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sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O mal do século


Definitivamente, não saimos da casa dos milhões. Milhões de prejuízos, milhões para salvar falências, milhões de desempregados, milhões de pobres…e agora milhões de hectares de terra à venda. Sim, é isso, terra à venda, o grande negócio do século e a novíssima forma de colonianismo agora travestida de investimento para produção de alimentos.
Dizem os entendidos que o investimento seguro dos tempos vindouros é a compra de terra arável e a brusca subida nos preços das matérias primas que há bem pouco tempo nos alarmou já era um sinal aterrador de que algo vai mal. Mas que terra arável, e comprada por quem? Pois a terra de quem não tem dinheiro para comer e o dinheiro de quem não tem terra e precisa de comer. Os países com muita população e pouco terreno arável, como a China, a Coreia do Sul, ou os países do petróleo, compram milhões de hectares no Sudão, na Etiópia, em Madagáscar, na Argentina ou mesmo no Brasil.
Segundo o “Nouvel Observateur”, os países pobres estão à venda porque o aprovisionamento de alimentos se tornou o objectivo político número um dos países mais ricos, que deixaram de confiar nos mercados mundiais cuja volatilidade os deixou à beira de um ataque de nervos. Nada como garantirem directamente as suas fontes de produção de arroz, milho, sésamo e, já agora, de água também, por isso compram ao preço da chuva a preciosa terra dos outros.
Já não são só as empresas energéticas a expropriar na Colômbia ou no Congo para cultivar biocarburantes, os bancos e as empresas investem também quintas e pastagens para criação de gado nos países que não regateiam o preço das suas terras nem têm meios para proteger os direitos das suas populações.
E há ainda os “colonialistas verdes”, como um tal Johan Eliasch, fundador da Cool Earth, um milionário inglês que comprou 600 000 hectares de floresta virgem na Amazónia para impedir a desflorestação, ou uma ONG que adquiriu 150 000 hectares de parque natural algures, criando grande apreensão quanto ao futuro das populações locais.
Dinheiro há muito, pelos vistos, mas nas mãos de poucos, o que será se acontecer o mesmo às terras aráveis? A posse da terra arável do globo nas mãos de meia dúzia de países ricos será o novo mal do século?

4 comentários:

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Dá que pensar o alerta que aqui nos trouxe. Controlar as fontes alimentares é poder, à semelhança do que acontece com as fontes energéticas, com a agravante de que tal está a ser feito através de "colonizações". São com efeito "colonizações", mais modernas, à século XXI!
Aí estão os novos países ricos, que precisam de alimentar a sua explosão demográfica, a tomar conta das terras aráveis dos países pobres que desgraçadamente não têm que comer.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Cara Susana Toscano,
No blog onde escrevo estou a fazer uma série de posts sobre o nosso mundo rural.
É curioso como reagimos à discussão sobre terra arável e alimentos como se dêssemos por adquirido que isso não diz bem respeito a Portugal porque efectivamente a nossa agricultura (e a floresta, não pondo a pastorícia no mesmo saco porque ninguém fala dela) é pobre e não vale a pena contar com ela.
Repare como tratamos e gerimos a nossa reserva agrícola nacional, que pretende assegurar que um dos nossos mais escassos bens naturais, o solo agrícola mais produtivo, não desaparece em conjunturas económicas de curto prazo.
henrique pereira dos santos

Bartolomeu disse...

Cara Drª Suzana Toscano,
a pergunta/afirmação que formula no final do seu texto, tem uma resposta afirmativa evidente, será!
Não pode existir equilíbrio de espécie alguma se aquilo que essencial para a subsistência humana, for detido por meia-duzia de países. Por vários motivos.
Porque será uma situação que irá gerar conflitos de dimensão inimaginável, conflitos esses que irão produzir consequencias desastrosas para a espécie humana.
Não podemos imaginar que essa temível posse possa surgir envolta num manto de messianísmo e de altruísmo, mas sim de absoluto domínio. E para que esse domínio seja efectivo, ´mais natural é que esses detentores tratem de aniquilar tuda a espécie de subsistência que esteja fora do seu controle.
Ora bem, num cenário destes, é fácil imaginarmos o planeta dividido em 2 unícas partes: uma fértil, verdejante, saudável, dominante, fortemente protegida. E outra... onde a morte será a esperança de quem lá viver.
Marchamos em direcção a esta real possibilidade?
Marchamos, como gado em manada num tropel, dirigindo-se ao abísmo, anestesiados, incapazes de levantar a cabeça identificar caminhos alternativos.
Contudo, penso que as leis fundamentais da natureza, serão incompatíveis com essas vontades manipulatórias.
Uma coisa é aquilo que o homem pretende, outra é aquilo a que está naturalmente sujeito.
Resta-nos acreditar e ter a fé necessária para contrariar esses abusos.

Suzana Toscano disse...

Margarida, o que impressiona é que andamos aqui todos a levaràs mãos à cabeça com acontecimentos relativamente superficiais se tivermos em conta estas "movimentações" subterrâneas que vão mudar totalmente o mundo.
Caro Henrique Pereira dos Santos, obrigada pelo seu comentário e pela informação do seu trabalho no seu blog. Tem toda a razão, deixámos cair sem qualquer protesto aimportância do nosso terreno arável e das actividades económicas ligadas à agricultura e à pastorícia, chegava-nos o dinheiro da Europa, a condição para nos retirarmos e confiarmos nos excedentes do grande espaço europeu. É como o que acontece com os rios fronteiriços, quando chove corre tudo bem quando há seca não passa muito tempo até soarem os gritos de protesto!
caro Bartolomeu, saliento a sua frase "Contudo, penso que as leis fundamentais da natureza, serão incompatíveis com essas vontades manipulatórias.
Uma coisa é aquilo que o homem pretende, outra é aquilo a que está naturalmente sujeito", essa é a grande ameaça, é que a ordem natural só voltará à custa demuitas guerras, muito sofrimento e muita fome, serão chamados os 4 cavaleiros do Apocalipse... Talvez seja por isso que todos preferem ignorar, por enquanto.