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terça-feira, 8 de abril de 2008

És tu, sem limites (ou Geração Multitasking)


Este é o slogan da publicidade a um novo “multifunções” destinado a um público-alvo que são os adolescentes e que o anúncio ilustra como se tivessem vários pares de mãos quando estão a manejar o novo brinquedo, para além dos auscultadores no ouvido e o computador aberto à sua frente, em plena agitação de envio e leitura de mensagens com os amigos que estão sentados à mesma mesa…
Começam de pequeninos a gatinhar em direcção aos botões da TV, antes de irem para a escola já saber mexer no DVD e, aos 7 ou 8 anos, quando antes sonhavam com a bicicleta, agora pedem uma consola com todas as especificações e jogos de eleição. E por aí fora, numa evolução vertiginosa que torna obsoletas as novidades de há um mês atrás, comparam os telemóveis, os iPod, os Mp3, os gadgets de toda a ordem, tal forma que se os pais se distraem nem conseguem decifrar a publicidade que anuncia os presentes ideais para o próximo Natal…
Esta nova geração comunica sem limites, navega sem limites, ultrapassa todas as barreiras do tempo, do som e do espaço para ter, na hora, a resposta do amigo, a notícia do outro lado do mundo, o acesso ao livro ou à imagem que só há nos arquivos dos antípodas.
Tudo, aqui, já. A trilogia mágica da nova geração tecnológica.
Sem dúvida que esta destreza na procura e esta acessibilidade sem fronteiras nem constrangimentos lhes dão a possibilidade de, desde muito cedo, procurar sozinhos os temas que lhes interessam, dar largas à curiosidade na medida exacta em que a sentem e quando a sentem e tudo converge para lhes despertar a atenção, para lhes ocupar a mente sem tréguas, em suma, para os manter on line.
No entanto, diz o tal artigo da Time (que cito de cor) este frenesim permanente dificulta o desenvolvimento da capacidade de estar atento, de reflectir ou seja, de ficar preso por mais do que o instante do contacto com o que despertou a atenção. Ora, o cérebro precisa de um segundo nível de atenção para processar o conhecimento, para organizar e memorizar, e este excesso de informação, instantânea e sucessiva, leva à desconcentração. As pessoas acabam por ter contacto com mil e um assuntos que antes nunca saberiam sequer que existiam, reconhecem-nos quando passaram por eles, mas não chegam a reflectir e a transformá-los em “saber”. Há uma superficialidade associada à quantidade e a paciência, a capacidade de esforço e a atenção, inerentes à solidez dos conhecimentos, não chegam a ser desenvolvidas como aptidão.
A grande dificuldade surge quando é preciso que se sentem a ouvir, que leiam um livro ou sigam um filme que ultrapasse o impacto das imagens impressivas, sobretudo quando os programas são standard e não dão margem à liberdade de pesquisa ditada pelo interesse do momento. De certo modo, desenvolvem uma linguagem que dificulta a comunicação no seu sentido mais profundo, o tal segundo nível que obriga o cérebro a ser capaz de produzir um pensamento próprio a partir dos dados que recebeu. A questão não é até que ponto o cérebro consegue responder a estes estímulos, mas sim o que é que estes estímulos vão fazer do cérebro?
O anúncio que agora corre na televisão, e que me fez lembrar o artigo da Time, divulga como imprescindível o acesso a 100 canais, a mil filmes e a mais não sei quantas toneladas de prazeres essenciais para os jovens espíritos sôfregos.
Mil filmes? Centenas de programas à escolha? Por mim, podiam ser um milhão, tenho a certeza de que nunca conseguirei tirar proveito de uma ínfima parte, porque isso de ter mil olhos e mil mãos dá mesmo muito trabalho e exige um treino intenso da atenção. Coisas para outras gerações…

7 comentários:

PintoRibeiro disse...

Estamos mesmo velhos?

Bartolomeu disse...

Tamos nada velhos, ah!... temos alguns anos de vida, comparativamente com o tempo universal... acabámos de nascer.
;)
Desculpe lá a brincadeira, caro Pintoribeiro.
E...caríssima Suzana, parece-nos no entanto, que já nada poderá ser inventado, ou descoberto. Que já tudo atingíu o limite do desenvolvimento. Porém, garante-nos a ciência que o cérebro humano, não está ainda a ser utilizado na sua totalidade, tão pouco na metade das suas potencialidades.
Colocamos hoje a questão que os nossoa avós se colocaram, assim como os avós deles: Até onde é possível chegar o engenho humano?
Na minha forma de observar, entendo o "fenómeno" de uma forma global e sempre fruto do apuramento de um conjunto de capacidades cognitivas mais desenvolvido nas gerações de hoje. A geração que será o fruto desta, será certamente caracterizada pelo que deste processo resultar, esperemos que seja profícuo. Fazendo fé na capacidade de adaptação e evolução do ser humano, será certamente!

Ruben Correia disse...

Excelente post. Pena que a maioria fique embasbacada com a vertigem tecnológica, não vendo para lá da cortina de fumo. É tudo agora, já, on demand, hi-tech...low brain acrescento eu, basta ver o uso que fazem de tanto recurso que lhes é posto nas mãos. Têm uma ferramenta para divulgação de conhecimento como nunca se viu e o que fazem com ela? Qual a mais-valia que tiram para si e para a sociedade?

Anónimo disse...

Cara Suzana Toscano, mas não vivemos nós hoje em dia nos tempos da superficialidade? Da acção sem pensar? Do imediatismo em contradição com o parar para ponderar? Do falar sem pensar no que se vai dizer? Esta miríade de gadgets é mais uma componente desse frenesim em que se vive.

E a geração mais jovem neste momento é a mais obvia representante disso embora não a única porque mesmo a minha e muitos mais velhos se acomodaram a isso. Conseguir que desenvolvam uma ideia, aprendam as suas origens e pensem nas suas consequências é uma tarefa digna de Hércules.

Nada de novo nos últimos 40 anos do planeta Terra! :-))

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Muito interessante o seu texto.
Na verdade, parece-me que a questão central é a de saber se com toda a pafernália inovadora descrita, cada vez mais "infernal", estamos a formar jovens que no futuro tenham as aptidões necessárias para a vida. Será que estão em causa novas aptidões tão ou mais importantes do que aquelas que temos como referência? Será que terão as mesmas condições para serem felizes? Não é afinal o que está em jogo?

jotaC disse...

Cara Dra.Suzana Toscano.
Fica-me a sensação de que este texto foi um fluir frenético e vertiginoso até ao teclado, em que a escrita não traiu o tema.
Permita-me dizer: excelente.
A minha dúvida é se, a velocidade "mach II" a que a informação nos chega, juntamente com as novas tecnologias com novas funcionalidades, necessitam de espaço e atenção para processar o conhecimento?

Suzana Toscano disse...

Caro Pintoribeiro, só estaremos velhos quando deixarmos de tentar compreender, quando decidirmos, sem hesitar, que éramos sem dúvida melhores e que estes pobres high tech são uma geração perdida. Não é com esse sentido que levanto a questão, é com a intenção de analisar, perceber e, claro, procurar ser como eles no que me parece bem e tentar lidar com eles naquilo que me parece mal.Só os velhos é que desistem...Caros todos, um colega meu aproveitou para fazer notar que mesmo nós, a "velhada", já estamos multifunções, é só repararmos na quantidade de coisas que fazemos ao mesmo tempo, tal como eles, a diferença é que entramos um bocado em stress porque temos esta mania de pensar um bocadinho nas coisas, esta velocidade toda, este toca-e-foge ainda nos deixa atarantados, mas lá que evoluimos, isso sem dúvida, digam lá quem é que já anda entretido a decifrar como é que se trabalha com um PDA?? :))