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domingo, 4 de janeiro de 2009

Deixámos de evoluir?

Steve Jones, reputado geneticista e autor de várias obras, fez, recentemente, uma interessante declaração: “A evolução humana está paralisada! E aponta para “a falta de progenitores de idade avançada”. De facto, quanto mais idosos forem os pais, e sobretudo o pai, maior é a probabilidade de ocorrerem mutações e de as passarem aos filhos. Tenho algumas dúvidas quanto a este argumento, porque, actualmente, os pais têm filhos cada vez mais tarde. Mas ao decréscimo das mutações humanas, devido a alterações dos padrões reprodutivos, Jones descreve os comportamentos sociais, como o casamento e a contracepção, como sendo igualmente responsáveis por este “fenómeno” de paralisia evolutiva. As suas explicações, interessantes, sem sombra de dúvida, alargam-se ao enfraquecimento da selecção natural, na qual o acaso perde importância. E aqui entra em jogo um conceito importante. Havendo “dez mil vezes mais seres humanos do que ditariam as regras do reino animal, por causa da agricultura” – ou seja, não deveríamos ser mais do que 600.000 terráqueos -, o acaso vai ter dificuldade em impor-se, e a globalização, que também irá manifestar-se nesta área, originará uma mistura de tal ordem com redução da probabilidade de haver mudanças casuais.
Modificações na pressão da selecção natural aliadas à diminuição das mutações e das alterações devido ao acaso estão na base da afirmação do geneticista britânico, segundo o qual o ser humano deixou de evoluir.
Mas terá mesmo?
Será que os vírus poderão dar respostas a perguntas que ainda não questionámos?
O papel dos vírus na evolução começa a ser entendido. Os seus efeitos e consequências são bem conhecidos. Mais mortíferos do que a própria peste. Febre amarela, sarampo, varíola, só para citar apenas três, provocaram mortandades terríveis ao longo da nossa história. Basta recordar que só a varíola, doença extinta, matou no decurso do Século XX 500 milhões de pessoas! Apesar de tudo, e não obstante os seus efeitos nalgumas características fisiológicas, não teve, tal como muitas outras doenças infecciosas, capacidade para influenciar os seres humanos como espécie. Para tal é preciso que alterem as células germinativas. Os únicos capazes de mudar a estrutura genética são os retrovírus. Como é do conhecimento geral, neste momento lidamos com retrovírus terríveis, caso dos vírus da sida. No entanto, estes não têm capacidade de infectar um espermatozóide ou um óvulo, condição necessária para provocar mudanças genéticas. Mas já aconteceu que uma célula germinativa fosse contaminada por um retrovírus? Já! É raro e ainda mais raro que o embrião resultante sobreviva. Mas já aconteceu? Já!
Quem diria que o nosso genoma estivesse “cheinho” de retrovírus? De facto, oitenta por cento é composto de restos destes vírus, que, há muitos milhões de anos se introduziram nos nossos antepassados. São designados retrovírus endógenos, porque tornaram-se parte da nossa espécie. Verdadeiros fósseis da nossa evolução.
Agora imaginem o que é que poderá acontecer se “sacarem” algumas dessas partículas, juntá-las e porem em actividade retrovírus adormecidos! Óptima sugestão para bioterroristas.
Foi à custa destas curiosas partículas que ocorreu um dos mais importantes fenómenos: a formação da placenta, característica dos mamíferos, e nossa, claro está, e do sucesso da superioridade sobre pássaros, répteis e peixes. Houve, quem, em jeito de brincadeira, tenha feito a seguinte afirmação: “Sem estes vírus era muito possível que os seres humanos andassem ainda a por ovos”! Afinal acabamos por descender não só dos “macacos”, mas, também, dos vírus. Sendo assim, com base nos velhos retrovírus que fazem parte do nosso genoma, não poderemos excluir que outros possam vir a incorporar-se nas nossas células germinativas provocando alterações genéticas susceptíveis de provocarem mudanças estruturais e funcionais significativas.
O aparecimento dos HIV é um exemplo dos “esforços”, ou melhor, da interacção entre os seres vivos e a natureza numa permanente experimentação para ver o que é que vai sair desta feita. O nosso passado está repleto de “agressões” deste género ao ponto do agressor acabar por fazer parte do próprio indivíduo. Quem sabe se no futuro, não possam surgir novos retrovírus gulosos das nossas células, sobretudo das germinativas, e capazes de originar novas espécies a partir da nossa? Ao menos que saia uma “coisita” melhor, no bom sentido do mesmo! Sem ofensa para o Homo sapiens sapiens
Termino com a frase de Villarreal, que Michael Specter citou no seu excelente ensaio, “Darwin´s Surprise”, publicado no New Yorker (3 de Dezembro de 2007): “Viruses may well be the unseen creator that most likely did contribute to making us human.”

1 comentário:

Tonibler disse...

Mas o facto de sermos mais que aquilo que seria espectável do número das outras espécies, só favorece a mutação. Isto é uma verdade matemática inquestionável. Eu não sei onde é que tão famoso geneticista vai buscar as ideias, mas essa de que a humanidade não está a evoluir é asneira.
Uma das asneiras vem do facto de as mutações relevantes para a evolução não serem perceptíveis na escala de tempo da observação científica. Essas ocorrem, claro, mas são tão radicais que levam invariavelmente à morte do indivíduo ou geram um indivíduo menos "fit" que os seus pais. Há milhares de mutações a ocorrerem em cada geração que serão necessariamente recessivas ou pouco perceptíveis na escala de tempo da nossa observação.
A pressão da selecção natural não se alterou, só mudou de "eixos". A verdade é que o ser humano continua a ser governado pelos mesmos instintos, embora hoje a loura peituda já se reproduza com o magrela milionário da internet e não com o grandalhão peludo que esmagava crâneos. E, como diz bem, não é só o ser humano que vai evoluindo, os seus inimigos também.

PS: 2009, Ano Darwin e ainda sem um post alusivo? Não vou fazer um sem ter um link para o seu...