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quarta-feira, 14 de junho de 2006

“Mais uns anitos de vida”…


Podemos considerar como extraordinária a posição dos industriais ligados à produção de bebidas alcoólicas que, recentemente, despertaram para a necessidade de promoverem iniciativas, das mais diversas, conducentes a uma ingestão moderada por parte do cidadão, de forma a limitar ou impedir consequências nefastas.

É estranho, no mínimo, este despertar serôdio para uma problemática que, quer queiram quer não, não deixaram de promover e consequentemente retirar os respectivos (e substanciais) lucros, sem se importarem com os efeitos físicos, psíquicos, sociais e familiares resultantes do consumo excessivo de bebidas alcoólicas.

Esta viragem não é mais do que uma antecipação ao impacto das futuras medidas legislativas comunitárias, as quais terão repercussões na diminuição do consumo. No fundo tentam acautelar o futuro!

Os movimentos destinados a salientarem os efeitos benéficos das bebidas alcoólicas tem-se multiplicado a um ritmo tal que não deverá haver alguém que não “saiba” qualquer coisita sobre esta matéria. O efeito positivo da cerveja na osteoporose, e do “tinto” nas doenças cardiovasculares são alguns exemplos que têm tido honras de primeira página e dos noticiários televisivos.

É raro o dia em que não surgem novas “descobertas”. As mais recentes prendem-se com uma substância chamada resveratrol, a qual reduz de uma forma intensa as complicações pulmonares resultantes do efeito do tabaco, além de ser capaz de prolongar a vida, pelo menos em animais de experiência. Como esta substância se encontra no vinho tinto, não tarda que os lóbis do álcool comecem a propagar mais umas “virtudes”, e quem sabe se não conseguirão mesmo, à semelhança dos novos anúncios de morte e de doença dos maços de cigarros, obter autorização com vários dizeres tais como: “o vinho tinto protege das doenças cardiovasculares”. Neste caso, o dilema de um fumador, cujo maço de cigarros indique: “ o tabaco provoca doenças cardiovasculares” ou o “tabaco provoca doenças pulmonares” fica resolvido com a ingestão da garrafita de tinto. Ai provoca! – Então, vamos lá fazer a profilaxia! Fico protegido das doenças cardiovasculares e evito mais umas complicaçõezitas pulmonares. E como tem o resveratrol, até tenho como bónus mais uns anitos de vida. Pois é! O pior são as complicações hepáticas resultantes do consumo excessivo de álcool. Mas neste último caso, beber uma boas chávenas de café protege o fígado de lesões relacionadas com o consumo de álcool. Neste caso, os produtores e revendedores de café também poderiam colocar rótulos do género: “O café protege-o contra a cirrose hepática”.

Ora aqui está uma interessante associação: se o tabaco provoca doenças cardiovasculares, o melhor é beber uns copitos de vinho para “neutralizar” esse efeito. Mas como o álcool pode provocar cirrose hepática, que tal uns cafezitos para travar esta complicação? …

1 comentário:

Massano Cardoso disse...

Jardimdasmargaridas

A medicina não dá com uma mão e nem tira com a outra. O grande problema que se coloca é a forma como se faz o aproveitamento das descobertas e achados científicos, os quais, se não forem integrados num contexto global poderão induzir em erro muitas pessoas ou serem alvo de aproveitamento para fins menos confessáveis, que são, na maioria dos casos, interesses económicos.
Há que “denunciar” e alertar para os inconvenientes resultantes. Neste caso, a onda justificadora é patética, como bem detectou, mas vai continuar. Esteja atenta!