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domingo, 29 de junho de 2008

"Eu é que sou de esquerda!"


Tão divertida como aqueles episódios do Herman José em que o personagem se chegava continuamente à frente sempre que as câmaras da TV reportavam um acontecimento e se apresentava com um entramelado "eu é que sou o prrreesidente da junta!!" é esta disputa concursal entre Sócrates e Louçã sobre qual deles é de esquerda.
É importante, direi mesmo decisivo, fundamental para a vida e felicidade dos portugueses, tirar a coisa a limpo. Pelo seguinte, que de resto toda a gente sabe.
Ser crismado de esquerda é assim como ter sido parido pela coxa de Minerva. Purificado de toda e qualquer impureza. Ser de esquerda é ter sido ungido com esse óleo sagrado que nos faz profundamente solidários com os pobres e os excluídos. Por-se ao lado dos desgraçados, dos minoritários mais exóticos. Declarar guerra aos interesses. Ser apóstolo da liberdade e do permanente direito à indignação, da igualdade de preferência na pobreza ou no remedeio que a fortuna corrompe.
Ser de esquerda é não ser de direita. E ser de direita é estar possuído de um mal congénito que jamais terá redenção.
Ser de esquerda é tudo isto e muito mais do que possa ser, ainda que vagamente, identificado com o imaginário dos grandes momentos de agitação social que põem termo à quietude dos tempos, tipo Maio de ´68.
Tudo, mas sem abdicar do direito individual à qualidade de vida. Da qualidade que proporciona o BMW, os almoços e jantares nos restaurantes mais in, da camisa ou dos sapatinhos de marca, das férias no estrangeiro.
E de um bom perfume.
Que a esquerda a fedorar a fuligem ou a suor do sovaco posto à mostra pelo punho erguido, é coisa do passado.
A esquerda moderna é perfumada. Cheira suavemente a rosas.

3 comentários:

Pinho Cardão disse...

Caro Ferreira de Almeida:
Além do mais, ser de esquerda confere o direito e o dom da verdadeira democracia. Quem não é de esquerda não é democrata; quando muito, pode ser tolerado como tal.
Por isto e por tudo o que referiu, quanto mais de esquerda se for, melhor democrata se é. As "tendências" PC,s e PS,s digaladiam-se desde as Internacionais, chegando por vezes a vias de facto nas acesas disputas pelo predomínio. Agora,as televisões substituíram as Internacionais. Mas, no fundo, lá permanecem os mesmos genes, bem visíveis nas constantes proclamações da necessidade de unidade da esquerda. Que vai acontecendo, como nas últimas eleições presidenciais ou na Câmara de Lisboa.

Tonibler disse...

Eu que, por acaso, tenho um fetiche por aquelas sujeitas com um ar Festa do Avante, de t-shirt, saia indiana, chanata e cabelo desgrenhado, posso dizer que, quer Sócrates, quer Louçã, têm razão. Mas eu sou mais de esquerda que eles!

Adriano Volframista disse...

Caro Ferreira de Almeida

Apenas para relativizar (passe a graça fácil) a situação.
Nos EUA a situação é a inversa, alguêm "liberal" está próximo de Sade, é um ladrão encartado, um pilha galinhas, violador de novos e velhos enfim, o braço direito de satanás.
Sinceramente, os efeitos práticos de uma acção de solidariedade, podem ser os mesmos e as motivações diversas.
Para um capitalista, individual,positivista, as instituições de solidariedade social são uma forma de sobrevivência do capitalismo, na medida em que ajudam a elimanar os focos de tensão e de ruptura: a redistribuição de riqueza tanto pode ser um imperativo moral ou de amor aos descamisados, como um modo de recompensar a sociedade que nos enriqueceu (desconheço onde se pode ser rico sem pessoas) e sem a qual não poderíamos ter o que temos; e um modo de perpetuar essa mesma riqueza.
Basta pensar, como qualquer nórdico, que seremos julgados na terra e não no céu.
O anterior regime e este, pensa que vamos ser julgados depois, quando o seremos ainda em vida; o momento será sempre de surpresa, como verá.
Cumprimentos
Adriano Volframista