promoção da barbárie (encaro esta última perspectiva como sintoma, também, de exaltação hiperbólica). Não vi o programa, pelo que não tenho uma opinião directa sobre o assunto. Embora me parecesse que o mafr, no mínimo, revelava um excesso de êxtase pela referida produção. Não falou no cinema feérico de Hollywood, na magia do cinema de autor, mas, pouco faltou... digamos que roçou o conceito.
Porém, numa das minhas incursões “blogosféricas” li o seguinte “post” de Vital Moreira, de 2006-05-17 :

“Serviço público
A transmissão directa da inauguração da Praça do Campo Pequeno pela RTP 1, que terminou apropriadamente com entrevistas a Alberto João Jardim e Lili Caneças, constitui um frete comercial obsceno, impróprio de uma televisão pública. Por momentos julguei que se tratava da TVI. Afinal era a televisão de serviço público.
Que mais nos pode acontecer?!”.

E, pensei com os meus botões, ainda bem que vivemos em democracia! Afinal não sou só eu, e o Pinho Cardão, que olhamos para a RTP e não conseguimos vislumbrar uma réstia de Serviço Público. Afinal, lá mais para a esquerda, há quem pelo menos se questione.

Por ora, fico-me por aqui. Desisto a 50% deste projecto de comentário.
Não sei o que se passa com o mafr mas, meu amigo, mantenha a elevação de espírito, a nobreza de atitude e, acima de tudo, a boa educação, principalmente quando aborda assuntos esotéricos como o Serviço Público de televisão em Portugal.

Respeitosamente.

Anónimo disse...

Adito os 50% em falta ao anterior comentário. O tema começa a interessar-me, mais activamente!

É necessário um Serviço Público de televisão?
Nas últimas décadas os média têm vindo a assumir um papel de crescente relevância no contexto cultural e socioeconómico das diferentes nações. Para o bem e para o mal. Em Portugal, onde o nível de iliteracia é elevado e os hábitos de leitura baixos, as televisões e as rádios terão ainda mais impacte do que noutras sociedades mais desenvolvidas. É inquestionável. As emissões internacionais, em particular dos canais de televisão, constituem factores de agregação da diáspora portuguesa disseminada pelo mundo. As televisões podem mesmo contribuir para a divulgação da língua e da cultura portuguesas. E, consequentemente, concorrerem para o reforço do espírito nacional. A verdade, não obstante, é que fazem muito menos do que poderiam. Gerir o negócio da televisão não é incompatível com este devir. È, acima de tudo, uma questão de estratégia, de responsabilidade social e de criatividade.
Mas, adiante.
Concordo que é socialmente útil a existência de um Serviço Público de televisão!
Quem o define e que tipo de Serviço Público?
Vou passar por cima dos grandes conceitos para ir directamente ao cerne do problema.
Quem o define?
Obviamente o Estado, através dos seus órgãos de soberania, com especial enfoque no parlamento, de modo a assegurar o necessário pluralismo de valores e de ideias.
Que tipo de Serviço Público?
O Serviço Público deve ser orientado para a difusão, divulgação ou promoção de programas de ou sobre:
1.º Educação, formação e trabalho (incluo aqui, por exemplo, as “aulas” da Universidade Aberta);
2.º Ciência, inovação, tecnologia, cultura e artes (com especial realce para a língua portuguesa e para a produção nacional, de qualidade!);
3.º Valores multiculturais, incluindo o respeito pela diversidade étnica e religiosa dos povos (com particular atenção ao fenómeno da (e)imigração);
4.º Responsabilidade e solidariedade social e pessoal (abordando a problemática dos grupos mais desfavorecidos, da violência em diferentes contextos, designadamente no âmbito familiar e escolar);
5.º O Estado da Nação (debates não apenas com políticos, mas com diferentes especialistas da sociedade civil, promovendo o contraditório);
6.º Tempos de antena;
Etc., etc.

Por último, pergunto: tem que ser uma empresa pública a garantir o Serviço Público?
Aqui, definitivamente, a resposta é não! Até é contraproducente, na medida em que não se promove a concorrência na prestação do Serviço Público. Logo a qualidade é inferior.
O Governo deveria estabelecer um “plafond” de financiamento plurianual (mínimo 3 anos) para a prestação do Serviço Público. As empresas de televisão, rádio e imprensa (ou outros produtores privados) concorriam em pé de igualdade. Um júri plural analisava as propostas e elegia as mais promissoras. Depois teria que existir um acompanhamento “on going” ou concomitante dos programas à medida que iam sendo produzidos e transmitidos. A avaliação da sua qualidade e impacte deveria influenciar futuros financiamentos.

E pronto, este é, em grossas pinceladas, o modelo que preconizo.
Sim ao Serviço Público! Não às empresas públicas que “brincam” ao Serviço Público, só que com “funcionários públicos” mais bem remunerados.
Estou em crer que as mais-valias desta solução seriam infinitamente mais tangíveis do que as proporcionadas pelas actuais empresas de capital exclusivamente público.
A quem não interessa a mudança?
Aos situacionistas (incluindo os jornalistas) que, obviamente, beneficiam com o “status quo”.

Anónimo disse...

Caro mafr

Lamento a sua desistência.
Escrevi uma rábula, que me pareceu divertida, sobre o tom e a forma como comentou o post de Pinho Cardão. Que, aliás, considero profundamente infeliz.
O meu amigo, manifestamente, não relê o que escreve e lê mal o que outros escrevem.
Faltam-lhe espelhos lá em casa...
As suas respostas aos meus comentários não me surpreenderam. Apenas confirmam a oportunidade da minha sátira.
O meu amigo vem a jogo, chuta nas canelas dos “adversários” (de debate) a torto e a direito e, depois, quando leva a resposta, fica ressentido. Enfim, sem comentários...
Não concorda com as minhas ideias, muito bem, não o levo a mal. Acho até natural.
Este assunto - do serviço público de televisão, rádio, etc. - merece ser desenvolvido com mais profundidade, naturalmente!
Gosto sempre de debater, de forma urbana, assuntos polémicos.
Estou disponível para o fazer. Sem ressentimentos, mas atento ao tom do debate.
Não pense que é dono da verdade, meu caro. Vá com calma.
Um bom debate é mais terapêutico que muitos fármacos. Vá por mim.

Notas:
1. Nada tenho, em geral, contra os jornalistas. O meu irmão mais novo é jornalista (e acho que a vida, felizmente, não lhe corre mal). Está a ver a precipitação... juízos impetuosos ou, no mínimo, imprudentes. Não tenho complexos, tenho opiniões, tão legítimas como as suas.
Coisa diferente é a análise que faço do modo irracional como são geridos certos dinheiros públicos.
É aqui que a porca torce o rabo. Nomeadamente no que concerne ao serviço público de televisão e de rádio. Na minha opinião trata-se de um verdadeiro anacronismo. Não o serviço público, mas o modo como é gerido. É este o ponto.
2. Os erros que cometeu são absolutamente comuns. Eu também cometo erros (embora me esforce por os evitar). Umas vezes por distracção, outras por ignorância. Mas, vi-o tão arrebatada na sua superioridade argumentativa que achei por bem dar-lhe alguns motivos para ser mais humilde. Foi só isso.

Quando estiver menos irritado, sou ao dispor para uma boa e serena conversa (pode ser jocosa, mas não hostil – já bastam as OPA!).

Cumprimentos do Félix, que todos os dias se esforça por também ser feliz - palavra esta, aliás, que está na origem etimológica do meu próprio nome. Desta vez acertou. Obrigado.