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domingo, 26 de outubro de 2008

Outra verdade inconveniente


"A coesão territorial e a defesa da nossa identidade exigem uma atenção acrescida dos poderes públicos ao grave problema do despovoamento do interior". Palavras do Presidente da República, hoje, em Vila de Rei.
  • O censo de 2001 regista que Vila de Rei é um município com aproximadamente 190 km2, com cerca de 3300 habitantes (uma densidade de 18 habitantes/km2). Na sede do concelho residiam nessa altura pouco mais de 2500 habitantes. Provavelmente perdeu população de então para cá. A Freguesia de Agualva-Cacém em Sintra, conta com 25 vezes mais população que todo o concelho de Vila de Rei, concentrados em 10,5 km2.

8 comentários:

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

José Mário
O Presidente da República tem muita razão.
Considero que a dimensão regional do desenvolvimento económico e social tem estado ausente. Só é possível estancar e fazer o repovoamento do interior se existir uma aposta política estruturante e coerente de desenvolvimento regional. Na verdade, está também em causa uma opção de País que até agora não foi politicamente assumida. Com efeito, as políticas que têm sido prosseguidas por sucessivos governos e no interior até de um mesmo governo emitem sinais contraditórios, seja ao nível fiscal, seja ao nível dos serviços públicos essenciais, apenas para citar uns exemplos.
O desenvolvimento do interior implica coerência de políticas sectoriais, caminho que a meu ver não tem sido seguido. Quem conhece a Europa, sabe que países como a França, a Alemanha ou a nossa vizinha Espanha investem nas suas economias regionais enquanto centros de produção de riqueza e de bem-estar económico e social. É igualmente uma excelente via para reforçar a identidade nacional, valorizando e reconhecendo as especificidades regionais.

Bartolomeu disse...

Estou de perfeito acordo com tudo aquilo que a estimada Drª. Margarida deixa dito. Porem, é bom que o Sr. Presidente da República não deixe só por dito o seu pensamento, assim como é bom que todos aqueles que têm nas mãos a responsabilidade de governar este país, tenham a clareza de espírito e a visão futurista de o entender e de dar seguimento com acções, às suas palavras.
O tempo urge, a crise que se aproxima é tremenda e esta é sem dúvida a forma mais consistente de lhe fazer frente. O país é pequeno, os recursos são escassos, mas a vontade deste povo é imensa, quando motivada e orientada.

Frederico Lucas disse...

:-)

É com enorme satisfação que vejo este tema a regressar à agenda.

O futuro de Portugal depende muito mais dos territórios de baixa densidade (TBD) do que das metrópoles: A qualidade de vida - ambiental, social e ECONÓMICA - reside no interior. Sabemos pelo INE que o rendimento disponível reside nas metrópoles (irónicamente tal como o endividamento e o sobreendividamento) e por parte da banca sabemos que os produtos de poupança têm o seu mercado nos TBD.

Estranho?

Nem por isso!
O custo de vida no interior é exponencialmente mais baixo: Um T2 novo com vista para a serra a 250 euros/mês e um infantário assumido na totalidade entre a autarquia e a Seg Social não é algo que se encontre nos meios sobrepovoados.

Mas só agora podemos contar com esses territórios, porque faltava ao país a conectividade rodoviária e digital, para que fosse atractiva para os actores do conhecimento e organizações.

O QUE NOS FALTA?

Motivar o INTERIOR para este novo desígnio, organizações empresariais para a oportunidade de exploração destes territórios lowcost (com destaque para a actividade de call centers e centros de armazenamento e digitalização documental) e pessoas que queiram dedicar à familia o tempo outrora dedicado ao trânsito.


Um abraço


Frederico
http://iregions.org
PS: Não expliquei propositadamente o que poderão fazer os actores do conhecimento nesses territórios, para não alongar a resposta. Deixo o link aos interessados.

Anónimo disse...

Margarida, estou certo de que nos arrependeremos, mais cedo do que tarde, pela opção de deixar despovoar o interior. Os problemas sociais sentidos nas grandes cidades são em parte consequência da escolha - aliás claramente assumida no PNPOT - de concentração demográfica numa estreita faixa do litoral.
Ao ocntrário do que se pensa, Mário Lino quando disse que um aeroporto no deserto, "jamé!", estava a expressar, convictamente, a adesão a uma política que concentra investimentos onde há população e actividade, numa optica de para aí atrair mais população e mais actividades.

Estou consigo, Bartolomeu. Palavras leva-as o vento. É necessário que não se fique por elas. Mas seria bem pior se o Presidente da República não as pronunciasse e com essa omissão demonstrasse estar de acordo com as políticas seguidas até aqui ou recusar-se a exercer sobre este aspecto a sua magistratura de influência.

Meu caro Frederico, infelizmente este assunto está sempre em agenda. E suspeito bem que, pelas piores razões, será tema das próximas camapanhas. Digo pelas piores razões porque se vai mais uma vez dizer que esta política de abandono do interior e de prevalência dos investimentos nas grandes áreas metropolitanas (grandes, à escala do País, bem entendido) é devida à falta de regionalização, de que todos se vão acusar mutuamente. Ora, se bem que de uma vez por todas se tem de definir o modelo de regionalização ou então rever a Constituição deixando-a cair como designio, certo é que o diagnóstico feito pelo chefe do Estado pouco tem de ver com esse processo. Fixar populações depende seguramente de um quadro administrativo assente na descentralização. Mas depende sobretudo de políticas que fomentem o desenvolvimento e a igualdade de oportunidades para todos os cidadãos, independentemente do local onde residam, estudam ou trabalham.
Ora, é esta discriminação profundamente negativa e injusta que está na raiz da acentuada fuga para o litoral, e qualquer dia para outras paragens fora do espaço nacional.
Gratto pela indicação do sitio que anima, que aliás visito com regularidade.

Pedro disse...

Meus Caros,

1) Portugal é um país pobre.

2) A concentração da população leva a poupanças de escala.

Conclusão: Portugal será mais eficiente (e menos pobre) se concentrar a sua população.

Não me preocupam vastas zonas desertas, até acho agradável a sensação de "wilderness" que vai sendo rara na Europa e é quase inexistente em Portugal. Em Portugal para onde quer que se olhe lá vê uma casa no meio de nada -- do género daquelas que o nosso PM assinou.

Preocupa-me sim a má organização das cidades portuguesas.

Cumprimentos,
Paulo

Frederico Lucas disse...

Caro Paulo,
Para não interpretar o seu comentário como meramente diletante, queira pf explicar qual a economia de escala que encontrou na AM de Lisboa para que possamos todos aprender algo consigo.

Muito obrigado.

Pedro disse...

Caro Frederico Lucas,

Em primeiro lugar qualquer comentário num blogue é diletante por definição. É no entanto a minha convicção que da tertúlia (que repito é diletante) sempre sai alguma luz, alguma dúvida.

Se sobrevoar Portugal vai reparar que o País é uma distribuição aleatória de casas e pequenas aldeias/vilas/pseudo-cidades, a maioria sub-críticas. O custo de manter uma infraestrutura de estradas (e não falando de via férrea), esgotos, redes de comunicações, electricidade, serviços públicos etc é enorme.

É por isso menos mau que, por exemplo, as capitais de distrito do interior sequem tudo quanto é aldeia/vila/cidade miserável num raio de 50km, e sejam cidades razoáveis e eficazes.

Vastos espaços sem população é bom e agradável. Em Portugal já começa a ser difícil encontrar um sítio onde não passe uma estrada e se possa estar em paz e sossego. O sonho de qualquer Tuga que se preze é deixar a sua marca sob a forma de betão espalhado pelo território. É uma versão micro dos sonhos megalómanos do Tuga Lino.

A AM de Lisboa tem muito que se lhe critique mas está a anos luz de qualquer aldeia/vila/cidade do interior. Por exemplo, em termos de serviços disponíveis, é impensável num país pobre como o nosso, ou em qualquer lado do mundo, pensar que se podem ter recursos públicos de elevada qualidade em qualquer cidade do interior.

A civilização nasceu em cidades e não no campo.

Cumprimentos,
Paulo

Anónimo disse...

Meus caros, é do confronto destas perspectivas que se faz o debate.
Infelizmente não tem havido esse debate. E por isso não há um sentido para as políticas de desenvolvimento territorial. É do que essencialmente me queixo.
Agora quanto ao problema do despovoamento tenho a minha convicção que está no polo oposto à aqui manifestada por Paulo.