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quinta-feira, 16 de novembro de 2006

A cultura predominante

Com 82 anos, faleceu há dias Jean-Jacques Serban-Schreiber. O acontecimento apenas mereceu algumas poucas linhas na nossa comunicação social, que tratou o assunto de forma corporativa, destacando apenas os factos de ter sido jornalista no Le Monde e de ter fundado o semanário L`Express.
JJSS foi bem mais do que isso. Para além de político, embora por tempo não muito longo, teve uma inluência marcante nomeadamente através dos livros que publicou. O Défi Mondial, escrito em 1980, e editado em Portugal pela Dom Qixote, logo a seguir, é um livro fascinante.
Pelo livro, e falo de memória, perpassam as grandes figuras políticas da década de setenta, os equilíbrios regionais e mundiais, as esperanças que iluminavam os líderes, os desafios da indústria americana e japonesa, os primeiros passos de algumas das grandes empresas informáticas dos dias de hoje e de outras já desaparecidas.
Nesse livro, há mais de um quarto de século, já JJSS era um precursor e salientava o conhecimento e a inovação como a fórmula para o desenvolvimento e crescimento económico.
Rejeitava liminarmente o proteccionismo, que para ele representava o primeiro passo para a diminuição da produtividade e da competitividade das indústrias e para o empobrecimento das economias.
Não era esta uma ideia muito aceitável na época, como ainda não o é agora. Mas o modo como o escritor a expunha a questão neste livro e num outro, Le Défi Américain, levou muita gente de campos opostos a convencer-se da razão e da plena justeza das suas ideias.
Elas tiveram pouco eco em Portugal, país há pouco saído dos traumas da Revolução, em que a cultura disseminada ainda era a de que as ideias de uma economia livre, de empresas privadas, de lucro, de inovação eram contraditórias com os objectivos do 25 de Abril e da construção do socialismo exarado na Constituição.
Cultura essa que, infelizmente, ainda hoje predomina em larguíssimos sectores da opinião publicada, a par da do proteccionismo em todas as suas vertentes.
Por isso, nem passados 25 anos a obra de JJSS teve o devido destaque nos nossos media. Infelizmente para quem propugna por uma opinião pública informada.

2 comentários:

Nuno Nasoni disse...

Infelizmente, também não me parece que tenha sido dado o merecido destaque à notícia do falecimento de Milton Friedman, um dos economistas mais marcantes do Séc. XX - e cujo pensamento permanece actual.

Nuno Nasoni disse...

Caro Pinho Cardão,

Passou em 1981?! Lembro-me bem dessa série (felizmente, apresanta sob a forma de um desenho animado...) -, que seguia com muita atenção. Teria, então 9 anos e a série foi decisiva para a formação das minhas convicções. Mais tarde, li a Liberdade para Escolher. Devo dizer que já há algum tempo que tenho tido a curiosidade - que será oportunamente satisfeita - de revisitar a obra de Friedman.

Abraço, e o meu agradecimento pela posição que tomou em 1981. De certeza que contribuiu para tornar Portugal um país melhor.