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sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Uma entrevista doméstica!...


Faz dez anos que Saramago recebeu o Nobel da Literatura. O Expresso publica amanhã uma entrevista ao escritor feita pela própria mulher: uma entrevista objectivamente doméstica, portanto.
Saramago tem legiões de leitores em Portugal e no mundo; embora não apreciando o estilo, respeito quem o admira, e até admito, sem dificuldade, que o defeito possa ser meu. O mundo, de facto, é diverso.
Mas já não respeito, mesmo nada, o cidadão Saramago que, nos tempos do pós-25 de Abril, desempenhou funções de Subdirector e censor no próprio interior da redacção do Diário de Notícias. Censurou textos e jornalistas. E, mais do que censurar e cortar textos, cortou a vida profissional e saneou vários jornalistas que não se submetiam à voragem das orientações do Partido Comunista de que era o "controleiro" no jornal. De uma só vez, foram, creio, que vinte ou vinte e quatro jornalistas compulsivamente demitidos.
Pois agora, na entrevista doméstica ao Expresso, o mesmo censor Saramago queixa-se que «há um filtro» na comunicação social que trava tudo o que venha do Partido Comunista Português...”
Tal como o PCP quando fala de democracia, também Saramago tem plena autoridade para o dizer!...
Vem actualmente o Expresso, e bem, dando nota, nas suas edições, da vergonha da censura de Salazar e de Marcelo, a "má" censura.
Da “boa”, a de Saramago, não se fala nela.
Porque, também em matéria de censura, nem toda é igual: há a "boa" de Saramago e a " "de uns quantos outros…

10 comentários:

Anónimo disse...

Caro Pinho Cardão, nada de novo no reino da Cinciberlândia. É algo habitual pela Europa fora, desde o pós-guerra, suavizar tudo o que seja cometido pela esquerda, não importa quão grotesco, asinino, indecente ou mesmo assassino (ainda que de caracter) e empolar, demonizar a mais pequena falha vinda da direita.

O mundo segue o seu rumo, portanto!

Anónimo disse...

Saramago, self made man, produto do seu partido? O que há para estranhar?...

Carlos Monteiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Monteiro disse...

Agora caro Pinho Cardão, repare no ar embevecido de qualquer jornalista perante o esfíngico Saramago, quando o estão a entrevistar; como vão eles confronta-lo com o que o meu caro amigo escreve. Quando é que Saramago vai ser confrontado com isso, com a sua atitude verdadeiramente mesquinha sobre o dinheiro do Nobel e sobre Lobo Antunes?

Não. Também não tenho admiração pelo cidadão-Saramago e isso impede-me de ser admirador do escritor-Saramago.

Bartolomeu disse...

Em todas as fases de preponderância política porque este país já passou, sempre abusos de poder foram executados por aqueles que, na fase anterior foram de alguma forma vítimas de outros sensores.
A sede de vingança sempre, em todos os tempos, alimentou a ignomínia humana. Poucos são aqueles que dotados de uma índole verdadeiramente superior, a conseguem contornar ou ignorar, fazendo das fraquezas alheias as suas próprias forças e sobretudo, aprendendo a aceitar e compreender as diferenças que compõem a igualdade.
Saramago escreve difícil!
Não, Saramago escreve diferente. Saramago escreve sobretudo, como um dia tive ocasião de lhe referir pessoalmente, recobrindo as imagens de um manto semi-transparente, quase que obrigando quem o lê a descobrir aquilo que de profano reside em cada um.
Respondeu-me que escrevia "o indizível da vida".
Não sei se um escritor, para que o seja, deverá observar códigos deontológicos de cidadania, políticos ou outros.
No meu conceito, quem cria, pintando, escrevendo, compondo, esculpindo, etc. possui uma identidade que não pode estar sujeita a códigos, quer morais, éticos, sociais, religiosos, políticos ou outros. Ao contrário de quem exerce cargos públicos ou privados.
Num âmbito estritamente pessoal, não entendo porque motivo foi atribuído a Saramago o prémio Nóbel, contudo, li já 4 vezes o Memorial do Convento.

António de Almeida disse...

-Nestas coisas não faço por menos, nunca li, muito menos comprei um livro de Saramago. Sempre olhei para tal personagem como uma correia de transmissão do PCP, e de facto no período do PREC procurou transformar jornalistas em escribas. Mas não é politicamente correcto afirmá-lo, quero lá saber do politicamente correcto, no meu dinheiro e no meu tempo mando eu. Existem tantos e bons livros para ler, ontem por sinal assisti a uma entrevista de Mário Crespo ao maior escritor português vivo, a propósito do lançamento da sua última obra.

jotaC disse...

Por acaso também assisti a essa entrevista (Mário Crespo/Lobo Antunes), e ainda hoje ao almoço estava a comentar precisamente esse facto e algumas das análises do escritor. Gostei imenso.

jotaC disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lacão disse...

É um erro confundir o cidadão com o artista.
No caso de Saramago temos um artista de relevo o que é raro no nosso meio cultural tão pobre. As opiniões de cidadão comunista, ou lá o que fôr, são de outro dominio cuja importancia deve ter a que merece (também nunca vi o Carlos Lopes - o nosso medalha de ouro - pronunciar-se sobre estes temas apesar de ter todo o direito de o fazer também).
Não ler Saramago é rejeitar um dos expoentes da literatura mundial, sendo português é uma pena que se perca a oportunidade.
Estimado António de Almeida conheço relativamente bem a obra do Lobo Antunes, apesar de gostos não se discutirem, as duas obras estão longe de poderem ser comparaveis na diversidade, riqueza de temáticas e até da propria escrita. É com certeza um aspecto mesquinho com que algumas mentes menores perdem o seu tempo a discutir, mas quando do anuncio do premio Nobel o Lobo Antunes estava na Suécia e o Saramago a regressar da feira de Frankfurt. Atrevo-me a sugerir-lhe a leitura desse expoente maximo da nossa literatura - "O Memorial do Convento" - Asseguro-lhe que não dará o seu dinheiro como mal empregue, mesmo que este vá parar ao Centro Vitória.

Suzana Toscano disse...

É sem dúvida desconcertante que quem não tem moralidade para falar no assunto venha agora apresentar queixa. Mas, é preciso também reconhecer, que, se tem razão, deve ser ouvido. É intolerável que seja limitada ou controlada a liberdade de expressão, seja dos comunistas ou de qualquer outra força política. Se são caladas, como poderemos recusá-las com conhecimento de causa? ou aceitá-las, se nos convencerem da sua bondade? Não é por ser Saramago a dizê-lo que se pode desprezar a acusação, digamos que ele não tem moral para criticar, mas pode denunciar e tem capacidade para se fazer ouvir. Precisamente porque, como diz cmonteiro, há esse estyatuto de intocável com que o tratam, não lhe cortam metade do que diz.
Quanto aos livros, de que sou grande apreciadora porque o acho um excelente escritor, recomendo "As intermitências da Morte", simplesmente extraordinário. Paciência para a ideologia, apesar de tudo acho que podemos ler um livro de autor com quem não simpatizamos pessoal ou ideologicamente sem nos deixarmos dominar. A maior parte dos autores nem sequer conhecemos...!