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quinta-feira, 10 de abril de 2008

FMI: já não entende a economia portuguesa?

O FMI divulgou ontem previsões de crescimento da economia portuguesa que são absolutamente surpreendentes por muitas e variadas razões.
Com efeito, prevê o FMI que a economia portuguesa cresça apenas 1,3% em 2008, abaixo da média da zona Euro (1,4%).
Como é possível o FMI por em causa uma taxa de crescimento de 2,2%, que sabemos absolutamente garantida - constitucionalmente garantida - e para a obtenção do qual as agências de comunicação tanto têm trabalhado e vão continuar a trabalhar, de forma patriótica, quase sem remuneração como sabemos (recebendo apenas o estritamente necessário para o magro sustento de suas famílias)!
E como é possível o FMI vir questionar a também patriótica previsão/garantia há 2 dias oferecida pelo Gov/BP em memorável declaração na C. C. Luso Britânica, de um crescimento nunca inferior ao da zona Euro e provavelmente superior ao da zona Euro...
Algo de errado se passa no FMI, mas afigura-se ser algo de muito grave.
Parece que esta grande Instituição (não confundir com o SLB) deixou de ter os pés assentes na Terra e provavelmente se encontra a levitar ou terá mudado a residência para outro planeta.
Não sei – e nem me interessa – o que é que o mesmo FMI prevê acerca da inflação em Portugal para 2008...provavelmente uma taxa superior a 2,1%...
O FMI não é certamente capaz de avaliar as vantagens do controlo da inflação por decreto - da protecção jurídica da inflação contra o assédio imoral dos preços - assegurando às populações um bem estar estatístico e abstracto capaz de as compensar dos malefícios da subida dos preços dos bens que por deformação consumista são obrigadas a adquirir...
Para culminar a sua heresia sobre a nossa economia, o FMI chama a atenção para o aumento do défice externo...
O FMI ainda não entendeu uma lição magistral proferida em Fevereiro de 2000 em Portugal, segundo a qual discutir o défice externo deixou de fazer qualquer sentido a partir do momento em que aderimos ao Euro...é a mesma coisa que falar do défice externo do Mississipi...
Que interessa o endividamento externo?
Que importa o País endividar-se até “à ponta dos cabelos”?
Se essa dívida é agora expressa na nossa própria moeda, o Euro, é evidente que já não temos necessidade de a pagar...os credores externos não têm qualquer interesse em receber como facilmente se percebe!
O que iriam eles fazer com esse dinheiro se nós estamos dispostos a pagar-lhes um juro mais elevado?!
Se este ano mais de 5% do PIB vão ser aplicados no pagamento de juros e rendimentos ao exterior e o défice corrente vai ultrapassar 10% do PIB, os credores devem sentir-se imensamente felizes...
Será que o FMI já não entende a economia portuguesa?
Razão têm as nossas autoridades para dizer que as previsões do FMI são inconsistentes...

14 comentários:

Pinho Cardão disse...

Caro TMoreira:
Cambada de reaccionários capitalistas!...Boicotam e atentam contra a economia nacional e os sagrados direitos do governo portugês!...
Levam a cabo uma perniciosa campanha de desinformação!...
Nacionalize-se o FMI, já!...

Tonibler disse...

Caro Tavares Moreira,

Quero, desde já, mostrar toda a minha solidariedade com o governo português por causa de mais este ataque imperialista à economia nacional. Não bastavam já os anos em que tivémos de defender as nossas províncias ultramarinas das gulosas garras dos americanos, para agora virem a pôr em causa a nossa estabilidade económica lançando sobre os agentes económicos dúvidas sobre as nossas capacidades, tão bem descritas por Sua Exa. o Sr. Governador do Banco de Portugal. Este, não sabendo exactamente o crescimento (também, quem é que pode antecipar o futuro? ...) sabia, com certeza, que somos melhores que os nossos vizinhos e, por isso, poderíamos crescer pouco, mas crescíamos mais que os outros. Imagino que, não só porque somos mais bonitos e lavadinhos, mas porque tal já havia sido dito por Suas Exas. o Sr. Ministro da Fazenda e o Sr. Presidente do Conselho.
Por mim, era já expulsar dois ou três diplomatas dessa corja de meliantes...

António de Almeida disse...

-Terá passado despercebido ao dr Tavares Moreira, que os srs do FMI ainda não foram contratados como tarefeiros do Banco de Portugal? Li algures, que o caminho aponta para a redução da carga fiscal, ou para o aumento da despesa pública. Será necessário recorrer ás previsões do prof. Karamba, para adivinhar a opção do governo?

Figura de Estilo disse...

Parabéns pelo trabalho desempenhado no blog!

CCz disse...

Caro TM;
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Como Portugal é uma pequena economia, até que ponto o Homem Gordo poderá fazer milagres? Se a AutoEuropa fechar, qual o impacte? De certeza que se notaria a diferença nas estatísticas. Em Novembro bastou a TAP comprar uns aviões e logo os patos do costume embandeiraram em arco ...
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Será que o Governo está a contar com o efeito do Homem Gordo? Até que ponto o Governo, à conta de obras públicas mastodônticas, pode ganhar uns pontitos no PIB, e enganar os papalvos?

André Tavares Moreira disse...

Há algo que me inquieta um pouco. Para o governo os dados da OCDE servem mediante o relatório. Se for para elogiar os resultados da educação são altamente credíveis, se for a nivel económico a OCDE não está a ver bem. Em tempo de pré-campanha é necesário um pouco mais de senso.

Muitos já se terão esquecido do prometido choque fiscal ( que acabou por subir o IVA em 2%) ou do choque tecnológico ( começou a 2ª fase e as pessoas perguntam-se pela primeira).

Explicação? S. Bento saberá. Não me resta senão dizer que este governo é autista.

Tavares Moreira disse...

Caros Pinho Cardão e Tonibler,

Associo-me à vossa justa indignação face a este atentado ao orgulho nacional, perpretado pelos FMI's e seus acólitos.
E proponho-lhes que organizemos uma manifestação de desagravo, juntando todas as forças partidárias conhecidas e desconhecidas, desde a Front Nationale até ao Blogue de Gauche.
Local proposto para o evento: Adega Regional de Colares, símbolo de valores lusos e espaço suficientemente amplo (maior mesmo que o do Pavilhão do Académico do Porto onde couberam 70.000 patriotas há poucos dias)- e especialmente muito conveniente para Pinho Cardão!

Tavares Moreira disse...

Caro Antonio de Almeida,

Se não estou em erro, o Prof. Karamba já trabalha como avençado da governação lusa para dar mais consistência à previsão económica...mais um pobre infeliz a recibos verdes!

Caro CCzed,

A tentação de realizar despesa a todo o vapor, em ordem a compor as estatísticas deve ser enorme...os resultados, a prazo, serão trágicos, mas pouco importa!
Bem lembrada a história dos aviões, cuja compra ajudou ao "pulo" do investimento no 4º trimestre de 2007...excelente investimento esse da compra dos aviões...para quem os exportou, claro!

Caro André,

O "autismo" de que fala assume agora uma modalidade altamente sofisticada: só se podem fazer previsões depois de conhecidos os dados, anunciou hoje o PM...mais uma para o FMI aprender, se quiser fazer previsões sobre a economia portufuesa para 2008, que venham cá em 2009...
Magnífica essa ideia, aliás na esteira do antigo internacional e capitão do FCP João Pinto (não confundir com João Vieira Pinto que se celebrizou na Instituição e depois mudou-se para o SCP) o qual interrogado acerca do prognóstico para determinado desafio que ia disputar, respondeu que prognósticos...só no fim!

CCz disse...

Caro TM,

Eu sei que um blogue não é uma mercearia onde as pessoas se possam dirigir a pedir algo. No entanto, arrisco... Lembrei-me do seu post de 25 de Março "Contas externas: implacável detector de mentiras" quando ia a meio deste artigo sobre a Islândia no "The New Yorker", sei que a Islândia é uma micro-economia com uma moeda que não o euro, mas até que ponto o que lhes aconteceu, com a queda do céu em cima, nos pode vir a acontecer a nós por cá?

http://www.newyorker.com/talk/financial/2008/04/21/080421ta_talk_surowiecki

Tavares Moreira disse...

Caro CCzed,Tentando modestamente responder à questão suscitada, tenho a noção de que o problema enfrentado pela Islândia é típico de um País credível, com moeda própria e que terá cometido alguns lapsos de política económica.
A grande diferença em relação a Portugal está no facto de ter moeda própria e...serem mais facilmente perceptíveis os lapsos cometidos...
Tivesse a Islandia cometido lapsos de política semelhantes aos que cometemos nos últimos 12 anos...e talvez implodisse!
No nosso caso o Euro funciona como anestésico...permite que continuemos a beber para evitar a ressaca...
Novas pontes, auto-estradas de utilidade marginal cada vez mais baixa, novo aeroporto, TGV, novos hospitais...aí está a receita para evitar a ressaca...só que o doente nunca mais se cura, a situação tenderá para um coma final, profundo.
Na Islândia, sem a protecção do Euro, são obrigados a deixar de beber,tomam medidas radicais para combater (não evitar)a ressaca.
Espero não ter sido pouco confuso nesta explicação...

CCz disse...

Caro TM,

Agradeço a atenção,

A minha preocupação é outra. Há anos que os bancos portugueses se endividam ao exterior, para emprestar internamente. Até que ponto os financiadores, nesta tormenta de "credit crunch", podem cortar o financiamento futuro e "exigir" o pagamento das dívidas actuais?

"So how did Iceland get in so much trouble? That’s the odd part of the story: it isn’t because its banks gambled on the worthless subprime securities that helped undo Bear Stearns and so many others. Iceland’s banks prudently avoided the subprime market, even as they embarked on a lending boom at home and expanded abroad. What got Iceland in trouble was something more subtle: its banks got their money primarily from international investors, making the Icelandic miracle heavily dependent on foreign capital.

In normal times, this might not have mattered, given the country’s solid economic fundamentals. But these aren’t normal times. The subprime crisis, in which investors realized that they had greatly underestimated the risks of lending to people with bad credit, has spawned a wider credit crunch: investors now suspect disaster behind every door, and even seemingly solid borrowers find credit much harder to come by. The subprime crisis was an earthquake that caused a tsunami: the quake has done plenty of damage on its own, but the tsunami looks set to do even more.

Iceland has been swamped by that tsunami because it trusted in the availability of global credit in time for that credit to evaporate. And the fact that Iceland has been so dependent on foreign investors makes those investors even more skittish about investing there: in markets, weakness often begets weakness. Further, the country’s troubles have made it a potential target for speculators seeking to drive down the value of its currency and perhaps cause a run on the banks."

Tavares Moreira disse...

CCzed,

Permita-me reiterar que a questão é essencialmente a mesma: elevada dependência do financiamento externo, no caso da Islândia talvez mais sob a forma de investimento directo, mas também sob outras formas de financiamento por dívida - no nosso caso muito mais endividamento, agora tornado mais difícil já se percebeu...
A crise de confiança que abalou os mercados tornou os países com moeda própria muito mais vulneráveis: se o velho Escudo ainda fosse a nossa moeda, nem era preciso chegar à situação de dependência financeira externa em que nos encontramos para ter já experimentado uma crise bem pior do que aquela que afecta a Islândia por esta altura...
É o Euro o nosso "escudo" invisível, que pelos vistos continua a alimentar disparate atrás de disparate,lançando a economia numa agonia lenta mas inexorável...

CCz disse...

Agradeço a paciência e a atenção

Tavares Moreira disse...

Não tem nada que agradecer, meu Caro - mande sempre!
Acrescentarei apenas que para os especuladores cambiais é muito fácil ganhar dinheiro jogando contra a moeda de uma economia pequena como a Islandia...bem diferente é tomar posições de risco a favor/contra uma moeda como o Euro, que nenum operador, por maior que seja, consegue influenciar...
Daí a necessidade de os países com moeda própria e com uma economia relativamente pequena estarem muito mais expostos aos riscos resultantes de deficiente gestão económica...