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sexta-feira, 14 de março de 2008

A educação e os discursos com barbas

Não imaginam o quanto se torna penoso ouvir alguns discursos sobre o "actual" estado da educação em Portugal. Alguns deles chegam a raiar a ignorância compulsiva e uma incrível falta de imaginação, até para melhor disfarçar essa ignorância. O império do senso comum, a falta de leitura, de estudo, de trabalho rigoroso e de opiniões fundamentadas sobre os problemas da educação transformaram as últimas semanas numa insuportável "bancada central" onde todos têm o direito a emitir opinião, todos se sentem capacitados para "achar" sem que se note qualquer laivo de sensatez, conhecimento e de rigor sobre aquilo que se "acha".
Nessas alturas refugio-me nas leituras, no conforto do tempo distante, naqueles cuja inteligência e capacidade de pensar os problemas não nos deixam dormir sossegados sustentando esta inquietude incorrigível de que não me consigo libertar.
Fui à estante buscar o Oliveira Martins e abri nos escritos sobre o "estado da educação" publicados em O Repórter, no ano de 1888. Deixo-vos apenas alguns excertos deliciosos:

22 de Junho de 1888
Resta saber que espécie de homens se estão formando nas famosas escolas leigas, e com o ensino estapafúrdio dos nossos liceus. (...)
Este estado de espírito é o dos que, apesar de livres pensadores, acham preferível confiar a educação dos filhos aos jesuítas.
24 de Agosto de 1888
O grande defeito do ensino oficial português está em que os compêndios são maus, os professores piores, e os programas, trasladados das escolas europeias, seriam excelentes por vezes, se não fossem puras hipóteses burocráticas. (...)
... os próprios progressos do ensino são uma nova causa de cretinização. (...)
Um facto universalmente conhecido é a progressiva ignorância das gerações que o ensino oficial vai preparando. (...)
A Indústria dos compêndios escolares viça à custa dos cérebros das crianças e das algibeiras dos pais.


Tudo é tão recorrente. Andamos há muito mais de um século a dizer o mesmo e o que é mais grave é que acreditamos naquilo que dizemos.
Chega por hoje.

38 comentários:

Tonibler disse...

Caro David Justino,

O conjunto dos que "acham" têm o péssimo hábito de se juntarem para ver qual é o resultado final dos "achismos". A esta espécie de conclave dos "achistas" chama-se eleições e o resultado costuma ser asneira e ministro. Mas, quando entre os "achistas", há um que "acha" mais que os outros, dá numa asneira ainda maior.
Por isso, quando os conclave dos "achistas" dá em asneira, que no caso português é sempre, o melhor é que a coisa decorra naturalmente sem que estes tenham intervenção. Chama-se liberalização ou privatização e, nalguns casos, tem resultados surpreendentes!....

SC disse...

Caro Professor David Justino,

É sempre um enorme prazer reencontrá-lo por aqui. E que falta nos fazem os seus textos particularmente a escrever sobre educação. Compreendo os seus constrangimentos, mas temos ficado a perder!
Sobre o seu texto, apetece-me apenas lembrar o ditado popular: “de padre, de médico e de louco todos temos um pouco”. Eu acrescentaria, e de pedagogo…
Acontece é que sobre este assunto, o ensino, em adultos temos a tendência para comparar o que se ensina agora com o que nós aprendemos. O problema é que não comparamos com o que aprendemos no momento em que fomos estudantes mas com o que sabemos hoje, depois de todos os ensinamentos que a vida nos foi trazendo, resultando injusta a comparação e erradas as previsões.
As previsões do desastre da educação são de sempre, como nos mostra. O problema é que nunca se verificaram!...
Por isso, eu, por mim, há muito deixei de acreditar seriamente naquilo que digo. E olhe que não é só nestas coisas da educação! E é bom levarmo-nos menos a sério.
Um grande abraço.
E volte muitas vezes.

Pinho Cardão disse...

Pois é, caro Professor.
O meu amigo, quando regressa, regressa em força!...
Mas não andamos sempre a dizer que que a educação ou a falta dela é o nosso principal problema?
Assim ,não creio que, no seu tempo, Oliveira Martins tivesse falta de razão.
E também não creio que, nos tempos de agora, haja falta de razão.
Ou então a educação não tem nada a ver com o nosso atraso...
E é o Ministério da Educação melhor agora do que nos finais do século XIX?
Apesar de tudo, nessa altura, o pessoal não passava sem saber para preencher as taxas de sucesso previstas no Projecto Pedagógico da Escola, digo do Ministério...
Projecto pedagógico?

Bartolomeu disse...

Uma vez que nos propõe uma viagem no tempo, caro Professor David Justino, permita-me que recue um pouco mais, até à época do Marquês de Pombal e da reforma que ele pensou para o ensino. Se bem se lembra, o grande ministro de El-Rei D. José, criou a Real Mesa Censória, expulsou os Jesuítas do ensino e recriou o ensino das diferentes disciplinas.
O marquês de Pombal, estáva imbuído plenamente do iluminista espírito reformador como bem sabemos, mas foi lúcido nas acções a tomar. O Marquês de Pombal, conhecia a necessidade de o conhecimento chegar ao maior numero possível de jovens, em todo o país. Ele sabia por diferentes experiências que é o conhecimento que gera o desenvolvimento de um povo.
Tal como no tempo do Marquês de Pombal, é urgente expulsar os actuais Jesuítas e renovar uma Mesa Censória. Ou então, iremos continuar neste vai-e-vem sem sentido, neste modo arbitrário e alienado de tratar o ensino.

PA disse...

eu ainda sou do tempo ....

Que os meus professores eram os meus ídolos. Eram uma referência no Saber, nos Valores. Enfim, nunca os esquecerei. Nem o que me ensinaram.
Em cada ano de escolaridade, tinha 9 professores. Oito eram muito bons, e talvez um (apenas um) fosse mais fraco, ou mesmo mau professor.

A minha filha, com dezanove anos, tem vivido outra realidade bem diferente, como estudante.
Em cada nove professores, se tiver um professor competente, é uma sorte.

Mais, ...

Assim como não esqueço os meus professores, também não esqueço, quase todos, os auxiliares de acção sócio educativa do meu tempo.

Havia (que já não há, em muitos casos) uma relação de respeito e de amizade, que ficou para sempre, entre professores, auxiliares, alunos e pais dos alunos.

Após o 25 de Abril, ser professor passou a ser um meio e não um fim.

Rui Fonseca disse...

Professor David Justino,

Solicito-lhe a sua benevolência para a minha parcial discordância. Parcial, porque, entendo muito bem o seu desencanto mas o assunto é demasiado importante e o Professor David Justino demasiado conhecedor do tema para ficar pelo desencanto.

Atribuo o problema da educação em Portugal em grande parte à falta de exigência que caracteriza o relacionamento dentro da sociedade portuguesa.

Queixam-se as universidades que os alunos lhes chegam do secundário impreparados mas nenhuma, até agora, decidiu adoptar (ou propor ao Ministério a adopção) de exames de aptidão que avaliassem os candidatos. Como dependem do orçamento, e este se alarga com o número de alunos, a quantidade sobrepõe-se à qualidade.
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Queixam-se os empregadores que não têm os candidatos com as competências que requerem mas são raros os que os submetem a provas de avaliação. Se um empregador decide mais em função do conhecimento pessoal e, frequentemente de um empenho, de uma cunha, que motivação tem o candidato para aprender aritmética e álgebra?
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Se os professores são admitidos sem provas de acesso rigorosas, que qualidade pode esperar-se dos professores admitidos?
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Se o Estado não promove provas de concursos de admissão e promoção que motivação têm os candidatos para se apresentarem bem preparados?
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É pela exigência que pode mudar-se a educação. Porque a motivação numa sociedade de frouxos costumes é caminhar pela via do facilitismo que nos torna moles os membros e o carácter.

Todas as insuficiências, entorses e lamúrias com barbas decorrem dessa falta de exigência generalizada.

Salvo melhor opinião

Carlos Sério disse...

Não é uma reforma mas uma contra reforma para a educação, as medidas políticas que estão a ser implantadas por este governo no nosso ensino.
Os professores são culpabilizados, não por serem menos exigentes, mas por serem exigentes de mais; não por saberem de menos, mas por saberem de mais.



A “raiva” que esta contra reforma sente pelos professores, é seguramente pela dimensão humanista que a maioria dos professores possuem, pela sua abnegação pelo ensino que praticam, pelos valores éticos que transmitem aos seus alunos, por serem intelectuais e não apenas transmissores de conhecimentos desprovidos de valores de cidadania.
O “desprezo” que a ministra manifesta por estes “professorzecos” (como os trata em privado), é por sentir que estes professores possuem uma dimensão humana incompatível com a sua “reforma”.

Uma contra reforma onde não se deseja que os professores sejam educadores mas sim apenas instrutores; onde não se deseja um ensino humanista e universalista mas ao contrário um ensino vazio e alheio aos valores da cidadania, um ensino puramente tecnicista e utilitário.
Um ensino onde não se formem cidadãos mas consumidores. Um ensino onde a socialização do aluno não se faça por padrões éticos e morais, de fraternidade, solidariedade, tolerância, abnegação, mas por uma socialização em que apenas conte o espírito individualista, egoísta e utilitário.

E neste projecto neoliberal do governo Sócrates para o ensino, a avaliação dos professores é apenas um pequeno fragmento do puzle. O Estatuto do aluno, a nova organização da escola, o Estatuto da carreira docente, a nova configuração pedagógica, são as outras peças que o complementam.

É preciso competir, e uma sociedade moderna é aquela na qual só os melhores triunfam; a crise do ensino resulta assim de um problema cultural provocado pela ideologia dos direitos sociais e a falsa promessa de que uma suposta condição de cidadania nos coloca a todos em igualdade de condições para exigir o que só deveria ser outorgado àqueles que, graças ao mérito e ao esforço individual, se consagram como consumidores empreendedores.

É este o pensamento neoliberal.
É esta a “modernidade” que se pretende para o ensino em Portugal.
Retirar a Educação do campo social e político e ingressá-la no mercado para funcionar à sua semelhança; adequar a escola aos mecanismos do mercado.

"Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Porque ele se tornará assim uma máquina utilizável, mas não uma personalidade. Os excessos do sistema de competição e especialização prematura, sob o falacioso pretexto de eficácia, assassinam o espírito, impossibilitam qualquer vida cultural e chegam a suprimir os progressos nas ciências do futuro. É preciso, enfim, tendo em vista a realização de uma educação perfeita, desenvolver o espírito crítico na inteligência do jovem." (...) "A compreensão de outrem somente progredirá com a partilha de alegrias e sofrimentos. A actividade moral implica a educação destas impulsões profundas”. (Albert Einstein)

A manifestação dos professores, não foi apenas uma lição de cidadania que os professores deram ao governo.
Foi uma lição de cidadania que deram ao País.


Tudo o resto é conversa fiada

SC disse...

Cara Pezinhos n’Areia

Eu também sou desse tempo. E sinto que fui um privilegiado.
Mas não foi só porque tive bons professores, se bem que não numa percentagem tão elevada como a minha cara.
Fui um privilegiado, principalmente, porque fui dos que puderam frequentar a escola!...
E isso, de todos frequentarem a escola, só passou a acontecer depois do 25 de Abril!
Foi uma chatice?

Bartolomeu disse...

Peço desculpa por utilizar este espaço referindo-me ao comentário do caro SC.
Caro SC, vasculhando a minha memória, não consigo encontrar nela outra mais valia que o povo português tenha ganho com o resultado da revolução de Abril, que a liberdade política de existirem partidos de ideologias diferentes e de os mesmos poderem concorrer a eleições.
Eu sou originário de uma família modestíssima e no entanto tive oportunidade de concluir anteriormente ao "25 de abril", o antigo curso comercial, na escola ferreira borges. Não continuei a estudar por inercia e porque o sonho teve mais força que a realidade. Tenho conhecido ao longo do tempo variadíssimas pessoas que mesmo sendo originários de locais mais recônditos, apesar de com mais sacrifício próprio e familiar, tambem concluiram cursos. Não foi o facto de ter ocorrido o 25 de abril, que originou mais facilidade de acesso ao ensino para aqueles que nasceram no meio dos montes, mas sim as modificações de politicas socias que foram ocorrendo e, que ocorreriam do mesmo modo sem que o "25 de abril" se tivesse dado. Não se esqueça o caro SC que governava portugal à altura do "25 de abril", um homem com uma visão europeia e nacional, diâmetralmente oposta à de salazar, MarceloCaetano.

Anónimo disse...

Obrigado meu Deus por teres colocado os Jesuitas no meu caminho durante 11 anos.

Gostei de ouvir o Prof. David Justino no programa da Maria Elisa mas reparei que existiam opiniões diversas e talvez estas tenham vingado nestes ultimos 30 anos.

jotaC disse...

Li na horizontal, com muita atenção, este excelente texto assim como os pertinentes comentários e pensei que não me devia coibir de “achar”, também, alguma coisa, sobre este tema tão actual.
Na verdade, “achar” a melhor solução para um projecto educativo tem vindo a ser, ao que parece, uma quimera que já vem de muito longe; e interrogo-me sobre se a dificuldade em encontrarmos o método e a forma mais apropriadas para o sistema educativo, não terá mais a ver com a forma comparativa como o analisamos, face ao nosso saber e experiência.
Se calhar, a solução passa por os especialistas convergirem para um modelo de educação adaptado, unicamente, ao tempo e às necessidades actuais. Acho eu...

SC disse...

Caro Bartolomeu,
Eu concordo consigo, a liberdade foi a única dádiva do 25 de Abril. Mas não menospreze o valor da liberdade. Sem ela não é possível uma realização integral do ser humano, enquanto indivíduo e, logo, enquanto sociedade, que é sempre, também, um somatório das realizações individuais.
Os três grandes valores humanos que a Revolução Francesa nos trouxe, depois da tal época iluminista, liberdade, igualdade e fraternidade, tinham esta ordem de valor. Sem liberdade não é possível haver verdadeira igualdade e, sem estas, não é possível a vida com fraternidade.
Por isso, não devemos dizer que o 25 de Abril nos trouxe SÓ a liberdade. Temos que dizer simplesmente que o 25 de Abril nos trouxe a LIBERDADE.
O que temos que nos perguntar é o que, passados mais de 30 anos, fomos capazes de fazer com ela, e não nos lamentarmos pelo 25 de Abril não nos ter dado um SALVADOR. O 25 de Abril fez-se exactamente para isso, acabar com os salvadores.
E agora deixe que lhe diga que avalia muito mal as mais-valias para os cidadãos obtidas nos últimos 30 anos: número de escolas, número de hospitais, número de professores, número de licenciados, etc, etc, etc. Não sou grande conhecedor da história mas estou em crer que não houve outro período da história de Portugal com uma tal melhoria das condições de vida da população em geral. Este país não tem absolutamente nada a ver com aquele em que eu vivia em 1974, isso eu sei.
Se não tivesse acontecido o 25 de Abril não sei dizer onde estaríamos hoje. Não sou capaz de fazer tal exercício. Mas há uma coisa que lhe posso garantir, se nesse outro percurso não tivesse sido devolvida a liberdade não teríamos chegado, nem perto, onde hoje estamos.
Diz o meu caro que Marcelo Caetano era um homem com uma visão diamentralmente oposta à de Salazar. Seria?
O que vimos no seu curto reinado foi uma mudança de nomes: A PIDE passou a DGS, a UN a ANP, etc.
Mas houve realmente uma diferença: Marcelo Caetano tinha uma concepção completamente oposta à de Salazar relativamente à educação. Ainda hoje, a reforma então encetada por Veiga Simão se pode olhar como uma referência.
Porventura, NÓS não soubemos, depois do 25 de Abril, dar-lhe a melhor continuidade.
Mas aí, temos é que nos penalizar a todos por não termos feito as coisas da melhor maneira, e não continuar a colocar as culpas ao 25 de Abril.
A menos que não queiramos viver e liberdade e democracia. Mas aí, eu estou fora. E lutarei, com as forças que tiver, para que isso NUNCA aconteça.
Também sou originário de uma família humilde, fiz o curso comercial em Águeda, o curso de contabilista no Instituto Comercial do Porto e mais tarde o Curso de Engenharia Electrónica em Aveiro. Mas isto foi uma excepção, por isso sinto-me um privilegiado. Da minha turma da 4ª classe, na então vila de Águeda, apenas metade prosseguimos estudos (1965). Mas na escola da aldeia em que eu deveria ter feito a primária, só a fiz em Águeda porque o meu pai lá arranjou maneira de eu residir em casa de um tio – teve (e tem, felizmente) visão o meu pai, apesar de ter apenas a 3ª classe feita em adulto – apenas um prosseguiu os estudos. E este mesmo não passou do ciclo preparatório.
Esta, meu caro, era a ESCOLA que tínhamos no fim dos 50 anos do regime da paz, numa altura em que em toda a Europa – que pelo meio teve uma guerra devastadora – a escolaridade obrigatória já era de pelo menos 9 anos.
Claro que a massificação da escola que necessariamente ocorreu em 75, trouxe problemas que talvez não resolvemos da melhor maneira. Não nos esqueçamos que em 75, 76 e 77, a necessidade de professores levou ao recurso quase ao “professor-pé-descalço”. Eu próprio dei aulas nessa altura – já tinha concluído o curso de contabilista. Em 1975/76 as colocações dos professores foram feitas pelos sindicatos, depois de o ministério não ter conseguido fazer as colocações.
Foi principalmente esta incapacidade do ministério de lidar com esta nova dimensão do problema que permitiu que a educação fosse “tomada” pelos sindicatos. Até hoje!
O Professor David Justino terá sentido bem isto.
E o texto já vai logo demais. As minhas desculpas a todos.
E um abraço a si, caro Bartolomeu.

PA disse...

Sem desconsideração para a relevância e a pertinência dos restantes comentários, mas aplaudo de pé, o último comentário do Caro SC.

Pedro disse...

Meus caros,

Duas experiências de professores gauleses que conheço directamente. Num caso a pessoa em causa tinha uma profissão administrativa no privado e a dada altura decidiu que queria ser professora. No outro tratou-se de alguém que no final do mestrado (dos antigos...) decidiu que não queria fazer doutoramento. Decidiu ser professor.

Estas duas pessoas são agora professores do "liceu", uma no ramo das humanidades e a outra no ramo das ciências. Nenhuma seguiu um "ramo educacional". Mas para serem professores tiveram de passar um exame nacional científico na área a que postulavam.

Quem quer ser professor tem de passar o exame, mesmo que tenha um CV tão comprido como um rolo de papel higiénico.

Quando querem subir de grau, pedem uma inspecção e esperam por vezes muito tempo. Depois sem saberem quando, aparece um inspector saído do nada que assiste às aulas, e tira as devidas conclusões. Parece-me que podem até ser penalizados pela inspecção.

Nesta nossa antiga terra, parece que não é assim, basta sair dos pseudo-cursos liberalizados pelos ilustres governos do Sr. Silva e esperar. O estudo deste cancro daria umas boas testes de doutoramento.

Agora parece que os pobres dos professores vão ser pseudo-avaliados pelos executivos. Ora qualquer pessoa com dois cm^2 de cérebro não me mete a dirigir uma escola (salvo honrosas excepções). Ficam os lugares vagos para os ribaus e menezes de língua azul, tal e qual como na política.

Temos então casos em que quem avalia sabe menos que o avaliado, além do processo de avaliação ser duvidoso... isto sem falar da possibilidade do avaliador ser um mafioso.

Cumprimentos,
Paulo
PS: O Rui Fonseca tocou na tecla certa. Este país de chicos espertos, em que o primeiro ministro é um grande espertalhaço, tudo desculpa e perdoa. O copianço é um aspecto paradigmático.

Carlos Sério disse...

Vivemos numa democracia cada vez mais medíocre e limitada.
Depois da manifestação dos professores contra as medidas do ministério da Educação que colocou na rua mais de dois terços desta classe profissional, a insistência nas propostas da ministra, e a confiança que Sócrates nela reitera, revelam a natureza autoritária e antidemocrática de Sócrates e do seu governo e a pobreza e a má qualidade da nossa triste democracia.
Compreende-se contudo, a insistência, o não recuo, deste projecto educativo que, a todo o custo, o governo quer implantar. Trata-se na verdade de uma “mudança” na Educação, como Portugal não via desde que se “democratizou”, e que Sócrates não se cansa de repetir sempre que é entrevistado. Uma triste, uma lamentável “mudança”, mas segura e inequivocamente uma profunda mudança. A mudança da Escola Pública, solidária, humanista, universalista, plural, critica, emancipadora, comprometida com a realidade social que a rodeia, para uma Escola de Mercado, pseudo democrática, pseudo moderna, que procura impor uma visão da educação como se de uma mercadoria se tratasse, esvaziada de conteúdo social, tecnicista, desumanizada, onde os problemas sociais, económicos, políticos e culturais da educação se convertem em problemas administrativos, técnicos, de reengenharia. Um “novo projecto educativo” que utiliza a Educação como veículo, com o papel estratégico de transmissão das ideias que proclamam as excelências do livre mercado.
Onde a acção do Estado se reduz a garantir, apenas, uma educação básica geral e o extremo individualismo nele exaltado se manifesta contrário às políticas democráticas de participação e compromisso com a realidade social.

Trata-se na verdade de uma profunda contra-revolução cultural e educativa, uma profunda reforma ideológica da sociedade.

Ao mesmo tempo que se desvalorizam e humilham os serviços prestados pelo estado na sua função social, os serviços do sector público, a escola pública, os professores são acusados de preguiçosos e de lutarem por interesses meramente corporativos.
O que irrita e preocupa verdadeiramente os nossos governantes é que os professores assumem um papel de intelectuais transformadores, tratam os seus estudantes como agentes críticos, questionam a produção e a distribuição do conhecimento, utilizam o diálogo, e tornam o conhecimento crítico e emancipador.

Os professores tornam-se perigosos porque estão intimamente ligados à produção, fornecendo aos estudantes técnicas, conhecimentos, atitudes e qualidades pessoais que são expressas e utilizadas no processo produtiva empresarial. Os professores são os guardiães da qualidade da força de trabalho. Este potencial, este poder latente que têm os professores é a razão porque os governantes tanto se preocupam com o seu papel.
É que o “novo projecto educativo ” neoliberal exige que seja assegurado que as escolas produzam trabalhadores eficientes, submissos, ideologicamente doutrinados e adeptos do livre mercado.

Neste sentido, a Educação, torna-se no sector público mais fundamental e indispensável à concretização da reforma ideológica da sociedade, da reforma cultural da sociedade, da implantação do projecto social do neoliberalismo. Por esta razão não haverá recuos nem mudanças de ministros. O sector público da Saúde não atinge minimamente a importância que à Educação é exigida na implantação e consolidação do modelo social neoliberal.

Anónimo disse...

Caro ruy,

a passagem da escola pública para a escola de mercado é exectamento o quê? a privatização das escolas? isso deve ser um negócio de milhões!!!

Tonibler disse...

Caro agitador,

Hoje a educação é um negógio de milhões, cerca de 6 mil milhões, consumidos por interesses privados, os dos professores. Privatização das escolas é a alteração da gestão e distribuição desses 6 mil milhões de forma a que produzam educação, que é o que não acontece hoje.

Caro ruy,

Quando li "Escola Pública, solidária, humanista, universalista, plural, critica, emancipadora, comprometida com a realidade social que a rodeia" quase me esqueci do ridículo sistema que produz semi-analfabetos com exames cheios de erros. Boa piada.

Bartolomeu disse...

Agradeço e retribuo o abraço que me envia caro SC.
Apesar de em alguns pontos as nossas opiniões não serem concordantes, quero que saiba, muito sinceramente que considero as suas tão válidas quanto as minhas. Apesar disso, gostaria que considerasse o facto da possibilidade de acesso ao ensino nos tempos anteriores ao 25 de abril, como fruto de uma conjuntura à qual o meu caro SC escapou, precisamente porque teve a sorte de ter um pai com uma visão diferente. Nessa conjuntura existiam elementos limitadores tais como a cultura que valorizava a mão-de-obra, em deterimento da formação intelectual. Foi isso que ditou um povo de emigrantes apreciados no estranjeiro pelo seu espírito lutador "desenrrascado", esperto, mas não inteligente, não culturalmente inteligente. Concordo que o estado novo, fomentava este "estígma" e reservava o ensino superior para as elites. Mas não consigo concordar que tenha sido o 25 de abril a inverter estas tendências.

Anónimo disse...

Perdoem-me o atrevimento mas assacar como coisa boa do 25 de Abril a escolaridade só pode ser uma piada de mau gosto.

Por um lado, e já o Bartolomeu focou, o presidente do conselho vinha trabalhando no sentido de ampliar a abrangencia territorial das escolas e essa aconteceria com abrilice, sem abrilice, muito provavelmente melhor até sem os tumultos e balburdias causados pela revolução, tal como várias outras coisas. Sem abrilice Portugal teria acabado por ter uma transição calma e pacífica e, dada a evolução que Marcello Caetano fez na União Nacional (ou ANP), o grande obstáculo a isso, o presidente Thomaz, desapareceria de cena em 1975, enfim, tudo fluiria naturalmente como fluiu em Espanha. Mas isto são contas de outro rosário.

Agora, se há coisa que o 25 de Abril fez e logo na altura, foi dar uma valentissima machadada no sistema estruturado de ensino que tinhamos em Portugal. A bem de um absurdo igualitarismo acabaram-se com os cursos industriais e comerciais que eram verdadeiras escolas de saber prático para aqueles que não tinham capacidades para seguir os estudos universitários. Evidentemente que as escolas profissionais foram recriadas anos mais tarde por evidentissima necessidade de existirem.

E daí seguiu-se com o desmantelar da reforma Veiga Simão que de um produto com pés e cabeça, com principio, meio e fim, que atendia e viria a atender às necessidades das pessoas e do país passou-se para uma manta de retalhos onde as coisas que não estavam em consonancia com o pensamento vigente foram cortadas, as outras adaptadas e ficou-se com um sistema desconexo e que deixou de dar resposta aos cidadãos, às suas capacidades, aos seus anseios. A coberto de uma pretensa "igualdade de oportunidades" o que aconteceu foi um nivelamento contra-natura - por não levar em conta a natureza humana - que tem tido a sua máxima expressão nos últimos 15 anos. Confunde-se igualdade de oportunidades com igualdade de capacidades e portanto adequam-se os programas às mais baixas capacidades, desperdiçando um potencial humano imenso de caminho. Alguma alma iluminada meteu na cabeça - e a corrente não é Portuguesa, é europeia - que todos haviam de ter o 9º ano. Não importa se têm capacidades para isso, se podem apreender os conteúdos formativos desse nivel de ensino. O que interessava era ter o diploma do 9º ano, e aquele 9º ano, nada de devaneios, programas alternativos de caracter técnico ou tecnológico. Escolinha igual para todos, quer tenham um QI de 60, quer tenham de 150. Ora, como nem todos têm as capacidades intelectuais, pessoais, de trabalho, para esse fim, vá de baixar o grau de exigencia, ou seja, mesmo aqueles que têm capacidades de trabalho e intelectuais ficam com as pernas cortadas ao não lhe serem estimuladas na infância e adolescência essas capacidades. Mais um caso de nivelamento por baixo. A seguir fez-se o mesmo ao ensino secundário, do 10º ao 12º, para que cada vez mais pessoas possam ter o 12º ano. E eu nem imagino quando a escolaridade for obrigatória até esse ponto.

Ou seja: aquilo que é uma coisa muito certa e um objectivo muito valoroso, permitir a todos as hipoteses de estudar e aprender, tornou-se numa máquina de formar imbecis porque o objectivo passou a ser "levar todos até ao fim da escola nem que seja ao colo" e de forma totalmente cega. E cada vez mais, infelizmente. De que me serve exibirem-me um diploma do 12º ano se os conhecimentos efectivos correspondem a muito menos?

De caminho, o fim das escolas industriais e comerciais, arruinou as hipoteses de muitos para terem uma educação formal em serralharia, carpintaria, canalização, enfim, toda uma panóplia de profissões tão necessárias como as outras que foram acabando. Uns anos depois recriaram-se e hoje em dia já vão andando em velocidade de cruzeiro mas perderam-se décadas, saber, experiencia no processo que, claro, levaram o seu tempo a reaparecer.

Por tudo isto, contribuição da abrilice para a educação em Portugal? Sim, sem dúvida. Contribuição para o enterro da educação em Portugal. Criação de um sistema cego e que não vê as pessoas enquanto pessoas mas sim como manadas que têm que chegar ao fim do percurso não importa como.

Isto tudo seria algo levezinho se não tivesse implicações gravissimas no nosso futuro colectivo. É que a educação não é um fim em si próprio. É um meio para atingir um fim. E o objectivo é, precisamente, ter os cidadãos o mais bem preparados possivel, usando as suas capacidades o melhor possivel para sua satisfação pessoal e da sociedade.

Anónimo disse...

Prof. David Justino
Compreendo o seu estado de espírito e como tal não vou opinar mas sim dar o meu testemunho. Vem a propósito dos Jesuitas e dos anos após a revolução. Espero que sirva para alguns confirmarem as suas convicções e outros para as alterarem.

Iniciei a minha escolaridade num colégio de Jesuitas exactamente no ano da revolução. Hoje tenho 3 filhos.

O que recordo com mais clareza são 3 praticas (que considero 3 pilares do ensino daquela escola) sobre as quais deixo os cometários aos entendidos:

1. - quando o Prof entrava na sala de aula todos os alunos se levantavam - respeito pelo Professor, pelos mais velhos, pelo próximo;

2. - nas aulas de formação humana, dadas pelo Prof Director de turma, discutiamos variados assuntos, sempre com grande participação dos alunos - política, criticas aos métodos de ensino de alguns Professores, religião, sexo, ... - espírito critico

3. o desporto de grupo estava muito presente e a organização do mesmo era muitas vezes assumida pelos Directores de ciclo - relacionamento, competitividade, equipa

Bartolomeu disse...

:))
Queridos amigos, identificados que estão, pelos diferentes e claríssimos comentários expostos, gostaria de propor-lhes uma reflexão. Gostaria que tentassem enquadrar os problemas relacionados com a educação, as suas causas e efeitos, em outros campos, sociais, económicos e políticos (excluo os religiosos).

Pinho Cardão disse...

Ora aí está, caro Agitador!...

Carlos Sério disse...

O termo qualidade total aproxima a escola da empresa. Em outras palavras, trata-se de rimar a escola com negócio. Mas não qualquer negócio. Tem de ser um bem-administrado. O raciocínio neoliberal é tecnicista. Equaciona problemas sociais, políticos, económicos como problemas de gerência adequada e eficiente ou inadequada e ineficiente. Por exemplo, ao comparar a escola pública de primeiro e segundo graus à escola particular, a retórica neoliberal diz que a qualidade da primeira é inferior à da segunda porque a administração da escola pública é ineficaz, desperdiça recursos, usa métodos atrasados. Não leva em conta a diferença social existente entre ambas, nem a magnitude do capital económico de cada uma. Assim, a noção de qualidade traz no bojo o tecnicismo que reduz os problemas sociais a questões administrativas, esvaziando os campos social e político do debate educacional, transformando os problemas da educação em problemas de mercado e de técnicas de gerenciamento Com as novas tecnologias de informação comunicação, a educação escolar vai para o mercado, seja via financiamentos de pesquisa, marketing cultural, educacional, da mesma forma que com as técnicas de reprodutibilidade do início deste século, a arte foi e ficou no mercado. No fundo, ambos os processos são apenas desdobramentos de um processo maior, o de racionalização ou "desencantamento do mundo", analisado por Max Weber, em que qualquer coisa pode se tornar uma mercadoria.

crack disse...

Prezado Professor David Justino
É uma muito agradável surpresa encontrá-lo de novo por aqui, muito mais com uma nota sobre a educação do nosso assumido descontentamento. Felicito-o pela coragem que representa este escrito, mesmo estando ele relativamente «protegido» pelo recurso à reflexão e sábias palavras de quem, tanto pelo tempo, como pela etérea «presença», é já inquestionável. E, tal como leio o que escreveu (e é o Professor que tão frequentemente nos relembra a escravatura a que as nossas palavras nos submetem), não deixo de descortinar a indicação de um caminho, o único que me parece possível, no caos a que a insensatez de tantos conduziram todos nós, os «achadores» inconsequentes.
Explicando: permitindo-me eu também o tão apreciado exercício do «acho que», direi que me parece ser hoje relativamente despiciendo tentar falar de educação espartilhados pelas baias com que este governo, esta ministra, os pais, os professores e a comunicação social nos querem limitar o pensamento. Ao menos, nisto concordam todos. No consulado Sócrates/Maria de Lurdes Rodrigues a questão educativa resume-se à guerrilha e ao soundbyte em torno do que uns chamam direitos, outros deveres, todos em nome de uma vaga finalidade de reformar a Escola, o que nem uns, nem outros sabem exactamente o que é, ou deve ser, para além de medidas avulsas com a obrigação mínima de fazer o espaço educativo atingir os indicadores estatísticos que arranquem o país da lista dos piores, e justifiquem, aos néscios, as boas «políticas», que resultam bem na fotografia da propaganda governamental. Percebo que esta opereta que nos vêm servindo mantenha amainados os ímpetos daqueles que ainda conseguiam entusiasmar-se com «Obra» a fazer em prol da Educação em Portugal, ausência de esperança que não partilha, quando assume uma «inquietude incorrigível de que não» (se consegue) «libertar». E quando falo na esperança que lhe conheço e me parece ver ainda intacta em si, vou atrás do que muito claramente aponta como não estando a ser feito, sendo imperioso que se faça – contrariar o senso comum com a leitura, o estudo, o trabalho rigoroso, que conduza a opiniões fundamentadas sobre os problemas da educação.
Porque é grave que as questões educativas estejam no domínio da conversa de café, tenham caído na rua e se arrastem ao sabor do «Ibope» da ministra e do governo, também eu «acho que» é tempo de inventariar as medidas postas em prática pela equipa da educação, analisar uma a uma, obter indicadores isentos do ruído da propaganda, ou da berraria corporativa, estudar e avaliar resultados, perspectivar tendências e consequências no médio e longo prazo, enfim, avaliar no que se traduz a acção desta ministra, de forma objectiva, séria e descomprometida. E, depois, perante as conclusões, então falar, e agir. Por enquanto, como exemplar e subtilmente nos relembra, restam-nos as palavras dos antigos, mas, na forma como a interpreto, com esta sua nota pretendeu também dizer-nos que essas palavras, por mais adequadas que nos pareçam aos dias de hoje, não bastam, não podem bastar, para quem tem o dever de construir o futuro. E esse é um dever de que cada um de nós não pode pedir escusa.

regina disse...

As mesmas leituras. Bom trabalho.

http://abnoxio.weblog.com.pt/

Professor Justino gostaria que se pronunciasse sobre o novo modelo de avaliação nascido em Janeiro e para implementar já este ano.

Unknown disse...

depois de ter lido os diferentes comentários acerca do artigo do Professor David Justino só posso concluir que todos são oriundos de gente com um elevado índice de inteligência de de grande conhecimento do sistema educativo português.
Desde um ex-ministro, por sinal foi substituído, que retalhou a reforma proposta pelo governo PS a uns quantos outros que manifestamente desconhecem que ao longo destes anos todos têm existido reformas e contra-reformas, consegui perceber como é que este país tem sido desgoverbnado em todas as linhas e campos. São todos amigos, companheiros concerteza e, embora ,de cores diferentes jantam todos à mesma mesa trocando galhardetes entre si.
Não há país que resista!
Não há bolsa que aguente!
Não há ensino que "ensine"!
Não há gente "séria", qualificada e competente que nos governe neste rectângulo mal frequentado.
Uma professora por opção!

Maria Lisboa disse...

E se começássemos por achar que a escola para todos não é apenas um direito para quem dela usufrui, mas também o cumprimento de um dever face à sociedade que a disponibiliza?

Como ninguém parte deste princípio, alunos e famílias sentem-se no direito de exigir, mas não no dever de dar nada em troca.

Quando for, socialmente, possível exigir atenção, comportamentos adequados, interesse e participação na aula, estudo e trabalho de casa, ida aos apoios disponibilizados nas escolas (a que os alunos faltam constantemente) peçam satisfações aos professores.

Quando a escola for socialmente valorizada como local de aprendizagens e não como local onde se colocam as crianças, sem que se lhes possa exigir trabalho (porque os "meninos" se cansam muito) peça-se satisfações aos professores.

Pode-se castigar os professores introduzindo mil e um diplomas: em que se preveja avaliação exaustiva do cumprimento dos seus conteúdos funcionais; em que se sobrecarregue o professor com montes de aulas de apoio, de substituição, de projectos de escola, de elaboração de relatórios para desmotivar as retenções, de reuniões de trabalho; em que se institua a figura de director para funcionar com um papão; em que se pretenda criar conselhos de escola que passarão a gerir toda a actividade escolar incluindo a pedagógica subordinando-a à administrativa, que os resultados reais, respeitantes ao insucesso, não se modificarão, mesmo que as estatísticas se alteram.

Enquanto não for decidido socialmente que cidadão se quer que a escola forme, enquanto não forem revistos os conteúdos necessários à formação desse cidadão; enquanto não for implementada uma diversificação para aquisição desses conteúdos, dando possibilidade aos alunos/famílias de escolha de vias diferenciadas para a sua formação (a maioria não quer ser “doutor” e o ensino está todo vocacionado para essa via); enquanto a sociedade não deixar de desculpar o aluno, considerando-o como uma vítima, e não como um agente activo no seu processo de aprendizagem; enquanto se tentarem implementar reformas em cima de reformas sem que qualquer delas seja aferida e avaliada (ainda não acabámos de implementar uma, já outra está a surgir – não há escola que aguente); enquanto não houver um “pacto de regime no âmbito da educação” que permita uma continuidade do trabalho, independentemente do governo/ministro que de momento governa o país; enquanto não se parar de fazer reformas enrolando sempre o sistema sem se tratar do núcleo principal… enquanto não se parara para pensar qual é mesmo o problema, não haverá resultados palpáveis em educação. Não haverá professor que consiga resultados, a não ser que trabalhe em escolas com determinadas elites sociais

Quando se compara com outros sistemas, convém analisá-los para perceber quais as diferenças e não importar fatias para implementar num sistema que nada tem a ver com os outros. Um sistema é um sistema porque constitui um todo… não pode ser remendado!

Desculpem-me "achar" tanta coisa, mas estando no terreno (ainda por cima num "terreno acidentado") e não nos gabintes "acho isto tudo"!

Maria Lisboa disse...

Errata:
linha 18 - alterem
linha 30 - parar
linha 38 - gabinetes

David Justino disse...

Meus caros, estou impressionado com a profusão e a qualidade dos comentários no 4R.
Mas mais impressionado estou com a forma como uma jornalista do SOL (versão digital) divulgou o que eu escrevi. Como se não chegasse, os comentários que se seguem à notícia são delirantes.
Há quem não consiga ver para além da polémica estéril, se apoia ou não apoia a reforma, se está contra ou a favor, se quebrou ou não quebrou o silêncio - bastaria consultar este blog, ir às muitas conferências que tenho feito por todo o país, aos vários artigos que tenho escrito - enfim, até tomam como minhas as palavras do Oliveira Martins.
Isto é tudo tão poucochinho!

PA disse...

Caro Prof. David Justino, a importância crescente dos blog's:

http://www.deugarte.com/wp-content/plugins/flash-video-player//video.php?peli=blogs

Tino disse...

Dr. David Justino

"Poucochinho", mesmo "poucochinho" foi o que V.ª Ex.ª fez quando esteve como Ministro da Educação.

Foi sem dúvida o ministro mais consciente da realidade do nosso sistema educativo nas últimas três décadas. Mas, prisioneiro da infernal máquina de iluminados que incessantemente se reproduzem na 5 de Outubro e cativo de algumas funestas concepções sociologistas da educação, vertidas no famigerado "eduquês", pouco ou nada fez V.ª Ex.ª, perdendo-se a última grande oportunidade de extirpar o tumor que vai minando a débil saúde da Pátria...

Pouco importa que estas preocupações sejam recorrentes. O País vegeta há séculos em lugar de medrar.

Continuar a olhar para as repetições da história sem cuidar de fazer progredir o País é cair na espiral de decomposição e de putrefacção da qual está a ser impossível sair..., dando azo a que daqui a mais 100 anos se continuem a repetir as mesmas palavras em lugar de se elogiarem as obras que urge fazer agora...

josé ricardo disse...

Exmo. Sr. e ex-ministro da educação David Justino,

li o seu texto e não posso deixar de concordar com ele. Com efeito, é tudo tão decorrente nestas coisas da educação. Decorrente até nas reformas e contra-reformas que nos últimos trinta anos PS e PSD têm vindo a realizar com especial premência.

http://www.rescivitas.blogspot.com/

António Correia Nunes disse...

Excelência, apresento-lhe um ponto de vista sobre alguns dos problemas que enfrentam os psicólogos do SPO's do ME: Gostaria que a Senhora Ministra da Educação também defendesse que a avaliação por pares é o melhor método para avaliar psicólogos escolares, principalemente quando existem psicólogos coordenadores que não participam nela. Mas já ficaria feliz se fosse apreciado o parecer negativo à nossa agregação às quotas do Pessoal Auxiliar e Técnico-Administrativo, para efeito de avaliação de desempenho. Quantos de nós, a nível nacional, irão obter a classificação de excelente e consequentemente poder progredir na carreira?! Pedir-lhe ainda para aceder à Inspecção de Educação ou a Dirigente Escolar já me parece utópico. Mas talvez possa regulamentar o apoio administrativo previsto desde 1991e a licença sabática prevista desde 1997, ou concretizar as parcerias de investigação com as Universidades, ou de abrir um concurso de mobilidade geográfica desde 2004, ou de progressão na carreira desde 2005... Grato pela atenção.
Ant.º Correia Nunes
http://debaterspos.blogs.sapo.pt

Unknown disse...

Outra com barbas...

Finalmente uma boa descrição da actualidade...
" Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...)

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam na vida publica em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na politica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do pais, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, - como da roda duma lotaria. A justiça ao arbítrio da Politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;

Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"


Guerra Junqueiro, in "Pátria", escrito em 1896

Arrebenta disse...

Custou, e teve de ser espicaçado: Lurdes Rodrigues, também conhecida pelo Tumor da Educação, não é incolumemente que pode continuar a pairar, como se levitasse, sobre um país que a ostracizou completamente.
Lurdes Rodrigues, a coveira do Ensino Público, e não por acaso, tem duas muletas muito especiais, os dois homens que mais descaracterizaram Portugal, e o remeteram para a cauda dos 27. Os seus nomes são José Sócrates e Aníbal Cavaco Silva. No primeiro, votei por engano; no segundo... "jamais".

Pinho Cardão disse...

Reproduzo parte do comentário que deixei no início da discussão:
"...Não creio que, no seu tempo, Oliveira Martins tivesse falta de razão.
E também não creio que, nos tempos de agora, haja falta de razão..(para criticar o ensino)...
Ou então a educação não tem nada a ver com o nosso atraso...
E é o Ministério da Educação melhor agora do que nos finais do século XIX?

Daniel Rocha disse...

Caro Professor,
tenho um grande amigo que costuma dizer que "há por ai muitos doutores que não fizeram a 4ª classe"! Até podem ser excelentes especialistas em alguma área, mas no que concerne a civismo e humanidade, estão ao nível do 1º Ciclo.
Então, pergunto: o que entendemos nós por exigência? O que se deve exigir aos alunos/cidadãos de hoje?
Era bom que chegássemos a um consenso quanto ao essencial do curriculum a trabalhar com os alunos, pois as perspectivas são díspares.
Depois, devemos discutir qual a organização escolar e os meios necessários (materiais e humanos) para desenvolver esse curriculum.
Não tenho dúvidas de que há muito a alterar nas escolas, mas também não vejo que seja a " imparável veia legisladora" de uma equipa ministerial que vai alterar a situação de um momento para o outro, como se quer fazer crer.
Muitas medidas economicistas que se têm tomado não são promotoras de boas soluções para os problemas actuais. Dou o exemplo dos Agrupamentos e "Mega-agrupamentos". Não são definitivamente uma boa medida. É necessário investir seriamente na educação. Precisamos de redefinir os ciclos de ensino e adequar a organização das escolas a essa realidade.
Mais do que nunca, é necessário humanizar a escola. Isto só se consegue com comunidades educativas pequenas, onde possa haver proximidade e afecto entre todos os elementos que a constituem.
Os actuais alunos portugueses não são menos capacitados do que os seus congéneres europeus, nem os actuais professores são menos competentes!
Possibilite-se uma verdadeira autonomia (livre da estrutura taylorista que ainda caracteriza as actuais escolas) e veremos o seu profissionalismo dos professores e as competências dos alunos portugueses.

Arrebenta disse...

Eu fui aos recortes de jornais e encontrei por lá um ex-vereador do Isaltino transformado em Ministro da Educação.
Não acredita?...
Procure no "Google"...