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quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

“A violência da pergunta…”

O inquérito que o IDT pretendia realizar sobre os hábitos de consumo de droga, no universo estudantil do 3º ciclo até final do secundário, comportava perguntas que não se podem ou não se devem fazer a jovens.
Presumo que é do conhecimento geral a polémica levantada acerca deste caso. As perguntas “sancionadas” questionavam os alunos “sobre se o pai, ou o substituto insultava, agredia ou obrigava a mãe a fazer vida sexual com ele e contra a sua vontade”.
Parece que este inquérito é a repetição de um outro efectuado em 2001! Agora, o responsável máximo do IDT admite que as perguntas sobre a violência doméstica tinham uma formulação infeliz e que em última análise a responsabilidade é sua. Pode dizer o que lhe apetece, mas há uma coisa que não pode ser escamoteada, quem fez o inquérito ou quem o idealizou deve ser mesmo incompetente ou manifesta novas formas de violência! De facto, não podemos esquecer que a estrutura de um inquérito tem de obedecer a regras e princípios bem definidos.
Como é possível que uma entidade tão importante legitime e envereda por certas áreas tipo “elefante em loja de cristais”?
Quem faz investigação, elabora e aplica inquéritos, sabe muito bem que o facto de desejar conhecer certos aspectos, que podem ser muito importantes, não legitima que se pergunte tudo e de qualquer maneira, muito menos da forma “agressiva” como é o caso presente.
Hoje, existem medidas de controlo e de fiscalização para a realização de diferentes tipos de estudo. Questiono-me como foi possível este inquérito ter conseguido “furar” a comissão de ética? Partindo do pressuposto de que tenha sido submetido.
A submissão às Comissões de Ética e à Comissão Nacional de Protecção dos dados, assim como as necessárias declarações de consentimento dos inquiridos ou dos seus tutores, são indispensáveis à prossecução de estudos, salvaguardando os direitos dos cidadãos.
A este propósito, recordo-me de um colega, em tempos, ter sido multado pela Comissão de Protecção de Dados, na sequência de uma denúncia, segundo a qual havia perigo de não confidencialidade. O inquérito era correcto, não continha perguntas anómalas ou agressivas, foi apreciado e aprovado por uma comissão de ética, mas o simples facto de poder ocorrer perda de confidencialidade levou à tal penalização e à destruição dos inquéritos.
Voltando à vaca fria, modo de questionar os problemas, um colega, presidente de uma comissão de ética de um grande hospital do país, informou-me que anda preocupado com o crescente pedido de inquéritos por parte de pessoal não médico e até mesmo de estudantes. A forma como apresentam os inquéritos é “chocante”, como se fosse permitido perguntar tudo e de qualquer maneira. Um dos últimos pedidos era oriundo de uma escola secundária em que alunos do 11º ou 12º anos queriam fazer um inquérito no hospital aos doentes com cancro para saberem o que sentem!!!...
Enfim, há qualquer coisa que não bate certo, traduzindo não só um défice cultural como, também, uma insensibilização a certos valores.

1 comentário:

Tonibler disse...

O IDT custa ao contribuinte 62 milhões de euros, dos quais 40 milhões em pessoal.