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quarta-feira, 16 de abril de 2008

Questão de peso, questão de talento

Como se previra, a discussão sobre as vantagens para a Europa, mas também para o País, do novo Tratado europeu, decorre (quando decorre) no circuito fechado dos partidos políticos. Num simulacro de debate sobre aquilo que os mesmos partidos consideraram já que não depende nem ganha com o debate esclarecido e generalizado: a ratificação do novo modelo institucional da União Europeia.
Segundo se relata do que se terá passado numa dessas úteis conversas familiares, no caso promovida pelo grupo parlamentar do PS, Manuel Alegre considerou, afirmando sem complexos as suas patrióticas preocupações, que com o Tratado Portugal vai perder peso na União e corre o risco de ser irrelevante, enquanto os Estados mais poderosos ganham peso e são cada vez mais relevantes.
Que sim, confirma o Primeiro-Ministro, Portugal perderá peso. Mas ganhará em talento negocial.
Afinal - sabemo-lo agora - à decisão de ratificar aquele concreto tratado presidiu uma convicção socrática, uma lei não escrita: a lei das compensações. Ao deputado Manuel Alegre, o Primeiro-Ministro responde: perdemos peso, mas compensamos com talento negocial.
O talento negocial de Portugal nestas matérias tem força de caso julgado. Revelou-se precisamente na negociação de um tratado que nos torna mais "leves" e, como diz Manuel Alegre, à beira da irrelevância institucional.
Por isso, quanto ao trading ensaiado por Sócrates e ao merecimento do nosso talento negocial, estamos conversados. Não é necessário juntar prova adicional.
Outra coisa seria discutir-se se, com uma Europa a 27 (e com alguns Estados mais a baterem-lhe à porta) poderia Portugal ambicionar a não perder peso ou a passar de uma situação de relativa importância, para a quase irrelevância decisória. Essa sim, era questão que merecia discussão. Não a discussão doméstica entre fieis deputados, adormecidos pela decisão dos directórios partidários há muito tomada, conscientes por isso da sua própria irrelevância no processo. Mas feita pelo Povo, em referendo, em torno do debate no qual todas as forças políticas teriam a indeclinável responsabilidade de justificar o que valem os pesos e o que pesam no futuro de Portugal os talentos negociais dos seus dirigentes.

2 comentários:

Tonibler disse...

Como já disse um dia, eu espero bem que esta coisa da "construção europeia" corra bem para todos. Porque se não correr, vai correr muito mal para alguns e esses alguns são aqueles que decidiram sózinhos.

Ruben Correia disse...

A UE é um primeiro passo para algo mais "abrangente". Desde que as populações sejam mantidas na sua letargia e os seus desejos materiais atendidos, a coisa vai andando conforme o plano. Vejamos o que nos trazem as cenas dos próximos episódios.
Eu partilho a preocupação do tonibler, mas tenho a sensação que o outlook tende para o lado negativo. Há nuvens negras no horizonte, e presságios de fogo...