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sábado, 17 de maio de 2008

Um Senhor Herói


A Actual fala de Harrison Ford, 66 anos, e do seu último filme «Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal» e diz que ele se afirma fervoroso adepto do «cinema físico», menosprezando a manipulação informática que actualmente permite desafiar as leis da gravidade. "Indiana Jones, tal como Harrison Ford, quer-se romântico mas cínico; corajoso mas com medo de cobras; heróis mas meio-vilão. Será por isso que ainda gostamos dele? "

Nós gostamos de nos identificar com os heróis, aliás é isso que faz deles os “nossos” heróis é porque nos estimulam a querer ser como eles e lá bem no fundo, acreditamos que um dia vamos mesmo ser assim ou encontrar alguém igual.
A utilização da informática para criar efeitos especiais e fazer parecer que os actores conseguem coisas que na realidade jamais conseguiriam destrói, a meu ver, esse fantástico culto dos heróis. Uma coisa é regalarmos os olhos perante imagens extraordinárias, voos impossíveis, lutas de gigantes e anões, destruições brutais e os actores a correr incólumes no meio dos destroços, enfim, uma coisa é conseguirem distrair-nos. Outra, muito diferente, é ficarmos literalmente apaixonados por uma personagem, por ela ser tal e qual o que gostaríamos de encontrar e, claro, termos a esperança de isso vir a acontecer.
O Super Homem tinha poderes ultra humanos? Só na aparência, porque aos olhos das crianças ele voava nas asas da coragem, da vontade de ajudar, na bravura dos que lutam pela justiça. E tinha a fraqueza de ser feio quando esses grandes sentimentos não o dominavam, além de perder a força quando estava perto do fragmento do seu antigo planeta. Ainda que através de símbolos visuais muito fortes, o Super Homem era um humano que, afinal, podia estar escondido em qualquer pessoa vulgar. Não era uma invenção de computador.
O meu herói, a minha irremediável paixão, foi o Cavaleiro Ardent, aquele bravo lutador com quem o Rei Artur sempre contou, que tinha como defeito gravíssimo estar apaixonado por uma loira mimada chamada Gwendoline. Nunca o vi actuar fora da banda desenhada em papel, mas aposto que já não me faria bater o coração se fizessem um filme cheio de efeitos absurdos onde ele não ficaria incapaz de lutar por ter uma ferida no braço, ficando à mercê dos inimigos e eu a sofrer de aflição até ao episódio seguinte, ou pudesse torcer as barras da prisão como se fossem torradinhas com manteiga, em vez de ficar na escuridão sem que as leitoras devotas pudessem confirmar em ânsias se ele estava vivo ou morto.
Os artificialismos, o virtual, é só o faz-de-conta, deve ser por isso que já não há heróis mas apenas estrelas de cinema.
Ainda em que o Harrison Ford compreende isto e não desiste de nos fazer bater o coração, ainda que ficando atrás do Cavaleiro Ardent…

6 comentários:

PintoRibeiro disse...

Passo. Não ( me ) convence.

Bartolomeu disse...

Tanto no caso de Indiana Jones, de Clark Kent, ou de Ardent, esqueceu-se, (ou fê-lo com um propósito) de referir na receita para o "prato" heroi, um condimento.
;))
É. Não basta a bravura, a abnegação e o elemento feminino que despoleta a paixão, para que a receita funcione em pleno, ha ainda na composição da figura a ter em conta um aspecto... de onde vem !?
Clark Kent vem de Kripton o que deixa logo os corações das meninas alvoroçados e o orgulho masculino em farrapos, depois o homem da visão RX é reporter de imprensa, profissão que é imediatamente conectada a entrevistas, relatos e viagens (acabam-se quando topam com um qualquer governante a fumar dentro de um avião). O Ardent era um nobre, com castelo e tudo, coisa à séria, bom, o castelo estava em ruínas, mas de qualquer modo era um castelo, um imóvel que o habilitava a concorrer a fundos comunitários para recuperação, associados a um projecto turístico. Coisa que, se bem feita, com os orçamentos bem inflaccionados, dá no fim para mais um BMW, umas férias de sonho com uma (ou duas) das imensas amigas inesperadas num resort das Caraíbas e mais umas quantas bugigangadas.

Bartolomeu disse...

Não sei o que se passa com esta net, ultimamente não me permite terminar os comentários.
Indiana... estou convencido que este nome foi escolhido para homenagear o famoso modelo da Harley Davidson, que inspirava o espírito de liberdade que habitava os resistentes cowboy's-sem-cavalo dos tempos do irreverente James Dean. Indiana era um reputadíssimo professor de arqueologia, conhecedor dos mais misteriosos segredos e enígmas, possuidor de formulas mágicas que lhe permitem no último momento salvar-se e salvar a moçoila, sempre na maior pose. portanto, outro que faz agitar os corações e tremer os joelhos das meninas e, roer de inveja os meninos que não deixam de perguntar aos seus botões... mas qué queste tipo tem mais que eu??? Só sé o chicote!!??
Resumindo, é necessário incluir na receita mais estes 4 elementos: viagens, viagens, viagens e um título, seja ele intelectual, ou de nobreza.
;))

jotaC disse...

Cara Dra. Suzana Toscano:
Este texto é de uma naturalidade superior que me impele a recordar, também, os meus ídolos e heróis do cinema.
Era eu ainda miúdo, o meu primeiro ídolo foi o Little Joe, da série Bonanza. Era o actor mais novo de uma série western que passava na televisão, ainda a preto e branco, uma vez por semana, e que eu adorava ver.
Mais tarde, já espigadote, o meu ídolo favorito foi o francês Alain Delon. No filme a Piscina (confesso que o fui ver três vezes, pois naquele tempo ir ao cinema era barato), Alain Delon contracena com uma bela, sensual, e linda mulher, Romy Schneider que, recordo-me, numa das cenas mais escaldantes dormitava desnudada durante a sesta de um dia de verão. Sem dúvida, uma imagem de rara beleza.
Os efeitos poderosos de ilusão que a informática faz nos filmes de hoje, faz com que os novos ídolos e heróis das novas gerações sejam aquelas criaturas, meio humanos meio robots, que passeiam incólumes sobre os destroços da cidade destruída à procura dos aliens horrorosos para se vingarem.
É a evolução das coisas, embora o mote seja quase sempre o mesmo.
Como estive a recordar os cowboys, permita-me que lhe sugira este vídeo: http://video.aol.com/video-detail/joao-e-maria-chico-buarque/15798872?icid=acvsv1

PintoRibeiro disse...

http://suckandsmile.blogspot.com/2008/05/passem-aqui-e-passem-palavra-todos.html
Cumprimentos.

Suzana Toscano disse...

Caro Bartolomeu, nunca tinha pensado nisso dos títulos, acho que não será fundamental mas é capaz de ajudar a caracterizar o personagem, acentuando a sua "aura". O facto é que, quer num caso quer noutro, eu não me lembrava dessas qualidades como determiantes da personalidade dos meus heróis.
Caro Jotac, fico sem saber se a RomY Schneider foi ou não essencial para dar graça ao filme! Alain Delon nunca foi a inha preferência, mas confesso que vi o Red Buttler para aí umas 20 vezes em E tudo o vento Levou, claro que a Vivien Leigh era indissociável, mas já o magnífico Omar Sharif no Doutore Jivago vale o filme só por ele. Aí está outro herói, já um pouco esquecido, é certo, mas é mesmo muito difícil rivalizar com o Cavaleiro Ardent :))E obrigada pela sugestão, vou ver, claro.