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terça-feira, 29 de maio de 2007

Será que voltaremos a ter comboio entre Pocinho e Barca d'Alva?

A bela ponte férrea do Pocinho lá está, no seu esplendor oitocentista, abandonada, a olhar de bem alto um rio sinuoso e maravilhoso. (esta não é preocupação de nenhum ataque terrorista)
As viagens de comboio do Porto até à Régua, seguindo para Barca d'Alva ou pela linha do Tua até Bragança, fazem parte da memória de infancia de todos quantos as fizemos num misto entre a grandeza da paisagem e a pequenez de uma automotora galgando medonhas alturas; imagens inesquecíveis que trazem à memória o comentário que a história atribui à Rainha D. Maria II, quando viajou na inauguração da linha férrea, tendo-a apelidado de "belo horrível"!

Cem anos após a inauguração da linha eis que se encerra ao tráfego de passageiros e mercadorias, no ano de 1985.
As populações, mais uma vez, barafustaram; sucessivos governos vão prometendo reabri-la, Durão Barroso disse em 2004 ser ponto assente reabrir a linha Pocinho/Barca d'Alva e que os estudos para a reabilitação do troço não deveriam ser entendidos exclusivamente numa óptica financeira, mas na perspectiva turística e patrimonial.
Nada se fez.

Vem agora a ministra da Cultura reacender as esperanças da região, com a construção do museu do Côa, relançando a promessa, possívelmente por saber que do lado espanhol o governo já disponibilizou verba para voltar a por os comboios a funcionar entre Salamanca e a fronteira com Barca d'Alva, verba suportada pelo Estado espanhol com apoio comunitário, para fins turísticos, aproveitando o seu património desactivado e o parque nacional de los Arribes del Duero.
Só que, do lado de cá, a preocupação da Refer ainda só está em evitar que se continuem a roubar os carris da linha abandonada e entregue ao mato... o ministério das Obras Públicas vai dizendo que se trata de matéria que já está contemplada nas orientações estratégicas para o sector ferroviário, mas parece que nestas "orientações estratégicas" não há qualquer referência ao troço Pocinho/Barca d'Alva...e o ministério da Cultura apressa-se em corrigir, dizendo que nunca falou em envolver despesas do Estado na reactivação da linha, mas sim que relembrou estarem reunidas as condições (com a construção do museu do Côa) para a linha ser explorada, com fins turísticos, se houver acordos entre privados e autarquias e se avançar para a construção de um cais fluvial que sirva o futuro museu.

Aqui está um projecto de aproveitamento de uma linha férrea lindíssima, a ligar Porto a Salamanca, convidando turistas de Espanha e França ao museu, à beleza única das vinhas do Douro, à gastronomia da região... será que não tem "categoria" para ser um projecto PIN?
As 53 mil camas que, nos próximos 5 anos, o ministro Manuel Pinho diz que vai abrir no Algarve não poderiam ter um desviozinho a norte?
E atrair turistas de qualidade?
Daqueles que têm outros gostos?
Daqueles que estão fartos de massificações ?

6 comentários:

Bartolomeu disse...

Pois o abandono a que foi votada a ponte ferrea do Pocinho, é que me parece ser um verdadeiro atentado terrorista, sem dinamite, mas com efeitos não menos devastadores.
1º argumentou-se pela desertificação do interior, logo em seguida pela inviabilidade económica, mas agora, e como muito bem refere, surgem motivos fortes para que aquela saudosa e emblemática linha ferrea, seja reactivada.

Great Houdini disse...

Realente aquele caminho ferroviário não é uma viagem é um luxo. Que paisagens deslumbrantes, com potencial diabólico, tremendo.

Mas meus caros para isso não teria de existir uma visão estratégica, preocupada em criar uma conjectura favorável?

O que temos é uma série de indíviduos sem imaginação, que turisticamente como iniciativa inovadora apenas conseguem mudar o nome do Al(L)garve ... Estamos sempre atrás, não somos capaces de antecipar as novas tendências, o turismo de massas está em crise, qualidade e experiências são o futuro.

Relativamente ao Pocinho aconselho também uma visita à adega, muito bom. Tem um vinho que madura no leito do rio ...

Anónimo disse...

Dr.a Clara, ele há coincidências extraordinárias! Tinha acabado de redigir uma proposta de adesão da minha Assembleia Municipal à iniciativa de uma Associação constituída para a reactivação e reinternacionalização da Linha do Douro, também animada pela Assembleia Municipal de Marco de Canavezes, quando acedi ao blog e deparei com o seu oportuníssimo post.
Eu que fiz, se não a última, uma das últimas viagens do Peso da Régua até Barca d´Alva, sinto o desperdício para o meu Douro e para o País de uma infra-estrutura de apoio ao turismo de uma região que, como acima é dito, deslumbrante.
Estamos sempre a comparar-nos com os nossos vizinhos. Mas não sabemos segui-los quando empreendem. Neste caso, como sabe, os governos regional e nacional já decidiram reactivar a linha do lado de lá...

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Clara
A região do Douro tem um potencial turístico elevadíssimo. As tradições e as particularidades dos sítios devem ser valorizadas porque as tornam únicas. Pela Europa fora é exactamente isso que se faz. E depois Portugal não se resume ao Algarve. É preciso criar alternativas e circuitos complementares. Também aqui há ganhos na diversificação.
Os portugueses merecem que o seu património cultural, histórico, paisagístico seja protegido. É nosso e só nós podemos cuidar dele.

Clara Carneiro disse...

Dr F.Almeida, que boa ideia a sua; todos os Municípios que "navegam Douro acima" TÊM de se envolver, rápido e em força. E que tal um movimento de cidadãos da região, com a vitivinícolas todas que por lá estão instaladas?
Talvez nascesse uma ideia de investimento privado.

Clara Carneiro disse...

Caro Great Hondini,o vinho "que madura no leito do rio", no Pocinho, ainda é o orgulho nacional..., mas saia do Douro, vá ao Tua até Mirandela, largue o Tua...e dê um saltinho a Macedo de Cavaleiros e o "Valle Pradinhos" também não está nada mal!
Não acha?