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segunda-feira, 5 de junho de 2006

A única renovação!...

Estava a ver televisão e num curto espaço de tempo e de notícias quem é que me aparece pela frente? O Dr. Carvalho da Silva e o Eng. João Proença, desde tempos imemoriais os “patrões” da Intersindical e da UGT, o Sr. Arménio Santos, vitalício Secretário-Geral dos Trabalhadores Social- Democratas, o Dr. Paulo Sucena, que sempre vi “representar” os professores…
E comecei a pensar que os apresentadores do principal telejornal do canal público e que as duas jornalistas, aliás excelentes, que apresentam os dois principais serviços informativos não diários também são as mesmos, de há muito a esta parte. Naturalmente, e pela própria ordem das coisas, levam pessoas repetitivamente com as mesmas caras a comentar os acontecimentos.
Os “professores” de economia, os “cientistas políticos”, os comentadores jurídicos, os analistas sociais, os jornalistas comentadores repetem-se até à saciedade. E tanto se repetem que já se pode saber de antemão o que vão dizer, de tantas vezes o já terem dito.
Para as questões constitucionais temos, alternadamente ou em conjunto, a opinião exclusiva de Jorge Miranda, Vital Moreira e Gomes Canotilho, mas sempre eles e mais ninguém, não!...
No futebol, os analistas vêm-se revezando desde meados do século passado, tanto assim que são as próprias televisões que recordam, com cabelo ou sem cabelo, com bigode ou sem bigode, as dignas figuras de Fernando Seara, Dias Ferreira ou Guilherme de Aguiar.
A moléstia chegou também à Selecção Nacional de Futebol. Até há dois anos, nenhuma selecção era concebível sem os antiquíssimos, mas “indiscutíveis” titulares Rui Costa e Figo. O primeiro, num acto de bom senso sempre de louvar, admitiu que o seu tempo tinha chegado ao fim e abdicou. Se não fosse isso, ainda andaria por lá. No entanto, e dois anos depois, passou a ser o repositório de todas as esperanças do Benfica…
O segundo, depois de se despedir e de, em atitude “patriótica”, tornar a entrar, viu o seu carisma aumentar em exponencial.
Não há renovação na vida nacional: as pessoas agarram-se como lapas ao lugar, não querem concorrência, que os faria melhores ou que, fatalmente, os afastaria. São os “melhores” só porque não são sujeitos a comparação. E sendo os “melhores”, assim por direito natural, escusam de se esforçar, que o lugar é seu.
Dei então por mim a pensar que a única renovação que se dá em Portugal é quando o PSD ou o PS ganham eleições; nessa altura, organizada e metodicamente, cada um dos partidos varre as pessoas que o outro colocou.
É a renovação pelo pior motivo. Mas é a única que há!...

12 comentários:

Tonibler disse...

Já se experimentou deixar de ter medo?

A pergunta vem por causa de um velho ditado da informática que dizia "nunca ninguém foi despedido por escolher a IBM". Isto significava que por mau que a IBM fosse, qualquer estúpido tinha desculpa porque a marca dizia muito.
Como o português é o maior cobardolas que apareceu no mundo, vai à procura dos seus "IBM's" por muito maus que lhe pareçam. Então um jornalista, se tem um problema constitucional, pergunta ao Vital; os deputados fazem carradas de legislação que garanta a continuidade das pessoas em defesa de tudo e mais alguma coisa, criam-se incompatibilidades, licenças, certificações, adequações, idoneidades. Há ordens para garantir a idoneidade de profissionais, lideradas pelas mesmas pessoas comprovadamente(?) idoneas. As pessoas são sempre as mesmas? Têm que ser, sabe-se lá que vigarista nos vai aparecer? Pelo menos estes são idoneos...

No dia em que deixarmos de ser cobardes, talvez....Até lá, continuo sem perceber porque se acabou com os barões e os condes.

Massano Cardoso disse...

Meu caro amigo Pinho Cardão. O que é quer? O país é pequeno, muito pequenino. Não há espaço para os "outros". Daqui a dez anos, ainda vão lá estar os mesmos...

A.Teixeira disse...

Assim como se faz circular um abaixo assinado para que não ocorra um verdadeiro desastre na cinemateca com a saída - aos 70 anos! - de João Bénard da Costa ou, estando numa de cinema, se aguarda a verdadeira obra prima cinematográfica de mestre Manuel de Oliveira, a estrear por ocasião dos seus cem anos - haja dinheiro para o financiar...

Ana M. disse...

Estou de acordo com o Post, mas não com a opinião de A.Teixeira:
O caso Bénard da Costa é uma excepção. Não é por ter 70 anos que deixou de ser a pessoa que mais sabe de Cinema, em portugal. E a que mais continua a contribuír para a divulgação de tantos "clássicos" que, sem a sua mão, já estariam, há muito, na gaveta do esquecimento.

A.Teixeira disse...

Sininho

Vai-me desculpar, mas a sua resposta é exemplar do tipo de atitude de quem concorda com uma opinião genérica, em doutrina, mas consegue arranjar sempre excepções quando essa opinião se concretiza.

No caso vigente, não estão em causa os conhecimentos de cinema de João Bénard da Costa, mas sim a sua presença como dirigente de um organismo público para além do período definido por lei. No limite, concebo um regime de excepcionalidade, se a permanência de Bénard da Costa fosse um expediente para encontrar uma solução sucessória num prazo previsível. Mas, pelo que tenho escutado, parece que não é disso que se trata, mas duma ocupação a título vitalício, assim parecida com a duração do seu bilhete de identidade.

Este post de Pinho Cardão, com o qual concordo, parece-me que se refere à renovação das pessoas em abstracto, não à renovação das pessoas de que não gostamos, discordamos ou que achamos incompetentes.

Anthrax disse...

Com todo o devido respeito por todos, eu também concordo com a mudança.

Mas por outro lado, também não vejo qualquer problema no pessoal se agarrar aos lugares tipo lapas. É uma questão de sobrevivência, é uma questão de manutenção do status quo. Quem é lapa, pretende continuar a ser lapa por que quer manter o seu estilo de vida e manter um determinado estilo de vida é uma questão de sobrevivência.

Quem não é lapa, também aspira a um dia ser "lapa" e quando esse dia chegar, também vai ser uma questão de sobrevivência.

Não sei se a questão se coloca no ser ou não ser lapa, ou se se coloca no facto de estarmos a falar de lapas competentes ou incompetentes.

Depois, também se pode dar o caso de estarmos perante um formato de programas já um bocado batido.

Anónimo disse...

Pois eu vejo com naturalidade a situação descrita pelo Pinho Cardão.
Quem é que, de bom tino, se apresentaria hoje a substituir João Proença ou Carvalho da Silva? Ou se disponibilizaria para fazer a figura que publicamente fazem outras personalidades citadas no post?
É que, meus Amigos, não é fácil. É preciso ter uma alma especial para dizer pela enésima vez o que sempre se disse; ou para mais uma vez, rendido às conveniências, calar o que sempre se calou.
No desporto também reconheço que não é fácil estar duas horas em suposto debate televisivo (duas horas de televisão é uma eternidade!) e não dizer nada, absolutamente nada de substantivo!
Quanto aos protagonistas da vida política ou político-partidátia, os que estão e os que andam por aí, são os mesmos? Pois são! Mas quem é que, tendo uma vida e uma experiência profissionais em que se realize ou tenha possibilidade de se realizar, um nome e o prestígio de uma carreira a defender, generosamente se chega à frente para os substituir? Com a cotação que têm entre nós os políticos? Só por insanidade momentânea é que se que sim ;)

Anónimo disse...

A frase final do meu comentário saiu sem sentido: Deve ler-se: "Só por insanidade momentânea é que à chamada se diz que sim ;)"

Anónimo disse...

Tomaram muitos ministros terem os poderes destes putativos líderes corporativos.
O corporativismo tende ao situacionismo, de quem entende que a mudança é sempre uma obrigação dos outros. Alguém comentou anteriormente, e bem, que todos entendem que é bom mudar até atingir o poder, depois a estabilidade passa a ser o valor mais relevante.
Reconheço que após 6 a 8 anos (dois mandatos) de exercício de um determinado cargo as pessoas perdem muita da frescura, da energia e da criatividade que as mobilizou para o respectivo exercício. Alguém dizia, com humor, que dois mandatos são currículo, mais de dois é cadastro.
Existem mesmo organizações, designadamente multinacionais, que têm planos de rotatividade periódica para os seus quadros. Estes planos assentam no pressuposto de que os automatismos, decorrentes do excesso de confiança relativamente a assuntos aparentemente dominados, geram desatenções, erros e desperdícios. “A contrario”, o confronto com novas situações e problemas espicaça a inovação e fomenta dinâmicas mais pró-activas. O óbice à renovação não se coloca ao nível de uma pessoa em particular, mas sim no âmbito da natureza humana. Sem regras contingentes ou estímulos desafiadores, frequentemente externos, os indivíduos caiem quase sempre num certo autismo, ou nas armadilhas das certezas dogmáticas.
A concertação social é um valor indiscutível da democracia, embora adulterado na sua essência. Porém, quem governar ao sabor dos consensos obtidos na concertação social arrisca-se a concluir que o caminho mais curto entre dois pontos é uma curva labiríntica, com um princípio nebuloso e um fim indeterminado. É o que tem acontecido, em grande medida, nos últimos 30 anos em Portugal.
Também aqui é necessário mudar, quase tudo... sem que tudo fique na mesma!

Anónimo disse...

Na 1.ª linha do meu comentário deveria ler-se "ter" em vez de "terem".

Anthrax disse...

Caro amigo Felix,

Também concordo consigo mas não na totalidade da coisa.

Penso que a rotatividade dos recursos humanos tem aspectos positivos e tem aspectos negativos. A criação de dinâmicas pró-activas é um aspecto positivo que deve ser utilizado em determinados momentos nunca esquecendo que, outros há que requerem outro tipo de abordagem.

E depois é assim, a mudança é bom sim senhor mas há um problema. Quando é em excesso transforma-se num problema de confiança e conduz a estados de psicose. Eu jamais contrataria alguém que passasse o tempo a mudar de trabalho, à partida pensava logo que a criatura precisava de algum tipo de apoio terapêutico porque não era normal.

De facto, tal como o amigo diz, a natureza humana não tende para a mudança constante. Tende para a procura da estabilidade e do conforto o que é perfeitamente normal e não tem nada de autista. Entorpece? Sim, claro que entorpece, olhe lá para a nossa sociedade. Não é essa a ideia subjacente às campanhas de "Paz, Amor e harmonia" para toda a gente, ou às campanhas da "Liberdade, igualdade e fraternidade", somos todos manos e manas, somos todos eco-friendly e distribuímos florzinhas a toda gente?

Ou seja, por um lado dizem que mudar é bom. Mas todas as mudanças implicam conflitos (e nos conflitos a única coisa que varia é o grau de intensidade). Por outro dizem que somos todos irmãos e que somos todos iguais, etc. Bom, aquilo que eu digo é, decidam-se.

Anónimo disse...

Amigo Anthrax

Antes de mais quero manifestar-lhe o quanto apreciei o seu último comentário “meio hippie” e a transbordar de ternura.
Não me parece porém, sinceramente, que em matéria de rotatividade ou mudança funcional tenhamos alguma divergência de fundo. Acontece que, no contexto de uma caixa de comentários de um blog apenas podemos pincelar ao de leve as nossas impressões ou opiniões, sem as explicitar excessivamente, sobre pena de nos tornarmos maçadores.
As mudanças para serem saudáveis devem, tanto quanto possível, passar por um prévio planeamento. As mudanças de que pretendi falar não são as frenéticas ou compulsivas, mas as ponderadas numa trajectória de enriquecimento organizacional e funcional. As mudanças coercivas também não fazem bem ao ego, prejudicando mesmo, por vezes, a qualidade e motivação dos desempenhos. Por isso é que defendo que as mudanças periódicas (de 6 em 6 ou de 8 em 8 anos – nas multinacionais chega a ser de 3 em 3 anos) devem integrar os sistemas ou modelos organizacionais. Fazer parte da cultura endógena das organizações. O objectivo é encarar-se a mudança como uma coisa natural. Ninguém tem que empurrar ou sentir-se empurrado. Concordo, no entanto, que a mudança, em si mesma, não pode ser encarada como um objectivo teleológico, mas antes como um instrumento de melhoria contínua da qualidade das organizações. O que se deve traduzir, necessariamente, quer na melhoria dos desempenhos individuais quer no aumento da eficácia e da eficiência. Toda a mudança, ou mesmo a ausência da dita, deve ser avaliada quanto aos resultados e impactes.
Quando falei de autismo não me referia ao estado mental caracterizado por uma concentração patológica do indivíduo sobre si mesmo, mas sim, em sentido figurado, a um certo alheamento do contexto ou da realidade. As rotinas e o excesso de confiança geram, quase sempre, alguma astenia. Esta é a regra, mas cada pessoa é um caso. Pelo contrário, alguma ambição, irreverência e criatividade geram progressos pessoais e organizacionais.
A ameaça de desemprego não me parece ser um bom estímulo. Mas a hipótese de desemprego, em caso de mau desempenho, já me parece ser uma condição necessária à produtividade e à competitividade.
A estabilidade, em certa medida, é um valor útil e necessário, seja na família, na amizade ou no trabalho. Mas, a perpetuidade em vida pode ameaçar a eternidade, após a morte, supostamente a título de compensação pelas nossas boas acções. Uma coisa é certa, as sociedades e as organizações não progridem muito com os “mortos-vivos” ou com os “eucaliptos” que secam tudo o que mexe à sua volta. Os verdadeiros líderes são aqueles que, em vida útil, preparam a sua sucessão. Há um tempo para tudo. E, saber sair é uma virtude. Quando alguém se julga imprescindível, aí estão os cemitérios para demonstrar à saciedade que tudo o que nasce algum dia há-de morrer.

Um abraço.