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quarta-feira, 24 de maio de 2006

Por Terras do Congresso do PSD- IV- Os Discursos

Antes de ir ao tema de fundo, permitam-me um pequeno parêntesis, para contar algo de mais pessoal. Depois de ouvir vários discursos cuja estrutura descrevi com o rigor que é meu timbre, disse ao Miguel Frasquilho, meu Companheiro de Mesa, que me sentia com coragem e vontade de me inscrever para também falar. O Miguel foi um amigo, um verdadeiro amigo, pois animou-me e incentivou-me, dizendo que eu era perfeitamente capaz de fazer um discurso igual!...Fiquei tão desvanecido que até lhe ofereci o jantar!...
Passando adiante, irei abordar a estrutura oratória da casta Aspirantes a Notáveis. Estes discursos já fiam mais fino!... Para melhor se perceber o conteúdo, convém dar uns traços gerais sobre a casta. Os Aspirantes a Notáveis estão num limbo partidário. Segregados das castas inferiores, ainda não foram aceites pelas castas superiores. Se estas compreendem que os Aspirantes a Notáveis lhes podem dar algum apoio, sobretudo temem que o seu lugar possa ser usurpado por eles. O Aspirante sabe isso, pelo que o discurso é o discurso de uma vida e dirige-se directamente ao líder.
Assim, o Aspirante a Notável nunca inicia o seu discurso dirigindo-se aos diversos membros da Mesa, como os antecedentes. Isso nunca!...O Aspirante a Notável começa o seu discurso por uma saudação muito especial ao Presidente da Comissão Política Nacional, a que junta o nome para que ninguém tenha dúvidas, salientando que é um vencedor, face à grandiosa vitória nas recentes eleições directas no partido. Aí o Aspirante a Notável vê um acto premonitório para as Legislativas de 2009, em que as qualidades do líder e a desastrada governação socialista imporão a sua vitória e a vitória do Partido. Mas avisa que é preciso trabalhar e logo manifesta que se encontra totalmente disponível para ajudar. (Para melhor se entender esta parte, convém referir que a altura é oportuna, pois é o momento em que as negociações para os órgãos do Partido estão no auge…).
Só depois desta introdução é que o Aspirante a Notável saúda os outros órgãos do partido, mas com uma particularidade que deve ser notada e que consiste em aditar ao cargo o nome próprio do seu titular. Na saudação é integrado, pela primeira vez, o Presidente da Distrital, o Presidente da Concelhia e o Presidente da Câmara da terra que acolhe o Congresso, se é social-democrata, claro. Depois de uma palavra personalizada para os Convidados, Participantes e Observadores, inicia finalmente o seu discurso aos Companheiros, para expor duas ou três ideias, nãomais... Desgraçadamente, mal enunciada a primeira, soa o gong da Drª Manuela, lançando alguma perplexidade no orador. Ainda tenta mais três minutos, referindo cedências adicionais de tempos. Perante o olhar desconfiado da Sra. Presidente, que lhe pede para ser breve, deixa explicitada a sua mágoa por não ter podido iniciar verdadeiramente a sua intervenção e expor devidamente as suas ideias. Termina, agradecendo a atenção com que o ouviram, mas lamentavelmente esquece-se de dizer Viva o PSD. Mas nada que não tenha remédio!... Ainda mal tem saído do púlpito, logo um militante, num àparte oportuno, o substitui no grito Viva o PSD, logo correspondido após algum riso inicial!...
Enfim, o discurso de uma vida que, nas próprias palavras do orador, nem chegou a começar!...
Escalpelizarei seguidamente o discurso dos Notáveis, abordarei de forma independente o meu próprio discurso e, em tempo de códigos, lançarei alguma luz sobre os códigos do Congresso.

11 comentários:

Tonibler disse...

eheheheh! Eu sei que isto tem uma componente de crítica muito importante, mas não consigo deixar de imaginar o sujeito que está a ler isto e que fez exactamente o descrito...:))

Carlos Monteiro disse...

E tenho a certeza que algum deles há-de ler!

pedropmarques disse...

Na verdade, estão os 4 posts muito bons e retratam de modo fiel e verdadeiro.
Infelizmente, quem mais fala, por vezes, mais falha, ou antes, menos acerta.

António Viriato disse...

Continuo a ler estes interessantes folhetins, como talvez lessem os leitores das Revistas e Jornais do século XIX as crónicas e as novelas do Camilo e depois do Eça e do Ramalho, que as escreviam também dessa forma, em folhetins, na Imprensa diária ou semanal, certamente para fixar leitores e com o seu nome prestigiar as publicações. Tudo isto a troco de alguns proventos, porventura escassos, mas ainda assim não despiciendos, que sempre arredondavam as contas daqueles ilustres literatos, sobretudo para o Camilo não seriam elas mero acréscimo de renda para gastar em superfluidades, sabendo-se os apertos em que aquele desditoso homem de letras sempre viveu. Não será o seu caso, por certo, mas congratule-se com o mérito de ter já dado a lume um bom par de elegantes e divertidas crónicas, que não desmerecem as dos luzidos nomes aqui convocados. Aguardarei, pois, interessado as cenas dos próximos capítulos.

Anónimo disse...

A arte de esculpir a ironia sem cair na vulgaridade não é fácil.
O amigo Pinho Cardão fá-lo com sábia destreza e oportuna singeleza.
Não sei porquê, lembrei-me deste famoso, embora algo contundente, texto doutrinário de um dos nossos grandes artistas plásticos e escritor multifacetado, da transição entre os séculos XIX e XX. Aqui vai uma leve fragrância do seu final:

“...
O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia – se é que a cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!
Morra o Dantas! Morra! - PIM!”

Almada Negreiros, Poeta d'Orpheu Futurista e Tudo

João Melo disse...

tambem quero um jantar de graça!afinal tambem compartilho da mesma ideia do miguel frasquilho!

Anthrax disse...

Então o Dr. PC está a oferecer "jantares" e ninguém me diz nada?!?!«Axo mal»!

Eh eh eh eh!... e assim começam os rumores.

João Melo disse...

cá para mim anda a comprar os votos dos militantes..
chegou ao partido à meia duzia de dias e já quer "tomar" de assalto a sede da S.caetano à lapa.

Anthrax disse...

Por outro lado, menino mau, cabe a cada um decidir o que faz com o seu voto, certo?

Se essa decisão passar por "vendê-lo" (ao voto, é claro), haverá algum problema?

João Melo disse...

é a lei do mercado.Quem der mais , leva!

Anthrax disse...

Ora, nem mais!