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sábado, 17 de janeiro de 2009

“Soldados da paz”...

Hoje de manhã, antes de sair, ao ligar a televisão, deparei-me com uma reportagem sobre mais um acontecimento miserável na Faixa de Gaza. No decurso de um programa de uma TV israelita, o “bom doutor”, um lutador pela concórdia entre judeus e palestinianos, estava a ser entrevistado em directo pelo telefone, quando subitamente gritou: “Oh meu Deus mataram as minhas filhas”. O desespero era perfeitamente audível e sensibilizou muitos israelitas. Em seguida vejo imagens do médico a exprimir a sua dor. Não era para menos, três filhas tinham sido mortas no ataque, conjuntamente com uma sobrinha, e outras duas ficaram feridas.
Ezzeldeen Abu al-Aish é um médico de Gaza que trabalha em Israel. Houve um momento que registei a ferro e fogo, e que nunca mais esquecerei, quando proferiu que era médico e que tratava israelitas. Como é possível terem-lhe feito o que fizeram? Ao dizer que era médico e que tratava israelitas demonstrou uma atitude muito nobre próprio de um verdadeiro clínico para o qual não há, nem pode haver, quaisquer factores como credos religiosos, etnias, status ou o que quer que seja quando se está perante um ser humano que necessita de auxílio. Perante o sofrimento a igualdade humana atinge a sua expressão máxima. Trabalhar naqueles territórios com este espírito, mantendo uma atitude superior às diferenças que motivam a guerra, nomeadamente as de origem “religiosa”, constitui um exemplo e símbolo de paz e de amor que merece ser seguida.
Os responsáveis israelitas justificaram o ataque ao edifício, em que se encontravam os familiares de al-Aish, com o facto de um snipper ter disparado do alto do edifico sobre o tanque. Os ocupantes deste ripostaram contra o prédio, considerando que os que lá viviam não eram mais do que meras “extensões”do atirador. Os que dispararam, quer de um lado quer do outro, são, eles sim, verdadeiras “extensões” do mal que, nestas coisas, não escolhe religiões ou culturas.
É mais uma tragédia, dirão muitos, fruto da guerra. Mas é terrível saber que é possível acontecer estas coisas. Este pai deve estar destroçado e, mesmo vivendo em clima de guerra, não deve conseguir compreender o porquê desta tragédia que lhe caiu em cima, porque é um homem de paz e de amor, tal como as suas filhas que gostavam de ajudar as pessoas.
Numa terra “privilegiada” por Deus ao produzir três das principais religiões do mundo, pergunto o que Ele andou ou anda a fazer. Dirão que não tem nada a ver com o assunto, que o que está acontecer são “coisas” do homem e, por isso mesmo, que se amanhe e arranje soluções para os seus problemas. Pois! Deus deve andar distraído, pelo menos para mim. Mas tenho confiança que o Dr. al-Aish irá continuar a ser um exemplo para todos, médicos, não médicos, e até para Deus, ao continuar a tratar sem ódio os que mataram as suas filhas. Estou convicto disso, porque rotulou as suas filhas como “soldados da paz”.


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