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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A novela do autodromo do Estoril...

... ou um exemplo gritante de desperdício de recursos públicos.
Em tempos o governo da República negociou com um grupo privado e livrou-o da canga que nessa altura já era o autódromo do Estoril.
O autodromo passou a constituir propriedade pública, ainda que formalmente activo da Parpública, empresa detida a 100% pelo Estado.
Nele se investiram milhões para supostamente o modernizar, sem que contudo passasse a ser mais do que uma infra-estrutura para meia dúzia de eventos anuais da terceira divisão das ligas dos desportos motorizados.
Quando se tornou evidente a falta de futuro para o autódromo, tentou-se a privatização. Sem êxito, obviamente, porque o único negócio que valia a pena fazer tendo o autódromo por objecto, fê-lo o grupo grupo Grão-Pará ao passar o mono para o Estado.
Desde há um ano a esta parte que alegadamente decorriam negociações com a Cãmara de Cascais para que, julgo eu, fosse transferida a responsabilidade pela gestão do autódromo para a autarquia.
Noticia-se hoje que a Câmara dá por concluídas as negociações, sem ter logrado chegar a acordo com a Parpública.
Tenho alguma dificuldade em imaginar que fórmula mágica teria a Câmara para conseguir o que a Parpublica não conseguiu. E como evitaria que a coisa continuasse a ser, como até aqui, um sumidouro de dinheiros públicos sem retorno, sobretudo agora que se construiu em Portimão uma infra-estrutura que se anuncia como das melhores do mundo e arredores, a qual certamente secará o pouco que rodava pelas pistas do Estoril.
Este caso dá que pensar. Sobretudo porque ninguém põe a hipótese de decidir o que a razão parece impôr: o fecho puro e simples do autodromo, provado que está que não tem nem mercado, nem clientela.

8 comentários:

Bartolomeu disse...

Estou aqui, a conjecturar... com os meus botões, que para lhe dizer a verdadinha, caro Dr. J.M. Ferreira de Almeida, têm dias os maganos, que conjecturam muitíssimo mais que eu. Como ia dizendo, estávamos aqui os oito, eu e mais os meus 7 botões a conjecturar se terá sido imaginação nossa, ou se efectivamente o país atravessa uma crise económica que não é de todo favorável ao dispêndio das verbas exigidas para a prática do desporto automóvel, ou de qualquer outro motorizado?! Ha poucos anos atrás aqueles que eram dotados de apetência para a condução em competição e que estavam bem "encostados" ainda íam conseguido os apoios e patrocínios necessários, ou porque os papás eram donos de empresas e preferiam canalizar a massinha para dar ocupação ao filhinho e a mais um ou 2 amigos, por vezes filho de outro amigo e etc, etc. era um modo de desviar verbas do bolso roto do fisco, manter o filho ocupado e em simultâneo frequentar as zonas vip dos autodromos, onde gravitava em simultâneo o resto da elite na esfera dos negócios, conheciam gente que podia ser-lhes necessário conhecer e ainda, como bónus, arranjavam umas garinas desocupadas para uns passeios no iate, ou umas escapadelas no apartamento de Vila Moura e por aí adiante.
O problema é que, hoje comprar um carro e prepará-lo para correr, custa um balúrdio, mas para além disso é preciso pagar as inscrições nas provas, antes disso, é preciso pagar os alugueres de pista, os bombeiros e os seguros, para participar nas provas do calendário é necessário ter uma equipe de apoio além de quase outro carro em sobressalentes, mais as deslocações e as estadias e no fim, mesmo que venha algum prémiozito, não chega para os 3 (no mínimo) trens de pneus (por prova)que só isso já custa o meu mísero ordenadinho de meio ano.
Ora pelos vistos, só eu e os meus botanitos é que conhecemos esta realidade, a menos que, de Belém para ocidente, já seja outro país, talvez o da Alice em lugar do de Isaltino de Morais, ou de António D'Orey Capucho !?
Mas para tudo ha alternativas como é obvio e, se a crise de que falei não for somente uma ilusão minha e destes que me abotoam a camisa, então só vejo uma forma de rentabilizar o autódromo, promovendo corridas de carroça. É! pode até ser elaborado um campeonato nacional com 2 categorias de início...turísmo e racing, calendarizado com provas em várias pistas. É uma sugestão!
Ou então, criar no autodromo uma faculdade para o estudo e desenvolvimento de novas tecnologias de transportes, até seria inteligente se o governo pedisse autorisação à UE para Interromper o programa das novas oportunidades e redireccionar os fundos para uma brincadeira destas.
Porque ou muito me engano (eu e os meus botões), ou muito brevemente estamos todos a andar a pé.

Anónimo disse...

Já conhecia as capacidades de análise do meu caro Bartolomeu. Agora estava longe de imaginar que o meu Amigo fosse possuidor de botões com um tal Q.I.!

Estou neste momento a (tentar) ler um livro de James Howard Kunstler, com o título "O Fim do Petróleo". Um pouco catastrofista, mas que vaticina, com base em dados nalguns casos nada especulativos,que o fim próximo da era da energia basta e barata obrigará a uma profunda alteração de hábitos sociais.
Estou em crer que Kunstler concordaria com a perspectiva do Bartolomeu de que o futuro dos autodromos passa pelas corridas de charrete.

Rui Fonseca disse...

Passo frequentemente em frente do mono. Aliás, sou obrigado a suportar os ruídos com que o mono de vez em quando polui o ambiente vários quilómetros à roda dele.

E frequentemente me tenho perguntado quem continuaria a alimentar o mono. Fiquei agora elucidado. Agradeço-lhe.

Sobra-me uma dúvida: Porque não denuncia a Oposição este escândalo e propõe o seu encerramento?

Sabe?

Já agora, perdoe a impertinência: Sabe, por acaso, porque bulas se investe num pequeno troço de auto estrada, extremamente complexo do ponto de vista técnico e, portanto, muito dispendioso, entre o nó de Ranholas e a A5, quando a EN 9, que passa em frente do autódromo permitiria um alargamento de mais, pelo menos, duas vias em cada sentido?

A quem aproveitam estas coisas?

Bartolomeu disse...

Voltando ao assunto, caro Dr. J.M. Ferreira de Almeida, tambem achei bastante interessante a leitura do romance escrito pelo Dr. José Rodrigues dos Santos "A Fórmula de Deus".
Tal como no livro de James Kunstler, que ainda não li, é descrita a inevitabilidade do esgotamento a breve prazo dos recursos exploráveis dos combustíveis fósseis e, sem que possam restar dúvidas, a dependência desses combustíveis resultará em transformações inimagináveis, a todos os níveis.
O sub-título do livro de Kunstler "O grande desafio do século XXI", parece-me ingénuo. Apesar de o mundo inteiro se ter mantido surdo, relativamente aos avisos que os especialistas nesta matéria vêm desde ha muito a publicar, parece que só agora se acordou para reconhecer a sua verdadeira dimensão. Ora, parece-me impossível, como é que até agora tem persistido uma intenção tão forte de manter acorrentada qualquer iniciativa e experiência que vise encontrar substituição para esta fonte de energia. Começaram recentemente a ser abertos espaços para a utilização das energias alternativas, sobretudo para as não poluentes, contudo mantem-se uma resistência enorme à utilização e desenvolvimento de novas formas de transporte.
Sabemos todos, uns melhor que outros, que a decisão de manter o petróleo como maior alimentador das fontes geradoras de energia de que o mundo ainda depende, é defendida por lobyes poderosíssimos e que se fosse possível eliminá-los, grandes conflitos mundiais iriam sobrevir.

Jorge Oliveira disse...

E a responsabilidade de Pina Moura neste negócio?

Se um juiz é acusado de ter cometido um "erro grosseiro" no processo Casa Pia, que dizer deste "erro" no processo do autódromo ?

Anónimo disse...

Meu caro Rui Fonseca:
Pergunta-me porque não denuncia a oposição este escândalo. Mas qual oposição? A da câmara de Cascais que é poder no governo que tutela a Parpublica, constituída pelos mesmos que em tempos que já lá vão fizeram o negócio com a Grão-Pará? Ou refere-se antes à oposição ao governo da República que é poder na Câmara de Cascais, constituído por aqueles que queriam para si a exploração do autodromo?
Sem que o meu caro Rui Fonseca deslinde a qual das oposições se refere, não saberei dar-lhe uma resposta.
E desde já humildemente me confesso incapaz de fazê-lo, mesmo que me diga a que oposição se refere. Porque os silêncios das oposições, sejam elas quais forem, são como os designios divinos: insondáveis!

Quanto à opção de abrir um corredor praticamente novo de ligação do IC19 à A5 quando existe um corredor eventualmente susceptível de ser alargado, só posso dizer que é uma boa questão. Admito que o alargamento da EN9 possa defrontar-se com alguns constrangimentos ambientais na parte do concelho de Sintra, na zona que bordeja o Parque Natural Sintra-Cascais. Não sei se isso pesou na decisão, ou sequer se foi considerada esta alternativa. Mas parece-me um corredor mais lógico e seguramente menos dispendioso do que aquele que se propõem executar.
Devo todavia dizer-lhe que as escolhas e as prioridades em matéria de obras públicas rodoviárias são tudo menos claras. Seria tem para um blogue, não um simples comentário.

Anónimo disse...

Meu caro Bartolomeu:
Quando ler o livro de Kunstler vai ver que uma das prognoses é justamente a de que a depleção dos combustíveis fósseis e a derrocada da sociedade e da economia do carbono não encontrarão solução compensatória nos combustíveis alternativos porque o ritmo do desenvolvimento tecnologico é menor do que a velocidade a que se esgotarão os recursos.
Ficção? Oxalá.

Tonibler disse...

O Rui Fonseca está à procura de uma justificação para as ligações entre a IC19 e a A5???
É simples, o sítio por onde a estrada tem que passar tem que ser de alguma forma protegida. A estrada tem que ter um interesse público superior à protecção do local, que vai ser dividido ao meio. Em Carcavelos até desviar um rio eles desviaram só para conseguir desclassificar a Quinta dos Ingleses. Depois da área protegida ser cortada por uma estrada, o ministério do ambiente vai desclassificar a área alegando que não faz sentido ser uma área protegida e cortada por uma estrada. E esta é a história da Câmara de Cascais desde sempre! A estrada do autódromo já desprotegeu o que havia a desproteger, agora há que procurar novos "mercados"..

Porque é que a oposição não denuncia?? Essa ainda é mais simples, porque ser oposição a um governo não quer dizer que se seja oposição a quem paga ao governo...