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terça-feira, 7 de outubro de 2008

As focas do Mar Cáspio e deste mundo...

Esta é uma foca do Mar Cáspio. Está a querer dizer-nos alguma coisa importante! Não precisamos de perder tempo a imaginar o que será. Esta foca é uma das espécies que constam da lista de espécies do planeta em perigo crítico de extinção. Em cinco anos a população de focas do Mar Cáspio reduziu-se 90%, vítima de caçadores.
O mundo não se encontra numa direcção sustentável e nós precisamos de um novo paradigma sustentável”. Uma verdade que tem um campo de aplicação vastíssimo. Aplica-se à crise financeira mundial, mas a afirmação foi proferida por um responsável da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICM) para alertar que há muitas espécies animais a morrer às nossas próprias mãos.
Segundo o estudo divulgado no Congresso Mundial da Natureza que decorre em Barcelona, as principais ameaças que afectam a vida dos mamíferos terrestres são a destruição, com destaque para a caça, e a perda de habitat natural, enquanto que os mamíferos marinhos se debatem com a contaminação, com destaque para a poluição, e as alterações climáticas.
Os dados da “Lista Vermelha” da UICN revelam que 50% dos mamíferos do mundo estão em situação de declínio, enquanto 25% estão já no “corredor da morte”.
Portugal aparece na “Lista Vermelha” com 159 espécies em risco de extinção. A maior parte refere-se a 67 espécies de caracóis da Madeira e dos Açores. A seguir vêm 38 espécies de peixes e um total de onze mamíferos, onde está incluído o lince ibérico.
O retrato trazido por este estudo não poderia ser mais cruel. É o resultado da acção do homem, que se não alterar os contornos do modelo de desenvolvimento em que está “loucamente” envolvido deixará aos seus filhos e netos um mundo mais pobre.
Este cenário desolador só poderá ser alterado com uma vontade grande de querer preservar a riqueza animal, e não só, que a natureza tão generosamente nos ofereceu. Será sem dúvida um problema difícil de resolver, que nos deveria obrigar a ser capazes de reclassificar princípios e reequacionar prioridades. Será que somos capazes de o fazer? É que a situação a que chegámos não é uma novidade, não é nada que não tivéssemos consciência que estaria a acontecer. A pergunta que fica é a de saber porque é que havemos de seguir “cegamente” por caminhos que podem acabar no abismo? Será que o desenvolvimento é incompatível com a preservação da natureza? Ou será que temos de alterar o conceito de desenvolvimento?
São questões para as quais é difícil uma resposta positiva, num mundo globalizado em que a competição desenfreada aliada à necessidade de sobrevivência económica e de ambição política parece que não olha a meios!

10 comentários:

Bartolomeu disse...

"Será que o desenvolvimento é incompatível com a preservação da natureza? Ou será que temos de alterar o conceito de desenvolvimento?"
;)
Estas serão provávelmente as duas questões fundamentais, para as quais urge encontrar uma resposta global.
Mas essa resposta vai exigir de todos, uma tomada de consciência que se não for voluntária, será infelizmente imposta a todos de forma tão dura e contundente, que penso não estamos preparados sequer para imaginar.
No entanto, cara Margarida, forças contrárias a essa tomada de consciência, impõem-se de uma forma que nos parece imbatível, sobretudo porque se encontram alicerçadas em valores materiais com um peso muito significativo, ajudado pelo facto real de as sociedades se encontrarem estructuradas e dependentes do consumo e do consequente aumento da capitalização de um lucro que se deseja ver aumentar constantemente.
Sabemos como alterar o conceito de desenvolvimento, mas não possuímos a consciência e a força anímica necessárias para dar início a esse processo.
Depois de alterado o conceito de desenvolvimento, será possível encontrar o caminho que conduz à sustentabilidade e ao equilíbrio que ditará a nossa permanência no mundo, tal como o conhecemos, e, ou o idealizamos.
Carl Marx, proferiu uma frase interessante:
"É preciso ser, para fazer"

Anónimo disse...

Uma nota muito oportuna, Margarida.
A velocidade de desaparecimento de espécies por razões que não se devem a factores naturais, acelerou extraordináriamente nos ultimos 150 anos.
Na sequência da Conferência do Rio de Janeiro de 1992, a Europa procurou assumir a liderança de um movimento internacional destinado a travar a fundo a perda de biodiversidade como condição para um desenvolvimento sustentável.
A Europa tem, como nenhuma outra entidade política internacional, a consciência do que significa o empobrecimento da diversidade biológica. No chamado Relatório Dobris, a Agência Europeia do Ambiente afirma que "o declínio da biodiversidade em muitas regiões da Europa é consequência, principalmente, de formas extremamente intensas, parcialmente industriais, de utilização agrícola e silvícola do solo; de uma fragmentação cada vez maior dos habitatsnaturais restantes em resultado de infra-estruturas e urbanizações e da exposição ao turismo de massas bem como à poluição da água e do ar. Tendo em conta as previsões de crescimento da actividade económica, a taxa de perda da biodiversidade tem mais probabilidades de aumentar do que de estabilizar".
O diagnóstico está feito, pelo menos no espaço europeu. Mas a realidade é que não se vê meio de inverter a tendência.
Sendo a travagem da perda da biodiversidade até 2010 uma das prioridades da política ambiental europeia para a primeira década do século XXI, estamos longe, muito longe de conseguir esse objectivo.
Tenho porém o sentimento de que as coisas estão a mudar ao nivel das mentalidades. E é a esse nível que têm de começar a mudar. É hoje maior, parece-me, a consciência de que é decisivo para o nosso futuro colectivo, preservar espécies e habitats, manter a diversidade genética da qual depende boa parte do nosso estilo de vida (ainda que não nos apercebamos disso...). É um começo. Mas é um começo esperançoso, porque parte dessa consciência pertence aos mais jovens.

PA disse...

tchhhhhhhh, os manuais marxistas estão tão na moda, que voltaram ao escaparate. Hummmm, verdade Caro Bartolomeu ?

:-)))


Cara Margarida, vi um programa há algum tempo sobre a poluição no Mar Cáspio, provocada pelos navios metaneiros que transportam petróleo. Um dos principais motivos de poluição que leva ao dizimar das espécies.

O programa era sobre a pesca de esturjão (por causa do caviar, especialmente, o beluga...pois !).

O que mais me impressionou foi o negócio do caviar e a enorme corrupção que há com a polícia que persegue os pescadores de esturjão. Mas no fundo o que eles querem é que parte do produto do negócio seja para eles (polícias).

Tal como as focas, o esturjão também está a desaparecer, no mar cáspio.

cumprimentos.

Anónimo disse...

Já agora, para quem se interessa por estas coisas, vale a pena ler a comunicação da Comissão em
http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2006:0216:FIN:PT:PDF

jotaC disse...

“Reequacionar prioridades”.
Diz muito bem cara Dra. Margarida Aguiar. Mas como reequacionar prioridades se todo o conceito de bem-estar e desenvolvimento da sociedade assenta no consumo e produção desenfreada de bens? E se não houver este consumo como é que as coisas se compatibilizam a montante? Isto é, como se criam postos de trabalho e riqueza que sustente este conceito de bem-estar por que todas as sociedades anseiam?
Acho que a sociedade global se encontra numa encruzilhada e, não querendo ouvir a voz da razão sobre o caminho a seguir, continua numa fuga em frente em direcção ao tal abismo.
Perante esta crise que alguns chamam financeira (acho que tem mais a ver com uma crise do sistema político) e que na realidade ninguém sabe como vai acabar, ensaiam-se experiências de vária ordem nomeadamente, injectar dinheiro no sistema para cobrir os custos do “bem-estar” do grosso da sociedade (a de menores recursos). Mas já alguém ouviu alguns dos paladinos do sistema dizer até quando esta situação é sustentável? Não. Mesmo assim continuamos alegres e contentes no caminho rumo ao desconhecido. Bem sei que regredir é difícil, se não impossível…
Mas como diz uma pessoa minha conhecida a crise ao que parece é daqueles que têm algum dinheiro porque dos outros, parece que o “providência” vai cuidar!
O olhar desta foca que encima maravilhosamente bem o seu post, causa-nos momentaneamente algum aperto…mas depois esquecemos e continuamos.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Quantas crises e perdas teremos que defrontar pelos erros que cometemos no caminho de desenvolvimento que estamos a seguir - que a bem dizer apenas uma pequena parte da população mundial usufrui - para nos capacitarmos que temos que fazer mudanças?
Sabemos que devemos alterar o conceito de desenvolvimento, mas não estou certa que efectivamente o queiramos fazer e que saibamos como fazê-lo. Num mundo globalizado fazê-lo significa consensos e comprometimentos além fronteiras, o que introduz enorme dificuldade na resolução do problema.
Tenho-me questionado porque é que perante a crise aguda nos esforçamos para estar unidos na busca de uma intervenção concertada, mas não somos capazes de o fazer para a evitar?

José Mário
Obrigada pela sugestão de leitura. Já em 2006 a Comissão caracterizava muitíssimo bem o problema: "o problema fundamental é o facto de estarmos a gastar o capital natural da Terra e a pôr em risco a capacidade dos ecossistemas para sustentar gerações futuras. Podemos inverter o declínio, mas apenas com alterações substanciais a nível de políticas e práticas". Segundo a Comissão, "as sondagens de opinião mostram que estas preocupações relacionadas com a natureza e a biodiversidade são fortemente apoiadas pelos cidadãos da UE". É um motivo de esperança!
Agitar a consciência é fundamental para que as gerações mais novas cresçam a pensar na necessidade de uma mobilização verdadeira para salvar a Terra.
Tem muita razão, José Mário, parte dessa consciência pertence aos jovens.

Cara Pézinhos n Areia
Lembrava-me de há tempos ter lido alguma coisa sobre o esturjão.
Encontrei a notícia no Diário de Notícias de 1.04.2006, segundo a qual a CITES, organismo internacional que regula o comércio de espécies ameaçadas, proibiu a exportação de caviar, à excepção do que é produzido em aquacultura, para justamente impedir o fim dos stocks do esturjão. Não sei, entretanto, se a medida foi suficiente para estancar a destruição do esturjão. Não sei se esta espécie faz parte da lista anunciada pelo Congresso Mundial da Natureza. Parece que o contrabando de caviar aumentou bastante.

Caro jotaC
As suas perguntas são fundamentais para a reflexão sobre o reequacionamento de prioridades. A imagem que expressa sobre a “fuga em frente” é muito feliz para caracterizar o comportamento dos homens, aqueles que comandam o destino do mundo e que beneficiam do bem-estar que têm dificuldade em reequacionar.
O comentário que fiz ao post "Éramos felizes e não sabíamos" da nossa amiga Suzana tem absoluta aplicação em relação ao declínio da natureza de que somos responsáveis. É que os protagonistas são os mesmos: “O que mais impressiona é que mais uma vez - comentário idêntico lembro-me de ter feito a propósito da escalada recente dos preços de bens alimentares – ficámos à espera do colapso, como que sendo uma fatalidade das nossas próprias escolhas de soluções de desenvolvimento, para depois nos admirarmos e actuarmos, como se o caminho que vínhamos trilhando fosse desconhecido”.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro jotaC
Esqueci-me de lhe dizer que o olhar da foca nos deveria encher de coragem para a proteger. É mesmo o que esta simpática foca nos está a pedir. Se não o fizermos deitaremos fora esse maravilhoso olhar que tanto falta nos faz. Faz-nos mais humanos!

jotaC disse...

Tem toda a razão, cara Dra. Margarida Aguiar...
Lamento é que nem todos sintam "profundamente" o tal aperto a que me referi quando encaram este olhar tão expressivo que, como muito bem diz, nos faz sentir mais humanos.

antoniodasiscas disse...

Cara Margarida
Tenho a maior das penas de assistir impávido e sereno a estas metarmofoses da vida terrena, junto dos animais,algumas delas só suscitadas pelo egoísmo e pela sede do dinheiro do homem. Em todo o caso, há bichos e bichos e eu apetece-me ressalvada atrás a minha posição, de não ter pena nenhuma do crocodilo do amazonas estar em extinção, - a pelezita, ai jesus o que seria se a moda ficasse sem esse "maná do céu" - mas torcer-me-ia se soubesse que as variedades de papagaios e de catatuas do amazonas também, estivessem em perigo, votados ao ostracismo pelo homem. Só que isso não acontecerá enquanto se processarem vendas maciças sem escrúpulos, dessas aves, facto que arruina por completo o ecosistema. Até as serpentes, algumas repelentes, servem para fazer dinheiro através de uma exportação clandestina. Enfim, o desenvolvimento! Entretanto, lembremo-nos das baleias e das focas por exemplo, o negócio continua à escala mundial, a partir de actos absolutamente selvagens que matam e destroiem a fauna marinha. Uma séria de problemas à escala global, que carecem de uma concertação rápida de diligências em ordem a se obter um consenso para defesa e protecção do planeta.

Bartolomeu disse...

Cara pézinhos n'areia... ou melhor, querida pézinhos n'arei como ha algum tempo preferiu um dos nossos amigos comentadores... hum... tambem não. O adjectivo tanto pode segnificar algo cujo preço excede o seu valor real, como, estimado, ou querido pode significar muito estimado, amado, ou predilecto. Prefiro estimado, porque alem de querido, significa ainda apreciado, cujo significado é considerado. Posto este raciocínio, anuncio a minha decisão de encetar hoje, aqui e agora uma revolução cultural, abolindo a referência de "caro" ou "cara", passando a utilizar "considerado" ou considerada"
;)
Considerada Pézinhos n'areia, as filosofias, foram desde sempre o berço de todas as políticas. Desde o início dos tempos que o homem se deixa fascinar pelo desejo de entender os comportamentos sociais em sintonia, ou na dependência dos poderes divinos, assim como dos temporais. Esta trilogia, Deus-Governo-Povo, manteve-se inalterável até aos nossos dias.
Aquilo que continua a intrigar as mentes que pensam e que buscam o equilíbrio, é o fenómeno da alienação de massas. Aliás é no sentido de tentar reverter esse fenómeno que as igrejas, chamam a si aqueles que já lhe são fieis, e exercem a acções de evangelização, e os poderes políticos, tentam concertar estratégias de fidelização às suas (nobres) causas. Numa segunda análise, percebemos com relativa facilidade que existe uma conflitualidade entre os três poderes, que apesar da argumentação, se demonstram incapazes de catalizar suficientemente sem recurso à imposição ou à punição.
Então e voltando à filosofia, aquilo que verdadeiramente se busca é a formula equilibrada de fazer convergir no mesmo sentido tanto o poder espiritual como o temporal, sem ferir o popular.
Impossível?
Aqueles que advogam a anarquia, garantem que não.
Carl Marx, afirmava que é necessário fazer, mas para isso é imprescindível ser-se. Ou seja, é necessário que surja uma consciência universal, gerada na consciência individual.
Este exercício transcende a capacidade de visionar do futuro, so podendo portanto ter como fulcro a vontade, que também ela tem de ser universal.