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sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Alterações demográficas: dor de cabeça para décadas

O boletim mensal/Outubro do Banco Central Europeu (BCE) contém um artigo intitulado “Demographic Change in the Euro Área: projections and consequences”.
O artigo (p. 49 a 64) faz uma previsão, até 2050, das alterações demográficas nos 12 países do Euro e são avaliados os impactos dessas alterações no desempenho das economias (crescimento do PIB e mercados de trabalho), finanças públicas, mercados financeiros e na política monetária do BCE.
São ainda analisadas as medidas de política tidas por necessárias para prevenir algumas das consequências das alterações demográficas.
O artigo começa com uma apresentação das projecções demográficas no período 2004-2050, sendo de destacar as seguintes:

-Gradual declínio no crescimento da população, embora diferenciado em função dos grupos etários considerados, levando a que a população em 2050 seja praticamente igual à actual (nos EUA, crescimento projectado de 34%);
- A população em idade activa, entre os 15 e os 64 anos de acordo com os padrões actuais, deverá mesmo declinar, em termos absolutos, a partir de 2012, sendo em 2050 16% inferior à de 2004 (+24% nos EUA);
- A população com idade igual ou superior a 65 anos, aumenta 75% no mesmo período (+124% nos EUA);
- A população com idade não superior a 14 anos será em 2050 inferior em 17% à de 2004 (+10% nos EUA).
- O rácio de dependência (relação entre os que se encontram em idades não activas, com menos de 15 ou mais de 64 anos, e os que estão em idade activa), passa de cerca de 50% em 2004 para cerca de 80% em 2050 (60% nos EUA).

Constata-se que Portugal está entre os mais atingidos por este fenómeno de envelhecimento da população, juntamente com a Grécia e a Espanha.
No nosso caso projecta-se um declínio da população total, de -4%, muito mais acentuado na população com idade inferior a 15 anos, -21%, e na população em idade activa, -22%.
Por outro lado, a população com idade superior a 64 anos deverá aumentar 83%, com o rácio de dependência exibindo um agravamento de 34 pontos percentuais (cerca de 30 para a média da zona Euro, como vimos).
Caso curioso é o da Irlanda, com a projecção de um crescimento de 36% da população, extensivo a todas as classes incluindo os de idade inferior a 15 anos (+4%), os da idade activa (+16%), mas um crescimento “exponencial” dos de idade superior a 64 anos, (+219%), de longe o mais elevado no conjunto.
As consequências desta evolução são bastante negativas para o crescimento do PIB e para as finanças públicas, tornando inevitáveis medidas de prevenção como aquelas de que estamos a tomar conhecimento, dolorosamente, entre nós.
Este artigo já vai longo, espero voltar ao tema num próximo post.
Acrescento apenas a informação de que a palestra do Dr. Medina Carreira no Auditório Municipal da Póvoa de Varzim, prevista para hoje e de que aqui dei notícia, teve de ser cancelada por razões pessoais e de força maior do palestrante.
Dizem-me que será ainda este ano, em data a anunciar a muito breve prazo.

4 comentários:

Tonibler disse...

Eu não estou tão certo das consequências. Os agregados humanos têm um instinto próprio que os faz corrigir destas coisas. Eu espero para ver, porque nunca passámos por uma situação de decréscimo gradual da população.

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,
Eu não referi certezas em lado nenhum.
Ficou bem claro que se trata de projecções, a longo prazo, com o risco que sempre têm.
Mas estas tendências estão aí, parece difícil contraria-las, as percentagens de variação é que poderão não ser as mesmas ao cabo de tantos anos de previsão, como é natural.
Dessa confiança na auto-regeneração é que não partilho, confesso-lhe.
Parece-me confiança a mais.

Tonibler disse...

Caro Tavares Moreira,

Eu não tenho grandes dúvidas sobre as projecções. Tenho sobre as consequências dessas projecções. Vamos ser menos mas o menos que fazemos vale mais e o PIB, então, cresce, não desce. É este tipo de correcção que falo.

Antonio Almeida Felizes disse...

Li também algumas partes deste estudo relativamente à previsível evolução demográfica nos diferentes Estados da UE. Todavia quer-me parecer que nesta análise, talvez propositadamente, foi negligenciada uma das principais variáveis da análise demográfica, falo claro, do chamado saldo migratório.

Esta é a variável, que num futuro não muito longínquo, irá ganhar na Europa um peso específico determinante. Saibamos nós prepararmo-nos para lidar com ela.

O ... Regionalização