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sábado, 31 de março de 2007

Gente fina é outra coisa!...

O DN insere na sua edição de hoje uma pequena reportagem sobre o conhecimento, por parte dos deputados, do preço dos artigos de consumo corrente, género café, pão, leite, etc.
A conclusão do jornal é de que os deputados compram sem olhar a preços.
Mas isso não é o importante, e eu também não sei!... O importante foi ficar a saber que há deputados e deputados!... Uns sem requinte e outros muitíssimo requintados...
Por exemplo, a deputada santanista Helena Lopes da Costa mostrou-se pouco segura dos preços, "já que opta por produtos premium"!... O jornalista obrigou-se a explicitar de que se tratava de produtos mais caros!...
Gente fina é outra coisa!... Só que geralmente não exibe!...

Consciência social e geracional


A fase que a Europa atravessa de lento crescimento económico e elevado desemprego, deve contribuir para reflectirmos para além dos valores materiais de uma qualquer economia da eficiência.
Com efeito, pensar sobre a justiça social – sobre perspectivas acerca da igualdade e da pobreza – sobre os valores políticos – da democracia e da liberdade – e acerca da relação entre as pessoas e as comunidades em que se inserem é um exercício fundamental para a compreensão do caminho económico e social que queremos prosseguir.
Esta reflexão tem muita actualidade e ganha grande importância em Portugal, um país em que se torna necessário encontrar uma nova dimensão para a relação entre o papel do mercado e o papel do Estado. Uma discussão que faz falta, verdadeiramente adiada...
A pobreza na Europa é uma realidade. A pobreza é um grande estigma social e económico. Devíamos preocupar-nos com as dificuldades dos pobres. É uma obrigação moral, uma obrigação aliás reconhecida por todas as religiões. A vida, a liberdade e a felicidade são direitos inalienáveis. Sem a garantia da igualdade de oportunidades e de um nível básico de rendimento a “busca da felicidade” não tem significado.
Acredito que todos beneficiamos de uma sociedade que seja menos dividida. Porque uma sociedade que aposta na igualdade de oportunidades é uma sociedade que tira melhor proveito dos seus recursos humanos e assim sendo é uma sociedade em que a estabilidade social e política é maior, com claros benefícios para o crescimento, porque é menor o nível de contestação.
Falar de igualdade de oportunidades é falar de oportunidades para as crianças e como tal o seu futuro não deveria estar dependente da situação dos pais. Uma criança desfavorecida que não tenha as mesmas oportunidades na escola e que, por exemplo, tenha uma alimentação subnutrida nos primeiros anos de vida poderá ter o seu futuro comprometido. Portugal tem muito para fazer neste domínio.
Mas nenhuma oportunidade é mais importante do que a oportunidade de emprego. Por isso, a Europa deveria firmar um compromisso com o pleno emprego, com um emprego para toda a gente que queira trabalhar, desenvolvendo programas de educação e de formação que facilitem a mobilidade de emprego. Não sei se a "flexigurança", agora tão na boca dos nossos governantes, será por si só suficiente.
E também nos devemos preocupar com a lealdade e a justiça entre as gerações, a actual e as vindouras. O “crescimento” de hoje e as opções políticas de hoje não devem fazer-se à custa do bem estar das gerações futuras. Esta consciência geracional deve estar hoje mais presente do que nunca, colocando o objectivo da sustentabilidade – a preservação do ambiente, a conservação dos recursos naturais, a manutenção e construção das infra-estruturas, o fortalecimento da cultura, etc. – no centro da discussão sobre igualdade de oportunidades. Opções do tipo OTA reflectem esta preocupação?

Diploma Simplex!...

O Expresso noticia hoje que a Universidade Independente "emitiu diploma de Sócrates num domingo".
Só me admiraria se assim não fosse!...
Afinal de contas, não é a Independente que forma muitos licenciados de um dia para o outro?
Tem que lhes dar o diploma, just in time, claro!...

Temos PADRINHO!

Robert Mugabe acaba de ser investido pelo seu partido, o ZANU-PF como candidato às eleições presidenciais de 2008 no Zimbabwe.
Circulavam rumores, nas últimas semanas, da existência de forte contestação, no seio do próprio partido, quanto a esta possibilidade, apesar da juventude de Mugabe – tem apenas 83 anos – e da brilhante folha de serviços que apresenta, depois de 27 anos no poder – um país em ruinas, depois de ter sido um dos mais prósperos e bem organizados de África.
Esses rumores acabam de ser desmentidos e assim podemos estar seguros de que o Zimbabwe vai continuar na sua senda de prosperidade, rumo à ruína absoluta
Mas mais importante para nós, podemos ter PADRINHO para a Ota.
Cheguei a recear que, com o eventual afastamento do grande estadista, a Ota tivesse de receber outro nome, o que seria absolutamente lamentável.
Agora estou mais tranquilo e creio que os portugueses ficarão também mais felizes.
Ota para a frente, Mugabe para sempre, portugueses e zimbabweanos unidos no progresso.

sexta-feira, 30 de março de 2007

A "meia-idade" Europeia

A assinatura do Tratado de Roma fez esta semana, que agora termina, 50 Anos. Foi em 1957 que se uniram várias nações no seio de uma grande família europeia, em torno dos valores comuns da liberdade, da democracia, do Estado de Direito, do respeito pelos direitos humanos e da igualdade.Este grande empreendimento europeu, que deixou para trás a destruição provocada por duas guerras mundiais e uma grande depressão, trouxe paz e prosperidade a uma escala certamente inimaginável na história da Europa.
Mas a Europa confronta-se hoje com um importante problema económico, com crescimentos lentos e elevado desemprego. Situação que terá contribuído para a rejeição em 2005 da constituição europeia por parte da França e da Holanda. Será que os líderes europeus serão capazes de mobilizar e de implementar as mudanças necessárias para revigorar as suas economias e o sonho Europeu? Isto é, serão efectivamente capazes de actuar ao nível de uma maior flexibilidade dos mercados de trabalho, de redimensionar o estado social e de induzir uma maior competitividade nos mercados, em especial dos serviços? E serão capazes de fazer um maior esforço para convencer os cidadãos europeus de que beneficiaram do alargamento do clube? E de os convencer das vantagens de novos alargamentos que se perspectivam?
Uma Europa que ajude a restaurar a prosperidade dos seus membros, será também capaz de restaurar o entusiasmo dos seus cidadãos pelo projecto europeu.
É, pois, um grande desafio que se coloca à "meia-idade" Europeia...

Para memória futura I

Todos os dias o Governo diz que a despesa diminuiu. Ora vejamos os números do INE, respeitantes às Contas das Administrações Públicas, referentes a 2005 e 2006:
1. Evolução dos Impostos:
Passaram de 35.001 para 37.592 milhões de euros, aumentando 2.591 milhões de euros.
Tiveram um acréscimo de 7,4%, muito superior à inflação.
O peso no PIB passou de 23,5% para 24,2%.
2. Evolução de Outras Receitas, incluindo Segurança Social:
Passaram de 26.749 para 28.009 milhões de euros, aumentando 1.260 milhões de euros.
Tiveram um acréscimo de 6,6%, muito superior à inflação.
O peso no PIB passou de 17,9% para 18,1%.
3. Evolução da Despesa Corrente:
Passou de 64.567 para 66.323 milhões de euros, aumentando 1.756 milhões de euros.
Teve um acréscimo de 2,7%, superior à inflação
O peso no PIB passou de 43,3% para 42,7%.
4. Evolução da Despesa de Capital
Passou de 6.088 para 5.334 milhões de euros, diminuindo 754 milhões de euros .
Teve um decréscimo de 12,4%.
O peso no PIB diminuiu, passando de 4,1% para 3,4%.
5. Evolução do Défice
Passou de 8.904 para 6.055 milhões de euros, diminuindo 2.849 milhões de euros.
Teve um decréscimo de 32%.
O peso no PIB passou de 6% para 3,9%.
6. Em síntese:
As receitas aumentaram 3.851 milhões de euros e o défice diminuiu 2.849 milhões de euros
Se o défice diminuiu menos do que o aumento das receitas é porque as despesas subiram, no caso 1.002 milhões de euros.
Este valor de 1.002 milhões de euros resulta da combinação do acréscimo das despesas correntes, 1.756 milhões de euros, com a diminuição das despesas de capital, 754 milhões de euros.
7. Conclusão:
Em termos nominais, a única contribuição para a diminuição do défice deveu-se ao aumento das receitas.
A despesa em nada contribuiu, porque aumentou. E da pior forma, já que o aumento se deu na despesa corrente e a despesa em investimento público até diminuíu.
Não devia o Governo ser um pouco mais comedido, quando diz que diminuiu a despesa corrente ?
Veremos depois as variações em relação ao PIB

Plutonomia portuguesa: notável

Há cerca de 2 semanas editei aqui um POST no qual procurei, sumariamente, descrever um novo conceito economico, designado PLUTONOMIA pelo seu Autor.
Disse na altura que me parecia que a economia portuguesa apresentava, nos últimos anos, sinais crescentes de comportamento típico de plutonomia.
E prometi em breve justificar essa afirmação.
Para fundamentar tal opinião poderia socorrer-me de indicadores parcelares, alguns bem conhecidos:

1 - O comportamento claramente dual do mercado da habitação, existindo um segmento de habitações médio ou abaixo da média, com excesso de oferta em relação à procura, nalguns casos em verdadeira crise, enquanto que no segmento de elevada qualidade/preço a procura absorve facilmente (nalguns casos rapidamente) a oferta;
2 - O comportamento também dual do mercado de veículos automóveis novos, em que o negócio dos carros mais caros floresce enquanto que nos veículos mais baratos existe uma queda acentuada das vendas;
3 - A crescente procura dos destinos turísticos mais caros no exterior, enquanto que um número cada vez maior de portugueses declara que tem de passar as férias na sua própria residência habitual por falta de recursos para sair de casa;
4 - A frequência dos restaurantes mais caros, que continua animada ou mesmo em alta, enquanto que restaurantes da faixa média se queixam de dificuldades cada vez maiores;
5 - Mais importante nos últimos dois anos, a saída maciça de portugueses para o estrangeiro, em busca de trabalho que aqui não encontram, enquanto que a faixa de 1% mais abastados aumentou consideravelmente a sua riqueza graças, em especial, à forte valorização bolsista a que se assistiu neste período.

Podia aditar mais alguns exemplos do mesmo tipo, mas não é por aí que quero chegar à demonstração da minha tese.
O que constato de novo e de mais significativo, em 2005 e mais ainda em 2006, é a resistência, para mim surpreendente, da procura interna a uma política económica de austeridade que, noutra altura – anos 80 ou anos 90 – teria acarretado forte quebra da procura interna, designadamente do consumo privado.
Pois a verdade é que em 2006 o consumo privado – apesar do aperto orçamental e do endurecimento da política monetária do BCE - deu ainda um contributo positivo para o crescimento do PIB.
E o défice dos pagamentos ao exterior (transacções correntes) que em condições normais – atentas aquelas mesmas políticas – deveria exibir redução significativa, teve em 2006 comportamento oposto, passando de 8,3% para 8,8% do PIB.
Não creio que exista outra explicação para estes fenómenos, tal como noutros países, que não seja a “plutonomização” da economia portuguesa.
Ou seja, enquanto que uma significativa parcela da população tem mesmo de “apertar o cinto”, por força das restrições orçamentais e do excesso de endividamento/subida dos juros, a parcela dos mais abastados, graças ao considerável aumento de riqueza de que tem beneficiado, expandiu os seus gastos compensando o menor gasto das classes de mais baixos rendimentos.
Tudo isto se desenvolve, curiosamente, sob o manto diáfano de uma imagem de esquerda... NOTÁVEL!

A culpa foi dos alvos!

Decorreu um exercício militar, designado "Relâmpago 07", para testar com fogo real o sistema de míssil anti-aéreo Chaparral.
Ao que parece nenhum dos mísseis atingiu o objectivo que era estoirar com qualquer coisa. Ingloriamente cairam na praia ou no mar, desgraçados e desorientados os Chaparral. Não admira. Os alvos eram afinal pequenos, e segundo informações não oficiais, não paravam quietos.
Mas esta outra nota já é oficial: a data de validade dos alvos expirava este ano, razão também apontada para a falta de pontaria!
A crer no porta-voz do Exército, citado pela TSF «os mísseis não atingiram o alvo, mas isto é um pormenorzinho de um exercício que envolveu muita coordenação com muitas unidades».
E eu estou de acordo. Quando os alvos não colaboram, não há nada a fazer. No entanto, o que verdadeiramente importa não é acertar, é disparar. Afinal, não é também assim com boa parte do País?

quinta-feira, 29 de março de 2007

Turismo gastronómico...e não só!...II

No meu post de há dias, Turismo Gastronómico, referi a deliciosa posta transmontana saboreada, ao jantar, em Montalegre. O dia seguinte seria dedicado a um almoço de cabrito.
Da parte da manhã, ainda houve tempo para uma deslocação rápida à vizinha Xinzo de Limia, que nas disputas de fronteiras dos primeiros anos da nacionalidade por duas ou três vezes foi portuguesa. Perto do meio-dia, começou a deslocação para o almoço, em local surpresa. Tomámos a estrada para Braga, passámos a barragem do Alto Rabagão, guinámos para as Alturas do Barroso e começamos a desfrutar, na subida da serra, de uma paisagem estonteante sobre a barragem, que refulgia ao sol do meio-dia. No caminho, e onde menos se poderia esperar, povoações antigas que teimosamente vão perdurando, de gente tão forte como o granito que construiu as suas casas. Chegámos a Vilarinho Seco, já do outro lado da Serra do Barroso. Deve ter sido uma aldeia próspera, como o atestam as fileiras de altas casas de pedra primorosamente aparelhada e a quantidade de eiras, palheiros e canastros que serviam as colheitas. Logo à entrada, um largo e uma bela capela, e logo a seguir uma imponente casa de pedra, com uma inscrição que patenteia os seus 300 anos de idade. Foi essa casa, construída por um grande lavrador da região e onde certamente nasceram e morreram muitos dos seus filhos, netos e bisnetos, que um dos herdeiros adaptou a restaurante para almoços de grupos de fim-de-semana. Para além do rasgo empresarial, é uma meritória iniciativa que mostra que zonas tão interiores não estão condenadas a desaparecer.
A sopa de hortaliça, o cabrito assado em forno de lenha e as variadas sobremesas, do leite-creme às fatias douradas, constituíram um belo momento cultural. Com todos os géneros, o dono o assegurou, produzidos na casa!…
Depois do almoço, tempo para apreciar a bela arquitectura dos espigueiros. Uma enorme pedra cavada, junto a um deles, levou-me a interrogar uma simpática velhota de 80 anos, ali sentada numa pedra.
-Boa tarde, minha senhora!...Benza-o Deus, meu senhor!…
-Oh! Muito obrigado!... Então a senhora está rija?...Cá vou indo…o pior são as pernas… Já tenho oitenta anos, acabados a 20 de Janeiro… Rija como está, ainda vai viver muito!... Não sei, nem vale a pena pensar, a gente só vai daqui quando chegar a nossa hora!… Diga-me, minha senhora, para que é que vai servir esta pedra, assim cavada?
- Para uma salgadeira!... Para uma salgadeira?
Constatei então que, neste tempo das avançadas tecnologias, ainda há quem, nas faldas do Barroso, não prescinda de uma bela salgadeira de pedra e a prefira à melhor arca congeladora!...
Quem sabe ainda o que é uma salgadeira? Contrastante país, este nosso Portugal!...

Uma Mulher de Buço

A propósito do post do Massano Cardoso, lembrei-me de mais uma das minhas intermináveis histórias, que não resisto a contar, sem com isso querer desviar a atenção dos interessantes assuntos que se debatem aqui...
Maria Gertrudes era uma rebelde. Um retrato a sépia fixa-a ainda menina, em pé, muito direita e séria ao lado da professora que ia a casa ensinar-lhe as primeiras letras, e já lhe denuncia os traços de uma personalidade forte que havia de se acentuar ao longo da sua vida. Vestida a rigor, entre folhos, laços e caracóis, as botinas justas e um caderno em evidência, a garota não disfarça a boca torcida num esgar de contrariedade, os olhos duros de impaciência para o fotógrafo e as costas meio viradas, como se quisesse escapar ao rigor da mestra e à tirania da pose.
Era a mais velha de seis irmãos e moravam em Lisboa, na Rua da Prata, local estratégico que lhe permitiu acompanhar de perto os motins que antecederam o 5 de Outubro. Muitos, muitos anos depois, ainda contava às netas, com paixão, o dia em que ouviram uma correria e viram um jovem esfarrapado a fugir, esbaforido. A certa altura fraquejou e, sentindo-se quase apanhado, cortou um pulso e, com o sangue que escorria, escreveu na parede “República ou morte!”, esborratando o ponto de exclamação quando o agarraram para o levar para os calabouços.
Nem pelo facto de ser mulher desistiu de defender activamente as suas convicções, e juntou-se aos irmãos na campanha de Bernardino Machado, cheia de um idealismo de que fazia parte a instrução das mulheres e o direito a terem voz activa na política nacional.
Dada a paixões como era, andaria pelos 17 anos quando começou a ir à janela trocar olhares com um rapazinho seu vizinho, que achava pálido e enfermiço mas que lhe tocou o coração. Trocavam bilhetinhos cada vez mais intensos, dizia ela que ele era um poeta e uma alma sensível, não admirava que o pai o mantivesse em apertada vigilância por temer que o filho único virasse a cara aos negócios de família.
Um dia o rapaz não apareceu na varanda. Nem no outro, nem no outro. Maria Gertrudes zangou-se, achou que tinha sido iludida, o malandro teria outras intenções e ela ali a deixar-se encantar. Depois, as janelas da casa ficaram fechadas, numa sombra negra que pronunciava desgraça. Vieram-lhe dizer que o rapaz tinha morrido na véspera, de uma apendicite aguda, e que a família, destroçada, ia viver para fora.
Maria Gertrudes fechou a alma e vestiu-se de negro. Jurou que nunca casaria e que jamais pisaria uma festa ou bailarico. Arrepiou o cabelo num carrapito austero e passou a acompanhar o pai e os irmãos nas suas actividades, deixando para a mãe e as irmãs os bordados e as lides domésticas. Nunca a viram numa festa e nos bailes da aldeia ficava sentada com os mais velhos, repelindo os convites para dançar. Nem ligou quando uma penugem negra começou a despontar no lábio superior, carregando-lhe o semblante.
Morreu o pai, casaram os irmãos, a política desiludiu-a brutalmente mas sempre foi uma republicana convicta.
Andaria pelos 36 anos quando ele lhe passou à porta e os olhares se cruzaram.
Não entendeu logo aquela batida do coração, achou que o sono não chegava porque andava nervosa com o casamento da irmã mais nova, a última que faltava orientar e a sua preferida.
Gostou da coincidência dos dias seguintes, aquele homem de bela figura, feições limpas e bigode bem aparado, a passar por ela como se lhe conhecesse os passos. Chegaram à fala, ele era viúvo, sem filhos, apenas recomposto da morte da mulher às garras de uma tuberculose que não tinha conseguido vencer.
Deu brado quando ela apareceu com o primeiro vestido de luto aliviado. Foi fácil aos irmãos descobrirem a razão do fenómeno, puseram-se em campo e não gostaram da ameaça, um homem sem fortuna nem família, apenas a mãe, viúva desde a tenra infância dos filhos.
Sabendo o seu génio e vontade de ferro, abordaram-na pelo ponto fraco da sua importância na família, a responsabilidade pelos irmãos, a mãe doente e incapaz de se ver sem ela. Tinha sido ela a querer assim, não podia agora seguir outro caminho, não precisava de mais ninguém, eles contavam com ela como chefe do clã.
Maria Gertrudes olhava-se ao espelho, ainda era uma mulher bonita. Apesar da austeridade da sua figura alta, o cabelo forte e preto, preso com simplicidade, brilhavam-lhe os olhos redondos e enormes e tinha a boca firme, sombreada pelo buço que nunca disfarçara e que considerava um traço da sua personalidade. Hesitava, o José despertava nela um sentimento que julgava morto, uma felicidade que só via nos outros e que se tinha habituado a detectar e seguir, atenta mas excluída.
Tomou por fraqueza o que sentia e deixou de lhe aparecer, mas abandonou o luto.
Quando lhe tocaram à porta, viu um moço de recados com um ramo de violetas na mão, estendendo-lhe encabulado um envelope fechado. Aí, tinha escrito José: “ Não tires esse luto teimoso. Quando o meu caixão te passar à porta, pelo desgosto de te não ver, atira-me o raminho de violetas para te guardar comigo para sempre”.
Casaram sem festa nem família, numa cerimónia civil que causou o maior escândalo.
Dois dias depois, entravam na casa de Benfica, morada de férias da família e que lhe tinha cabido a ela por decisão do pai. “Hão-de todos cá vir ter comigo”, dizia ela, ofendida e revoltada. E assim foi.
Tiveram duas filhas, cinco netos, e celebraram juntos 52 anos de casamento.
A Maria Gertrudes todos prestavam vassalagem sem discussão, num círculo enorme que incluía tios, tias e sobrinhos de várias gerações. Salvo o genro, que nunca lhe apreciou o bigode evidente e o tom ríspido com que dava sentenças sobre o rumo que devia dar à sua vida.
Quando morreu, com 92 anos, a família sempre atribuiu a morte fulminante à fúria que teve quando lhe levaram um padre para a confessar, por alturas da Páscoa.

Obra do acaso!...

Afinal, as coisas vão-se ajustando à realidade, fugindo à propaganda governamental.
De acordo com uma notícia do Público, verifica-se que a despesa pública não está controlada, muito longe disso, contrariamente ao que o governo vem dizendo. Segundo os dados do INE, e em apenas três meses, a despesa pública efectiva de 2006 teve um acréscimo de cerca de mil milhões de euros em relação aos valores estimados no Relatório que acompanhou o Orçamento de Estado de 2007, apresentado em Outubro de 2006.
E as receitas também fugiram muito ao previsto, mais 2.000 milhões de euros.
Em relação às previsões feitas apenas três meses antes, o desvio global foi assim de 3.000 milhões de euros, com efeitos positivos sobre o défice.
A exorbitância deste desvio de 3.000 milhões de euros em tão pequeno espaço de tempo leva obrigatoriamente a concluir que o défice de 3,9% nas contas públicas foi mais uma obra do acaso do que resultado de políticas correctas, criteriosamente aplicadas e devidamente controladas.
Ou então foi um exercício de mentira programada, sem qualquer respeito pela Assembleia da República ou pelos cidadãos, para melhor enfatizar os resultados que se esperava obter. Ou um misto das duas coisas!...
É com mágoa e lástima que o verifico!...

quarta-feira, 28 de março de 2007

Para além do Marão...manda Sócrates, pois então!...


Segundo o DN de hoje, o Governo tem pronta uma Proposta de Lei com vista à nomeação política de comandantes de bombeiros. Sim, porque a função exige uma confiança política total!... Uma corporação de bombeiros malevolamente coordenada por um elemento politicamente adverso em vez de apagar o fogo, ainda o vai atear e em vez de transportar o ferido, leva é a mulher do comandante ao baile da terra!...E isso tem que ser obviamente evitado!...
Mas ainda a proposta de lei não foi aprovada e já há dois comandantes nomeados, os de Vinhais e Alfândega da Fé!...
De facto, tudo muda, o governo em tudo mexe e não quer deixar pedra sobre pedra, nem provérbio que subsista.
Já nem para além do Marão mandam os que lá estão!...
Para além do Marão...manda Sócrates...pois então!...

“BUÇO, DESEJO SEXUAL E SORRISOS”...

Um dos quadros mais famosos do mundo, Mona Lisa, tem sido objecto de análises e de diferentes interpretações quanto à pessoa em causa e o significado do tal sorriso. Ao longo dos anos, a quantidade de notícias sobre este tipo de assuntos - que não se esgotam, como é óbvio, neste quadro - faz pensar que milhares de pessoas deverão tirar um enorme prazer em vasculhar o passado. Acho que fazem muito bem! Matar a curiosidade é um forma preciosa de dar vida ao tempo.
Voltando ao quadro de Leonardo da Vinci, ainda me arrisco a tornar-me num “perito”. Já aprendi a técnica do “sfumato”, que a senhora, graças à vestimenta, tinha dado à luz, ou estaria prestes, que o pintor “desmasculinizou” a mão esquerda, enfim, uma catrefada de informações que não perco. Mas há uma que me levou a esta curta e despretensiosa nota: a existência de buço. Bem tentei ver se a senhora tinha ou não, mas tirando o quadro que Marcel Duchamp desenhou, provocadoramente, em 1919, aqui sim, com uma “bigodaça à maneira”, tive alguma dificuldade em comprovar.
Como todos sabemos, muitas senhoras são portadoras de alguma pilosidade facial, ligeira, designada por buço. Hoje em dia, graças às novas tecnologias da cosmética, é relativamente fácil eliminá-lo, o que não acontecia há algumas décadas. Olhando para trás, recordo-me dos comportamentos das raparigas, sobretudo das que entravam na idade casadoura, a tentar solucionar aqueles “atraentes”(!) pelinhos, na maioria das vezes, com água oxigenada. Um verdadeiro disfarce, já que arrancá-los, diziam, era pior, pois os seguintes, ao nascerem, vinham mais duros e grossos!
Mas qual a razão dos tais pelinhos? A testosterona, claro! As mulheres também têm a tal hormona masculina, embora em doses baixas, graças a Deus, mas mesmo assim o suficiente para explicar as diferenças da pilosidade. E estas pequenas doses da testosterona são um encanto para as senhoras já que contribuem, biologicamente, para o chamado “desejo sexual”. De facto, quando ocorre, por exemplo, uma menopausa precoce, a maioria das vezes devido a intervenção cirúrgica, com ablação dos ovários, o risco das senhoras virem a sofrer uma diminuição da libido é enorme, com todas as consequências em termos de saúde sexual. Importa, pois, resolver este problema o que é possível graças a utilização de um "adesivo" impregnado de uma pequena dose de testosterona, a qual, ao libertar-se “conserta” o desequilíbrio, permitindo a recuperação das mulheres.
Neste momento, o serviço de saúde pública britânico vai disponibilizar às pacientes o tal "adesivo", permitindo contribuir para a resolução de um grave problema que afecta inúmeras mulheres.
Evidentemente que não se pode resolver todos os casos de “não desejo” através desta terapêutica, já que estamos perante um fenómeno complexo. De qualquer modo, abre-se a perspectiva de uma nova vida a muitas mulheres que de outro modo iriam sofrer e fazer sofrer.
Afinal, aquela percepção dos nossos antepassados, ao preferirem mulheres com buço (mas não bigode!), tinha, e tem, razão de ser, a tal ponto que muitos adágios populares jogam com os tais pelinhos como sinónimo e garantia de parceira com desejo sexual funcional! Sendo assim, e tendo a Mona Lisa buço, quem sabe se o tal enigmático sorriso não traduz qualquer malandrice por parte da senhora!
Convém, no entanto, não esquecer que “mulher de buço, nem qualquer lhe apalpa o pulso”...

"Nascer Cidadão"

Acho piada a esta tendência do Governo para por nomes em tudo quanto é medida administrativa, por mais corriqueira que seja.
Desta vez é o projecto "Nascer Cidadão" do Ministério da Justiça. É assim como um baptismo cívico, agora realizado nos hospitais. O bebé nasce e é feito ali, na sequência do parto e em pleno Hospital, cidadão.
De facto, a cidadania não pode esperar um dia que seja! E é importante que antes mesmo da nova criatura cair no colo do pai e da mãe, tenha o consolo de uma certidão de nascimento, a certeza oficial de que nasceu mais um contribuinte.

Pergunto-me se o projecto também se estende à maternidade de Badajoz...

terça-feira, 27 de março de 2007

Ofício diário

No próximo dia 30 de Março, o nosso colega bloguista, Dr. Torquato da Luz, que mantém o excelentíssimo blog de poesia, Ofício Diário, vai lançar o seu novo livro, com o título do blog, na Bulhosa de Oeiras (Centro Comercial Oeiras Parque). A luzidia cerimónia será às 21 horas.
Parabéns ao Torquato da Luz e que continue na senda de bem escrever!...Nós seremos os primeiros beneficiados!...
A propósito do livro, lembrei-me agora, uma boa selecção do 4R não daria um poema, mas uma razoável sátira de costumes. Ainda teremos que pensar nisso!...

Adversários da Ota, percam as ilusões

Depois de todo o ruído que nos últimos dias foi feito à volta deste dossier, imensa e justamente controverso – com inúmeros e sérios argumentos em contrario e alguns meio envergonhados a favor – eis que tivemos hoje um pronunciamento que, ou me engano muito, ou devo interpretar como um ponto final nesta enorme querela.
Não, não se trata de qualquer declaração do Ministro das Obras Públicas e muito menos do Primeiro-Ministro.
Mais importante, trata-se de uma declaração do Presidente da FEPICOP – Federação Portuguesa das Industrias de Construção Civil.
Dessa declaração, que encontrei ao início da tarde de hoje na Net, destaco as seguintes passagens:
- “É uma pena que a esta altura ainda se esteja a discutir problemas de natureza técnica”;
- “ Precisamos de um sinal do Estado e não de desperdício do capital disponível”;
- “ OTA é fundamental para alavancar o sector da construção e para colocar Portugal no ciclo da Europa”.
A partir desta declaração, impõem-se-me as seguintes reflexões:

- Embora eu não entenda bem o que se deva entender por “desperdício de capital disponível”, pois se não temos capital disponível não o podemos desperdiçar.
Podemos desperdiçar, com certeza, mais recursos obtidos por empréstimo no exterior, capital disponível é que não porque inexiste.

- Embora eu não entenda bem o que quer dizer “colocar Portugal no ciclo da Europa”.
No ciclo da Europa já nós andamos há anos, embora quase sempre enganados no percurso e muitas vezes mais de triciclo do que de comboio ou TGV, ainda menos de avião.

- Embora eu não entenda bem o que significa “é fundamental para alavancar o sector da construção”.
O sector ainda precisa de mais alavancas do que as que tem recebido?
Quando acabará a necessidade de alavancagem?

Há uma coisa que eu não posso deixar de concluir, depois desta declaração: é que a OTA vai mesmo para a frente.
Que se desiludam aqueles que a têm combatido, apesar de reconhecer que o têm feito em nome dos superiores interesses do País e com um sentido cívico que me merece o maior respeito.
Não disse há dias o Ministro das Obras Públicas que a construção da OTA constituía um compromisso pessoal?

Ao serviço dos visitantes: tripas aos molhos


A propósito do meu post de há dias, Turismo Gastronómico, o nosso visitante Zorbian evocou, num comentário ao texto, um prato transmontano que muito apreciava, Tripas aos Molhos, que lhe deixa água na boca, mas que tem dificuldade em confeccionar, por falta de ingredientes, pressuponho. À falta de melhor, deixo-lhe aqui a imagem de um belo prato da referida substância com que se poderá virtualmente deliciar.
Para os não iniciados, junto a breve descrição do mesmo, que fiz em comentário ao comentário.
É um prato saboroso e de grande sustento. Creio que é típico da zona de Vila Real, pois só aí é que o encontrei em restaurantes. O que já comi foi confeccionado a partir do estômago da vaca, recheado de presunto, sendo a tira do estômago atada com um fio da tripa e com arroz a acompanhar. Claro que na cozedura entram algumas especiarias e um bom vinho branco. A confecção tem que se lhe diga e demora horas. Segundo um amigo meu transmontano, não deve a panela ser aquecida pela chama, mas apenas pela chapa do fogão, pelo que os fogões de lenha são os apropriados para o efeito. O prato exige um bom tinto duriense para acompanhar, um bom leite creme como sobremesa, e um obrigatório passar pelas brasas antes de começar a guiar!...Vou ver se arranjo uma fotografia para o meu amigo, à falta de melhor, saborear num próximo post.
Missão cumprida, pois!...

O projecto pessoal da OTA II

A 2ª parte do Debate sobre o Aeroporto nos Prós e Contras suscita-me duas notas.
1ª- A RTP hoje fez serviço público. Parabéns à RTP e à Fátima Campos Ferreira!...
2ª- Esperava que o Ministro, numa atitude de dignidade, já tivesse apresentado a demissão!...

segunda-feira, 26 de março de 2007

O projecto pessoal da OTA

No fim da primeira parte dos Prós e Contras sobre a localização do Aeroporto, fiquei perfeitamente chocado com a indigência dos argumentos favoráveis à OTA.
A questão ambiental, que vinha sendo a justificação maior e decisiva, foi pulverizada.
E os seus defensores não têm qualquer ideia do que é um projecto nas suas diversas componentes, ambiental, económica, social, etc.
E decide-se uma obra destas com estas bases? Só porque é um projecto pessoal de alguém que, por mero acaso, é Ministro?

Superstição: sigamos exemplo da China

O Banco Central da China (People’s Bank of China, PBOC) subiu há uma semana, em 0,27 p.p. as suas taxas para depósitos e para empréstimos aos bancos, passando as novas taxas a fixar-se em 2,79% e 6,39%, respectivamente.
É sabido que os bancos centrais em quase todo o Mundo, quando alteram as suas taxas, por norma utilizam múltiplos de ¼ de ponto – 0,25% ou 0,5% em geral, às vezes 1%.
Como explicar então esta decisão do PBOC de subir as taxas exactamente em 0,27%?
Se bem repararmos, este número é divisível por 9.
Assim como são divisíveis por 9 os níveis em que as novas taxas se situam, 2,79% e 6,39% (e se situavam antes também, como é obvio).
Acontece que o algarismo 9 é considerado na China como sinal de sorte, de felicidade. Assim como o algarismo 4 é do azar, da morte. Quem tenha ido à China (a Macau bastará) terá reparado que em muitos edifícios, hotéis mesmo, não existe o 4º piso, passa-se do 3º para o 5º.
Por esta razão a cidade proibida em Pequim, com o seu Palácio Imperial, tem exactamente...9.999 divisões.
Quem diria que a força da superstição na China laica e socialista de hoje haveria de chegar à política monetária, ao ponto de os decisores desta se preocuparem com a divisibilidade por 9 dos valores que exprimem as taxas de juro?
E até agora, pelo menos, é inquestionável que a política monetária na China tem sido bem sucedida: a inflação tem estado sob controlo, a economia continua a crescer acima dos 10% ao ano, o investimento é o principal motor do crescimento.
Uma vez que já não temos política monetária - é o BCE quem mais ordena, nesse campo -imaginei, a partir destes exemplos que nos vêm da China, quão felizes seríamos se entre nós a junção das letras “a” “o” e “t” fosse interpretada como sinal de azar ou de morte, independentemente da ordem escolhida.
Ninguém se atreveria a juntá-las, por muito forte que fosse a justificação, muito menos para a navegação aérea com os riscos que lhe estão associados...
Um pouco de superstição, neste caso, não nos faria nada mal.

O maior português de sempre

Salazar ganhou o concurso da RTP, O Maior Português de Sempre.
Muitas explicações para o facto, que aliás se previa face ao andamento das votações, têm sido dadas: falta de cultura global, ignorância da história, deficiência da educação e da escola, voto de protesto, dificuldades económicas actuais, questões não resolvidas pela democracia, nostalgia de um “chefe”, como dizia a Suzana Toscano num comentário a um post seu anterior, etc, etc.
Não creio que estas justificações, no todo, ou cada uma de per si, sejam a explicação principal.
No que respeita à história, por exemplo, os grandes vultos históricos estavam quase todos representados nos dez primeiros, com algumas honrosas excepções, como D. Nuno Álvares Pereira. Mas estava Aristides Sousa Mendes, exemplo de compaixão e de defesa dos direitos humanos, baseadas na sua intensa religiosidade, que os portugueses deram mostra de apreciar.
Para mim, a principal explicação teve a ver com a reacção de muitos à votação organizada em torno de Álvaro Cunhal. Os comunistas viram no facto uma possibilidade de levantar bandeiras, num período em que a sua doutrina está cada vez mais caduca e desacreditada. O contraponto era obviamente Salazar, cujo nome terá concitado a votação, não apenas de alguns saudosistas, mas de muitos que, não se revendo na pessoa, nem sequer a apreciando, não toleravam ver, mesmo num concurso, ser considerado o maior de Portugal quem, como Cunhal, defendia e representava um dos mais sanguinários regimes do século XX .
Os comunistas, se sempre estiveram desenquadrados da realidade do país, ao votarem maciçamente em Cunhal, no dealbar do século XXI, mostraram continuar a não perceber literalmente nada do que se passa, nem sequer a natureza de um concurso, como aliás comprovou a reacção do seu representante ontem na RTP.
Por mim, como referi no 4R em 18 de Janeiro, votei em D. João II.
Foi um português com um projecto ousado, mas firme e determinado. Pela liderança que imprimiu, conseguiu reunir os meios científicos, humanos, organizativos e financeiros para o atingir. Como nunca mais alguém fez na história de Portugal. Um grande português e uma grande figura da humanidade, a quem rasgou fronteiras como nunca antes. A quem Portugal deve toda a importância que ainda possa ter no mundo!...

Obviamente, EXTINGAM-NA!

Degradante, é o mínimo que se pode dizer da situação a que chegou a Universidade Independente. A omissão, por mais um dia que seja, de uma tomada firme de posição por parte do Governo sobre a continuidade daquela dita universidade, coloca desde logo sérias dúvidas sobre a existência de um controlo público da gestão da empresa proprietária (mas também científico e pedagógico daquele estabelecimento de ensino) o que já não seria pouco grave. Mas sobretudo alargaria de forma intolerável a suspeita dessa omissão a todo o sistema de ensino superior privado, o que seria gravíssimo. Existe, é certo, o problema dos alunos da Independente e das suas famílias. Creio porém, que manter viva uma instituição universitária cujos máximos dirigentes (ia escrevendo, distraído, responsáveis...) se revelam todos os dias nos media, é a pior das soluções, mesmo que algum dia a Independente viesse a reabilitar-se, no que não acredito. Numa situação em que felizmente já começa a valer a cotação dos diplomas, medida pelo prestígio e credibilidade de quem os emite, um diploma obtido na Independente será daqui para a frente para esconder, nunca para exibir! Por isso, seria mais honesto, misericordiosamente e em nome da decência e defesa da importância do ensino superior privado, obviamente extingui-la, poupando o País a mais episódios deste espectáculo triste a que vimos todos os dias assistindo. Esse acto final de saneamento, não tinha de implicar para os alunos mais prejuízo do que aquele que já tiveram. Pelo contrário. Seria o modo de encontar o meio de lhes garantir o prosseguimento dos seus estudos noutras universidades para onde seriam encaminhados, sabendo-se que algumas delas bem andam necessitadas do acréscimo de propinas...

domingo, 25 de março de 2007

Os Grandes Portugueses

Tenho estado aqui a ver o programa que vai eleger o Maior Português, acho que é a grande Final. Não acho assim tão importante contestar se será Salazar ou Cunhal ou Aristides Sousa Mendes. O facto de se aproveitar um espaço televisivo largo para falar sobre as grandes figuras da história já me parece suficientemente positivo para dar mérito de destaque à iniciativa.
Para variar, não estamos a falar de medíocres, de falhados, do que gostaríamos de ter sido e não fomos. Cada uma das pessoas que se dispôs a vir a público apresentar o seu herói, dar a conhecer os contextos históricos de uma forma viva e apaixonada, enaltecendo a vontade e a coragem de agir, contribui para uma lufada de ar fresco.
Sem cada um deles, a História teria sido diferente, é bom recordá-los ou aprender a conhecê-los, essa também é uma forma de aprendermos a gostar um pouco mais do nosso País.

Turismo gastronómico!...


Conheço razoavelmente Portugal e creio que não há vila ou cidade sede de concelho, incluindo obviamente Açores e Madeira, em que não tenha estado pelo menos uma vez. Conhecidos assim o território, os monumentos, o folclore, as gentes e a gastronomia, de há uns anos que venho aprofundando esta última manifestação cultural.
Foi nesse contexto, e aproveitando um convite de um amigo, que no penúltimo fim-de-semana me desloquei a Montalegre. É a segunda vez este ano, pois já lá tinha estado em Janeiro, com o nosso companheiro de blog Tavares Moreira, por ocasião da Feira do Fumeiro. Nessa altura, somos sempre presenteados com um fabuloso cozido de Montalegre, com carnes de porco fumadas e soberbas carnes de vaca dos lameiros do Barroso acompanhadas de uma excelente hortaliça e sobretudo das saborosas batatas criadas a partir da batata de semente da região.
Desta vez, o objectivo era o cabrito. Mas antes do almoço de cabrito, houve que jantar, na 6ª feira. Uma forte surpresa, o Restaurante Nevada, à saída de Montalegre para Espanha. Mesas impecavelmente postas, um serviço perfeito do Sr. Valdemar de Moura, dono, e do seu filho e uma cozinha de altíssima qualidade. Qualidade dos géneros e da confecção, a par do serviço, a grande preocupação dos donos. Excelente a açorda de presunto, que nunca me tinha passado pelos lábios, e excelentíssima a posta transmontana. Aliás, o lindo e recuperado centro de Montalegre, com boas casas de pedra, está recheado de restaurantes com vistosa apresentação, sinal de clientela certa. A actividade agro-pecuária, centrada na Vitela dos lameiros de Barroso e no porco, a exploração da pedra, a produção de batata e de batata de semente e a atracção das vizinhas barragens do Alto Rabagão poderão explicar o fenómeno. Um hotel de 4 estrelas, explorado por uma conhecida rede internacional e instalado na antiga cadeia proporciona um cuidado repouso.
Para os não iniciados, convém lembrar a enorme rivalidade entre Montalegre e Boticas em torno da carne de vitela e de vaca. Se Boticas enaltece a carne barrosã, em detrimento da vitela de Montalegre, mistura de várias raças, segundo os primeiros, já Montalegre privilegia o seu produto, originado da autêntica raça barrosã, bem alimentada nos lameiros de Montalegre que, obviamente, não existem em Boticas!...
A minha "expertise" ainda não me permite distinguir cabalmente uma da outra, mas vou preferindo a de Montalegre, por ser mais vezes convidado para aí ir!...
No próximo post passarei ao cabrito!...

sábado, 24 de março de 2007

Europa

O senhor Primeiro-Ministro, por ocasião das comemorações dos 50 anos de constução europeia proferiu uma daquelas frases sábias, destinadas a ficarem, indeléveis, na memória colectiva. Disse o Engº José Sócrates que a missão da Europa é construir um "novo século das luzes".
O sucesso em Portugal do choque tecnológico, aliado às reformas que têm aproximado aceleleradamente os portugueses da luz, permite uma antevisão.

Intervalo desportivo de fim de semana!...

Começo por reafirmar que, embora procure ser objectivo, em matéria desportiva, portista que sou, não respondo por uma total isenção!...
1. Joga-se hoje o Portugal-Bélgica para o Europeu de Futebol. Polémicas à parte, estou convicto de que Portugal vai ganhar!...
Até aqui, tudo bem!...
2.
Pelo facto de ter sido operado a um dedo, o jogador Deco não pode estar presente. O facto levou a que o Director do jornal desportivo A Bola escrevesse uma diatribe sobre o facto, sustentando que o jogador poderia muito bem ser operado depois dos jogos com a Bélgica e com a Sérvia, só não o fazendo por ser estrangeiro e não sentir a selecção nacional. Lamentável opinião!...
Até aqui, tudo bem, parece que todos me acompanharão!...
3.
Creio que na mesmíssima página, logo ao lado, o mesmo jornal, e não sei se o mesmo Director, recomendava que no jogo de hoje se homenageasse o jogador Figo. O mesmo Figo que, por conveniência própria, porque as coisas lhe corriam de feição em Madrid, deixou de jogar na selecção nacional, e também por conveniência própria, quando já mal alinhava no seu clube, tudo fez para voltar à selecção e jogar o Mundial, o que conseguiu.
Continuo a julgar que tudo continua bem objectivado!...
4.
Deco falha dois jogos, devido a intervenção cirúrgica e é criticado. Figo abandonou a selecção quando lhe conveio e é louvado. Sem comentários!...
Quanto a isto, ainda me parece não haver dúvida nenhuma!...
5. Aliás o mesmo Figo que, conjuntamente com Rui Costa, os patrões da selecção, tudo fizeram para impedir que o Deco, na altura considerado internacionalmente e, sem dúvida, o melhor jogador português, pudesse jogar na selecção. Estava em causa o lugar de Rui Costa e só o mau resultado no jogo inicial com a Grécia permitiu pôr as coisas no seu lugar.
Ainda tudo bem: factos são factos…e só os não vê quem não quer!...
6.
É óbvio que Figo(e também Rui Costa) foram dois excelentíssimos futebolistas, do melhor que há, ambos excepcionais profissionais em campo, mas o primeiro também um profissionalão no modo como tem gerido a carreira e os patrocínios, no estrangeiro e na selecção. Basta ver o modo como o Quaresma, tido no ano passado como o melhor jogador do Campeonato e que lhe poderia fazer alguma sombra, foi afastado do Mundial!...
Creio não ter exorbitado: Figo fez pela vida, da selecção cuidem outros!...
Em síntese final, expus quase tudo o que queria, parecendo-me ter sido objectivo e isento!...

Empresas municipais: mais um buraco, sem surpresa

Corria ainda fresco o ano 2004, passam agora 3 anos.
Na Assembleia da República, Comissão de Acompanhamento e Controlo da Execução Orçamental (Comissão Orçamental), recentemente constituída, é proposta a realização de um trabalho de investigação sobre a situação das Empresas Municipais, tendo-se a noção de que se tratava de uma realidade sem controlo e altamente consumidora de recursos públicos.
A ideia levanta algumas dúvidas, há quem expresse o receio de a Comissão poder extravasar das suas competências.
O trabalho avança, não obstante, começando, como não podia deixar de ser, por uma primeira tentativa de levantamento das empresas existentes.
Tem-se a noção de que são centenas, havendo bastantes municípios com mais de 5 empresas, alguns com 10 ou mais.
Num primeiro passo, solicita-se ao Tribunal de Contas que informe quantas empresas municipais existem nos seus ficheiros.
A informação chega, com pouco mais de uma centena de empresas, rapidamente se percebe que está muito aquém da realidade.
Uma simples consulta pela Net permite constatar que em alguns municípios existem diversas empresas que não constavam da listagem recebida do T.C….
A Comissão levanta o problema junto do T.C., solicitando uma investigação mais aprofundada.
O T.C. não gosta, reage mal, entende que a Comissão chamou a atenção para uma insuficiência de que não se considera responsável.
A Comissão responde ao T.C. de uma forma diplomática, dizendo que está exclusivamente interessada em conhecer melhor uma realidade que muita a preocupa, que pretende apenas para isso a colaboração do T.C. – prevista expressamente aliás na Lei de Enquadramento Orçamental.
Entra-se nas férias de Verão e na agitação política que culmina com a dissolução da A.R.
A boa vontade e o esforço da Comissão Orçamental para descobrir a realidade das empresas municipais morrem na praia…
As notícias agora – hoje – divulgadas de situações escandalosas nas empresas municipais não são, infelizmente, motivo de surpresa para aqueles que, na Comissão Orçamental, em 2004, bem tentaram, quase sem resultado, conhecer melhor essa realidade.
Recorda-se Pinho Cardão?

Dia do Estudante

Foi em 1987 que a Assembleia da República decidiu consagrar 24 de Março o Dia do Estudante. Uma data que guarda na memória a crise académica de 1962, essencialmente para aqueles que a viveram e dela se recordam. É uma data de reconhecimento dos direitos, liberdades e garantias dos estudantes.
Eu que não vive os anos conturbados da vida estudantil da década de 60, olho para o Dia do Estudante com muito respeito e admiração, essencialmente pelo que deve (ou deveria) simbolizar relativamente à importância do ensino e da educação na realização da pessoa e no progresso e bem estar colectivos de uma sociedade, em que são actores e agentes activos da concretização deste objectivo os estudantes.
Mas é, também, uma data que me faz relembrar as enormes e tantas vezes injustas dificuldades com que muitos estudantes se defrontam para fazerem e concluírem os seus estudos, não esquecendo, em particular, os jovens que ficam à porta da escola e da universidade e as consequências deste destino.
Educar, aprender e formar constitui um processo que cada vez mais acompanha o arco da vida. Ser estudante não tem idade, o que é importante é que cada pessoa nunca deixe de estudar e aprender, que cada dia seja um dia de estudante...

sexta-feira, 23 de março de 2007

A pobreza não é parte da vida...

Muhammad Yunus prémio Nobel da Paz de 2006 – fundador do "banco dos pobres", inventor do microcrédito – esteve ontem em Lisboa numa conferência para falar sobre o “Microcrédito: um contributo para a paz”.
O microcrédito ajuda hoje mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo, através de várias réplicas do Banco Grameen que o Nobel da Paz criou no Banglandesh.
O microcrédito pode desempenhar um papel muito importante na sociedade, ao permitir que pessoas pobres, em situação de exclusão social, que não encontram resposta no mercado de trabalho e não têm acesso ao crédito tradicional, tenham acesso a uma nova vida, criando o seu próprio posto de trabalho ou microempresa.
É um gosto ouvir este Homem – economista e doutorado nos EUA – pela força que deposita na luta contra a pobreza e pela sua crença de que é possível erradicar a pobreza. Transcrevo aqui uma passagem de uma entrevista que deu ao Público: "Hoje pelo contrário, a maioria das pessoas acredita que a pobreza é parte da vida. A partir do momento em que se aceita isso nunca se pensa em eliminá-la. Eu coloco a questão de uma outra forma: a pobreza não é parte da vida, não pertence à humanidade, é-lhe imposta de forma artificial pelo sistema. Sendo assim podemos eliminá-la e libertar as pessoas dela. Se pudermos todos globalmente acreditar nisso, então é possível mudar isso e, globalmente, um dia eliminar a pobreza".
Faz-nos bem ouvir e reflectir sobre este pensamento. Na verdade, se todos interiorizarmos – cada um de nós, os que não somos pobres, a sociedade civil, os governantes e os políticos – que é preciso rejeitar a condição da pobreza e que, pelo contrário, acreditar que a pobreza não é uma condição de vida, uma fatalidade, algo que só acontece aos outros, que é a lei da vida, poderemos estar mais disponíveis para fazer o bem às pessoas pobres sem prosseguir o objectivo do lucro.
Muhammad Yunus veio falar-nos de um novo conceito: o social business. A ideia é simples: criar um negócio para resolver um problema social concreto, em que o princípio é recuperar o investimento realizado, cobrando o produto ou serviço prestado a um preço reduzido acessível às pessoas pobres. Um exemplo de um social business é a parceria fechada entre a Danone e o Banco Grameen que está a construir uma fábrica a 150 quilómetros de Dhaka para produzir iogurtes baratos e com qualidade nutricional para que as pessoas pobres os possam adquirir.
Acredito que o social business tem futuro, porque temos cada vez mais pessoas por esse mundo fora preocupadas e disponíveis para desenvover negócios a pensar nas pessoas pobres. E se desde muito cedo - nos bancos das escolas - ensinarmos as crianças a pensar que há formas de levar benefícios às pessoas pobres, melhorando as suas vidas, então teremos no futuro uma melhor convivência entre a economia da eficiência e a economia da equidade.
Citando o Nobel da Paz: "Se não estamos a ter êxito nalguma coisa é porque ainda não nos dedicámos com afinco a essa missão".

Lombrigas, piperazina e drogas “recreativas”...

Quando era pequeno bebi “litradas” de um xarope horrível, com rótulo amarelo, prescrição habitual do médico lá da terra. As razões eram as lombrigas e os oxiúros a que não conseguia escapar devido às brincadeiras ao ar livre, mexendo em tudo o que era terra e animais. Claro, parasitoses era uma constante e o “castigo” era de ter de beber aquele xarope com periodicidade. A minha mãe apertava-me o nariz com uma mão, a boca abria-se na sofreguidão de um golo de ar que invariavelmente se misturava com aquela mistela. Depois, à cautela, ficava a olhar durante alguns minutos, não fosse expeli-la e ter que repetir a operação. Durante alguns dias tinha de aguentar o martírio. No final de cada sessão acabava por receber uma boa gemada, para tirar o mau gosto.
A razão que me levou a recordar estes episódios prende-se com uma notícia, segundo a qual, a piperazina, o composto usado no “xarope para as lombrigas”, estar a ser utilizado como droga “recreativa” na Grã-Bretanha. De facto, o produto, cujo efeito vermicida é inquestionável, actua como um estimulante, com efeitos idênticos às das anfentaminas, podendo provocar tonturas, vómitos, taquicardia, reacções alérgicas, consequências indesejáveis conhecidas há muito tempo.
As autoridades de saúde estão muito preocupadas com este fenómeno e várias lojas já retiraram o produto de circulação.
Olhando para este quadro, acabo por concluir que já fui “drogado” em miúdo. Atendendo aos efeitos anfetamínicos, tudo leva a crer que os inúmeros disparates, atribuídos à idade, poderão ser explicados, pelo menos em parte e a posteriori, por ter tomado o medicamento. Claro que naquele tempo a terapêutica maternal era invariavelmente a mesma: umas boas palmadas no rabiosque. Resumindo: duplamente vítima das lombrigas! Tinha que tomar o xarope, ficava eléctrico, temporariamente livre de lombrigas, cometia disparates e ainda por cima acabava por levar umas boas tareias, como efeito secundário da terapêutica antiparasitária. Há cada uma... Afinal fui uma vítima! Vá lá, não fiquei dependente daquela mistela, também era difícil. Se os jovens britânicos tomassem o “velho xarope de piperazina”, em vez dos actuais comprimidos, decerto que não corriam riscos...

Memória curta!...

Li ontem que o 1º Ministro, José Sócrates, quando interrogado para o efeito, e segundo o jornalista, declarou não se lembrar do nome dos professores das quatro ou cinco cadeiras que, não há muito tempo, fez na Universidade Independente para concluir o curso.
Duas notas.
A primeira, de satisfação pessoal: é que, ao menos numa coisa, sou melhor que José Sócrates. Lembro-me, e posso reconstituir de um jacto, o nome de todos os professores, catedráticos e assistentes, doutorados e não doutorados, que tive no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF), actual ISEG.
A segunda, de satisfação política: é que arranjei a explicação para o facto de Sócrates, no Governo, se ter esquecido das ferozes críticas que fazia, na Oposição, a Manuela Ferreira Leite, nas suas tentativas de diminuição da despesa pública.
Questão de memória curta, pois!...



Egoismos, moral e lesões cerebrais...


Vem hoje no Público um artigo muito interessante sobre a relação entre a emoção e a moral e o modo como isso influencia as escolhas mais ou menos calculistas. Trata-se de conclusões de um estudo efectuado pela equipa de António Damásio a partir da comparação entre as reacções de pessoas com lesões numa certa zona do cérebro e as que não sofrem dessas lesões.
O que o estudo parece demonstrar, é que os padrões morais prevalecem nas reacções associadas ao envolvimento emocional. Não havendo envolvimento, o puro raciocínio ditará a atitude mais conveniente ao próprio, justifica o acto com a sua adequação ao objectivo, mas não reflecte, num extremo, qualquer conceito moral. É a "demonstração causal do apael das emoções nos juízos morais".
Tanto quanto posso entender, é a demonstração científica do que já se intuía da experiência ou seja, quando uma pessoa gosta de outra, ou tem relação com as coisas e se deixou de algum modo cativar por elas, é moralmente muito mais exigente nas sua decisões do que quando só sente absoluta indiferença. Neste caso, a decisão terá em conta apenas o seu interesse. Não significa que a sua acção procure causar mal, quer dizer que não será isso a pesar na decisão.
Há pessoas que tudo justificam com as regras, que se escudam no que é formalmente inatacável sem arriscarem uma posição ditada pelo sentimento. Ou porque não o sentem, ou porque não confiam nele, ou porque simplesmente ele não suplanta o egoísmo. São pessoas que “não correm riscos”, não cedem, utilizam, não toleram fraquezas. Não há nada a apontar-lhes, mas não se consegue gostar delas. E não é preciso terem lesões cerebrais, se fosse ainda havia alguma compaixão…

quinta-feira, 22 de março de 2007

"Contagium animatum"



Há dias, numa das minhas esporádicas visitas a alfarrabistas, deparei-me com uma interessante biografia de Robert Koch publicada em 1944. Ao folhear algumas páginas perpassou-me várias imagens e recordações. As lições dos meus professores de microbiologia e de anatomia patológica, a imagem austera de um cientista que revolucionou a investigação médica, um filme sobre a sua vida e a descoberta do bacilo da tuberculose, a placa com o seu nome na parede da instituição berlinense, na qual praticou e fez notáveis descobertas, e com a qual acidentalmente esbarrei na primeira estadia em Berlim, as histórias de familiares isolados compulsivamente para o vizinho Caramulo, as escrófulas nos pescoços de colegas da escola, e o medo e a vergonha associados a uma palavra maldita capaz de afugentar qualquer cristão e até os próprios cães.
Num dia chuvoso da Primavera de 1882, no Instituto de Fisiologia de Berlim, um homem de boa apresentação, pêra curta e lunetas de ouro a rondar os 40 anos, fez uma comunicação perante uma selecta assistência, em que ponteava o próprio Virchow, o mais reconhecido e influente cientista e politico, que marcou uma das mais brilhantes eras da ciência médica e da higiene, e que agora iria assistir ao nascimento de uma outra mais sofisticada, e substancialmente diferente, provocando-lhe um profundo desconforto traduzido na violência e desprezo com que mimoseou Koch. Na mesa alinhavam-se vários microscópios, com os respectivos preparados, esperando o momento em que o cientista iria convidar os presentes a testemunhar os seus achados. – Vede e convencei-vos! – Consegui descobrir o agente da tuberculose, o bacilo da tuberculose – exclamara o orador.
Esta afirmação foi feita no final da sua conferência, no dia 24 de Março de 1882, há, precisamente,125 anos.
No dia seguinte, e apesar das limitações da comunicação, o mundo encheu-se da sua fama, da Terra do Fogo à Sibéria.
A vida deste médico é uma das mais ricas que se conhece. Médico do interior, exercendo as funções de físico municipal, pagando do bolso as suas próprias experiências, obcecado pelas descobertas e, inicialmente, pelas viagens, as quais lhe foram negadas por amor da sua futura mulher, obrigam-nos a reflectir sobre uma doença que na altura se desconhecia a causa e que matava aos poucos uma em cada sete pessoas.
Muito se alterou desde então, mas não o suficiente para travar a propagação de uma afecção que ainda hoje é sinónimo de estigma social a relembrar outros tempos.
As terapêuticas não têm evoluído, a resistência às mesmas está a aumentar, e é de tal forma grave que poderemos afirmar a possibilidade de podermos entrar num período idêntico ao que antecedeu à descoberta dos primeiros tuberculostáticos. A existência de doenças favorecedoras à sua propagação, as más condições sociais, alimentares e de higiene que imperam em muitas regiões do globo, e até em bolsas nas próprias sociedades desenvolvidas, envergonham a humanidade e não respeita o notável esforço e a esperança de um homem que abriu uma nova era: a investigação biomédica, a importância da aplicabilidade das medidas sociais e a esperança de erradicar certas doenças.
O que diria Robert Koch, hoje, 125 anos após a apresentação pública do bacilo que ainda hoje porta o seu nome?

Inqualificável

Cheguei a publicar aqui alguns passos da notícia de hoje do jornal Público e da suprema hipocrisia que constitui a nota da direcção editorial sobre as habilitações do Primeiro-Ministro.
Uma garrafa de água das pedras, bebida depois de ler a inqualificável notícia deste que muitos consideram um jornal de referência, acalmou-me o estômago e fez-me ver que publicar o que aquele jornal bolsou era amplificar a ignomínia!

Seguir o chefe!...

Ontem ouvi e vi na televisão José Sócrates a anunciar entusiasticamente a redução, mesmo que relativa, da despesa pública, e os aplausos eufóricos dos deputados socialistas.
Também aplaudo a redução da despesa pública, não é isso que está em causa.
Mas como me lembro dos tempos em que Sócrates, ele mesmo, e uma grande parte daqueles mesmíssimos deputados, criticavam ferozmente toda e qualquer medida de Manuela Ferreira Leite para reduzir essa mesma despesa pública, exigindo mais e mais despesa como condição para o crescimento do PIB!...
Alguns foram sinceros. Os outros limitam-se a seguir o chefe e a mudar de acordo com o chefe!...
O mal menor é que desta vez apoiaram certo!...

quarta-feira, 21 de março de 2007

Dia Mundial do Sono

Hoje, "Dia Mundial da Poesia" também é o "Dia Mundial do Sono".
Os poetas não dormem?!
O melhor é “cumprir” com algumas regras. Respeitar o “relógio do sono” é fundamental para manter uma boa saúde física e mental.
Boa noite e bons sonhos!

Espanha vai fazendo pela vida...

O Governo de Espanha aprovou recentemente uma Lei da Igualdade. De entre vários incentivos para aproximar os direitos dos homens aos da mulher, com efeitos benéficos sobre a natalidade, os pais dos futuros recém nascidos vão beneficiar de mais apoios materiais e de mais tempo para prestarem assistência à família. Entre as medidas mais emblemáticas figura o reforço da licença de paternidade.
É positiva esta orientação do Governo, numa matéria que tem estado na ordem do dia por essa Europa fora. Este é mais um domínio em que Portugal se atrasou, a começar por uma discussão séria e ampla sobre o envelhecimento da população, em particular sobre a natalidade.
O Governo anunciou o ano passado, quando da aprovação das novas medidas de cálculo das pensões, que iria submeter este tema à discussão na Concertação Social. Aguardemos que avance, mas com urgência e num espaço bem mais alargado, porque o tema interessa a todos. O tempo não perdoa...

Dia Mundial da Poesia

.......
Ali, lembranças contentes
n`alma se representaram
e minhas cousas ausentes
se fizeram tão presentes
como se nunca passaram.
Ali, depois de acordado,
co rosto banhado em água
deste sonho imaginado
vi que todo o bem passado
não é gosto, mas é mágoa!...
E vi que todos os danos
se causavam das mudanças
e as mudanças dos anos;
onde vi quantos enganos
faz o tempo às esperanças.
Ali vi o maior bem
quão pouco espaço que dura
o mal quão depressa vem
e quão triste estado tem
quem se fia da ventura.
.......
Luís de Camões em Sobre os rios que vão

“Turbo-padres”...

Hoje de manhã, ao ler as notícias chamou-me a atenção uma referente a um padre. Num dos jornais lia-se na primeira página: “Padre de Santa Comba tem bólide dos diabos”. O quê! Será que o padre Ricardo ensandeceu? Não acredito. Ainda estive com ele na semana passada, quando, conjuntamente com mais dois padres, acolitou o senhor Bispo de Viseu na cerimónia dos trinta anos da Escola Secundária e para a qual fui convidado na minha qualidade de presidente da Assembleia Municipal. Ao lê-la verifiquei que era outro padre do concelho, responsável por três freguesias. Mais novo, fiquei a saber que era um dos três que tinham estado na cerimónia. O outro jornal cá do burgo apresentava a notícia sob o título: “Padre Rodrigues a 200 à hora em Santa Comba Dão”.
Ora bem! Não tenho nada contra os padres, nem mesmo quando são dados a desportos radicais ou procuram emoções fortes (tudo depende do tipo de emoções, claro!). No entanto, o veículo em causa, e que está na base do artigo, parece ser “único a circular nas estradas civis”, topo de gama – Fiesta 2000 ST - com 150 cavalos, capaz de atingir velocidades loucas. Segundo o pároco, o veículo irá “facilitar uma aproximação aos jovens” (!) e, por isso, é de “grande importância na missão pastoral de um padre”. Além do mais, como tem três freguesias, e tem de correr de um lado para o outro, precisa de uma boa máquina para as curvas, ultrapassagens e chegar a tempo, porque os paroquianos gostam que o padre chegue a horas. Aqui, fiquei de boca aberta. Como conheço muito bem, como as minhas mãos, todas as freguesias do concelho de Santa Coma Dão e respectivas vias, pus-me a ver onde é que o padre podia puxar pela máquina. O raio do homem não encontra mais do que meia dúzia de troços com trezentos metros onde pode dar noventa à hora! Nos restantes troços tem que respeitar os limites de velocidade impostas para as localidades, para não falar das inúmeras e perigosas curvas. O tipo não deve regular bem da cabeça! Apresentar a justificação de que tem pouco tempo para chegar às freguesias (não são tão distantes, como isso), que existem muitas curvas e tem que fazer ultrapassagens rápidas, não colhe. Posso afiançar que um velho Fiat 600 é mais do que suficiente para dar as voltitas com tempo e, sobretudo, com segurança. O que ele deve gostar é de emoções fortes, pelos vistos. Se ele julga que está protegido pelo “Alto”, então o perigo é ainda maior. Não sei se isto de paixões pelos automóveis não tenha o que se lhe diga. Recordo-me de outros padres perfeitamente loucos por máquinas. Um deles, com o ar mais cândido e sorumbático do mundo (com suspeitas de crises de epilepsia), disse-me uma vez na consulta, entre duas queixas, que fazia o trajecto Santa Comba – Coimbra em 25 minutos e que já tinha feito em 20! Fiquei sem fala. Como?! - Eu faço o trajecto (cerca de 50 km) todas as semanas e demoro 35! – Pois é senhor doutor! É preciso confiar no Senhor!
Se esta moda de turbo-padres pegar, não me admiraria muito que um dia destes os senhores bispos passem a conduzir veículos de competição ou, então, a promover rallys “eclesiásticos”... Pilotos já há. Pode ser uma forma de estimular as vocações!

São precisas mais provas?


Segundo o DN, Portugal foi o país da Zona Euro que mais aumentou impostos nos últimos dez anos...

...Em contrapartida, foi o país que menos cresceu!...


Elementar!...


Piada fina

Amigo meu dizia esta tarde que achava que o CDS deveria aproveitar o Congresso para introduzir uma alteração estatutária essencial para a sua re-credibilização: acabar com os Conselhos Nacionais ordinários.

Caparica

Porque é que ninguém diz ou escreve que os parques de campismo não fazem sentido na orla costeira, seja qual for o ponto de vista, e muito menos ali , na Caparica?
Porque é que ninguém tem coragem para dizer ou escrever que se estão a atirar milhões de euros ao mar sem proveito nem futuro?
Porque é que ninguém pergunta porque é que não se reformulam as prioridades de planeamento do Polis da Costa da Caparica de modo a retirar dali, de imediato, os "campistas" e toda aquela barracaria, reconstituindo o cordão dunar e as valas de escoamento natural antes de qualquer intervenção mais pesada?
Porque é que ninguém questiona sobre o que é feito dos projectos de reformulação dos esporões da Costa da Caparica?

Oxalá não chegue o dia em que, por causa de algum acontecimento fatídico, haja também que perguntar onde param os responsáveis pela ausência de qualquer intervenção séria - e não paliativa, para ilusão da opinião pública - na dezena de locais ao longo da costa onde o risco para pessoas e bens é bem maior do que em S. João da Caparica...

terça-feira, 20 de março de 2007

As polícias de Sócrates

Alguns blogs tornam-se referência pelos textos, pelo debate que proporcionam, pelas causas que levantam. Para além destas qualidades, o Bloguítica, de Paulo Gorjão, é um repositório de informação sobre alguns temas. Desde a situação política de Timor até ao actualíssimo projecto do MAI de reestruturação das polícias. Sobre este tema, Paulo Gorjão vem apresentando o que se escreve na blogosfera e nos jornais. Na XX síntese, um resumo global ; na XXIII, um excelente comentário sobre os poderes do Secretário-Geral do SISI, isto é, do 1º Ministro.
A acompanhar, pois é um tema que nos interessa a todos, sem excepção!...

Plutonomias: Portugal também será?

O conceito de “plutonomia” é de criação muito recente, devendo-se a um talentoso economista - Ajay Kapur de seu nome até há pouco tempo destacada figura (“strategist”) da equipa de “global equity” do Citigroup.
Kapur publicou há alguns meses um ensaio, que tive oportunidade de ler, no qual introduziu pela primeira vez o conceito de plutonomia: a economia caracterizada por uma muito alta concentração da riqueza.
Exemplos? Segundo Kaipur, os EUA, o Reino Unido, o Canadá, mais recentemente a Rússia...Por oposição às principais economias da Europa Central – França e Alemanha nomeadamente, em que a concentração da riqueza é bastante menor.
A plutonomia explica em boa parte, segundo Kaipur, a persistência dos desequilíbrios da economia americana, uma vez que uma parcela muito elevada do crescimento do consumo é devida às despesas de uma parcela ínfima da população – menos de 1% - a qual detém uma desproporcionada fatia da riqueza do País.
E essa fatia dos mais ricos continua a gastar a mesma parcela dos seus rendimentos, ou mesmo uma parcela maior, por exemplo quando os juros sobem ou quando aumentam os preços dos combustíveis. E porquê?
Porque em qualquer caso o aumento anual da sua riqueza (valorização de activos + rendimentos) supera sempre esse aumento anual de consumo, deixando-os indiferentes às dificuldades do momento.
Só para dar um exemplo elucidativo, segundo cálculos divulgados recentemente pela UBS, no período de 1997 até 2001, 0,1% de americanos mais ricos viram os seus rendimentos aumentar tanto como 50% da população com rendimentos mais baixos (a metade mais pobre da população, em linguagem simples).
Ora segundo Kaipur, são os comportamentos dos mais ricos que explicam as grandes mutações na economia.
E os mais ricos são pouco ou nada sensíveis às medidas de política económica – como as subidas de juros, as variações cambiais – que são receitas que pressupõem a existência de “consumidores médios” ou de “aforradores médios”.
Essas médias são, segundo Kaipur, simples noções estatísticas sem substrato real nas plutonomias.
Os dados agregados do rendimento, do consumo e da poupança são quase inúteis como instrumento de análise económica, nessa perspectiva, muito pouco podem explicar quanto à evolução futura da economia por exemplo.
Sem querer alongar-me mais nesta apreciação, devo dizer que nas últimas semanas encontrei referências a esta teoria na imprensa especializada (F. Times e Economist), reconhecendo-lhe uma forte capacidade explicativa.
Última questão: será Portugal uma plutonomia?
Observando os indicadores mais recentes parece-me bem que, se ainda não somos uma plutonomia perfeita, para lá caminhamos muito rapidamente.
Em próximo POST explicarei porquê, este já vai longo.

Propaganda em excesso, efeito de ricochete!...


Há argumentos tão fortes, que se voltam contra quem os produz. É o caso do anúncio ontem feito pelo Ministro das Finanças da descida do défice para 3,9%, e em que a contribuição da despesa pública foi de 80%. Então se a subida da carga fiscal apenas contribuiu com a ninharia de 20%, para quê ter subido os impostos, em vez de os manter ou descer, mantendo-se o défice nos limites previstos de 4,6% aprovados por Bruxelas? Ou por que razão não se actuou um pouco mais sobre a despesa pública, que continuou a subir em termos nominais?
Não se actuou precisamente porque a almofada da subida dos impostos assim o permitiu.
Fica então mais uma vez provado que, nas circunstâncias actuais, o corte nos impostos é a única via para fazer diminuir a despesa e, com ela, o défice. Com todos os efeitos positivos na economia que uma continuada subida da carga fiscal tem impedido, como já tantas vezes tenho referido.
A bomba propagandística governamental fez efeito de boomerang e volta-se assim contra a anunciada política fiscal do Governo!....
Nota: A minha opinião sobre a necessidade de diminuir os impostos não é oportunística, nem é de agora. Tem sido essa, de há muito, a minha convicção, pela análise que faço da economia real e das finanças públicas. E tenho-o escrito muitas vezes. Ainda há dias deixei no Quarto da República um artigo que fiz para o Expresso, creio que em Setembro de 2004, intitulado Diminuir impostos para baixar a despesa pública.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Pensar e agir a tempo

Leio declarações do senhor Secretário de Estado do Ambiente no sentido de que estão a ser ensaiadas medidas - designadamente de fogo controlado - para evitar as perdas com os fogos florestais na rede nacional de áreas protegidas.
Eis uma boa e rara notícia.
Boa, porque finalmente parece que se percebeu que há um tempo para pensar, para planear, e um tempo diferente para agir. E não é em plena época de incêndios que se faz o planeamento, designadamente o planeamento específico para a prevenção nestas áreas muito sensíveis (onde algumas das experimentadas curas revelam-se mais desastrosas que as doenças).
Rara, porque em matéria de protecção de bens fundamentais o que estamos habituados é ao choro sobre o leite derramado.
Já agora, não poderia o senhor Secretário de Estado aplicar esta boa filosofia à protecção da costa portuguesa, nos locais de maior risco, para não assistirmos ao triste espectáculo do pobre e inútil remendo em calça permanentemente rota?

Está tudo doido, ou quê?

Um procurador do Tribunal Penal internacional, Luís Moreno Ocampo, de seu nome, declarou a intenção firme de chamar Tony Blair e George Bush a responder por crimes praticados no Iraque. E talvez de condená-los à morte!...
Blair e Bush foram eleitos livremente, são 1º Ministro e Presidente de dois países democráticos, com órgãos de soberania eleitos, oposições livres, imprensa livre, fiscalização eficaz dos actos do Governo.
Entretanto, o mesmo fogoso magistrado nunca se lembrou dos ditadores que subiram ao poder ou o têm consolidado com o sangue de milhares de vítimas inocentes, assassinam as oposições, coarctam as liberdades, obrigam os cidadãos à pobreza, apropriam-se dos bens públicos e das ajudas internacionais, prendem e torturam a seu bel prazer, como o foram ou são de uma forma ou outra, ou cumulativamente, Pol Pot, Fidel Castro, Robert Mugabe e tantos outros tiranos da nossa época.
Aliás, quando os ditadores se chamam Estaline, Mao, Fidel ou Mugabe ninguém fala em genocídios, atentados violentos contra os direitos humanos, condutas sanguinárias.
E nem é preciso chegar a estes expoentes da ferocidade humana para evidenciar as lavagens de carácter a que todos os dias assistimos e em que a imprensa se vem especializando. É vulgar apelidar como meros activistas personagens que fazem do terrorismo o seu modo de expressão política. Ainda hoje um jornal o fazia.
O que ajuda a vulgarização de tomadas de posição como a do procurador do TPI.
Está tudo doido, ou quê? Incluindo todos nós, os que vamos deixando passar tais dislates!...

A redução de impostos proposta pelo PSD

Em minha opinião, a proposta de descida de impostos avançada pelo Presidente do PSD, Luís Marques Mendes, é absolutamente exequível e, portanto, naturalmente responsável. Vejamos porquê.

O resultado já conhecido das contas públicas de 2006, na óptica de caixa, mostrou um défice inferior em mais de EUR 2.2 mil milhões (ou 1.5% do PIB) face ao previsto, revelando, para 2007 (e anos seguintes), uma folga sem precedentes. E o próprio Ministro das Finanças já garantiu que o défice a reportar a Bruxelas pelo INE no fim deste mês, na óptica da contabilidade nacional, ficará abaixo dos previstos 4.6% do PIB. Arrisco um valor próximo de 4%...

Mas há mais. Recentemente, com um descaramento inacreditável, o Secretário de Estado do Orçamento veio admitir que talvez o aumento de impostos, visto a posteriori, tenha sido excessivo! Talvez, imagine-se! Ora, se um responsável do Ministério das Finanças vem reconhecer este “talvez”, é porque essa é mesmo a realidade. E, portanto, é tempo de exigir ao Governo que baixe a carga fiscal. E foi por isso que Marques Mendes propôs que o IVA descesse já de 21% para 20% e, pelo menos para 19% até ao final da legislatura; e que o IRC descesse já para 22%, e para 20% até 2009. Trata-se de reduzir dois dos impostos que mais influenciam a actividade económica e em que somos menos competitivos (e, quer queiramos, quer não, a competitividade fiscal dá cada vez mais cartas a nível internacional). Ajudará a que menos empresas se deslocalizem para outras paragens. Atrairá outras para o nosso país. Auxiliará o interior na luta desigual contra o lado de lá da fronteira, devido ao diferencial de 5 pontos percentuais existente no IVA. Enfim, dinamizará o crescimento económico, a criação de emprego e o bem-estar da população.

Folga financeira existe: cada ponto do IVA custa cerca de EUR 450 milhões; 5 pontos no IRC custam aproximadamente o mesmo (números do Governo). Assim, mantendo tudo o resto constante (hipótese coeteris paribus, em “economês”), esta proposta custará cerca de EUR 720 milhões (450 no IVA + 270 no IRC). Mas mesmo que se quisesse já baixar o IVA para 19% e o IRC para 20%, como Marques Mendes propôs que aconteça até final da legislatura, o custo total, coeteris paribus, seria de EUR 1.35 mil milhões… Para uma folga observada de EUR 2.2 mil milhões… que mais é preciso acrescentar?!... além de que, a esta margem de manobra devem ainda ser somados EUR 1.36 mil milhões de poupanças que a concretização do PRACE deverá (ou deveria, dados os atrasos que se têm sucedido…) produzir em 2007, e que constam da actualização de Dezembro último do Programa de Estabilidade e Crescimento.

E isto é admitindo “tudo o resto constante”. Porque taxas mais baixas desincentivam, por si só, a fraude e evasão, aumentando a base de contribuintes pagantes (e facilitando o combate aos prevaricadores). Um bom exemplo foi o que sucedeu com a descida do IRC de 30% para 25%, sentida na execução orçamental de 2005. De uma quebra prevista na receita deste imposto de cerca de EUR 500 milhões, chegámos, afinal, a uma perda realizada inferior a EUR 100 milhões… Logo… para além de considerar esta proposta muito relevante para a nossa competitividade, ela é também, sem dúvida, exequível financeiramente.

Mas há, ainda, um motivo adicional pelo qual considero indispensável fixar metas do lado da receita que visem a redução da carga fiscal: colocar pressão do lado da despesa pública para que as reformas imprescindíveis (que levem à sua redução) não sejam adiadas, como sucede quando há a intenção de as realizar mas não existe, digamos, um enquadramento que as torne definitivamente obrigatórias. Por exemplo, o aumento de impostos de 2005 criou uma “almofada” que levou a que, até agora, absolutamente nada de estrutural tenha sido concretizado do lado da despesa pública. E assim se perderam, para já, dois preciosos anos nesta matéria. Por isso, julgo ser claro que, se vamos esperar que a despesa seja “cortada” para só depois baixarmos os impostos, então… bem podemos esperar sentados!...

A subida de impostos de 2005 (e continuada em 2006 e 2007, para já…), foi decidida ao abrigo de uma imensa fraude a que deve ser colocado um fim o mais rapidamente possível. Para que as decisões estruturantes do lado da despesa pública, que continuam adiadas, possam ser concretizadas. Para que o PRACE possa, enfim, sair do papel. Para, claro, continuar a cumprir o Pacto de Estabilidade e Crescimento. E para que a nossa competitividade ganhe, através da fiscalidade, um fôlego de que bem necessita!... Pelo menos para mim, é claro como água!...

Tudo bons rapazes


Ouvindo os relatos do que se terá passado num conclave partidário do fim de semana, lembrei-me deste filme notável, que adaptado à política traduz que nada há de mais postiço do que as juras de amor e lealdade pessoal feitas no seio de um partido político.

domingo, 18 de março de 2007

O sustentável combate aos Otários!...



A OTA está na ordem do dia e há verdadeiras e espantosas coincidências.
Consultei o Dicionário para saber o significado de otário. Pois, segundo o Dicionário Universal da Língua Portuguesa da Texto Editora, 8ª edição-2002, revista e actualizada, ele aqui vai.
Otários: nome vulgar de um género de mamíferos carnívoros pinípides…e cujo tipo é a otária
Pinípede: ordem dos mamíferos subaquáticos a que pertence a morsa e a foca
Otária: espécie de foca das regiões antárcticas
Otário (gíria): tolo, ingénuo
Foca (provincianismo): buraco
Mamíferos e carnívoros já todos sabíamos. Passamos a saber que os também são pinípedes, por pertencerem à ordem dos subaquáticos. Justifica-se plenamente: a Ota é atravessada por três ribeiras, é zona pantanosa e tem tanta água que o aeroporto só poderá ser construído por cima de 265.000 estacas de vinte metros de comprido com uma secção de 2 por 2 metros, como refere um dos relatórios já citado no 4R pelo Tavares Moreira.
Por estas naturais razões, os seus promotores são pois verdadeiros otários. Mas são-no também porque são tolos e arrastam alguns ingénuos.
O espécime mais acabado do otário é a foca. Para além de rastejar e nunca voar, no português provinciano significa buraco. Pois é o que nos espera, às mãos dos otários, cair num grande buraco, e do qual não mais nos levantaremos!...
Em legítima defesa, resta-nos pois liquidá-los…enquanto é tempo!... Vamos a eles!...

Campanha de Segolène em apuros. Bayrou futuro presidente?

Já conheceu melhores dias a campanha de Segolene Royal, apresentada em Novembro no Porto, num conclave “rosa”, como a grande novidade da política francesa, a Mulher que iria marcar uma nova era na vida daquele País, naquela altura dada como escolha quase certa dos franceses nas eleições presidenciais que vão ter lugar em 22 de Abril próximo (1ª volta).
Segolène, mulher indubitavelmente atraente pelo seu belo sorriso e pela sua espectacular elegância – veste-se impecavelmente – está a sofrer as consequências de a campanha eleitoral não ser uma campanha muda.
Como aqui referi num POST do mês passado, se a campanha fosse estritamente muda, Segolène ganharia sem dificuldade, deixando os outros candidatos a grande distância.
O problema é que os candidatos são obrigados a apresentar ideias, a proferir discursos, e aí Segolène entrou num terreno que lhe é francamente desfavorável.
Foi cometendo “gaffes” sucessivas, em temas de política externa em especial, e foi baixando nas sondagens.
A situação actual é-lhe mesmo bastante desvantajosa pois, de acordo com as mais recentes sondagens, Segolène reúne 23% das intenções de voto, sendo valor idêntico atribuído ao candidato do centro (UDF), François Bayrou. À frente vai Sarkozy, com 29% e mais atrás Le Pen, com 13%.
Na semana passada, ficou a saber-se que o Secretario-Geral do PSF, François Hollande, companheiro de Segolène e seu grande apoiante – além de pai de seus 4 filhos – havia confessado, numa reunião do estado-maior da campanha, recear que Segolène não passasse sequer à 2ª volta, ultrapassada por Bayrou.
A divulgação publica dessa confissão abalou as hostes Segolenianas.
Nesta semana, novo golpe, agora com as declarações de um dos principais conselheiros da campanha de Sego e parlamentar rosa, Eric Besson, que resolveu abandonar a campanha, voltando-se contra Sego.
Besson acusou Segolène de estar exclusivamente preocupada com a sua imagem.
Foi mesmo ao ponto de dizer “ Em consciência penso que Segolène não deverá tornar-se presidente da França, eu não desejo isso para o meu País. E receio isso pelos meus filhos”.
Acrescentando “ O que Segolène está a construir nesta campanha é falso e perigoso para a esquerda e para a França. Ela pretende personificar a renovação democrática? Na realidade o que ela está a construir é um projecto de poder pessoal”.
Dado curioso nestas eleições, quando estamos a um mês da primeira volta, é o facto de Bayrou ter alterado totalmente o quadro de um combate político que à partida estava polarizado na dupla Sego-Sarko.
Ainda mais curioso é o facto de as sondagens apontarem uma clara vitória de Bayrou na 2ª volta, qualquer que seja o seu adversário.
Muito interessantes esta campanha eleitoral, que tentarei acompanhar a par e passo e aqui trazer um ou outro apontamento.

Sono e “julgamento moral”...

O número de pessoas que procuram os médicos por problemas relacionados com o sono, não pára de aumentar. Uns afirmam que não conseguem adormecer, outros que dormem muito pouco. São múltiplas as razões subjacentes a estes problemas. Pondo de parte as situações patológicas, parece que a quantidade de sono que cada um necessita é determinada por factores genéticos. Realmente, as queixas de pessoas que afirmam dormir muito pouco ocorrem com mais probabilidade dentro das famílias. De um modo geral, estamos programados para dormir cerca de oito horas, mas há pessoas que conseguem fazer a sua vida normal com apenas três ou quatro, como é o caso da ex-primeira ministra britânica.
O “gene do relógio” determina as diferenças, que são mais marcadas entre as 4 e as 8 horas da manhã, com efeitos particulares na memória e atenção, podendo explicar uma maior susceptibilidade para os acidentes e doenças.
A par destes factos, outros, mais recentes, vêm levantar a possibilidade de perturbações na avaliação de certas situações, quando somos privados do sono, quer em consequência de opções individuais, ou por imposição de situações específicas.
Não dormir pode influenciar o “julgamento moral”. Em condições experimentais foi possível verificar lentidão e modificações nas deliberações.
Os achados são importantes na medida em que podem condicionar as decisões de certos profissionais, caso dos médicos, agentes de segurança e de socorro. Os autores realçam o facto de que os achados não são sinónimos de diminuição da “moralidade” ou das crenças morais, mas que podem provocar prejuízos avultados em terceiros, com base nas modificações operadas, devidas à falta de sono, sempre que são solicitados a resolver certos problemas.
Resta saber se os que dormem “geneticamente” pouco estarão ou não abrangidos por estas alterações. É certo que para alguns dormir três ou quatro horas é suficiente para satisfazer as suas necessidades, enquanto para outros as oito não chega, necessitando mesmo, o grupo de dorminhocos, “consumir” onze horas!
Deste modo, os tradicionais “julgadores” ou “críticos” deveriam, no final das suas crónicas, comentários ou entrevistas, declarar quantas horas dormiram na noite anterior, no caso de terem dormido, e qual o seu padrão habitual de sono! Sempre ajudaria a relativizar as declarações, sobretudo as mais negativas, como é óbvio!
(Padrão normal de sono : sete a oito horas. Última noite: nove horas)