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quarta-feira, 5 de setembro de 2007

“Igualdade de oportunidades”...

Já se sabe há muito tempo que existem diferenças na incidência e na prevalência das doenças cardiovasculares entre homens e mulheres.
Os enfartes do miocárdio são mais frequentes nos homens, contribuindo com cerca de 75% do total. Nas mulheres ocorrem em média dez anos mais tarde do que nos homens e são, em geral, muito mais graves.
A “discriminação” no diagnóstico e, consequentemente, no acesso às terapêuticas, existe e sempre existiu, contribuindo para o facto muitas das explicações enumeradas hoje no jornal Publico a propósito do estudo Saúde e cuidados de saúde em Portugal: a importância do género.
Acresce que é cada vez mais frequente os problemas cardiovasculares nas mulheres, e em idades cada vez mais jovens, motivados pela adopção de comportamentos que, tradicionalmente, eram considerados como “masculinos”. Fumam cada vez mais, a obesidade aumenta assustadoramente, assim como a diabetes, e estão sujeitas a níveis elevados de competição e de responsabilidade fontes de intenso stress, além da não controlarem outros factores de risco. O facto de as mulheres serem consideradas protegidas pelas suas hormonas - realidade incontestável – e a sua divulgação em meios académicos e clínicos pode, também, ser responsável por um afrouxamento da vigilância por parte dos profissionais de saúde. A protecção existe! No entanto, os novos comportamentos, entretanto adquiridos, começam a sobrepor-se ao papel protector das hormonas femininas. Imaginem o que aconteceria se as mulheres não usufruíssem do tal “protector hormonal”! Seria uma catástrofe.
É preciso ter muito cuidado quando se explicitam certas conclusões.
A divulgação, por exemplo, dos efeitos benéficos de certos produtos ou substâncias, se não forem devidamente enquadrados no seu verdadeiro contexto, poderão ter consequências funestas ao legitimar e, até, estimular os seus consumos com efeitos adversos para a saúde das pessoas. No fundo, constituem outras fontes de "discriminação".
O nosso dia está repleto de casos desta natureza em que as virtudes de um produto são apresentadas em toda a plenitude, “esquecendo-se” de focar os inconvenientes. “Não há bela sem senão”! É bom que a par da “beleza” não nos esqueçamos do tal “senãozito”, chato, porque pode estragar o negócio!
Entretanto, já que estamos no Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos, temos de começar a ter mais cuidados com o coração das mulheres na sua vertente anátomo-fisiológica, sem descurar as outras!
O “coração sente”, com alguém comentou há pouco tempo...

2 comentários:

Suzana Toscano disse...

Realmente o título do jornal era bastante alarmante. Esta explicação esclarece muitas coisas, se a probabilidade é menor é natural que as situações sejam tratadas de maneira diferente. As mulheres só se queixam do coração quando têm desgostos ou quando querem inspirar pena ou protecção. Essa perspectiva "global" que defende no fim do post, caro Massano cardoso, parece-me uma excelente resposta à situação :)

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Professor Massano Cardoso
A discriminação no diagnóstico e na terapêutica cardiovascular deverá ser ainda o resultado de esta doença estar mais associada aos homens.
A notícia sobre o Estudo refere que as mulheres até vão com mais frequência aos médicos, designadamente, preocupam-se mais do que os homens em fazer análises clínicas e consultam mais vezes os médicos de família.
Esperemos que no futuro as mulheres não sejam descriminadas em relação a tratamentos especializados e que os homens passem a fazer mais exames de rotina. Os homens devem achar que são mais fortes. Mas quando caem doentes acham que estão quase a morrer...
Enfim, corações diferentes mas a precisarem dos mesmos cuidados...