Número total de visualizações de páginas

sexta-feira, 23 de março de 2007

A pobreza não é parte da vida...

Muhammad Yunus prémio Nobel da Paz de 2006 – fundador do "banco dos pobres", inventor do microcrédito – esteve ontem em Lisboa numa conferência para falar sobre o “Microcrédito: um contributo para a paz”.
O microcrédito ajuda hoje mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo, através de várias réplicas do Banco Grameen que o Nobel da Paz criou no Banglandesh.
O microcrédito pode desempenhar um papel muito importante na sociedade, ao permitir que pessoas pobres, em situação de exclusão social, que não encontram resposta no mercado de trabalho e não têm acesso ao crédito tradicional, tenham acesso a uma nova vida, criando o seu próprio posto de trabalho ou microempresa.
É um gosto ouvir este Homem – economista e doutorado nos EUA – pela força que deposita na luta contra a pobreza e pela sua crença de que é possível erradicar a pobreza. Transcrevo aqui uma passagem de uma entrevista que deu ao Público: "Hoje pelo contrário, a maioria das pessoas acredita que a pobreza é parte da vida. A partir do momento em que se aceita isso nunca se pensa em eliminá-la. Eu coloco a questão de uma outra forma: a pobreza não é parte da vida, não pertence à humanidade, é-lhe imposta de forma artificial pelo sistema. Sendo assim podemos eliminá-la e libertar as pessoas dela. Se pudermos todos globalmente acreditar nisso, então é possível mudar isso e, globalmente, um dia eliminar a pobreza".
Faz-nos bem ouvir e reflectir sobre este pensamento. Na verdade, se todos interiorizarmos – cada um de nós, os que não somos pobres, a sociedade civil, os governantes e os políticos – que é preciso rejeitar a condição da pobreza e que, pelo contrário, acreditar que a pobreza não é uma condição de vida, uma fatalidade, algo que só acontece aos outros, que é a lei da vida, poderemos estar mais disponíveis para fazer o bem às pessoas pobres sem prosseguir o objectivo do lucro.
Muhammad Yunus veio falar-nos de um novo conceito: o social business. A ideia é simples: criar um negócio para resolver um problema social concreto, em que o princípio é recuperar o investimento realizado, cobrando o produto ou serviço prestado a um preço reduzido acessível às pessoas pobres. Um exemplo de um social business é a parceria fechada entre a Danone e o Banco Grameen que está a construir uma fábrica a 150 quilómetros de Dhaka para produzir iogurtes baratos e com qualidade nutricional para que as pessoas pobres os possam adquirir.
Acredito que o social business tem futuro, porque temos cada vez mais pessoas por esse mundo fora preocupadas e disponíveis para desenvover negócios a pensar nas pessoas pobres. E se desde muito cedo - nos bancos das escolas - ensinarmos as crianças a pensar que há formas de levar benefícios às pessoas pobres, melhorando as suas vidas, então teremos no futuro uma melhor convivência entre a economia da eficiência e a economia da equidade.
Citando o Nobel da Paz: "Se não estamos a ter êxito nalguma coisa é porque ainda não nos dedicámos com afinco a essa missão".

8 comentários:

Pedro Sérgio disse...

Cara Magarida,

Fiquei fâ do Muhammad Yunus,alem de ser reconhecimento internaciomalmente pelo Nobel da Paz, obrigou-me a ler o livro e como sou um defensor dos valores humanos e apreciador das materias de Macros e Micros Economicas,mais uma razão de admirar o actual Nobel da Paz.Espero que este exemplo e conceito se reflete e crie mais-valias e riqueza na pobreza do nosso planeta.É preciso por em pratica mas com o apoio de todos.

Um abraço

Pedro Sérgio (Palmela)

Sea Spirit disse...

Ouvir Muhammad Yunus é de facto contagiante!
Leva-nos a reflectir e a concluir que afinal é sempre possível fazer alguma coisa para melhorar a condição humana.

Curioso, o conceito é completamente contrário ao dos bancos comuns. Procuram os clientes mais pobres, cuja maioria são mulheres.

Um bom principio, em vez de dar o peixe ensinar a pescar.

Pinho Cardão disse...

Oportuno e belo post, Cara Margarida1...

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Pedro Sérgio
É possível e temos obrigação de fazer muito mais. Significa isto que teremos que ser mais generosos e menos egoístas, teremos que estar dispostos a ganhar menos para dar mais. Combater a riqueza não significa fazer "caridade", mas antes tornar acessível às pessoas pobres a satisfação das suas necessidades a preços condizentes com a sua condição. E significa, também, combater o desperdício e transformá-lo em bens úteis para quem deles precisa e que de outra forma aos mesmos não teria acesso.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Sea Spirit
Uma pequena ajuda é muitas vezes o suficiente para mudar a vida de uma pessoa pobre. É dar uma oportunidade, valorizando o trabalho e a vontade de fazer algo para quebrar o ciclo de carência que impede começar ou recomeçar.
O microcrédito tem excatamente esta função. Não sendo um subsídio, é antes uma facilidade que exige retorno e resultados e que por isso mesmo responsabiliza quem a ela recorre. Tem sido um sucesso.

Pedro Sérgio disse...

Cara Magarida,

Congratulo as suas palavras e temos que passar dos actos para acção.

Great Houdini disse...

Felizmente ainda há inconformados, com os meios rudes da sociedade, onde tantos com tão pouco e poucos com tanto.

Cara Margarido agora fora do espirito do post, sei que a blogosfera é globalmente masculina, basta ver os blogues mais visitados, futebol e mulheres. Contundo devo-lhe alertar que Sea Spirit é feminino ... :)

Há uma passagem do Velho e o Mar,em que o Velho que tão bem conhece o Mar e o respeita, trata-o como se fosse uma mulher, nunca se referindo a ele como "el mar" mas sim como "la mar". Podia ter citado Dan Brown e o sagrado feminino, mas Hemingway certamente será uma fonte mais rica :)

Vendo bem as coisas nem saí do espirito do post, pois o micro crédito visa preferencialmente as senhoras. Pois são vitimas de discriminação e são seres mágicos, com defeitos terrivéis, mas com capacidades grandiosas, seja a nível humano ou de negócios.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Great Houdini
A propósito da referência às mulheres transcrevo o que a este propósito o Nobel da Paz referiu numa entrevista publicada ontem no Expresso:

P - Defende que o crédito é um direito humano. Por que são 96% dos beneficiários do Grameen Bank mulheres?
R - Achei que o Grameen Bank tinha de corrigir aquilo que os bancos não estavam dispostos a fazer. Os bancos rejeitavam os pobres e todas as mulheres, até as ricas. Levámos seis anos a alcançar 50% de mulheres e depois verificámos que o dinheiro que lhes era entregue proporcionava mais benefícios às famílias do que o entregue aos homens. E assim ficámos praticamente femininos.

Não me surpreendem estes resultados, porque as mulheres são, realmente, mais assertivas, combativas e realistas.