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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Somos um País de significativos contrastes...

Somos um País de significativos contrastes. Muito bons numas coisas e muito maus noutras, muito avançados numas coisas mas muito atrasados noutras. Pobres para umas coisas e novos-ricos para outras. Estes contrastes verificam-se, por exemplo, na distribuição do rendimento, entre sectores da actividade económica ou entre regiões, mas também dentro de um mesmo sector, em particular, em serviços públicos essenciais.
Anunciamos grandes conquistas e descobertas, elevadas taxas de sucesso, excelentes estatísticas, nas mais diversas actividades, mas ao mesmo tempo registamos défices nas coisas mais elementares, naqueles domínios fundamentais que medem o nível de desenvolvimento humano.
Andamos nervosos com a globalização. Corremos atrás do desenvolvimento que é ditado pela Comissão Europeia, tentando provar que somos um país cumpridor dos indicadores estatísticos, com mais ou menos verdade e com mais ou menos “pintura” de secretaria, e fazemos por parecer, e já agora desejavelmente ser, um país moderno e actual, competitivo e atractivo.
No meio de um mar de altos e baixos e de facilitismos e exigências levamos anos, em alguns casos décadas, a tentar resolver - porque a certa altura instala-se a dúvida de que sejamos capazes de o fazer - problemas em domínios que são básicos e essenciais para podermos assegurar a todos os portugueses um nível de bem estar decente .
Vem tudo isto a propósito, e não só, da constatação de que em Portugal ninguém sabe quantos são os cidadãos (ou os “utentes” como são designados pelo ministério da saúde) que não têm médico de família. Fala-se em 600 a 700 mil utentes! É que, segundo o coordenador da Missão para os Cuidados de Saúde Primários, “não há ninguém que saiba dizer, com rigor, quantas pessoas não têm médico de família em Portugal”! Li, no Público, que está em curso uma limpeza de ficheiros, anunciada em Abril pela ministra da saúde, que quando estiver concluída parece que vai reduzir para metade aqueles números. Ou seja, depois de feita a limpeza administrativa ficam ainda por verdadeiramente “limpar” da lista daqueles a quem o Estado nega o acesso a um médico de família 300 a 350 mil portugueses.
Portanto, temos centenas de milhares de portugueses sem médico de família, mas ainda não sabemos ao certo quantos são. Mas, nem tudo é mau. Portugal é o país europeu com a média mais elevada de telemóveis por habitante.
E assim termino como comecei: “Somos um País de significativos contrastes”. Alguns deles chocantes. Tenhamos, no entanto, esperança que o rumo se modifique…

5 comentários:

Bartolomeu disse...

Ontem, domingo, acordei com uma infinita vontade de me espraiar pela planície alentejana. Enquanto me barbeava tracei imagináriamente um roteiro: A10-A13-A6-IP2, 2 horas depois, aportei a Amieira. O dia esteve explêndido, propício a vencer distâncias de forma descontraída e observadora. Confesso, a planície alentejana extasia-me, mesmo nesta época do ano em que abundam os cinzas-acastanhados, entrecortados pelos verdes-esbatidos das oliveiras e os verdes-brilhantes dos montados de azinheiras e sobreiros, destoando tudo isto, se um escarrapachado eucaliptal se intormetia abusivamente na paisagem. Passei por imensos olivais com muito pouco tempo de plantio, sinal de que alguem se começa a aperceber da importância de rentabilização dos solos e das culturas específicas de cada região. Observei ainda em número bastante significativo, a existência de vara de porco "preto", em liberdade dentro de amplos espaços vedados, alimentando-se da blota e das raízes. Rebanhos de ovelhas e de vacas, encontrei tambem bastantes.
Porem enão sou conhecedor de espécies ou de raças, percebi que nem o porco, nem as ovelhas, nem as vacas, eram das raças autóctones alentejanas. Sobretudo o porco que segundo me informaram, de "preto" so já tem o nome, porque entretanto com a finalidade da rentabilização, o cruzaram com raças mais produtivas e de maior peso à matança.
É importante que seja dada a "volta" a estes desacertos, sobretudo informando os agricultores, ajudando-os a compreender as vantagens da escolha certa, indicando-lhes com honestidade as formas correctas de o fazerem, ajudando-os a caminhar no sentido da valorização do que possuem. Uma valorização concreta e definida, projectada para a obtenção de um lucro evidentemente, mas sem falsas promessas de el-dourados que daqui para diante não são mais que falsas miragens.
A barragem do Alqueva encontrava-se deserta, apesar do tempo agradabilíssimo, do restaurante da marina, soltava-se um aroma que perfumava os ares a cabrito assado.
Não fiquei para almoçar, era ainda muito cedo, poderia ter ocupado perfeitamente o tempo, passeando pelas margens, escutando o silêncio envolvente, mas não, preferi montar de novo a centena e tal de cavalos que atrelam o meu coche e voltei à estrada, desta vez rumo a Elvas, perdendo sempre o olhar pela imensidão. Durante este rumo, veio-me à lembrança a figura de Geraldo Geraldes, conhecido pelo sem pavor e a lenda da conquista de Évora.
E penso: Será que neste país nunca se irá lutar de frente, de uma forma concertada, por um objectivo comum?

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
antoniodasiscas disse...

Cara Margarida
É realmente confrangedor o que se passa neste país em matéria de direitos sociais. Então na área da saúde, onde os cuidados de assitência e de tratamento são essenciais para se gozar, ao menos, de uma qualidade de vida razoável, é de arrepiar o estado actual destas coisas e a desfaçatez com que se apregoa o nosso "desenvolvimento".
Somos um país de contrastes alucinantes, um país que usufrui da melhor rede de nultibancos da europa e cuja população só está coberta parcialmente em termos de médico de família. E tudo isto se passa num país membro da U.E. - parece mais o Gabão - onde o tempo nada significa pois a evolução é morosa e às vezes nula.
Agora percebo eu porque é que nas zonas fronteiriças, com a possibilidade de ir ao lado de lá, a vida tem aspectos bem melhores do que na zona litoral.

Suzana Toscano disse...

Margarida, realmente há números que não precisam de grande precisão para mostrar bem a realidade.Tenho uma empregada brasileira, uma jovem de pouco mais de vinte anos, que tratei de inscrever na Segurança Social e consequente processo de legalização.Depois de vencidas as múltiplas etapas lá se conseguiu a inscrição na Segurança Social. Mandei-a logo ao Centro de Saúde para tirar o cartão de utente e pedir médico de família.Conseguiu o cartão mas, quando se tratou de pedir o médico de família disseram-lhe que nem pensar. Havia fila de espera para 6 meses. Que só seria atendida em caso de urgência, até lá que se desembrulhasse como quisesse, até hoje ainda está à espera do tal médico de família, é claro que já foi a uma consulta particular, pagou os medicamentos, enfim, mas que tem o cartãozinho em ordem, e os descontos, isso tem.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Belíssima descrição "poética" do nosso Alentejo. Mas eis que, de repente, sem que nada o fizesse prever o viajante decide não desfrutar do lugar, deixando para trás um passeio certamente relaxante nas calmas e silenciosas margens do Alqueva. Mas depois, rumando para Évora vem a justificação. Afinal, uma cidade que apetece sempre visitar e estar...
Caro Bartolomeu cada vez gosto mais do interior do nosso País, das gentes, das paisagens, das vilas, enfim de tudo!

Caro Paulo
Não acredito que viva na parvónia! A ver pela descrição da organização e do bom funcionamento dos serviços de saúde da localidade onde reside, logo que se constata a vontade de termos igual e a prova de que é possível.
O seu relato ainda nos deixa mais perplexos quando olhamos para a incapacidade de nos organizarmos. Não certamente por falta de recursos, mas por défice de gestão associado à falta de liderança.

Caro antoniodasiscas
Pertinente o seu apontamento sobre a rede multibanco. Um exemplo feliz que demonstra que somos capazes de ser os melhores, a contrastar com o que de pior fazemos ou não fazemos...
Um aspecto interessante a reter é que os casos mais bem sucedidos são levados para a frente pela iniciativa privada, estimulada pela necessidade da eficiência.

Suzana
Os números não enganam. O que adianta ter cartões ultra modernos, ou de última geração como agora são catalogados, para depois não nos servirmos deles? Que justiça é esta que obriga a pagar impostos e taxas e que depois não assegura a contrapartida de prestação dos serviços que os mesmos financiam?