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quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Já nem reparamos em algumas coisas boas...

No meio de tanta desgraça às vezes já nem reparamos em algumas coisas boas que nos têm acontecido ou se reparamos já estamos tão descrentes ou tão massacrados com as más notícias que não lhes atribuímos a importância que merecem.
Foi ontem notícia que a taxa de mortalidade infantil (mede o número de óbitos de crianças com menos de um ano ocorrido durante um certo período de tempo, normalmente o ano, em relação ao número de nados-vivos) atingiu em 2006 em Portugal o valor mais baixo de sempre: 3,3 óbitos em cada mil nascimentos. É preciso entender a evolução deste número que coloca Portugal no topo da tabela em termos mundiais, quando na década de 80 registava os valores mais negros de toda a Europa – morriam 24 crianças em cada mil.
Segundo os dados do Eurostat relativos a 2006 dos 23 países estudados, dos 27 da EU, apenas a Finlândia, a Suécia, o Luxemburgo e o Chipre apresentam uma mortalidade infantil inferior a 3,3.
Trata-se de um progresso assinalável e obtido, segundo os especialistas, em tempo recorde.
Na base deste sucesso está – é justo lembrar – uma medida do maior alcance tomada pela então Ministra da Saúde Leonor Beleza (creio que não estou enganada) quando decidiu constituir e nomear uma comissão de saúde materna que fez um trabalho notável de eliminação de condições que potenciavam a mortalidade e de criação de boas condições para se nascer, a par da implementação de um programa de vacinação com uma excelente cobertura nacional.
Uma das conclusões que podemos retirar do progresso verificado e dos resultados alcançados em relação à taxa de mortalidade infantil é a importância dos diagnósticos bem feitos e do empenhamento político que é colocado na concretização de reestruturações.
Mas se podemos estar satisfeitos, o Ministério da Saúde não pode cruzar os braços porque, entretanto, emergiram novos problemas que podem pôr em risco os bons resultados atingidos. As “reformas” do SNS, com a redefinição por exemplo do mapeamento da rede de cuidados de saúde, e a falta de médicos e enfermeiros especializados, que alguns especialistas apontam como um problema grave, podem dificultar o acesso aos cuidados de saúde infantil e inviabilizar o funcionamento de algumas unidades de saúde.
Por trás desta estatística, que sem dúvida nos deve satisfazer, está um bem de valor incalculável, o da oportunidade de vida que é dada a um filho, aos seus pais e à sociedade. Portanto, sejamos capazes de nos manter na dianteira e façamos votos que não se cometam erros de política de saúde que, nem que fosse por uma décima, beliscassem a conquista da vida sobre a morte infantil!

2 comentários:

Bartolomeu disse...

Este texto está repleto de excelentes e finas observações (como aliás é sempre espectavel na sua escrita).
Cara Margarida, de Irene Lisboa, deixo-lhe este poema, intitulado Chuvoso maio, podia chamar-se Dezembro se a autora assim tivesse decidido, mas não. Porém é um poema algo nostalgico, mas ainda esperançoso, tal como será este seu olhar sobre esta problemática.


Deste lado oiço gotejar
sobre as pedras.
Som da cidade ...
Do outro via a chuva no ar.
Perpendicular, fina,
Tomava cor,
distinguia-se
contra o fundo das trepadeiras
do jardim.
No chão, quando caía,
abria círculos
nas pocinhas brilhantes,
já formadas?
Há lá coisa mais linda

que este bater de água
na outra água?
Um pingo cai
E forma uma rosa...
um movimento circular,
que se espraia.
Vem outro pingo
E nasce outra rosa...
e sempre assim!


Os nossos olhos desconsolados,
sem alegria nem tristeza,
tranquilamente
vão vendo formar-se as rosas,
brilhar
e mover-se a água...

Suzana Toscano disse...

É verdade, Margarida, é preciso lembrar o que corre bem, fruto de muitos contributos e de uma acção persistente nos objectivos.É preciso valorizar esses êxitos, eles são bons exemplos da nossa capacidade de realização e um estímulo para quem não desiste do limiar da utopia...