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domingo, 15 de abril de 2007

Rui Vilar lembrou os três grandes passos de inclusão

Na Conferência realizada em Santarém, de que a Margarida faz aqui uma excelente síntese, a intervenção de Rui Vilar focou os três grandes momentos em que o nosso País se confrontou com a necessidade de "incluir” grande número de pessoas e dos diferentes contextos em que o fez, ou está a fazer.
Vale a pena, muito resumidamente, lembrar o retorno em massa dos portugueses que voltaram de África, na sequência da descolonização, e que foi preciso acolher e integrar, dando-lhes os apoios de que precisavam para reconstruir aqui a sua vida. Lembrar a muito rápida passagem de um país em que a agricultura era uma actividade que ocupava uma parte muito significativa da mão de obra, para o abandono das actividades agrícolas, levando à deslocação de milhares de pessoas dos campos para as periferias das cidades. Lembrar ainda o mais recente fenómeno de imigração, que em poucos anos transformou o país de “exportador” para” importador” de mão-de-obra, conduzindo a uma súbita heterogeneidade cultural e étnica.
Os múltiplos reflexos destes grandes movimentos de integração incluem a heterogeneidade nas escolas, o crescimento de bairros periféricos, a ruptura grave no sistema de transportes suburbanos, a pressão nos serviços de saúde, o aumento da marginalidade, o ajustamento mais ou menos difícil da 3ª geração.
O mais recente e ainda em curso movimento, o imigratório, está associado ao grave envelhecimento da população e, como disse o orador, é uma oportunidade para equilibrar a crise demográfica mas é também um desafio difícil para se encontrar as respostas que a sua integração plena não deixa de colocar.
Acresce que qualquer destes grandes movimentos se operou em contextos externos muito diversos, ou seja, em ambiente de fortes mudanças que, só por si, trariam a necessidade de nos reajustarmos. Primeiro, a descolonização, depois a integração europeia e, agora, a globalização.
Quando estamos embrenhados a detectar dificuldades, ou a fazer comparações com o que outros países conseguem fazer mais depressa e melhor que nós, se calhar vale bem a pena parar um pouco para ouvir falar das coisas com uma perspectiva diferente, sempre traz alguma luz e, porque não?, algum ânimo quanto à capacidade de enfrentarmos os problemas que nos angustiam.

3 comentários:

Frederico Lucas disse...

Excelente post.

Precisamos de perceber que estamos novamente a precisar de nos empenharmos para retomar o comboio.

Não é contra nada nem contra ninguém. É pelo desenvolvimento SOCIAL e económico do nosso país. É a "geração do conhecimento" que temos que agarrar em nome da herança que vamos deixar aos filhos, para que Portugal não esteja no campeonato da "força barata" da Europa.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Apreciei muito a reflexão do Dr. Rui Vilar sobre os três fenómenos sociais distintos, que ocorreram em momentos distintos da nossa história recente, induzidos por efeitos e necessidades distintas e em contextos sociais, económicos e políticos do País igualmente distintos: a descolonização, a deslocação de populações do sector primário para o sector terciário e a imigração.
Não há dúvida que a imigração é uma das grandes questões do nosso tempo. É um problema novo na sociedade portuguesa. Estamos a experimentar pela primeira vez acolher na nossa sociedade comunidades de imigrantes com origens e culturas muito diferentes. Temos muito a ganhar com os imigrantes, não só porque precisamos do seu trabalho, mas também porque ajudam a minorar os efeitos do envelhecimento demográfico.
Está nas nossas mãos – diria mesmo que é uma obrigação – assegurar níveis satisfatórios na inclusão dos imigrantes na sociedade portuguesa. É, em simultâneo, um grande desafio e importante oportunidade para o País, que não podemos desperdiçar.
Penso que não estávamos preparados para este fenómeno, mas por isso mesmo temos que ser rápidos e exigentes na resposta aos muitos problemas que se colocam.

Suzana Toscano disse...

Sim, é isso mesmo caro Frederico, há que enfrentar o que temos que resolver de preferência a ficarmos a remoer as nossas insuficiências, só isso já é um avanço.
Margarida, nunca se está preparado para estes fenómenos, como diz, e muito menos um país cheio de fragilidades como o nosso.Mas já se provou que é possível, mas custa esforço, dinheiro e muita solidariedade...pelo menos.