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sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Preços dos combustíveis: bom exemplo de "papa-açordismo"

Introduzi, no último POST editado, o conceito de política de “papa-açorda” ou “papa-açordismo”, significando com isso a tentativa de permanente controlo dos “media” em Portugal, a que se assiste, para nos convencer que vivemos num país em que não há problemas, em que tudo nos corre bem sem termos de nos preocupar com riscos ou ameaças, o Governo tudo faz e resolve por nossa conta...mesmo quando nada nos corre bem.
Essa política lança mão das mais inconcebíveis fantasias e práticas de manipulação da informação para criar um efeito de torpor informativo, que nos mantém num estado de semi-atordoamento propício a não entender verdadeiramente o que nos omitem da realidade...
Os recentes episódios sobre a controversa questão do preço dos combustíveis no consumidor oferecem um bom exemplo de toda esta “papa-açorda”. Vejamos.
A meio desta semana, o Ministro da Economia, no seu peculiar estilo de “comentador desportivo” (com a devida licença do Dr. Medina Carreira, autor da analogia), veio dizer, na televisão, qualquer coisa muito parecida com “...se os preços dos combustíveis não baixam é porque o mercado não funciona”...
Pergunta minha: mas isto é possível na boca de um ministro?
É porque o mercado não funciona?
Acaba aqui a questão?
O Governo não tem que verificar, antes de ser proferida tal afirmação, se o mercado funciona ou não, perante os protestos que, justificada ou injustificadamente, se têm levantado?
E se não funciona, não devia, antes de tudo,ter diligenciado para que a “Autoridade” supostamente competente no assunto tomasse urgentes providências?
Mas o mais curioso é que um conhecido comentador político, MBR - julgo que bastante sintonizado com o establishment – vem logo no dia seguinte fazer este juízo admirável, ao defender a postura do Ministro: “O poder da palavra pode ter um efeito muito positivo nestas situações... funciona como um factor de pressão”!
Lê-se ou ouve-se e pasma-se...a que nível de fantasia estamos chegando!
Então o poder da palavra é que resolve – tem efeito positivo - nestas situações?!
Tendo em conta que a tal palavra foi proferida na 4ª Feira, estamos no final da semana, qual foi o efeito positivo?
Que pressão foi efectivamente exercida sobre a rede de distribuição, que até respondeu, no dia seguinte, com um aumento de preços num dos produtos de maior consumo?
Sem entrar no âmago desta polémica sobre os preços, por não dispor de informação que me permita extrair conclusões fiáveis, pergunto apenas:
- Alguém se lembrou de verificar o que se tem passado com os preços de idênticos produtos na rede de distribuição em Espanha?
- Desceram mais ou na mesma medida que em Portugal?

18 comentários:

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Não vale a pena ficar aborrecido.
O Governo tem de realizar estes truqes, porque não tem qualquer margem de manobra, para melhorar a situação económica.
Assim, o Sr M da Economia, assume o papel de inspector da ASAE e gratuitamente, marca alguns pontos políticos, para manter a imagem do Governo.
Não faz muito sentido, comparar as descidas de preços do combustível com outros países europeus, porque os sistemas não são equivalentes.
O que sim, faria diferença era dividir em três partes o que se encontra junto: refinação, comercialização e transporte.
Assim poderíamos ter preços mais competitivos.
Mas isso, como sabe, é quase impossível
Cumprimentos
João

Tonibler disse...

ehehe, por acaso estava ontem a ver mais uma daquelas notícias do "fim do capitalismo" sobre o preços dos combustíveis e lembrei-me desse mesma pergunta. Mas porque carga d'água não vão ver a Espanha e comparam????...

Mas por acaso acho uma certa piada ao ministro porque me faz lembrar um comercial estagiário, tenta vender tudo, das maneira mais estapafúrdias (embora não em lembre de ver ninguém a deitar-se para dentro de uma piscina para ser fotografado com um sujeito musculoso) e as opiniões não têm sustentação nenhuma. Mas tem que se reconhecer que ele é dos poucos que tem "pica" para trabalhar.

Tavares Moreira disse...

caro João,

Perdoará, mas faz todo o sentido a comparação sugerida, não obstante a sugerida diferença de sistemas (fiscais? informáticos? grau de concorrência?), uma vez que a causa da baixa de preços é idêntica "across the board" - a baixa do barril do crude.
Quanto ao resto, onde notou o aborrecimento?
Olhe que até me tenho divertido bastante com o episódio e só espero que tenha mais cenas engraçadas.

André Tavares Moreira disse...

Ora aí está o método de fazer política deste governo. Conversa. Acham que com conversa, a crise evapora, os preços dos combustíveis baixam e o país, de facto, muda.

Lamento informar, mas tanto quanto sei, os portugueses não contraem empréstimos com capas de jornais, nem compram gasolina com declarações de ministros! Admito que certas declarações, podem ter um determinado impacto, se proferidas por alguém que possa "injectar" confiança no mercado. Ou seja, Santana Lopes ou Manuel Pinho, com conversa, não terão o mesmo impacto que Teixeira dos Santos. A confiança é irmã da credibilidade!

Quanto às gasolineiras, é um pau de dois bicos para o governo. A receita fiscal vs. descontentamento popular....

Jorge Oliveira disse...

Se MBR corresponde a Mário Bettencourt Resendes, a conjectura "julgo que bastante sintonizado com o establishment" acerta em cheio.

Se for necessário posso contar um episódio em que me vi confrontado com ele e com o parceiro Luis Delgado, ao tempo em que ambos pontificavam no DN, o primeiro como Director e o segundo como colunista, com umas redacções diárias tipo quarta classe, debitando umas patetices pretensiosas de morrer a rir.

O pior de tudo é que o caso teve na origem uma declaração absolutamente infeliz de Santana Lopes na RTP, durante aquele programa em que ele debatia - e já então perdia - com Sócrates.

Mas o episódio teve uma vantagem. Percebi eu, e perceberam vários companheiros do PSD que testemunharam, atónitos, tudo o que se passou, que Santana Lopes não merecia o apoio que lhe dávamos na disputa com Durão Barroso. E percebemos também que o DN estava nas mãos do banqueiro do regime.

Esta e outras histórias que poucos conhecem e de que ninguém fala é que permitem entender com que gente andamos metidos. Mas em Portugal funciona uma regra sabiamente imposta pelos espertalhões que controlam a comunicação social : não se fala, não existe.

PA disse...

xeque mate aos neo-liberais !


http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?channelID=00000093-0000-0000-0000-000000000093&contentID=CC96249A-0B8D-4D44-B47A-00529A8663F0


Bom FdS.

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Desculpe, não pensava que estivesse aborrecido, é verdade que a situação é mais do que divertida.
Quanto à comparação, podemos fazê-la, mas (acho) com cautela. Na verdade os preços desçem, em alguns países da Europa, mais depressa do que em Portugal; verifica-se que até desçem mais, do que no nosso país.
O problema é que nunca voltamos aos níveis inciais e nunca ficamos a saber onde aumentaram os custos, dado que as etapas do ciclo não estão divididas. Assim, quando não é o crude, é o transporte,, quando não é o transporte, são os salários das refinarias, ou salários do transporte, ou então é o preço do crude....
O último truque é passar os combustíveis para a alçada da ERSE, com o intervalo de tempo que isso demora, podemos descansar e atribuir à falta a inacção.
Quanto ao Ministro, o mínimo que se pode dizer é que a sua declaração é "sui genreis", porque nem há muito tempo defendeu que não existia cartel nos combustíveis, a reboque dos "resultados da investigação da AAC. Agora não funciona porquê? Te informação que desconheçemos, viu os custos? Deu em adivinho? Isto porque a AAC não se pronunciou, sobre este assunto, na ocasião a que me refiro, o pudor legalista levou-o a esperar pela "investigação". Porque não espera agora?
Vamos aguardar pelos novos episódios.
Cumprimentos
João

Anónimo disse...

Descansai, meus amigos, que este forrobodó de viver-se alheado da realidade, de aparências, publicidades, fait-divers, golpes de marketing, power-points, enfim, fantasias, delírios e esquizofrenias em geral tem os dias contados e a contagem já não é grande, de todo em todo. Os sinais de que a realidade começa a bater à porta estão aí e cada vez mais visiveis. O estado já começa a dar sinais de não ter dinheiro para pagar, mesmo quantias não muito elevadas como seja o caso de 70 milhões de € de que o concessionário do MTS - Metro Sul do Tejo é credor, conforme notícia de hoje na "Transportes & Negócios".

Penso que mesmo as mais elevadas artes de oratória - pontinha de ironia - demonstradas por vários dos membros do governo não serão capazes de aguentar as pontas até às eleições. Toda a envolvente, toda a situação do país e em simultâneo a retórica governamental começam a assemelhar-se bastante à figura fabulosa do antigo ministro da informação iraquiano, Mohammed al-Sahaf, perorando no alto dum edificio sobre o total controlo da cidade de Bagdad pelo regime de Saddam Hussein, que não havia americanos nas proximidades porque estavam a suicidar-se às portas da cidade, blablabla, ao mesmo tempo que nas imagens se viam os tanques vindos directamente dos Estados Unidos a passar numa rua próxima, por trás do bom homem.

Vivemos tempos interessantes. Muito interessantes, mesmo... Que ainda irão fazer sofrer muita gente, infelizmente. Muito infelizmente.

Tavares Moreira disse...

Caro André,

Boa malha, sem dúvida...dragão inspirado depois da entrada retumbamte na Champions...

Caro Jorge Oliveira,

Tem poderes de adivinhação, o Senhor...quanto ao apoio dado a Santana Lopes contra Durão Barroso, muito teria para contar, mas não tenho vocação para museólogo...

Caro João,

todos os factores determinantes do preço, com excepção do fiscal, funcionam mais ou menos em sintonia para os diferentes mercados de consumo na Europa dos 16 pelo menos...tenho a percepção de que a comparação das curvas é legítima...para ver quem está mais oligopolizado.
Bem observada a habilidade da ERSE.

Car(íssim)a Pèzinhos,

Se não estou em erro, neste caso o xeque-mate é ao contrário, com o devido respeito - não lhe parece?

CCz disse...

"Penso que mesmo as mais elevadas artes de oratória - pontinha de ironia - demonstradas por vários dos membros do governo não serão capazes de aguentar as pontas até às eleições."
.
É nestas alturas que o genial título e grande parte do conteúdo do livro de Joaquim Aguiar vem à minha mente "As ilusões do Fim e o Fim das Ilusões"
.
By the way, será que a subida dos spreads e a incerteza nos vão livrar do maldado Programão? Espero que ao menos isso aconteça.

CCz disse...

Perdão, malfadado em vez de maldado

Anónimo disse...

"By the way, será que a subida dos spreads e a incerteza nos vão livrar do maldado Programão? Espero que ao menos isso aconteça."

Caro Ccz, suponho que sim. As dificuldades de financiamento e o encarecimento do dinheiro destinado a projectos em Portugal encarregar-se-ão de fazer o programão nem a programinho chegar. Resta ver é se serão suficientes para alterar o modelo de desenvolvimento e acabar-se duma vez por todas com esta história de se achar que construção e desenvolvimento económico são sinónimos ou se, na primeira ocasião, voltamos ao mesmo.

Rui Fonseca disse...

Caro Tavares Moreira, boa tarde!

Leio o seu post e os comentários que ele já suscitou e continuo com dúvidas e só uma certeza.

A certeza de que o ministro da economia se tinha algum poder de intervenção (de influência) deveria tê-lo usado nos bastidores.Tendo falado alto,expôs-se publicamente, o que deu aso a que de imediato fosse brindado com uma resposta insolente do responsável da BP em Portugal e colocou o país na expectativa das potencialidades ou das impotências do ministro. Lamentável, porque se tivesse boas razões para falar, falou antes de tempo.

Quanto às dúvidas: Continuo a não perceber de que anda atrás a AdC.
Se anda atrás de indícios de cartel é porque é tola. Toda a gente sabe que no mercado das comodities quando o mercado é vendedor (e é claramente o caso)os acordos de cartel são desnecessários: Basta o líder subir e os outros sobem; se o líder condescender baixar, os outros farão o mesmo.

Quanto às margens, quem pode impedir as petrolíferas de arrecadarem o que bem entenderem se o mercado lhes é favorável?

Evidentemente que o Estado é um grande comprador além de continuar a ser accionista da Petrogal. O governo, enquanto tutor do interesses do Estado, pode e deve influenciar a moderação da ganância das petrolíferas. Esperemos que o faça.

A AdC é que, neste caso, não me parece que possa fazer grande coisa. Os relatórios que de vez em quando anuncia são a expressão mais nítida dessa impotência: porque os custos da Petrogal, e das outras, são conhecidos em cada instante, em tempo real.

Como é qu ninguém denuncia isto?

Tavares Moreira disse...

Caros Zuricher e CCz,

O famoso Programão - de que os estrategas do "papa-açordismo" têm estado a guardar "intrigante" silêncio" nos últimos tempos - parece encontrar-se encalhado nas rochas de acesso ao porto dos meios financeiros...
Consta que logo à segunda das 10 grandiosas obras de auto-estradaria a pagar pelos contribuintes indefesos, a montagem financeira não ata nem desata...
E com as oito seguintes, como será?
E com o TGV?
E com o novo Aeroprto?
E com a 3ª Travessia do Tejo?
E com o projecto megalómano da Frente Ribeirinha do Tejo?
E com a extensão do Metro do Porto?
E com toda a série de infraestruturas prometidas aos autarcas do Oeste, para os compensar da irreparável perda do Aeroporto da Ota?
E com os novos Hospitais, em Lisboa, Cascais, Braga e não sei onde mais?
Alguém me poderá explicar onde vão ser recolhidos os fundos para toda esta loucura de obras?
Será que a maldita teoria da claustrofobia do Euro vai paralizar o Programão com este estava na sua tenra infância deixando à vista a planetária insensatez dos teóricos do Programão?
Não estaremos, em última análise, perante um embuste de proporções gigantescas?

Anónimo disse...

Boas notícias as desse encalhe, Tavares Moreira, boas notícias! Quando o comandante não tem o bom senso suficiente para lançar a âncora e decide tentar navegar por mares tempestuosos pois é natural que o navio encalhe. Mas, ainda assim, antes encalhar nuns rochedos que desfazer-se no fundo dum promontório. Daí que esse encalhe seja bom. Agora apenas resta ver se a ondulação é de molde a aguentar o navio e ele ficar apenas encalhado ou se acabará por partir. Eventualmente podemos ter um daqueles casos em que o comandante é o primeiro a abandonar o navio. Onde é que eu já vi isto???

No que toca ao embuste, sim, várias das obras tenho e sempre tive isso em mente. As supostas obras megalómanas para compensar o Oeste por não ter lá o aeroporto, por exemplo, sempre tive isso como um embuste.

Tavares Moreira disse...

Caro RV,

Muito sugestivo seu gráfico, permitindo conclusões curiosas - já o enviou à Deco?
Entretanto, como é que vai ser agora que os preços do crude estão de novo em alta...se este "rebound" tiver continuidade?

j. manuel cordeiro disse...

Caro Tavares Moreira, agora que a DECO parece ter descoberto a blogoesfera, talvez eles encontrem o gráfico :-) Estou curioso para ver a reacção das petrolíferas agora. Dia 24 a EIA publicará mais dados actualizados e, então, refarei as contas.

Tavares Moreira disse...

Caro RV,

Quem sabe se seu gráfico não vai ser exibido no próximo Sábado, no âmbito das manifestações de desagrado contra a rigidez descendente dos preços dos combustíveis...
Cá ficamos à espera da revisão do gráfico que nos promete...não esqueça s.f.f.
Parece entretanto que as distribuidoras se assustaram coma manifestação e estão ajustando os preços em baixa como há muito tempo não se via...
É curiosa esta dual reacção: estiveram-se nas tintas para a oratória do ministro-comentador desportivo mas agora assustaram-se com o anuncio da manifestação da DECO...
Onde está o poder, a final?