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sábado, 4 de outubro de 2008

“Artistas portugueses”...

Fico, cada vez mais, surpreendido com a facilidade com que certas pessoas vendem as suas ideias e produtos. No caso dos políticos o uso e abuso do populismo não falha. Chegam a repetir as suas campanhas e ideias várias vezes usando os mesmos tiques, lugares comuns e mensagens e, mesmo levando com adjectivações menos agradáveis, conseguem que as pessoas acabem por votar neles! Como é possível?
Aproxima-se um novo ciclo eleitoral, os "candidatos", para variar, claro, vão ser os mesmos e as conversas políticas irão ser fotocópias das anteriores, os insultos pouco evoluirão, e, no final, acabam por votar nos mesmos. Impressionante esta capacidade de análise por parte da maioria dos eleitores! Mas não é só na política que se verifica este fenómeno. A publicidade a certos produtos leva as pessoas a adquirirem sem necessidade os mesmos. Caiem que nem uns patinhos, mesmo que sejam avisados. O conto de vigário, nas suas múltiplas facetas, que vai desde o golpe do Paco, até aquelas “invenções” de certos produtos financeiros, passando pelo jogo da vermelhinha, tem no terreno lusíada sucesso garantido.
Como explicar estes fenómenos? Numa primeira análise quase que poderia afirmar que os portugueses não gostam ou não conseguem raciocinar.
Ando, há muito tempo, a pensar como explicar certos fenómenos. Foi preciso ler uma obra de Teixeira de Pascoaes, "Arte de ser português", para compreender um pouco melhor. Às páginas tantas, Pascoaes explica que "o génio lusíada é mais emotivo do que intelectual". O português prova a sua verdade "sendo e não raciocinando". "Comove-se com uma ideia mas despreza a dialéctica". "A emoção afoga a inteligência, ultrapassando-a como força criadora".
Os portugueses não usam os olhos para ver, mas sim para alumiar. São fantásticos em matéria de solidariedade, capazes de se unirem para ajudar um povo, uma comunidade ou um simples cidadão necessitado. Basta para o efeito que a ideia apele à emoção. Mas não lhe peçam que filosofe ou pense sobre os problemas, porque tem horror e custa muito. O português, na perspectiva do escritor amarantino, "Não quer interpretar o mundo nem a vida, contenta-se em vivê-la exteriormente; e tem, por isso, um verdadeiro horror à Filosofia, imaginando encontrá-la em tudo o que não entende".
Revela desta forma uma incapacidade em construir novas verdades fonte do progresso.
Agora, compreendo o porquê de certas posturas e atitudes de responsáveis nacionais que sabem, no momento próprio, apelar à emoção, usando formas primárias de populismo, não se importando que estejam a contribuir para impedir o uso da razão, limitando o crescimento e o desenvolvimento do país. Bons manipuladores que se distribuem pelas diferentes áreas, sociais, desportivas, bancárias, políticas e religiosas.
Se o factor emotivo é de uma utilidade inquestionável face às inúmeras tragédias, pensar, raciocinar, analisar e criticar são vitais para a construção de novas verdades capazes de estimular o progresso. Mas, pelo andar da carruagem, vão continuar a cair no conto do vigário dos colchões, a comprar o livro da saúde, a ser espoliados pelos "bispos" negociantes, a ir aos astrólogos, a pagar os doutos conselhos dos "professores" feiticeiros, a votar em figuras que, pensava eu, já tinham mostrado as suas incapacidade, enfim, vão continuar a ser emotivos, "desprezando" o pensamento. Afinal, esta conduta é apenas uma das muitas facetas da "arte de ser português"...

3 comentários:

Flávio Gonçalves disse...

Há muito que não lia um texto com o qual me identificasse tanto. Triste fardo o do nosso povo...

David R. Oliveira disse...

Subscrito na íntegra e incondicionalemnte. Dr., pois eu também acho que sim. Tudo o que pode e devia ser explicado e que nisso começa é um drama. Pioréstá revelar-se a nossa tragédia.Isso é tão mas tão verdade que desse nó também eu, por mais que me esforce e olhe o poliedro de vários ângulos não lhe encontro orientação. Isso é tão verddae que se trata de coisa que nem me parece compatível ou proporcional ao nível de instrução das pessoas consideradas. Se assim fosse já teríamos umas largas dezenas ou centenas de milhar que não deveriam nunca surpreender-nos com comportamentos tão mesquinhos ou miseráveis. Logo o problema é de educação ou melhor também não será pois eu que não me encaixo na geração dos pais, nem na dos filhos, olho para trás e temos muito de pobre e triste mas encontro muitíssimo de probo e honesto. Era gente massacrada por tudo e mais pela vida mas pelo menos me parece que não eram nem pedantes, nem arrogantes, nem desonestos, nem transviados, nem possidónios,ignaros mas cônscios da condição, etc, etc... uma série de virtudes que os filhos perderam e em troca ou por substituição colheram nada.
Peço desculpa e os meus agradecimentos
David Oliveira

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Professor Massano Cardoso
Gostei imenso da sua análise. Com efeito, somos um povo de gente generosa e solidária, que pensa muito com o coração e pouco com a razão. Vivemos desde sempre debaixo da protecção de um Estado intervencionista que aparentemente está sempre presente para resolver os problemas, para cuidar da saúde, da educação, das pensões e tudo o mais. Esta cultura paternalista atrofia, entre muitas outras coisas, o pensamento analítico, crítico e ambicioso. Fazê-lo pode gerar desconfiança e insegurança. É por isso, que aceitamos o mesmo discurso político, rejeitando propostas de mudança. Tudo tem de ser feito com muito cuidado e muito devagarinho, com o ritmo do progresso marcado a passo de tartaruga. Um tal estado de coisas não favorece a renovação política. Que faz muita falta!