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sexta-feira, 2 de maio de 2008

Sobre a natureza humana…

O “monstro de Amstetten”! É assim que passou a ser conhecido o homem que sequestrou a sua filha, que a escravizou sexualmente, a quem fez sete filhos, os seus próprios netos, cujas vidas condenou sem dó nem piedade.
Como é possível uma tamanha monstruosidade? Como é possível tamanha maldade? Como é possível tamanho horror? Como é possível que um ser humano seja capaz de actos tão brutais, tão miseráveis?
Como é possível tanta “inteligência” ao serviço de tanta crueldade?
E como é possível tanta coisa junta sem que aparentemente alguém, pelo menos as pessoas mais chegadas, durante pelo menos 24 anos, o tempo que durou o sequestro e a tortura, não tivesse reparado ou suspeitado?
Não consigo ir além de me perguntar e aos outros “como é possível”? Mas será que alguém tem possibilidade de ter uma resposta?
Percebo a dimensão de todo este horror, mas confesso a minha impotência para o imaginar. E de me imaginar na pele do “monstro”, perguntando-me como e onde é possível ir buscar tanta energia para tanta perversão? E de me imaginar na pele daquela mulher, perguntando-me como conseguiu sobreviver?
O que podemos fazer perante uma tal tragédia? Não há solução para tanto mal! A nossa própria natureza humana não nos permite imaginar ou suspeitar que tamanhos horrores aconteçam mesmo aqui ao nosso lado. Pensamos talvez que à nossa volta tudo está suficientemente seguro e defendido para que não seja possível acontecer uma coisa assim.
Enfim, quantos outros casos destes existem, que por agora não sabemos ou que nunca saberemos? E então vem a pergunta: o que é que podemos fazer para que não continuem?
Uma coisa é certa, a fraqueza humana tem dimensões desconhecidas e muito assustadoras...

9 comentários:

SC disse...

Cara Margarida Aguiar,

Quantas interrogações! E quantas interrogações mais...
E quantas vidas tão iguais a estas, aos nosso olhos, todos os dias, em prisões ainda maiores porque nem muros têm? Por isso, ainda mais perversas, só nos apoquentam um pouco todos os dias, mas sem nos abalarem...
Como alguém dizia, a inteligência humana tem limites mas a estupidez não... Vale (ou não) que a capacidade de resistir também parece ilimitada.

PA disse...

Pergunta a Dra. Margarida:

- "Enfim, quantos outros casos destes existem, que por agora não sabemos ou que nunca saberemos? E então vem a pergunta: o que é que podemos fazer para que não continuem ?"
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Uma senhora austríaca entrevistada, referiu algo que pode, em parte, dar resposta à sua pergunta, Cara Dra. Margarida.
A senhora dizia que isto aconteceu porque a sociedade austríaca é egoísta. As pessoas vivem para si próprias, não querendo saber dos outros.
Penso que faz sentido. Cá em Portugal, temos tido casos com crianças maltratadas, que apontam no mesmo sentido. Só sabemos depois da tragédia consumada.

Cada um pensa na sua "vidinha", de forma muito individualista.
E depois supreendemo-nos muito quando estes monstros saltam para a luz do dia. E ás vezes eles estão tão perto de nós.
Só posso concluir que temos todos uma certa responsabilidade, porque consciente ou inconscientemente, somos coniventes, adoptando uma postura silenciosa e/ou desinteressada no Semelhante.

Bartolomeu disse...

Bom, cara Pézinhos, pergunta a nossa autora e perguntamos todos.
A dimensão da monstruosidade que compõe este caso, ultrapassa o entendível. A entrevista que a cara Pézinhos refere, ilustra um tipo de comportamento social que não sendo comum, é no entanto premissivo de um alheamento que aquela sociedade cultivou e que, se pode proteger a individualidade da inconveniência, pode tambem cegar para a precepção de casos semelhantes.
São cada vez mais frequentes, casos ambiguos de carácter sexual, fraudulentos, atentatórios da segurança e integridade de cada um de nós. Muito possivelmente, nesta época de permanente mudança em que vivemos, seja este um preço a pagar pelo tão desejado e ilusório progresso. Progresso esse que não conseguimos identificar reflectido em algo verdadeiramente fundamental para a humanidade.
Creio, cara Margarida Corêa de Aguiar, que aquela angustiosa impotência que a aflige, que nos aflige, não vai deixar de assolar a humanidade. Temo ainda e sobretudo, que aqueles padrões morais que deviam reger uma sociedade desejávelmente equilibrada, percam todo o sentido e valor, em deterimento de uma anarquia apocalíptica.
Resta-nos não baixar os braços, nem hipotecar, em nome de nada, o espírito de coerência, de crítica, rebelião e denúncia, das situações que os nossos padrões morais e sociais exijam uma tomada de posição.

PA disse...

"Resta-nos não baixar os braços, nem hipotecar, em nome de nada, o espírito de coerência, de crítica, rebelião e denúncia, das situações que os nossos padrões morais e sociais exijam uma tomada de posição." (Bartolomeu disse)

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isso mesmo, Caro Bartolomeu.
Já temi pela minha vida, por ter feito uma denúncia, no sentido de proteger duas crianças maltratadas. Foi extraordinariamente complicado, o que se passou na minha vida. Mas nunca desisti. Apesar de saber que estava a lidar com pessoas perigosas. Hoje essas crianças não estão totalmente ausentes de risco, mas (pelo menos) estão sob observação. Isso, eu consegui. Entretanto vão crescendo, e ganhando as suas próprias defesas. Pouco mais se pode fazer.

jotaC disse...

Cara Dra. Margarida Aguiar:
Sem dúvida que estamos perante uma aberração humana confinada, para já, apenas a um único autor moral e material deste crime hediondo.
A imagem das duas máscaras, ilustram de forma excelente a personalidade deste criminoso que conseguiu, pelo que se sabe até agora, enganar durante tantos anos vizinhos e familiares...

Suzana Toscano disse...

Cara Margarida,esta história é um pesadelo não só porque nos mostra o grau de malvadez que um humano pode ter, para o caso improvável de o termos esquecido (estamos sempre a ver filmes que representam mil e uma formas de torturar, a imaginação humana é incrível)mas também porque tudo se passou numa pacata cidade da civilizada Áustria. Não se tratou de excluidos sociais, de marginais deixados à sombra do progresso e que se vingam, mas sim de um "respeitável" cidadão. Neste caso foi um grau diabólico mas há muitos outros, se calhar tão dramáticos, que nem sequer dão uma notícia no jornal, também protagonizados por loucos que aparentam ser criaturas pacíficas. Lembro-me das histórias que me contava uma amiga que trabalhou num serviço de assistência a mulheres, os casos de sequestro eram frequentes. A maldade humana pode ser mais ou menos controlada ou censurada, mas nunca será banida.Tal como a bondade, felizmente.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Todas as reflexões aqui feitas são importantes porque nos ajudam a acreditar que devemos ser vigilantes, repudiar e combater a maldade nas suas diversas expressões e através dos meios que temos ao nosso alcance e a não esquecer que os genes humanos produzem "monstros" que nos continuarão a surpreender para além da nossa compreensão humana.
Como refere o Caro SC o que "Vale... é que a capacidade de resistir também é ilimitada". E a nossa Cara Pézinhos n' Areia tem muita razão quando diz que "Cada um pensa na sua "vidinha", de forma muito individualista". Felizmente que há muitas pessoas boas que não agem assim!
A conclusão do final do comentário do nosso Caro Bartolomeu não poderia ser mais realista e esperançosa: "Resta-nos não baixar os braços, nem hipotecar, em nome de nada, o espírito de coerência, de crítica, rebelião e denúncia, das situações que os nossos padrões morais e sociais exijam uma tomada de posição".
Caro JotaC, escolhi justamente a imagem das máscaras porque não encontrei melhor para simbolizar a mentira e a escuridão…
Não fosse a bondade, Suzana, em dose bem superior à maldade, e a humanidade já tinha acabado. Da bondade falamos pouco porque é com ela que normalmente convivemos. Só nos lembramos dela quando ameaçados ou transtornados pela maldade. Às vezes ignoramos que ela existe!

antoniodasiscas disse...

Cara Margarida
Os defeitos e o seu montante, que caracterizam as nossas sociedades ocidentais e os que nela vivem, sobretudo os que aí nasceram, têm vindo a sofrer uma evolução cada vez mais negativa, a ponto de nos aproximarmos dos animais selvagens. Sou dos tais que já não acredita que a nossa civilização melhore com jaculatórias, boas intenções, estratégias moralistas e "caldinhos de galinha". E sobretudo com muita lamentação e resignação. O idealista Rousseau era capaz de ter toda a razão, pois a sociedade em que vivemos está cada vez pior e pior do que isso, mais perversa. É evidente que se tem de julgar este monstro. E depois, não é este um dos casos que mereceria uma condenação à morte?. Ainda vão os austríacos, egoístas ou não, sustentar com os seus impostos, os custos que um biltre desta envergadura, vai originar?

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro antoniodasiscas
O “monstro de Amstetten” é pior que um animal! Os animais são mais "humanos"! "monstro" é pouco para classificar uma criatura capaz de actos tão abomináveis!