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sábado, 11 de outubro de 2008

Recordar as crises e castigar os crimes

Faz agora 91 anos, em Outubro de 1917, a Revolução russa estabeleceu a vitória do comunismo e a inevitabilidade histórica do colapso da economia de mercado. Seria apenas uma questão de breve prazo.
Com a crise de 1929, o comunismo decretou mesmo o fim do regime capitalista.
Desde então, o capitalismo e a economia de mercado, melhor ou pior, conseguiram o maior período de liberdade, respeito pelos direitos humanos, prosperidade e progresso económico e social da história.
Ao contrário, os regimes comunistas acabaram por cair, desmantelados pela opressão das liberdades e pelas penosas condições de vida que criaram aos seus cidadãos.
Aproveitando o forte estremecimento da actividade económica, voltam os ideólogos de antanho a anunciar o estertor da economia de mercado e os amanhãs de novas e gloriosas economias de direcção central.
Desconhecem a história e os ciclos económicos. E nunca aprenderam que a criatividade, o voluntarismo, o engenho e a própria necessidade dos agentes da economia de mercado arranjam sempre soluções e forças para transformar as crises em novos tempos de prosperidade.
Esta é mais uma crise séria. E quem cometeu crimes de mercado, que ajudaram a ampliá-la, e muitos foram, tem que ser exemplarmente castigado. A fraude não pode passar impune.

7 comentários:

Tonibler disse...

Caro Pinho Cardão,

Por acaso temos lá uma discussão sobre a crise http://tonibler.blogspot.com/2008/10/crise.html#links . Isto já não é sobre a fraude, sobre o crédito ou sobre CDO's. Vivemos tempos únicos em que vale a pena estar consciente a ver o que se passa porque um novo mundo está a nascer.

Carlos Sério disse...

Caro Pinho Cardão, será que esta crise é mesmo semelhante às outras?
Será que na sua evolução o capitalismo não criou novas situações?

Na verdade no actual estágio do sistema capitalista verifica-se que embora ele represente um bom instrumento de organização da produção, constata-se que não sabe distribuir, organiza muito precariamente a absorção produtiva dos recursos humanos, e desvia para actividades especulativas a já precária poupança da população.

O essencial é que o ciclo de reprodução social exige não só a produção, mas também a distribuição para que haja consumidores, e os empregos para que haja massa salarial e um mínimo de estabilidade social e política. Essencial também é o financiamento dos produtores, viabilizando os investimentos e as transformações estruturais de médio e longo prazo, a chamada construção da economia.

Estas três grandes fragilidades do sistema liberal, nos planos da distribuição, do emprego e de recursos, viram-se dramaticamente agravadas nos últimos anos.

No plano da distribuição, frente aos dramas do desemprego e subconsumo dos anos 30, Keynes mostrou que frentes de trabalho e apoio financeiro aos desempregados, gerando uma massa salarial e maior capacidade de compra, dinamizaria o mercado, provocando uma recuperação da conjuntura capitalista via procura. Em outros termos, Keynes demonstrou aos ricos que a miséria é ruim para os ricos, e não apenas para os pobres. No entanto, o sistema proposto supunha uma forte capacidade de Estado, que cobraria impostos das empresas para financiar a redistribuição e a dinamização económica. Hoje, com a globalização, qualquer reforço de impostos leva as empresas a emigrar para regiões onde se produz mais barato. Em outros termos, a economia se globalizou, enquanto os instrumentos de política económica, essenciais para uma política keynesiana, continuam sendo nacionais, e portanto de efectividade cada vez mais limitada. Como não há governo mundial, que possa retomar o mecanismo já no nível planetário, regrediram as políticas de redistribuição, e voltamos a um capitalismo selvagem próximo do antigo liberalismo: o neoliberalismo.
No plano do emprego, as transformações recentes são igualmente profundas, na medida em que a revolução tecnológica gera uma redução absoluta do nível de emprego. Estima-se hoje que, em média, um crescimento de 5% ao ano seria necessário para manter o emprego no nível existente A simultânea redução do ritmo do crescimento económico e da capacidade de criação de emprego das unidades produtivas, leva a uma situação que se acentua, ano após ano, de redução do emprego.
Em termos de recursos, as tendências recentes, com a globalização financeira, tornaram a situação particularmente dramática, na medida em que se retiram recursos da área dos investimentos produtivos e se transferem para a especulação financeira.

Carlos Sério disse...

Mas, ao invés do desenvolvimento económico esperado, a implementação de tais políticas neoliberais provocaram um crescimento económico mais fraco, um maior desemprego, um aumento da pobreza e o acentuar progressivo das desigualdades sociais. Segundo o relatório da Unctad (United Nations Conference on Trade and Development) de 1997, o crescimento mundial, reduziu-se de cerca de 4% ao ano nos anos 70, para cerca de 3% nos anos 80, e 2% nos anos 90.
Esta fase superior do capitalismo – o imperialismo – encaminha-se para um beco sem saída. Com a “globalização” retiram-se recursos da área dos investimentos produtivos transferindo-os para a especulação financeira.
Esta tendência atinge directamente o coração da legitimidade do sistema capitalista neoliberal. De forma mais ou menos explícita, todos nós nos queixamos das injustiças geradas pelo capitalismo, mas de certa forma as aceitamos na medida em que a riqueza do capitalista tendia a transformar-se em investimento produtivo, empregos e produtos. A injustiça social passava assim a ser um mal inevitável de um processo em última instância positivo. O que é novo, é que com a expansão dos sistemas de especulação financeira, segundo a Unctad, a crescente concentração da riqueza nacional nas mãos de poucos não tem sido acompanhada por uma elevação de investimentos e crescimento mais rápido.
As trocas especulativas diárias são da ordem de 1,5 triliões de dólares por dia, enquanto as trocas de bens e serviços realmente existentes mal atingem os 25 biliões, algo como 60 vezes menos.
Nesta lógica, o que constitui não uma excepção mas uma regular tendência das últimas décadas, assiste-se aos lucros crescentes de um lado, e a investimentos, salários e emprego decrescentes do outro, o que simplesmente torna este sistema neoliberal insustentável.

Pinho Cardão disse...

Caro Ruy:
Obrigado pela sua crítica bem fundamentada, que agradeço; acontece que toda a tese é passível de antítese.
O seu comentário merece que volte ao tema.
Por agora,só gostaria de comentar a sua afirmação de o sistema capitalista " desvia para actividades especulativas a já precária poupança da população". Não é o sistema que desvia; o "desvio", se o há, é um acto de liberdade das pessoas.
Tal não significa que se possa permitir que a oferta inclua produtos financeiros viciados, falsos, tóxicos, segundo a formulação recente. Como em qualquer outra actividade. E é aqui que tem falhado o Estado. Através da regulação, não deu a devida atenção, esqueceu mesmo a verificação da formação dos produtos, da sua natureza e composição, dando relevo às contabilidades e aos rácios de capitalização formais. Tendo ainda como propósito a defesa da concorrência, a regulação dos Estados não cuidou de verificar a concorrência desleal que alguns Bancos faziam logo ao nível dos produtos que comercializavam.
Mas não se pode tomar a parte pelo todo.
Apenas outra nota. Diz que, com a globalização, "retiram-se recursos da área dos investimentos produtivos transferindo-os para a especulação financeira". Creio que não é inteiramente correcto. A globalização faz com que os investimentos se façam nos locais onde se pode produzir mais barato, com a qualidade que o mercado exige. O que traz, obviamente, benefícios largos aos consumidores.
Claro que o processo traz prejuízos aos países dos quais os investimentos se deslocalizaram, mas cria emprego nos países onde se investe.
Claro que uma parte dos lucros é investida especulativamente, mas não de forma diferente caso não houvesse globalização.
E fico-me agora por aqui, prometendo voltar ao tema.

Suzana Toscano disse...

Caro Pinho Cardão, é de facto um atrevimento condenar os excessos do capitalismo para contrapor os benefícios do comunismo, esses que nunca ninguém chegou a ver e que mesmo assim, na sua tentativa, custaram a liberdade e a vida a milhões de pessoas. Sem liberdade não há progresso e,a haver algum, ele seria sempre intoleravel sem liberdade. Houve erros? Sem dúvida, muitos deles incompreensíveis e imperdoáveis. Mas, como muito bem diz,as conclusões devem ficar por aí e não servir para branquear regimes.

António Fiúza disse...

O capitalismo vai acabar porque houve uns problemas?
Deixem-me rir.
O capitalismo é a economia da democracia. A democracia é a política da liberdade.
A democracia também não vai acabar por causa das asneiras que o Sócrates faz todos os dias.

O capitalismo não distribui bem?
Essa agora! Bem não é igual para todos. Bem é relativo ao valor do trabalho de cada um. Se a esquerda, a direita, o centro e o resto fossem inteligentes estariam mais preocupados com o aumento do valor económico dos pobres.
E quando se desejar redistribuir, o que é absolutamente necessário, isso compete à política, que também se responsabilizará pelas consequências colaterais do intervencionismo.

Por algum tempo o capitalismo será mais prudente, menos aventureiro. Porque este é o problema. A ganância e a falta de ética de uns, por um lado, e os direitos positivos (neste caso o da habitação) que outros acham que têm, pelo outro lado, fazem os homens correr perigosas aventuras. O risco de as aventuras correrem mal é muito elevado. Como se vê.

Adriano Volframista disse...

Caro Pinho Cardão

Apenas alguns comentários sobre o pano de fundo desta crise:

a) Em 1929 existiam três modelos básicos de organização económica: capitalismo, socialismo e fascismo.
b) Hoje confrontam-se duas variantes de um modelo apenas: capitalismo individualista de matriz anglo saxónica e capitalismo paternalista de matriz galo germana.
c)Em 29 defrontaram-se duas versões de combate à crise: intervencionista e não intervencionista, hoje defrontam-se duas variantes de uma mesma versão: apenas varia no grau e a intensidade e amplitude da intervenção.
d) Em 1929 o mundo saia a custo de uma longa e dolorosa guerra mundial que tinha arruinado os principais países industrializados, hoje podemos ter chegado ao final de mais de trinta anos de posperidade ininterrupta.

Os próximos meses assistiremos a uma recomposição do xadrez mundial, economica, politica e estratégica. Voltamos ao multilateralismo e a um mundo multipolar, apenas os actores são mais do que dois, ao contrário do que sucedeu entre 49 e 89 do século passado
Cumprimentos
João