Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 31 de agosto de 2006

Cadáveres humanos: negócio da China

Só nos faltava esta, mas é verdade. Existe na China um florescente negócio com cadáveres humanos, verdadeiras indústrias que preparam os cadáveres para exposições em diferentes partes do Mundo.
A notícia vem publicada em interessante reportagem inserta na edição de 9 do corrente do International Herald Tribune, sob o título “Remade in China: Cadavers for shows”.
Nesse artigo, o seu autor, David Barboza, relata com impressionante realismo a existência de uma importante fábrica de preparação de cadáveres humanos em Dalian, cidade costeira da China, inserida numa das regiões mais prósperas daquele País.
Nessa fábrica, pertencente a uma empresa Dalian Institute of Plastination, propriedade de um cientista e empresário alemão, Dr. Gunther von Hagens, centenas de trabalhadores chineses trabalham num processo de transformação de cadáveres humanos, que envolve a respectiva limpeza, corte, dissecação, preservação e arranjo exterior.
Toda essa actividade tem como objectivo a preparação dos cadáveres para exposições como a “Body Worlds”, organizada pelo referido cientista/empresário, a qual atraiu já mais de 20 milhões de visitantes nos últimos 10 anos.
Refere ainda esse artigo que a concorrência no sector é já bastante activa, destacando o facto de uma empresa americana, a Premier Exhibitions, uma das maiores empresas do Mundo na organização de exposições, ser uma grande importadora de cadáveres da China, preparados noutras fábricas que não a do Dr. Von Hagens.
Decorre nesta altura em New York uma exposição organizada pela Premier Exhibitions, denominada “Bodies: The Exhibition”, na qual são expostos cadáveres provenientes da China, em perfeito estado de apresentação, nos quais é possível ver, com pormenor, os diferentes órgãos, as massas musculares (na preparação, para além de retirarem a pele limpam também grande parte das gorduras), as articulações, etc,etc.
Também são expostos órgãos do corpo humano, para o visitante mais curioso.
Dizem-me que esta exposição tem constituído um grande sucesso, atraindo muitos milhares de visitantes.
Haverá neste momento na China mais de 10 fábricas de preparação de cadáveres, que exportam para diferentes partes do Mundo: EUA, Japão e Coreia do Sul, sobretudo.
A “matéria prima” é importada de países europeus ou adquirida na própria China.
Este negócio tem vindo a levantar algumas objecções, nomeadamente por parte de grupos activistas dos direitos humanos.
Alegam estes grupos que muitos dos cadáveres adquiridos na China provêm de cidadãos executados pelo sistema de “justiça” chinês, e que os guardas prisionais poderão estar envolvidos no negócio.
As empresas negam essas acusações, como era de esperar.
O governo chinês, preocupado ao que parece com a dimensão que este negócio está a registar e com as acusações dos referidos grupos, terá proibido em Julho último a compra e venda de corpos humanos e restringiu a respectiva importação e exportação para finalidades de investigação.
Mas ainda não é conhecida a eficácia desta proibição.
Caro Dr. Massano Cardoso, o que pensa deste dossier?

8 comentários:

Carlos Monteiro disse...

Por acaso vi um programa sobre isso. A exposições mostram ao pormenor todos os orgãos do corpo humano com um pormenor incrível. São expostos não só cadáveres humanos como de animais (cavalos, cães, etc)

Aqui vai o link

http://www.bodiestheexhibition.com/bodies.html

(como é que se faz uma hiperligação aqui?)

Massano Cardoso disse...

Caro Dr. Tavares Moreira

As práticas de Gunther von Hagens são conhecidas desde há muito tempo. De facto, as técnicas utilizadas são notáveis, podendo ver-se tudo com detalhe e precisão. Não havia nada a opor, se não fosse o facto de os cadáveres serem utilizados para exposição “artística”. Se fosse para efeitos de ensino, seria louvável e até desejável, mas parece que não é o caso.
O segundo ponto subjacente a este fenómeno prende-se coma origem dos cadáveres. Na China o negócio vai de vento em popa, quer no tocante ao comércio de órgãos das vítimas de pena de morte aos relatados no post do Dr. Tavares Moreira.
Pessoalmente não sou adepto destas actividades, as quais não deveriam ser permitidas, entre elas a exploração artística de corpos plastificados, a não ser para efeitos de ensino, à semelhança do que aconteceu até hoje, embora utilizando técnicas menos sofisticadas.
Na China os direitos humanos estão muito desvalorizados, como é de esperar num sistema político daqueles. É um país onde tudo é barato, desde a produção laboral, ao comércio de órgãos. Com tantos amarelos estaríamos à espera de quê? Os ocidentais deveriam, não só denunciar, como oporem-se a tais práticas. Também não acredito nas intenções das autoridades quando dizem que vão proibir isto ou aquilo, evitando que se faça certos tipos de investigações (a este propósito não esquecer, também, que os chineses são verdadeiras cobaias para experimentação clínica humana).
Pois é! O perigo amarelo não se reduz só à concorrência económica ou ao facto de andarem por ai a negociar por tudo quanto seja sítio, mas também no domínio ético, cujo significado deverá ser praticamente nulo para aquelas cabecinhas. Mas, nós temos também culpa no cartório…

José Manuel disse...

Se não houvesse procura disto no Ocidente este negócio não teria pernas para andar.

Quando no Ocidente se permitem exposições como a de Nova Iorque dificilmente se esperará que sejam as autoridades chinesas a proíbir esta actividade.

Não me parece que a culpa seja dos chineses, até porque quem criou este negócio são empresários alemães.

Como em todos os negócios, havendo procura haverá sempre quem ofereça, quer seja de forma legal ou ilegal. Por isso este negócio que colide com os nossos valores éticos tem que ser combatido em primeiro lugar pelo lado da procura.

Tavares Moreira disse...

Caro Prof. Massano,

Apreciei os seus comentários e não me surpreendeu que já tivesse notícia deste fenómeno daí a interpelação que lhe dirigi no própio post.
Também me repugna profundamente a existência deste negócio mas, curiosamente, não encontrei uma simples linha no texto de reportagem de que me servi denunciando a realização de exposições com cadáveres humanos.
Será que a proibição de tais actividades seria considerada nos meios culturais que conhecemos um atentado às liberdades de criação artística? Não me espantaria...
Assim sendo e como refere, apesar das interdições regulamentares, o negócio poderá continuar a florescer.

Tonibler disse...

eiuuuuu!

Virus disse...

Nem sei o que será mais degradante se a utilização de cadáveres humanos para a realização de exposições de arte, se a utilização de cadáveres como simples depósitos de orgãos para transplantes?

Adriano Volframista disse...

Acho que os senhores deviam começar a reflectir que, talvez este seja o momento em que se inicia o fim da hegemonia cultural do Ocidente, em especial do Ocidente cristão.
Se se fazem na China é porque não existe o temor/reverência pelos cadáveres como existe no Ocidente, ou alguêm supõe que este negócio seria viável no Ocidente? Pelo menos mão de obra não existiria.
Há muito tempo que damo por adquirido sermos proprietários da civilização, acho que chegou o momento de compreender que isso não é bem assim.
Ah. Sim, continuo a ser ocidental pelo que identifico-me com a cruz mas não os crucifixos.

Cumprimentos
Adriano Volframista

Tavares Moreira disse...

Aquilo que me parece, caros Comentadores, é que estamos a assistir a uma fuga para a frente, em matéria de shows que buscam o sensacionalismo, a provocação e o choque da sensibilidade das pessoas.
Tudo com o objectivo de conquistar audiêmcias nas mais diversas formas e cenários, desde os chamados reality shows das TV's até este espectáculo da exposição de cadáveres humanos como simples forma de distracção.
Mas atenção que tudo é feito em nome da liberdade de expressão e de criação artística. E ai de quem ousar pensar em atentar contra essa santa liberdade...
Daí que este negócio da e na China, tanto quanto percebo deverá continuar a florescer.