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sexta-feira, 27 de junho de 2008

Que fazer, pergunta o Expresso?

A edição de amanhã do Expresso vai tratar do tema da criminalidade jovem, a partir da verificação do facto de que “nos primeiros seis meses deste ano foram assassinados 16 adolescentes em Londres”, sendo a maioria das mortes cometidas por outros adolescentes. O facto levou à aprovação de uma lei, no princípio deste mês, que prevê que os adolescentes passem a responder criminalmente por porte de arma branca.
Apareceram de imediato os críticos da lei. O Expresso cita David Wilson, professor de Criminologia na Universidade de Birmingham, que refere que “as soluções têm de ser pensadas a longo prazo”, interrogando-se “como devemos lidar com uma geração que não confia nos adultos?».
Acho uma enorme piada a estas tiradas pretensamente intelectuais e falsamente profundas. Para tais pensadores, uma série de assassinatos de jovens por jovens é coisa de pouca monta, que não exige soluções imediatas, apenas soluções bem reflectidas a longo prazo. Claro que exige medidas imediatas!...
E, como é típico nestas situações, o ilustre criminologista praticamente desculpa os energúmenos, invocando o colectivo, isto é, a geração a que pertencem e a geração anterior, em que “os coitados” não confiam. Em síntese, os malfeitores são tornados vítimas e a culpa é dos agredidos, potencialmente todos nós. Claro que, de desculpabilização em desculpabilização, os cidadãos ficam fracos e desprotegidos, enquanto os delinquentes se sentem fortes e garantidos.
Sabem que podem fazer tudo nas escolas, que estas têm que os passar; sabem que podem drogar-se pelas esquinas, que o Estado os considera doentes e até lhes faculta salas para mais convenientemente se drogarem; e ficam agora a saber que a culpa dos assassínios que cometem começa na geração anterior, “em que não confiam”. Pelos vistos, não confiam na geração anterior nem na sua própria, em que escolhem as vítimas.
Pergunta o jornal: que fazer?
Dava uma primeira solução: começar por não confiar naqueles que nunca atribuem responsabilidades individuais, e para quem a culpa é sempre colectiva. A partir daí, as coisas podem arranjar-se melhor!...

2 comentários:

Carlos Monteiro disse...

Caro Pinho Cardão,

Não posso deixar de discordar (até que enfim) de uma pequena referência que faz no seu texto: Os drogados são de facto doentes. O Estado ajudar ou não é uma questão meramente moral, mas tecnicamente não tenho e penso não haver muitas dúvidas de que um drogado é um doente, e que é dever do Estado trata-lo como tal.

Mais, para além de lhe providenciar salas para se drogar, deveria providenciar-lhe drogas para consumir; é uma questão de saúde pública, de mercado e de pura lógica. De saúde pública porque a maior parte das overdoses têm origem em droga "falsificada", de mercado porque o Estado ao providênciar droga, retira a mais-valia afastando assim o dealer do circuito. A lógica disto tudo é óbvia; o controlo de todo o circuito desde a distribuição ao consumo, com vista à recuperação de doentes.

Suzana Toscano disse...

Também achei bastante intrincada essa explicação da "confiança nos adultos", fiquei sem perceber a quem é que tinham que se dirigir as medidas. Não sei se este tipo de violência é uma novidade, acho que sempre houve nas grandes cidades esta agressividade entre grupos rivais, com facadas e mortes. Também não sei, talvez o Expresso amanhã esclareça, se foi uma revoada de assassínios que não se sabe porque motivo aconteceu mas que terá a sua (má) explicação ou se é uma tendência sinistra que se está a desenhar.Talvez fosse de pensarmos que os jovens crescem a conviver com um terrível grau de violência na televisão, nos videos, nos filmes, há séries que "ensinam" graus de crueldade de estarrecer e, à força de se ver aquilo, a vida parece que deixa de ter valor, matar é uma banalidade, faz-se como nos filmes e pronto, são todos uns heróis de cinema. Não sei se estarei a simplificar, mas começo a ter dificuldade em encontrar filmes toleráveis, a violência aparece com um realismo insuportável e fica-se com a sensação de que é uma sorte estarmos vivos e conhecermos pessoas que não são diabólicas!