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terça-feira, 31 de março de 2009

“Imperfeição”

Há dias no decurso de um almoço de trabalho um amigo engasgou-se. Bati-lhe, quase que diria simbolicamente, nas costas, já que não corria perigo de maior e preguei-lhe com a seguinte frase: - A natureza é muito imperfeita, não achas? Que raio de ideia cruzar as vias respiratória e digestiva! Só serve mesmo para nos engasgarmos. Riu-se no meio do embaraço, porque estávamos a falar dos defensores da perfeição de todos os níveis e espécies, desde os cientistas até aos fundamentalistas religiosos. Os argumentos que apresentam são de tal ordem que, por exemplo, no caso de muitas investigações epidemiológicas nunca seria possível efetuá-las visto que há sempre alguns vieses que muito dificilmente são ultrapassados. De qualquer modo não há impedimento na sua utilização, constituindo uma importante fonte de informação.
A “imperfeição” é uma constante da vida e tem contribuído para a evolução da mesma. Quem diria? Se olharmos e analisarmos para algumas situações poderemos comprovar que a evolução se faz à custa de compromissos. Para que servem nos homens os músculos para movimentar uma cauda que já não existe? Para que serve o famoso apêndice outrora muito útil para os nossos antepassados herbívoros e que agora, por vezes, é fonte de problemas? Por que carga de água o nervo responsável pela fala, nos homens e em muitos animais, não desce diretamente do cérebro à laringe e tem que dar uma volta pelo tórax e depois voltar a subir até à laringe? Enfim, são alguns exemplos que revelam a “imperfeição” da natureza. No fundo traduzem mecanismos de adaptação. Se tivesse havido uma “preocupação” inicial de criar ou originar um dia seres perfeitos não seria através destes mecanismos. A evolução, aqui no seu sentido mais amplo, exige “imperfeição”, a qual, mediante diversos compromissos, consegue alcançar novos patamares.
A imposição da “perfeição”, a que nos habituámos a ver e a ouvir, não se tem revelado muito eficaz ao longo da história da humanidade, antes pelo contrário. É preciso admitir que somos seres imperfeitos em todos os sentidos e que graças às tais “imperfeições” poderemos evoluir. Quando, por quaisquer razões, se pretende impor as verdades “absolutas” não descortino meios para solucionar os graves problemas da humanidade.
Através de compromissos é possível uma melhor adaptação ao meio ambiente e contribuir para um "melhor ambiente humano". No fundo, continuaremos de tempos a tempos a enfiar corpos estranhos no goto, a ter aborrecimentos quando a próstata se lembra de apertar a uretra, a sofrer de hérnias, porque alguém se lembrou de criar testículos dentro do organismo e depois viu que tinha que os expulsar para o exterior, enfim, é altura de aceitarmos a “imperfeição” como o motor da vida e da evolução. Melhorar a imperfeição ou ajustá-la às novas realidades? Esta última parece ser a mais consistente, fazendo-se à custa de compromissos. A evolução das espécies já há muito que tinha dado a resposta. Há que a transpor para outras esferas. A inteligência dos humanos também evoluiu de forma semelhante a ponto de adquirirmos uma consciência ética que nos leva a amar uns aos outros, a respeitar as liberdades e a lutar contra a miséria e o sofrimento. Mas, mesmo assim, não foi possível eliminar os “outros”, os tais que querem impor as suas ideias e princípios, os que não estão dispostos a aceitar quaisquer compromissos. Nem podia, obviamente, porque são tão “imperfeitos” quanto os primeiros, já que fazem parte da natureza e, por este motivo, conseguem animar as ideias, contribuindo para a evolução da espécie humana. Afinal a “imperfeição” é um dos principais pilares da evolução, graças a Deus, ou talvez não!

Assalto a bomba de gasolina em Alcochete

Continua a não se perceber a insistência dos meios de comunicação no noticiário de factos banais deste Portugal relativamente seguro.

A felicidade segue dentro de momentos


Dizia não sei que pensador que o pior, na infelicidade, é já ter sido feliz. É talvez isso que explica esta dramatização global da crise, o facto é que não vivemos apenas grandes dificuldades, com muitos a perderem o que tinham, o mais grave é que todos tivemos que inverter subitamente as expectativas de um progresso contínuo que nos iluminava o horizonte de curto prazo.
Isto nota-se muito nos jovens, porque eram felizes e não acreditavam que algum dia pudessem deixar de o ser. Eram felizes porque os seus pais já tinham mais desafogo económico que os seus avós. Eram felizes porque tinham o direito de estudar, de ir tão longe quanto quisessem, e todos os estimulavam para isso, com direito a reclamar se as condições não eram ainda as suficientes. Eram felizes porque tinham direito à saúde, a ser bem alimentados, a usar aparelho nos dentes, a ir a actividades desportivas, a serem adolescentes problemáticos com pais atentos e pacientes, a sair com amigos e a dizer até logo, não esperes que eu chegue à hora que queres. Eram felizes porque tinham direito a ditar as suas regras de vida em grande liberdade, a viver a sexualidade, a vida afectiva, a escolher o estilo de roupas, o penteado, a tirar a carta e comprar um carro ou uma mota em segunda mão. Eram felizes porque a paz e a liberdade e a prosperidade e o êxito e o reconhecimento eram condições de vida adquiridos. Eram felizes porque os pais e a sociedade investiam na sua qualificação, na sua qualidade de vida e orgulhavam-se por antecipação dos êxitos que os seus meninos iam ter, precisamente porque tinham cursos, tinham saúde, podiam viajar, ler, ter acesso a toda a informação, discutir, escolher no mundo a seus pés. Eram felizes porque a ciência e a investigação progrediam na cura das doenças que assombravam as gerações anteriores, porque a pobreza e a morte era combatida com todos os meios e se sonhava com um mundo global sem fronteiras, sem injustiças e sem fracassos, sem que ninguém ousasse já chamar-lhe utopia.
Os nossos filhos foram criados com a obrigação de ser felizes e, em contrapartida, contaram que lhes tivéssemos assegurado essa estrada larga que trilhariam com segurança.
O facto é que não os preparámos para a desgraça, não lhes contámos as nossas incertezas e, com o embalo, também nós acabámos por acreditar que tudo isso estaria assegurado.
Hoje, os jornais enchem-se de notícias sobre os jovens qualificados que, aos milhares e milhares, olham atónitos o seu diploma inútil, assistem desnorteados às portas que se fecham, à independência adiada, à juventude prolongada com uma conivência envergonhada que não tem coragem de admitir que se calhar a realidade é mais dura do que se previa. Não são só os filhos que vivem a angústia da sua desilusão, são os pais que se perguntam se afinal não lhes mentiram, se não deviam ter refreado a sua confiança para os proteger do embate. Os nossos jovens, qualificados, ambiciosos, competitivos, abertos para o mundo sem fronteiras, sentem-se sós e perdidos, tanto mais sós e perdidos quanto já puderam ser felizes. Temos que acreditar que é só um intervalo...

segunda-feira, 30 de março de 2009

Ele há coisas...

Esta história de um viaduto construído para permitir o atravessamento de uma estrada mas que nunca serviu para nada, já lá vão duas décadas, que está à venda e disponível para ser emprestado pela Câmara de Monção a quem dele precise, dá vontade de rir não fosse a triste constatação da facilidade com que são gastos os dinheiros públicos. Tem graça que não fiquei surpreendida. Este viaduto é o símbolo de um "novo riquismo" que muito tem prejudicado a nossa prosperidade.
Nesta história, importava, isso sim, apurar responsabilidades. Mas "aqui é que a porca torce o rabo". O viaduto parece que vai morrer de velho e a ausência de responsabilidades já conta vinte anos. O melhor é mesmo não contar com mais nada!

A investigação lúdica

O Ministro Mariano Gago congratulou-se com o facto de termos cinco investigadores por cada mil activos, valor ao nível da média europeia, e apelidou Portugal de “país científico”.
Está na moda e é politicamente correcto produzir afirmações como esta. Acontece que são absolutamente vazias de conteúdo nos seus resultados práticos. É que, sem prejuízo de uma investigação fundamental, o que se torna necessário é uma investigação tecnológica virada para a inovação, para a criação de novos produtos susceptíveis de serem produzidos e comercializados ou para o aperfeiçoamento dos existentes. O que se exige é uma investigação que crie produtos e mercados e não uma investigação ao serviço do investigador, como é a que acontece em Portugal.
Portugal vem gastando milhões em investigação lúdica, satisfazendo meros objectivos particulares do próprio Centro ou Laboratório, ou mesmo e apenas o gosto pessoal ou o capricho de quem a promove, pelo que é investigação em pura perda, dinheiro deitado à rua sem qualquer resultado prático.
O exíguo número de patentes registadas define que este é o tipo de investigação que, salvo raras excepções, se faz em Portugal. Em 2006, Portugal registou 125 patentes, 12 por cada milhão de habitantes, sendo que, por cada milhão de habitantes, a Suécia e a Finlândia andam pelas 350, a Holanda pelas 200 a 250, a Dinamarca pelas 150 a 200 patentes.
Pelo que melhor faria o Ministro se definisse, com carácter de prioridade, uma política pública que obrigasse os seus Laboratórios e Centros de Investigação a estabelecer parcerias com empresas, com vista a desenvolver programas de investigação aplicada, com objectivos definidos, prazos estabelecidos, metas parciais a atingir, orçamentos aprovados, e hierarquia definida, sob o controle das empresas.
No âmbito dessa política, os Centros e Laboratórios Tecnológicos que, no prazo de dois anos, não tivessem concretizado tais parcerias, seriam encerrados.
Porque, salvaguardando um núcleo de investigação fundamental, uma investigação tecnológica que não esteja vocacionada para a criação de novos produtos não se justifica. Pura e simplesmente.

“Polónios e Osricos”

Polónio dirige-se a Hamlet e diz: - Meu senhor, a Rainha queria falar-vos e já. Hamlet: - Vês aquela nuvem? Parece quase um camelo. Polónio: - Por Deus que sim, senhor; parece realmente. Hamlet: - Está-me a parecer mais uma doninha... Polónio: - O lombo é mesmo de doninha. Hamlet: - Não será antes uma baleia? Polónio: - Parece-se muito como uma baleia. (Terceiro ato – I Cena)
Este curto diálogo entre Hamlet e o camareiro-mor, Polónio, traduz de forma inequívoca o fenómeno de servilismo ou de sabujice. Quando o subalterno quer cair nas graças do seu senhor faz não só o que ele quer, como ainda se sintoniza com as suas particularidades e os seus disparates. É o que abunda por aí. Sabujos a dar que nem um pau.
Dizer que alguém é sabujo é capaz de causar alguma estremeção, mas, de fato, é sinónimo de servilismo. E se não quisermos chamar-lhes sabujos ou servis então passemos a utilizar eufemisticamente a designação de “Polónios” ou, se preferirem, “Osricos”. Esta última designação resulta de uma outra passagem da mesma obra de Shakespeare. No quinto ato, segunda cena, podemos ler outro interessante diálogo. Hamlet para Osrico: - Recebê-lo-ei com o maior afã. E reponde o vosso barrete no cabide próprio – quero dizer: ponde-o na cabeça! Osrico: - Mil graças a Vossa Senhoria mas está grande calor... Hamlet: - Nada, nada... Acho até que está muito frio! O vento é do norte. Osrico: - Talvez muito frio, realmente, meu senhor...
Hamlet: - Está-me a parecer abafado e quente de mais para o meu gosto... Osrico: - Quentíssimo, sim senhor... abafado em excesso que nem sei dizer...
Quando leio, vejo e escuto certas afirmações, atitudes e comentários de muita gente responsável, mas conscientemente temerosos de perderem as suas benesses, caso não basculem o apêndice cefálico, emerge das profundezas do meu cérebro o palavrão sabujo, que, na minha meninice e adolescência, lá para as minhas bandas, era utilizada como arma de arremesso que lançávamos com raiva na cara de alguns, quando se comportavam como verdadeiros bonecos de plasticina, uns lambes-cus, uns lacaios, uns sevandijas, uns parasitas.
Ao mergulhar na realidade do país, repleto de “Polónios” e de “Osricos”, pulgões ostensivos e despudorados, sinto cada vez mais a necessidade de "urticarizá-los," mesmo que isso me custe alguma coisa, o que é mais certo. Mas que importa? O tempo encarregar-se-á de sepultar as minhas angústias...

Nota (emprestada) sobre a insídia

Como por aí vai grassando a ideia de que não vem mal ao mundo em entusiasmar a bufaria anónima, transcrevo um texto que bem gostaria de ter escrito. Com a devida vénia ao seu autor:
«A Inquisição foi extinta a 31 de Março de 1821, há quase duzentos anos. Mas deixou trabalho para outros duzentos. Durante a sua existência, o país dividiu-se em acusados, acusadores e denunciantes, a maior parte deles anónimos. Se há categoria de gente reles é essa – a que vive feliz com a pequena denúncia, o rumor, a suspeita permanente, a ‘teoria da conspiração’, a insídia moral, o riso escarninho.
Junto com essa categoria há a outra, a dos que se ajoelham e se especializaram em justificações para agradar aos poderes – aos grandes e aos pequenos, aos gerais e aos particulares. Passados estes anos, a Inquisição ainda resiste. Só faltam as fogueiras. O povo gosta de ver. Os juízes, o melhor que têm a fazer, é exigir que se legalize a denúncia anónima. Aliás, já o fizeram» - Francisco José Viegas, Correio da Manhã, 30.03.09.

A importância da imagem numa campanha em que decisivo foi o candidato

David Plouffe, o estratega da campanha de Obama, esteve hoje de manhã na Universidade Católica de Lisboa para a conferência "Building a Grassroots Movement in the 21st century". Impressão imediata e primeira nota: cativante o personagem, fez o auditório perceber quanto vale a inteligência posta ao serviço de uma campanha política.
Eleito o 44º Presidente dos EUA, os dados agora revelados merecem ser olhados como o study case que representa uma campanha duplamente vencedora (nas primárias contra H. Clinton e nas gerais contra o experiente senador John McCain) em condições tais que à partida todos prognosticavam um derrota certa (recorde-se que nas primeiras sondagens das primárias Obama surgia com 20 pontos de atraso em relação a Hillary Clinton).
Da torrente discursiva sem qualquer apoio em suporte (nem um powerpoint!), retive, em especial, duas mensagens. A primeira, a aposta nas novas tecnologias e numa imensa rede social que fez passar as mensagens certas, torneou a manipulação habitual nos media tradicionais e conseguiu uma recolha recorde de fundos junto dos apoiantes.
Os números são, com efeito, impressionantes mesmo à escala de uma Estado com a dimensão dos EUA: 6,5 milhões de dólares foram doados por apoiantes através da Internet, muitos deles jovens estudantes e reformados; foram coligidos 13 milhões e endereços electrónicos e 3 milhões de americanos inscreveram-se nos sites para receber informações. O site oficial recebeu 8,5 milhões de visitas por mês. Mais de 2 mil videos foram colocados no YouTube, visionados 80 milhões de vezes!
A segunda, foi a aposta na reabilitação da política para a qual se voltou o esforço da campanha. Partindo da ideia de que existe uma crise profunda das lideranças, a palavra certa era confiança, capitalizando o descrédito de Bush. Resultou.
Dei por bem empregue o par de horas que durou a conferência. Até porque, na resposta a questão colocada pela assistência, vi satisfeita a interrogação que se foi acentuando ao longo do discurso espontâneo do protagonista. No meio disto tudo, que papel terá desempenhado Obama? Acabou Plouffe por dizer que o grande trunfo foi afinal o candidato. Foi ele que fez com que a estratégia resultasse. Foi a confiança e credibilidade, o discurso de verdade que mobilizou as redes sociais, que dinamizou o mundo virtual onde muito da campanha se desenrolou, que fez com que jovens e reformados contribuissem financeiramente. Foi Obama que fez o sucesso de Plouffe e não o inverso.
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Aproximam-se 3 eleições em Portugal. Vejo sinais, aqui e ali, que prenunciam que as campanhas vão ser influenciadas pelo fenómeno da campanha de Barack Obama. Independentemente do génio dos spin doctors de serviço, continuo na minha: não serão eles a criar credibilidade onde ela não existe ou se perdeu; nem a substituir-se aos candidatos na confiança que só eles podem transmitir ao eleitorado para que, como nos EUA, as pessoas concretas, aquelas que decidem eleições, voltem a acreditar.

domingo, 29 de março de 2009

Que tal alinhar com 4 guarda-redes?

Passar os olhos pelos textos do 4R, ao longo dos tempos, é também recordar análises e interpretações de factos, relevantes, ou mais ligeiros, económicos, sociais, culturais da nossa vida nacional. E também desportivos.
Ontem, a selecção nacional de futebol empatou com a Suécia, pelo que só em sonhos, que espero sinceramente se realizem, Portugal poderá esperar estar presente no Mundial de 2010.
Não se pondo em causa a real valia dos nossos atletas, que actuam nos melhores clubes nacionais e, sobretudo, europeus, as razões da crise têm que ser procuradas fora. E, francamente, não vejo outras que não se prendam com a liderança. No futebol, como em todas as actividades, o Princípio de Peter tem plena aplicação. O seleccionador, pese as suas muitas qualidades, já por demais evidenciou que não é um líder eficaz e motivador. Aliás, basta ver as expressões de desânimo e impotência que ontem evidenciava a cada passo, durante o jogo. Com excepção do trabalho nos juniores, em condições irrepetíveis, a sua carreira não conheceu triunfos, seja na Selecção Nacional que, com ele, falhou o apuramento para o Europeu, em 1992, e para o Mundial, em 1996, seja nas selecções estrangeiras que treinou e de onde foi “despedido”, seja no Sporting ou no Real Madrid. Será um bom adjunto, como no Manchester, mas subordinado a uma personalidade forte como Ferguson.
Ontem, os erros foram clamorosos. Portugal, que precisava de ganhar, alinhou com quatro defesas centrais e sem ponta de lança!...
Claro que temos quatro bons centrais, mas não foram feitos para alinhar a defesas laterais. Se tivéssemos 4 bons guarda-redes alinhávamos com os quatro? E sem um rematador como se ganham jogos? Para quê então foram convocados laterais e pontas de lança?
E Ronaldo como capitão, depois das palavras desprimorosas proferidas contra os colegas?
Um fraco rei faz fraca a forte gente, já dizia Camões!...

Nem tudo é descartável!

Ouvi alguém comentar na rádio que a música nos tempos que correm é um produto descartável que, como tantos outros, produz-se, consome-se e deita-se fora. É um produto de criação intensiva, de grandes ou pequenas séries de produção, embalado por marketing especializado, o seu tempo de novidade é de duração curta e para o comum dos ”ouvidores”, como também acontece com muitos outros produtos, depois de utilizado é esquecido, não deixa rasto.
Mas a música, também, é moda, vai-se construindo e variando de acordo com “padrões” ditados por novas sensações, ganhando novas tonalidades e formas, exprimindo diferentes sabores, necessidades, vontades e desejos, acompanhando a transformação e evolução dos tempos. Por isso, a música é tantas vezes efémera e sujeita a uma curta existência, talvez injustamente, numa atitude de ingratidão por talentosos compositores, instrumentistas e cantores.
Mas como não há regra sem excepção, também é verdade que as pessoas em geral guardam recordações e memórias de músicas e de cantores por associação a períodos da sua vida, como é o caso, por exemplo, do tempo de juventude, e de acontecimentos importantes ou até associados a momentos especiais ou marcantes da vida. Acontece fazermos associações de uma música a sentimentos, pensamentos, pessoas ou lugares e, não raramente, a desejos. As músicas vividas algures no tempo, mais ou menos longínquo, acabam por ser um símbolo de vida, na medida em que nos deixam marcas e contribuem para a nossa formação e são um pouco do nosso “ser”. São músicas que nunca esquecemos, que nos ficam eternamente no coração, os seus cantores e as suas letras vivem connosco, mesmo que nos esqueçamos de as ouvir. São eternas. Quando as ouvimos vibramos, cantamos, embalamos, lembramos e somos como que transportados ao passado, com satisfação e alegria ou com nostalgia e tristeza, depende. Mexem com as nossas emoções, fazem reavivar memórias.
A este propósito lembrei-me do fenómeno musical que são os Abba. Lembram-se dos Abba, quando ganharam a Eurovisão nos anos 70 e da rampa de lançamento para êxitos atrás de êxitos? Não fui ver o filme Mama Mia que ainda está nas salas de cinema, mas há uns anos fui assistir a uma recreação musical dos Abba e gostei imenso.
Numa festa de um Amigo que festejou recentemente 50 anos, em que várias gerações se misturaram, foi impressionante constatar como a música dos Abba conseguiu resistir ao tempo, atravessar gerações e não ter sido enterrada pela música descartável dos tempos modernos. Os mais novos adoram os Abba. É como se, desde sempre, os tivessem conhecido. E o que dizer dos mais velhos? A música dos Abba é um exemplo de intemporalidade.
Hoje sei gostar mais dos Abba do que nos anos 80. Atribuo-lhes uma valorização que só o decorrer do tempo me permitiu fazer. A passagem do tempo tem destas coisas!

Mais palavras para quê?


"Se as eleições fossem só aqui, nem era preciso fazê-las. Eu ganhava com 80% dos votos", disse aos jornalistas, sorridente, o ministro Manuel Pinho em mais uma acção de distribuição de dinheiros públicos. Já estava claro. Apesar de se tratar de declarações de um dos mais sagazes e hábeis membros deste governo (e um dos valores mais seguros do PS), agora nenhuma dúvida resta sobre o que motiva o frenesim da distribuição do bodo aos pobres.

Viva pois o descaramento que a vergonha pelos vistos não compensa!

sábado, 28 de março de 2009

Pessimismo não cria empregos - e optimismo pacóvio, cria-os?

1. Esta semana mais uma curiosa tirada do PM: “pessimismo não cria empregos”.
2. Qualquer pessoa de mediano entendimento subscreverá uma declaração idêntica se proferida num contexto desapaixonado, fora do debate político.
3. A questão que aqui se coloca não é pois a do acerto ou desacerto desta declaração, em bruto, mas sim do significado que ela assume quando proferida num contexto de debate político, de 4. mensagem subliminar que visa valorizar a ideia oposta – a do optimismo, nomeadamente na modalidade conhecida por bacoco ou pacóvio.
4. Nesse contexto esta afirmação assume um sentido valorativo: o optimismo é defensável porque até pode ser susceptível de criar empregos…ao optimismo é atribuída uma valoração ética social positiva, relegando o pessimismo para um plano de reprovação, de ideia condenável.
5. Esta dialéctica encontra um bom exemplo de aplicação no caso Quimonda, que todos os dias tem ocupado os meios de comunicação social.
6. Desde o início deste caso que o Governo assumiu uma postura de optimismo – pela voz do PM, do Ministro da Economia foi sempre dado a entender que uma solução estaria garantida, não faltariam investidores, tudo estava a ser feito para resolver a crise da empresa de forma satisfatória sobretudo para garantir os postos de trabalho…
7. Nem o PM nem o Ministro da Economia teriam com certeza qualquer segurança quanto ao futuro da empresa nem quanto ao teor das soluções que poderiam ser estruturadas para assegurar a continuidade da respectiva exploração…mas como é bom ser optimista, porque não oferecer perspectivas risonhas?
8. Um bom exemplo do tipo de optimismo denominado bacoco ou pacóvio…para tranquilizar os interessados/incautos, promete-se uma solução sem ter qualquer certeza da sua viabilidade…esperando que pelo caminho possa surgir um milagre, salvando-se a empresa!
9. Quem quer que se atrevesse a por em causa esse optimismo seria apelidado de inimigo da Quimonda e dos postos de trabalho que a mesma mantinha, uma postura pessimista socialmente reprovável…
10. A Quimonda acaba de requerer a insolvência…todas as quiméricas hipóteses de solução do optimismo bacoco se esfumaram, não se descortinam investidores com propostas sérias e construtivas para salvar a empresa e os postos de trabalho.
11. Se desde o seu início o dossier Quimonda tivesse sido tratado de forma mais discreta e cautelosa, com realismo, sem o optimismo pacóvio e palavroso das autoridades lusas – e as sucessivas parangonas jornalísticas que difundiram um quadro de dificuldades susceptível de assustar muita gente – quem sabe se não teria sido encontrada uma solução que pelo menos desse resposta parcial à difícil situação da empresa?
12. Cabe assim perguntar – sendo certo que o pessimismo não cria empregos, será que o optimismo, em especial o de tipo pacóvio, é capaz de os criar?

Combinação extravagante!...

A carta anónima que deu origem ao processo Freeport foi combinada com a PJ, conclui-se do que diz Marinho Pinto.
Tanto barulho para nada!...Não houve alteração de legislação que viabilizasse o empreendimento, não houve aprovação do projecto, não há mesmo Freeport, ainda lá está a fábrica de pneus!...Podemos, pois, estar descansados!...
Mas que combinação extravagante que fez nascer um Freeport ilusório e virtual!...

Borras de café, lipodiesel, fezes e combustíveis...

Esta coisa de arranjar combustíveis alternativos começa a ser interessante.
Os biocombustíveis “primários”, milho, palma, cana-de-açúcar começam a perder importância face aos de segunda geração inspirados na reciclagem. Agora andam a obter combustível da madeira, de resíduos agrícolas, algas marinhas e microrganismos modificados geneticamente, e até já se pensa em bactérias artificiais capazes de utilizar energia solar libertando hidrogénio. Enfim, perspetivam-se alternativas cada vez mais atraentes. Entretanto vamos utilizando os óleos das frituras. De facto é uma excelente ideia porque, deste modo, conseguimos eliminar um produto utilizando-o como fonte energética. Mas os resíduos que podem ser utilizados com este fim estendem-se a outros produtos. As borras do café, por exemplo, contêm óleo que pode ser utilizado como combustível e tem ainda a vantagem dos gases dos escapes dos automóveis expelirem “aroma de café”. Para quem goste do aroma de café deveria ser uma maravilha andar pelas zonas mais poluídas das cidades, desde que não houvesse cafeína, caso contrário ainda poderiam ter uma crise de taquicardia.
Mas já que andamos numa de descobrir novas fontes de energia, fiquei surpreendido com a sugestão de um cirurgião plástico de Beverly Hills de usar a gordura removida pela lipoaspiração, dando origem a um novo produto, o “lipodiesel”. O que é mais interessante é que não lhe falta “combustível”, e a maioria dos seus doentes concedem autorização. Como não faltam obesos, poder-se-ão utilizar novos jazigos de combustível, radicados nas coxas, rabiosque e abdómen de centenas e centenas de milhões de seres humanos! Parece que um litro de lipodiesel é equivalente a um litro de gasóleo. Já me estou a ver a testar 40 litros de “gordura abdominal” proveniente de lipoaspiração sempre que tiver que me deslocar a Lisboa! Só não sei qual é o cheiro que vai sair pelo escape!
Numa sociedade em crise temos que ser poupadinhos e estimular a imaginação. Alguns dos exemplos já citados são prova disso, mas fiquei a saber que, em Oslo, em Setembro, 80 autocarros vão ser alimentados à custa das fezes dos seus habitantes! “As contribuições serão anónimas”. Não sei qual a razão! “As duas fábricas que tratam as águas residuais da cidade recolherão o gás metano proveniente das fezes”. Fiquei satisfeito por saber que tudo se resume ao gás metano. Sendo assim, não vai haver quaisquer problemas de cheiros! Mas ainda há mais. Esta medida norueguesa, mais barata em 40 cêntimos do que um litro de diesel, não aumenta as emissões do CO2. Como provém das fezes, e estas dos alimentos, o balanço final, em termos de emissão de carbono, é zero. Quem diria que a Noruega, que tem petróleo, tenha pachorra para se dedicar a estas coisas? Mas tem! Nós não temos petróleo, como é sabido, mas, relativamente à última “matéria-prima” temos cada vez mais, conforme se pode ver pelas copiosas “dejeções diarreicas” com que temos vindo a ser contemplados. Os responsáveis deveriam aproveitar essa fonte de energia e passaríamos a ser um produtor capaz de fazer inveja a meio mundo. Aqui estão algumas medidas capazes de contribuírem para a nossa sustentabilidade energética: fezes, lipodiesel e borras de café. Para começar, não é mau!

sexta-feira, 27 de março de 2009

O pombo coxo

Escolhi de propósito um comboio mais tardio para regressar a casa. Já não me apetece andar a correr atrás do tempo, gosto de o aprisionar sempre que posso, calcorreando a baixa lisboeta sem outro objetivo que não seja misturar-me com a multidão, olhar para as mesmas montras sem as ver, cheirar a luminosidade da cidade, andar a pé, a imaginar outras épocas e eras que encheram a cabeça de muitos antepassados e que arquitetaram a nossa identidade. Sempre tudo igual, mas sempre diferente e cada vez mais bonita. Descubro sempre novos pormenores. Enquanto ia espairecendo com a paisagem urbana, tentando apagar as notícias de sabujice, de medo, de intimidação e de sinais antidemocráticos que começam a assolar a nossa sociedade, e que me preocupam sobremaneira, eis que de repente, ao aproximar-me de Santa Apolónia, vejo um carro da polícia a estacionar com “estilo nova-iorquino” à frente de uma esquadra. Saíram apressadamente três jovens polícias e uma pobre alma. Parei e olhei para ver quem era. Um maltrapilho com um barrete enfiado até às orelhas, fácies encardida e a coxear. A mão esquerda, deformada e sem vida, devia sentir inveja da dextra que agitava com um vigor meio febril um miserável saco. Caminhava penosamente à frente dos agentes. A meio do curto trajeto, sem manifestar qualquer receio, vociferou: - Oh Chefe! Eu já vou aí! Cá estou eu mais uma vez! Olhei para o busto de D. Manuel I, que se deve divertir com estes episódios tão ao seu gosto folião, e prossegui na minha marcha tentando questionar o que é que o pobre homem teria feito. Teria medo? Qualquer quê! Sentir-se-ia intimidado pela situação? Nem pensar. Aqui está, afinal, uma prova de que o medo não existe na sociedade portuguesa.
Na estação vários pombos atrevidos olhavam com sobranceria à espera de receber algumas migalhas. Paravam, olhavam e movimentavam a cabeça de forma pendular. Um deles, chamou-me a atenção. Caminhava de forma estranha. Coxeava. Um pombo a coxear? Foi então que vi que tinha uma malformação na pata direita. Ao andar não pendulava a cabeça, tinha que parar frequentemente, levantava a pata doente, dava a sensação de que ia sentar-se na cauda, era o mais calmo e não aparentava qualquer receio. Curiosamente era muito mais desenvolvido do que os outros. O tipo deu-me a sensação de que se aproveitava do aleijão para granjear migalhas, ao aproximar-se à vontade, ficando ali, à minha frente, cais não cais, à espera de qualquer coisita, mas sem aquela altivez que os seus companheiros atrevidos revelavam. O bicho sabe da poda! E foi o que conseguiu comer alguma coisa. Uma passageira deu-lhe um pouco de pão. Assim que catrapiscou o alimento, levantou voo com requintada elegância, quase que não batendo as asas. No ar, a sua malformação desapareceu, era um verdadeiro príncipe. Lembrei-me do pobre do maltrapilho, um coxo de uma sociedade esquisita, à espera de um dia vir a ser também um príncipe, mas só quando levantar voo de vez...

Bons sinais no horizonte!...

O FC Porto é o clube que mais adeptos conquista por mérito, enquanto Sporting e Benfica garantem apoiantes pela área geográfica ou influência familiar é uma das interessantes conclusões de um estudo apresentado esta semana nas jornadas do Instituto Português de Administração e Marketing sobre o fenómeno desportivo. Mais se concluiu pela evidência do aumento do número de simpatizantes do emblema azul e branco, particularmente visível nas idades inferiores a 40 anos e tanto maior quanto mais se desce na idade.
Bons sinais no horizonte. E grande sabedoria no critério qualitativo da escolha. Nem tudo está perdido, pelo que podemos ter esperança!...

Preparem a comenda!

Num daqueles programas da rádio, creio que da TSF, em que, desafiados, cidadãos descarregam a bilis e lançam para o éter o que lhes vem á veneta entre comentários de doutos especialistas e complexas análises de responsáveis políticos, numa mistura que soa quase sempre ao que há de mais patético, apareceu um soldado da GNR com apurada consciência social. Disse ele que, perante a crise, deixou de autuar por compaixão para com os seus concidadãos prevaricadores mas pobres. O seu original contributo para rechaçar a crise é a poupança na coima.
Dê-se a conhecer o herói que vem aí o 10 de Junho!

METRO do Porto: prejuízo superior a € 148 milhões, qual o problema?!!!

1. Foi ontem notícia o prejuízo de € 148,3 milhões registado pela Empresa Pública do Metro do Porto em 2008.
2. Primeiro apontamento: ter sido notícia de destaque esse prejuízo enquanto que outros bem mais elevados registados por empresas públicas do mesmo ramo de “negócio” – cuja gestão apresenta coloração política distinta, todavia... – passam completamente despercebidos.
3. Deve admitir-se que a cor dos prejuízos, quando rosa, os torna menos visíveis, pelo que não constituem motivo para tão grande publicidade – as agências de comunicação talvez saibam explicar este curioso fenómeno de mimetismo económico...
4. O mais importante não é todavia esse curioso fenómeno de m imetismo mas sim o facto de este prejuízo ter sido motivo para um ou outro comentário de insatisfação, tendo o próprio Ministro das Finanças vindo a terreiro explicar que “iriam ser tomadas medidas” para corrigir esta (inaceitável) situação...
5. Confesso a minha perplexidade perante estas reacções – mas então o mais importante, o grande benefício para o País (e para o Porto, embora em 2ª linha), não foi o investimento feito no Metro do Porto? Não foi isso que criou empregos, deu trabalho às empresas, dinamizou a actividade económica – como costuma proferir solene e sapientemente o PM?
6. Se o País já beneficiou com os investimentos no Metro do Porto, que provavelmente vão continuar, com os planos de expansão - embora bastante atrasados ao que parece - que importam os prejuízos de exploração de 2008 ou de qq outro ano?!!
7. Não é essa precisamente a lógica que preside ao famoso Programão? Alguém se vai preocupar com os resultados de exploração do novo Aeroporto, do TGV (linha Porto-Vigo em particular), das N auto-estradas mesmo que sem tráfego - quando o País vai beneficiar imenso com a realização dos investimentos, que tanto dinamizam a economia?
8. Que interessam os resultados/prejuízos de exploração destes projectos, depois de concluídos, se o grande, o verdadeiro benefício para o País está na realização dos próprios investimentos?
9.Espero pois que as medidas prometidas pelo MdasF em relação ao Metro do Porto consistam na aceleração – já! – do plano de expansão da rede do Metro, para que o País possa retirar o benefício que todos ansiamos com esses investimentos...
10. Sendo assim, renovo a questão preliminar: prejuízos do Metro do Porto – qual o problema?!!!

A arte de mal legislar

Faz bem o Pinho Cardão em trazer para aqui exemplos gritantes da violação do princípio constitucional do acesso de todos os cidadãos ao Direito, que começa por ser um direito a uma informação jurídica clara, coerente e intelegível.
Subscrevo a opinião dos que consideram que o problema em Portugal não é, manifestamente, a falta de lei. É, muitas vezes, o contrário disso, um excesso de regulamentação asfixiante da autonomia e da iniciativa individuais. Mas é também uma preocupante imperícia (para ser bondoso) na sua aplicação.
O fenómeno tem muitas causas, na base das quais está, na minha perspectiva, uma clara degradação do ensino do Direito em Portugal, observável no "estado" em que muitos dos recém-licenciados chegam às portas de uma qualquer profissão jurídica...
Creio, porém, não haver desculpa nem explicação para a falta manifesta de um sistema de controlo da qualidade das leis, que verifique, entre outras coisas, a congruência intra-sistemática e sistémica das normas, para já não falar em coisas tão elementares com a redacção em português de gente.
Todos os dias se tropeça nas consequências desta omissão. E sem que tenha necessidade de deitar mão a exemplo concreto (este post é aliás motivado por mais um caso de absurdo legislativo que tenho à minha frente), percebe-se mal que tendo o Governo lançado com pompa e circunstância o Programa Legislar Melhor, mas também na Assembleia da República se ouvindo vozes preocupadas - revelando a consciência, que é aliás transversal à Europa, de quão importante é a boa legislação -, nada se faça contra esta revoada de legisferação mediocre.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Percepção ou intuição?

"Portugal continua a ser um país relativamente seguro" - Ministro Rui Pereira, na divulgação do relatório que este país de relatividades já conhecia há longos dias, e que revela que no ano passado a criminalidade violenta cresceu 11% (pena é que não se divulguem os dados qualitativos, isto é, que tipos de crimes concretos se traduzem neste aumento).
Temos pois um responsável da segurança que nos diz que estamos a ficar relativamente mais violentos, mas que mesmo assim nos devemos dar por contentes porque aqui ao lado é bem pior.
Continuar a suportar posturas destas sem um audível protesto (ou recurso ao "pontapénokuterapia" de que nos falava o Professor Massano Cardoso), é que dá razão ao Ministro: somos mesmo de brandos costumes!

Ainda não tinha visto...

La eurodiputada Hanna Dahl vota en el pleno del Parlamento.- REUTERS


"La difícil conciliación entre la vida laboral y la vida personal comienza a abrirse camino, al menos en los círculos políticos. La eurodiputada danesa Hanne Dahl ha logrado compaginar su trabajo en el Parlamento Europeo en Estrasburgo con su papel como madre y ha asistido a la sesión de votación celebrada hoy con su bebé. " (El País)

Os bachareis das leis!...

Depois desta, mais uma amostra de um Governo de bachareis armados em doutores de leis!...

"Porque vivemos?"

No túnel de acesso à esplanada sobre o rio Mondego, no Museu da Água, reparo em garrafais letras vermelhas nas paredes, P, O, R, Q, U, E e depois da curva V, I, V, E, M, O, S, ?. Demorei um pouco a ler a frase como se fosse uma criança a juntar as letras. Curiosamente, lembrei-me da primeira palavra que a minha filha mais velha leu sozinha. Íamos de carro quando fui obrigado a parar devido ao sinal. A miúda olha para o hexágono e começa a ler as letras, S, T, O, P, e dá um grito de satisfação, STOP! E começou a ler. Neste último caso não manifestei tamanha satisfação, antes pelo contrário, fiquei acabrunhado perante tão inquietante interrogação: "Porque vivemos?". Pergunta muito simples e, ao mesmo tempo, altamente provocadora. Após o ponto de interrogação mais enigmático que conheço, estava escarrapachada, na restante parede, uma folha gigante de papel onde se podia ler muitas respostas e comentários. Li-os todos, na esperança de encontrar a resposta. Não a encontrei e queria tanto! De qualquer modo, deliciei-me com os comentários, ao ponto de os transcrever para o meu livrinho de notas. Como só muito poucas pessoas irão ler, lembrei-me de os levar ao leitor conjuntamente com a pergunta, “porque vivemos?”. Desconfio que ninguém irá dar a resposta certa. Mas não importa desde que cada um construa a sua...
Querem ler os comentários e as respostas? Aqui os têm: “Para imortalizar os nossos genes... ou talvez não”; “Por amor”; “Para melhorar o legado que deixarmos”; "Com gaivotas a barca serrana fica mais autêntica”; “Para sermos felizes”, letra de criança; “A Alexandra é muito amiga da água”, letra de criança, naturalmente; “Para simplesmente deixarmos as nossas memórias”; “Porque Sim!”; “Para orgulharmo-nos da condição humana”; “Para fazer da nossa vida uma obra de arte”; “Vivo para os meus filhos”; “A Mariana bebe água”; “Para os outros, Para sermos felizes”; “Para que os outros nos aturem!”; “Para nos lembrar...”; “Para crescer!”; “Para ter paixão”; “Para ir à escolinha", mais uma letrinha infantil; “Para fazermos o melhor para a Terra”; “Para apreciarmos a vida”; “Amote mt corazón”!, versão castelhana; “Viver para a diverção!!!”, nota-se muito bem através do ç!; “Por favor não deitem lixo para os rios!” mais uma vez o aviso de uma criança.
Graças a uma fina cortina de nuvens, que impedia a agressão do sol, aliada a uma temperatura ótima e à ausência de vento, sentei-me, ociosamente, na esplanada e gozei a leitura de um excelente livro, “Desisto”, de Philippe Claudel. Volta e não volta o tema do livro, ao conjugar-se com o raio da “pergunta”, obrigava-me a saltar do pensamento do autor para os pensamentos dos autores do placard, ao mesmo tempo que entremeava a seguinte questão: - Escrevo ou não um comentário? - Não, decidi. Não vou escrever. Prefiro adotar uma das respostas. Fiquei indeciso entre duas: “Com gaivotas a barca serrana parece mais autêntica” e “Para nos lembrar...”. A primeira correspondia à realidade. À minha frente pairava a barca onde dormitavam muitas gaivotas preguiçosas. Uma boa razão para viver. A segunda porque, por muito pouco, esteve à beira de dar a resposta. Malditos pontos...

Proteccionismo avança: promessas dos políticos são mesmo para esquecer...

1. Na declaração final da 1ª reunião do dos países do novo formato G 20 realizada em Washington em Novembro de 2008, podia ler-se: “Sublinhamos a importância crítica da rejeição do proteccionismo...comprometemo-nos a não criar novas barreiras ao investimento ou ao comércio de bens e serviços...”
2. Para reafirmar e ilustrar sua determinação, os “leaders” do G20 davam também conta de terem transmitido instruções aos respectivos ministros do comércio no sentido de completarem até final desse ano as negociações do Doha round para a liberalização do comercio mundial.
3. Que aconteceu desde então? É a interrogação, em tom irónico, do destacado articulista do Financial Times Gideon Rachman em artigo publicado na edição de 24 do corrente “The importance of empty words”.
4. Em primeiro lugar, observa Rachman, as negociações do Doha Round não foram concluídas, nem tampouco fechadas – continuam em aberto.
5. Mas mais curioso é o facto de desde a data da solene declaração do G20 até hoje, dos 20 países subscritores da mesma nada menos de 17 terem tomado medidas de natureza proteccionista de acordo com um relatório apresentado pelo Banco Mundial...
6. Algumas dessas medidas proteccionistas assumem mesmo a forma do que Rachman chama “plain-vanilla proteccionism”, que aportuguesando poderíamos apelidar de proteccionismo puro e duro, ou seja da imposição de barreiras da mais diversa natureza à importação de bens e serviços.
7. Entre essas medidas contam-se, por exemplo, (i) a proibição imposta pelo Congresso americano à circulação de camions mexicanos nas auto-estradas americanas, (ii) os novos subsídios anunciados pela União Europeia para a exportação de produtos agrícolas e (iii) os benefícios fiscais adoptados pela China e pela Índia como forma de apoio a empresas exportadoras...
8. As promessas dos políticos não são mesmo para levar a sério, tanto no plano nacional – que bem conhecemos e cujas consequências diariamente se ilustram no emagrecimento de nossos orçamentos – como no plano internacional tão bem evidenciado neste episódio...

Um sorriso amargo...

O nosso Caro jotaC deixou aqui uma “anedota” que é um mimo. Faz sorrir, mas com um sabor algo amargo. Porque será?

"Numa manhã, a professora pergunta ao aluno:
- Diz-me lá quem escreveu 'Os Lusíadas'?
O aluno, a gaguejar, responde:
- Não sei, Sra. Professora, mas eu não fui.
E começa a chorar.
A professora, furiosa, diz-lhe:
- Pois então, de tarde, quero falar com o teu pai.

Em conversa com o pai, a professora faz-lhe queixa:
- Não percebo o seu filho. Perguntei-lhe quem escreveu 'Os Lusíadas' e ele respondeu-me que não sabia, que não foi ele...
Diz o pai:
- Bem, ele não costuma ser mentiroso, se diz que não foi ele, é porque não foi.
Já se fosse o irmão...

Irritada com tanta ignorância, a professora resolve ir para casa e, na passagem pelo posto local da G.N.R., diz-lhe o comandante:
- Parece que o dia não lhe correu muito bem...
- Pois não, imagine que perguntei a um aluno quem escreveu 'Os Lusíadas'...respondeu-me que não sabia, que não foi ele, e começou a chorar.
O comandante do posto:
- Não se preocupe. Chamamos cá o miúdo, damos-lhe um 'aperto' e vai ver que ele confessa tudo!

Com os cabelos em pé, a professora chega a casa e encontra o marido sentado no sofá, a ler o jornal. Pergunta-lhe este:
- Então o dia correu bem?
- Ora, deixa-me cá. Hoje perguntei a um aluno quem escreveu 'Os Lusíadas'. Começou a gaguejar, que não sabia, que não tinha sido ele, e pôs-se a chorar. O pai diz-me que ele não costuma ser mentiroso. O comandante da G.N.R. quer chamá-lo e obrigá-lo a confessar. Que hei-de eu fazer a isto?
O marido, confortando-a:
- Olha, esquece. Janta, dorme e amanhã tudo se resolve. Vais ver que se calhar foste tu e já não te lembras...!
"

quarta-feira, 25 de março de 2009

Quem não percebe é burro!...

.do disposto no art. 119 da Lei 67- A/2007, de 31 de Dezembro e, com as necessárias adaptações
no nº 1 do art. 17º, com excepção da aplicação do último artigo referido na subalínea ii da alínea b).
(Trata-se do artigo 21º da Lei nº 64-A/2008, de 31 de Dezembro, Lei do Orçamento do Estado).
Claro que todos percebemos...a fantástica inteligência do Ministro que gerou tal lei e dos Deputados que a aprovaram...um e outros a justificarem, por merecimento próprio, um cursito de Novas Oportunidades!...

Esperança e paciência, diz Obama. E não só.

Ouvi ontem em directo grande parte da 2ª conferência de imprensa de Obama. As dezenas de jornalistas levantaram-se quando ele entrou e sentaram-se quando ele lhes fez sinal para isso, ele ficou em pé, de frente para eles, e chamava-os um a um, pelo nome, a dar-lhes a vez de perguntar. Parecia um aluno muito respeitado perante um júri de exame. Ou um político perante o povo que lhe legitimou o poder.
A parte económica correu-lhe bem, na medida em que tinha um discurso bem preparado, fluente aqui e ali ainda influenciado pelo tom eleitoral. Mas ao mesmo tempo foi defensivo, como se estivesse a antecipar críticas, a pedir que não se precipitassem no julgamento. Pediu paciência e compreensão, garantiu que não havia bolas de cristal e que a América não é um barco de comando rápido, leva tempo a reagir. Ficou com uma irritação mal disfarçada com a questão dos bónus milionários aos gestores da AIG, disse que estava tão incomodado como toda a gente com os excessos mas que era altura de pararem de apontar o dedo a Wall Street porque muitos ganharam demais mas muita gente aproveitou da prosperidade e, se tivessem paciência, com o resultado das medidas em breve as pessoas poderiam voltar a pagar casas e automóveis porque haveria dinheiro. Mas acrescentou com ênfase que tinham todos que trabalhar em conjunto, com os olhos postos no médio e longo prazo e não apenas no curto prazo, que ninguém tinha soluções milagrosas e cada um tinha um papel a cumprir.
Já nas restantes perguntas, todas muito precisas e claramente enquadradas e formuladas, a atitude foi muito diferente, como se tivesse saído da cartilha bem estudada. As respostas saíram lentas, cada palavra bem pesada antes de ser dita, os olhos postos no chão enquanto avaliava a resposta. O ritmo quebrou-se e houve mesmo um ou outro momento em que ele parecia que não ia responder, num contraste incrível com a imagem vitoriosa e confiante a que nos habituou.
Reconheço que deve ser uma rude prova, ver-se ali exposto a qualquer pergunta, tudo em directo, sem discurso preparado no écran, ainda por cima em momento de enorme tensão porque a crise aperta e não se sente alívio.
O mais interessante é que depois houve os habituais analistas e comentadores e a primeira análise que fizeram foi que ele não tinha dito nenhuma mentira. Seria mesmo por isso que ele tinha falado tão devagar, não só para não cometer gafes como a que já cometera quando entrevistado num programa de televisão, em que disse uma piada muito politicamente incorrecta, mas sobretudo para se assegurar que não estava a faltar à verdade. Esse difícil equilíbrio entre dar esperança sem omitir a verdade da situação é o grande escrutínio a que os povos dão primeiro plano. E é também a única forma de mobilizar as pessoas para enfrentar as dificuldades de uma forma solidária.

“Shirakuterapia”

Quando chego a casa à hora do almoço é frequente assistir ao rabo do programa do Jorge Gabriel. Não me deixa de surpreender. Um asiático, um diabético, uma senhora de meia idade avançada, um jovem e, naturalmente, o apresentador. Tema? Mais uma vez “terapias”. Gostam muito deste tema. Desta feita, o que é que irá sair daqui? Pensei eu. E não é que saiu a “Shirakuterapia”? Mas afinal o que é a "Shirakuterapia" (era o que estava escrito em nota de rodapé!)? Uma terapia que serve para tudo, ponto número um e que é igual a todas as outras. O asiático, que falava português, lá divagou com as suas teses de causas de doenças, resumidas apenas a três, e explicou que através de pequeninas picadelas nos dedos das mãos e dos pés, mais massagens nesses pontos, estimulava o sistema imunológico, as energias e sei lá que mais. O mais jovem, com uma agulha – daquelas que os diabéticos usam para medir a glicemia -, ia espetando nos dedos da senhora, que tinha muitas maleitas, reumatismos, formigueiros, e, ao fim de algumas picadelas, duas ou três, já estava melhor. O senhor mais idoso era a prova viva de que aquela terapia funciona. O Sr. Frutuoso, diabético, insuficiente cardíaco e insuficiente renal, a tomar doze medicamentos por dia, e à beira de fazer hemodiálise, foi ao professor asiático que lhe resolveu o problema! Enfim, o homem só toma agora dois comprimidos por dia. O animador cultural perguntou ao oriental se também funcionava com as doenças do foro oncológico. Antes de responder, já eu tinha previsto: Claro que funciona! E não é que o senhor disse que sim! A cara do Jorge Gabriel era de um desconfiado, o que deve ter produzido algum efeito no professor que disse que neste casos os médicos têm, também, que atuar. Pois é! Nós também temos que atuar, mas só depois da Shirakuterapia!
Mas será que estes programas matinais servem para alguma coisa? Eu, pessoalmente, não me coibiria de fazer “Pontapénokuterapia” naqueles agentes culturais que poluem as mentes de muitos ingénuos e incautos. Garanto que se trata de uma terapia altamente eficiente, sem necessidade de recorrer à medicina.
Irra! É demais. Como é possível promover estas coisas?

terça-feira, 24 de março de 2009

“A Grande Fome”

Tive conhecimento que deu entrada na Assembleia da República, em Abril de 2006, uma petição (nº255/X/1ª) no sentido de ser reconhecido pelo nosso país o genocídio praticado na Ucrânia, conhecido pelo “Holodomor”, a “Grande Fome de 1932-1933”, em que cerca de quatro milhões de pessoas foram deliberadamente exterminadas através do maquiavélico mecanismo da fome. Autor? O regime estalinista, que assim pretendeu reprimir a identidade nacional de um povo.
Têm sido tomadas, desde há alguns anos, muitas iniciativas com o objetivo de lembrar e condenar tão hediondo comportamento, entre as quais se destacam as seguintes: Declaração conjunta de vários países-membros das Nações Unidas (A/C.3/58/9), no decurso da 58.ª Sessão da Assembleia-Geral da O.N.U., em 10/11/2003; Mensagem de Sua Santidade João Paulo II, em 23/11/2003; Mensagem do Diretor Geral da UNESCO, Sr. Koichiro Matsuura, em 16/12/2003; Resoluções aprovadas respetivamente pelo Parlamento da Estónia (20/10/1993); pelo Parlamento da Ucrânia (15/5/2003); pelo Senado do Canadá (19/6/2003); pelo Senado dos Estados Unidos da América (21/7/2003); pelo Parlamento do País Basco (5/9/2003); pelo Senado da Argentina (17/9/2003); pela Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América (21/10/2003); pelo Senado da Austrália (31/10/2003); pelo Parlamento da Hungria (28/11/2003); pelo Parlamento da Lituânia (24/11/2005); pelo Parlamento da Geórgia (20/12/2005) e pelo Senado da Polónia (17/3/2006); Resolução da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, sobre a necessidade de uma condenação internacional dos crimes dos regimes comunistas totalitários, em 25/01/2006.
Apesar de haver apoiantes da tese da Assembleia da República “não ter por hábito abordar questões históricas” (palavras de Jaime Gama) - o que não a impede de ser bastante prolixa em “votos” de todos os tipos e géneros -, fico perplexo pelo fato de a petição não ter sido, mesmo assim, submetida a debate, e, pelo andar da carruagem, não descortino que algum dia suba ao hemiciclo, a não ser que seja subscrita pelos tais quatro milhar de cidadãos, salvo erro.
Mas haverá alguém que se incomode com algo que ocorreu há tantos anos, um estranho acontecimento que a maioria nunca ouviu falar e que matou pessoas do outro lado da Europa? Se formos por este caminho ainda vamos ter que condenar outros acontecimentos ocorridos nos séculos anteriores, o que é uma chatice! - Estão mortos, não estão? - Estão!
Convém não esquecer que a história tem o péssimo hábito de se repetir e nada melhor do que registar os acontecimentos para estimular a memória. Faz muito bem à saúde dos povos.
Perante esta situação não deixo de me interrogar: - Será que os senhores deputados têm algum receio ou “prurido” em debater este assunto? Nunca se sabe!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Erros de geometria variável

Por onde quer que um sujeito se vire, nada mais consegue ouvir, ver ou ler do que o erro do árbitro. Como se fosse o primeiro e o único a influenciar resultados!...
O futebol é um jogo, não é um processo químico onde entram oxigénio e hidrogénio e sai água, ou entra eucalipto e sai papel. É um jogo onde entra habilidade e técnica, táctica e estratégia, mas também sorte e azar, a sorte e o azar dos atletas e dos treinadores e a sorte e o azar dos árbitros. Embora incorpore elementos científicos, o futebol não é ciência, nem razão, mas é sobretudo emoção. Ninguém vibra, nem ao de leve, com a lâmina de papel que sai da celulose, mas muitos se emocionam com o golo que o atleta cria e faz nascer. O futebol tornou-se indústria e arte, arte e espectáculo, espectáculo e diversão, diversão e drama, alegria, mas também tragédia.
Os erros dos árbitros desculpam a impreparação dos dirigentes, as deficiências dos treinadores, a menor qualidade dos futebolistas. No momento, das derrotas são os árbitros os únicos culpados. No dia seguinte, é o treinador que é despedido e as equipas remodeladas.
De acordo com as circunstâncias, os erros são vistos de muitas maneiras. Consoante o beneficiado, há erros que são desculpados, mas outros iguais são agravados ao infinito. Nos primeiros, o árbitro tem boa nota, e errar é humano. Nos segundos, o erro é indesculpável e a conduta reprovável. Há erros inventados e tornados suspeitosos para serem investigados. E há erros notórios, claros, transparentes, evidentes, para ficarem acima de toda a suspeita. O erro claro iliba o beneficiado e o árbitro, o erro duvidoso condena o árbitro e o beneficiado.
Os erros também variam com os dias ou até as horas. O erro contra o qual o dirigente ontem bramava, porque a sua equipa perdeu, é o erro que hoje aceita pacificamente, porque fez ganhar a sua equipa. E se o primeiro indiciava a mais torpe das corrupções, o segundo evidencia a mais clara das transparências.
O erro que beneficia os grandes é empolado; o que prejudica os pequenos, esquecido. O jornalista ou o comentador adepto, por imparciais, é que certificam os erros do árbitro, por definição parcial. E julgam-no com todo o desdém, depois de vistas e revistas as imagens do jogo.
Mas há árbitros bons e árbitros maus. O árbitro de sábado já foi, e por muitas vezes, muito, muito bom para qualquer dos clubes que se defrontaram na final da Taça da Liga. E muito, muito mau para outros que contra eles jogaram. Nunca vi nenhum denunciar esses erros. Até acharam as vitórias justas. Nessas alturas, como agora, um e outro se tomaram por justos vencedores. Os erros a seu favor eram, obviamente, virtuosos!...

Economia: plano inclinado inclina-se cada vez mais - quem quer os "cacos"?

1. Os primeiros indicadores sobre o desempenho da economia portuguesa em 2009, divulgados no final da última semana por INE e BdeP evidenciam veloz deterioração da actividade, nas múltiplas frentes: (i) investimento com quebra superior a 20%; (ii) consumo privado em forte abrandamento; (iii) declínio acentuado das exportações de bens (-14,3%) e de serviços (-10.6%); (iv) défice orçamental sem controlo, com quebra súbita das receitas; (v) défice externo pouco inferior ao de Jan/2008, apesar da séria contracção económica.
2. Com o avanço do período eleitoral são de esperar agravamentos pelo menos na frente orçamental e no défice externo: todas as medidas “anti-crise” anunciadas deverão traduzir-se em mais despesa pública, basicamente improdutiva, pelo que aquilo que se pode esperar delas será o estímulo das importações, mantendo as exportações a tendência de forte queda – até nas exportações para Angola, nosso “refúgio” mais recente, é expectável um sensível abrandamento pelo menos.
3. Não existindo nesta altura nenhum factor positivo que nos permita esperar uma inversão deste cenário num prazo curto, digamos que até finais do corrente ano, é legítimo perguntar em que estado a economia se vai encontrar no final do ano...
4. Para responder a tal questão, parece útil analisar as coisas numa versão geométrica - aquilo a que se tem chamado o plano inclinado em que a economia se encontra tenderá, velozmente, para a posição perpendicular.
5. Com a aproximação à perpendicular, o efeito da gravidade - que em economia é por vezes tão activo como na física - poderá significar que uma boa parcela da economia corre o risco de ficar “em cacos” ...
6. Apreciada a esta luz, a disputa eleitoral do próximo Outono adquire um bizarro significado: os partidos políticos estarão disputando a primazia na tarefa de tentar juntar e colar (ou varrer ?) os “cacos” em que a economia ameaça transformar-se.
7. Á primeira vista, isto parece uma disputa eleitoral masoquista. Sendo incomensurável a magnitude dos problemas que o País – um País cansado, amuado e descrente, convém não esquecer – terá pela frente lá para o final do ano, alguém de bom senso poderá estar interessado em disputar esse tremendo fardo? Só mesmo por masoquismo, dir-se-á...
8. No entanto, esse aparente masoquismo tem uma explicação e uma “desculpa”: é a necessidade de reforçar a todo o custo ou de conquistar o domínio da máquina do Estado administração e do Estado empresarial para manutenção/distribuição dos respectivos lugares por uma formidável legião de "apaixonados" da política.
9. Só depois se pensará em juntar os “cacos”, para os colar ou varrer...com "paixão" é claro - há prioridades que devem ser respeitadas!

Para grandes males, grandes remédios!

Escrevi esta semana aqui no AR sobre o escândalo do comportamento imoral dos executivos da AIG. De entre os vários comentários, registei a nota do Caro André Tavares Moreira, que dizia “(…) já que o sistema jurídico deles (common law) não exige que existe lei para ser julgado, não seria erróneo arranjar uma figura jurídica nova para estes casos, e criar jurisprudência." Pois foi isto que, mais ou menos, acabou por acontecer.
Com efeito, a imoralidade do pagamento da AIG de bónus aos seus executivos – os mesmos responsáveis pela sua falência - com o dinheiro dos contribuintes, que o governo americano injectou para a resgatar da falência, gerou indignação nos meios políticos e na opinião pública.
Veio agora a saber-se que o total dos bónus pagos àqueles executivos, que ascendeu a 218 milhões de dólares, superou o montante de 173 milhões de dólares de fundos públicos que evitou a falência.
Não deixa de ser espantoso como podem ser pagos prémios de desempenho a resultados catastróficos, não se vislumbra como estes gestores são merecedores de um qualquer bónus.
O argumento despudorado dos gestores de que nada na lei proibia o pagamento de bónus de uma empresa à beira da falência é o espelho da total ausência de ética. Depois da polémica instalada, e porque não seria possível consentir em comportamentos imorais e desrespeitadores dos mais elementares princípios de cidadania e responsabilidade social, o Congresso dos EUA aprovou uma lei em tempo recorde para tributar até 90% os bónus pagos a executivos de empresas que beneficiaram dos planos de intervenção, lançados pelo governo, de combate à crise financeira. Para grandes males, grandes remédios!
Esta medida é um sinal político forte de que não são toleráveis comportamentos de enriquecimento sem causa à custa dos contribuintes e de que não bastam declarações políticas bem intencionadas, sendo preciso actuar sem evasivas, legislando. Um exemplo a seguir por outros países.
Ainda assim, questiono-me como é possível que estes executivos sem formação moral, socialmente censurados e castigados por lei, que certamente não merecem a confiança dos contribuintes, podem continuar à frente dos destinos da AIG (e das "AIG" deste mundo)!?

As papoilas saltitantes

"É altura de gritar «basta» contra erros dos árbitros!..."
Luís Filipe Vieira, em de 13 de Fevereiro de 2009

Em nome da verdade e da transparência, entreguem lá a Taça ao Sporting!...

sábado, 21 de março de 2009

Aurora

Rebatizaram a menina de dez anos com o nome de Aurora, o nome da deusa da madrugada, a deusa de “róseos dedos”, a condutora da carruagem que cruza o céu, anunciando o nascer de um novo dia ao abrir as portas ao seu irmão Hélios.
Mas para a Aurora em questão a vida iniciou-se não com o encanto do nascer do sol ou de uma suave Primavera mas com a brutal gravidez e os maus-tratos. No hospital, onde não se fazem abortos e em que a quase totalidade dos clínicos é objetor de consciência, foi tomada a decisão de interromper o pesadelo da criança, mesmo para além dos limites impostos pela atual lei. Conscientes do ato, pediram ao tribunal a exclusão de ilicitude do aborto. O juiz respondeu em tempo recorde colocando nas mãos dos médicos a decisão, ou seja, passou a vigorar apenas o critério clínico. Sábia decisão a dos intervenientes ao respeitar a “lei do humanismo”, sobrepondo-se a outras “leis”.
Aurora chora. Aurora não deve chorar, porque Aurora é símbolo da esperança, da beleza e da felicidade materializada no despertar de cada madrugada. Aurora merece uma verdadeira aurora.
A minha homenagem a todos os que participaram na humana decisão de ajudar a Aurora.

Passeio marítimo de Oeiras

Esta manhã foi inaugurado um novo troço do passeio marítimo de Oeiras, entre a praia de Santo Amaro e a praia de Paço de Arcos. O percurso é lindíssimo e a obra magnífica. Vale a pena passar por lá e verificar que aliando a capacidade de (saber) fazer à criatividade, é possível realizar obra em relação à qual muito poucos são os que não aplaudem.

A Bem da Nação!...

Segundo notícias de ontem, a alternativa escolhida pelo Governo para o percurso do TGV vai custar mais 1.000 milhões de euros.
Nada de estranhar. A única ideia que ocupa a vazia cabeça do Governo é que a despesa pública é virtuosa e quanto mais gastar, melhor. Tendo sido impedido de enterrar tal dinheiro na OTA, vê agora a oportunidade soberana de o desperdiçar no TGV.
A Bem da Nação, como Salazar gostava!...

Entre poupar e curar...

Volta e meia aparecem umas notícias nos jornais, meias desgarradas, que denunciam deficiências do SNS. Aparecem e depois desaparecem. Essas notícias relatam normalmente fragilidades graves do SNS. Mas depois ninguém fala nelas. As contas que são prestadas sobre o funcionamento do SNS, a qualidade do serviço prestado ou o nível de acessibilidade vão sendo feitas pela constatação daqueles que a ele recorrem e que perante a necessidade o ficam a conhecer. A ideia que está instalada é que o SNS funciona mal, foram feitos investimentos importantes em equipamentos mas não há médicos para os utilizar, foram-se embora para os hospitais privados. E, depois, há que acrescentar a gestão economicista, contra à qual nada tenho, muito pelo contrário, não fosse o facto de por causa dela os doentes não terem acesso em tempo, qualidade e custo aos serviços médicos necessários. Certo é que muitas dessas notícias denunciam situações graves, mas depois são inconsequentes, nada mais acontece. Mas o que relatam deveria merecer bem mais atenção.
Num deses rides mediáticos, o jornal Público dava conta esta semana da denúncia da Ordem dos Médicos de que há administrações hospitalares que estão a recusar o tratamento a doentes com cancro em fase terminal. Refere a notícia que as administrações dos hospitais de Santa Maria, S. João e da Universidade de Coimbra admitiram estar a restringir a entrada de medicamentos mais recentes para os tratamentos de doentes oncológicos, devido ao seu alto preço, como forma de conseguirem cumprir limites de aumento de despesa. É também relatado que agora é moda as comissões de farmácia e terapêutica dos hospitais recusarem ou não darem resposta à prescrição de novos medicamentos menos tóxicos e, por isso mesmo, mais caros. Fiquei, sinceramente, chocada com estes comportamentos.
Esta actuação coloca-nos perante problemas muito graves. O primeiro é o de saber como pode uma decisão administrativa impedir ou interferir na aplicação de uma determinada terapêutica estabelecida pelo médico. Ou seja, como pode uma decisão de administração sobrepor-se à decisão médica? Como pode uma política economicista impedir as melhores práticas médicas? Coloca-se, então, a questão de saber em que consiste a defesa do interesse do doente e da sua qualidade de vida?
É legitimo que a cura e a esperança de vida de um doente oncológico estejam dependentes não de critérios clínicos, mas antes de critérios estritamente financeiros? Que concepção é esta dos direitos do doente, que não defende o primado da saúde? Mas que ÉTICA é esta que rege os tratamentos oncológicos em função da poupança de mais uns milhares de euros com a vida de um doente? Mas que monstro de injustiça estamos a construir? Que lotaria é esta que o sistema obriga os doentes a jogar?
São muitas as vozes que agora apontam a falta de ética como uma das causas da falência do modelo do sistema financeiro mundial. Mas a falta de ética também está presente em muitos outros domínios da vida, alguns deles bem mais tangíveis que o mundo das activos financeiros. E a saúde é um deles. Mas será que há coisas que mereçam mais importância do que aquelas que vão ao mais fundo da essência humana?

sexta-feira, 20 de março de 2009

Nascimento Rodrigues

Num tempo em que a generalidade dos políticos se agarram como lapas aos cargos que ocupam, mais significado tem o desejo de Nascimento Rodrigues em ver-se substituído nas suas funções de Provedor da Justiça.
Exemplo raro, digno de ser enaltecido. A minha homenagem a Nascimento Rodrigues.

Tribunais da Amadora, Sintra e Mafra sem julgamentos durante um mês

Não se percebe porque razão os orgãos de comunicação insistem em dar notícia de factos banais.

O primeiro desemprego

O número de desempregados no Reino Unido atingiu ontem 2,03 milhões, o mais elevado em 12 anos e, entre eles, contam-se milhares que vivem pela primeira vez o drama do primeiro desemprego. A Inglaterra estava em crescimento económico há 16 anos e, até à crise, tinha um mercado de trabalho activo, flexível, a procura e a oferta eram regulares e a expectativa de emprego era positiva para quem tivesse qualificações e experiência. Todas essas expectativas se inverteram e as pessoas vivem com surpresa e desespero situações que antes julgavam impossíveis.
O Jornal inglês “The Guardian” publicou o testemunho de Paul Bright, um inglês de 59 anos que vive a amargura do primeiro desemprego da sua vida, sem perspectivas de voltar ao trabalho. Paul era gerente de fábrica em Essex e todos os empregados foram despedidos porque a fábrica se deslocalizou para os Estados Unidos. Aqui fica, numa tradução livre:
“Eu trabalho desde os 15 anos e tudo o que quero é voltar a trabalhar. Sou como um fumador que não sabe o que há-de fazer com as mãos desde que foi despedido – eu não sei o que fazer com os meus dias agora que não tenho trabalho. Nunca pensei vier a estar nesta situação, eu tinha um ordenado decente e agora até tive que vender a minha casa e ir viver numa caravana para manter as minhas despesas a um baixo nível.
Durante 28 anos dirigi uma fábrica e os meus empregados ficavam comigo em média 15 anos. Consegui construir uma atmosfera familiar e os técnicos eram muito leais e motivados. A empresa tinha 100 anos e todos acreditámos que tínhamos um emprego para a vida. Havia africanos, escoceses, italianos e todos colaboravam.Se os alarmes disparavam na fábrica a meio da noite eu podia chamar qualquer um deles para lá ir e ele resolvia o problema, raramente precisavam sequer que eu pedisse.
O meu irmão trabalhava comigo, bem como a minha companheira, Susan, que entrou como operária. Ela nunca tinha trabalhado porque teve que tomar conta da filha, que tinha cancro e acabou por morrer. Quando ela começou connosco ficou logo evidente que ela tinha demasiado talento para o posto onde estava. A empresa deu-lhe formação em computadores e mudou de departamento, quando nos disseram que iam fechar a fábrica isso foi ainda mais duro para ela do que para mim. Ela tem 55 anos e é uma máquina de trabalho, é o tipo de pessoa que faz o trabalho de três e chora de desespero quando não consegue acabar tudo.
No ano passado disseram-me que a empresa ia mudar e que eu tinha que tratar de tudo até Março, eu fiquei ainda três meses para ajudar à mudança mas no fim o choque foi terrível. As pessoas choravam e algumas adoeceram. Pedi a uma agência de emprego –Solomons – para ajudar as pessoas a arranjar outro emprego mas mesmo eles disseram que seria muito difícil.Eu nunca tinha estado desempregado e pela primeira vez inscrevi-me no desemprego.
Em conjunto, eu e a minha companheira ganhávamos 60 000 libras/ano e tínhamos automóvel de serviço. Agora temos subsídio de desemprego e recebemos 60,50 libras cada por semana. Os meus filhos são crescidos e tenho 14 netos, por isso não tenho ninguém a depender de mim.
Ao princípio julguei que em breve voltaria a ter emprego, mas não havia nada, nem nas agências nem no centro de emprego e todos dizem “não há nada para oferecer”. De repente percebi que não seria capaz de pagar a hipoteca e decidimos vender a casa no Essex e mudámo-nos para um pequeno andar arrendado. Todos os dias gastava pelo menos duas horas a procurar ofertas de emprego nos jornais e na Internet. Durante todo este tempo fui chamado apenas a uma entrevista e quando lá cheguei o lugar já tinha sido ocupado. Seis meses depois terminou o subsídio de desemprego e agora vivemos das poupanças, mas não vão durar para sempre.
Penso que deveria haver um sistema em que o subsídio fosse proporcional ao ordenado médio que recebiamos, porque agora se uma pessoa estiver a trabalhar durante um ano com baixo salário tem o mesmo direito que outra que tinha um salário alto e pagou impostos respectivos durante toda a vida.
Mas eu não quero viver da caridade e não quero receber mais subsídios. Um ano antes da fábrica fechar, a empresa disse-nos que iam fechar o fundo de pensões para aguentar a fábrica mais tempo, mas isso não aconteceu e agora o nosso dinheiro está num sistema público e teremos que esperar até ver se será possível recuperar alguma coisa, mas há dois anos que esperamos e não sabemos nada. Nós tínhamos planeado ficar no apartamento mas tivémos que reduzir ainda mais as despesas. Por isso, em Maio, mudámo-nos para uma caravana fixa, guardámos a mobília num armazém e logo que tivermos emprego arrendamos outro apartamento. È frio, mas tem uma paisagem bonita e temos suficiente espaço.
Eu quero um trabalho, mas já tenho 59 anos e os mais joven que eu agora também têm muita dificuldade. Ainda continuo a pedir referências aos meus antigos patrões mas eles próprios estão á procura de emprego. Mudei o meu currículo cinco ou seis vezes, comecei por indicar o salário pretendido e agora só indico “negociável” e aceitarei o que quer que seja que me permita viver. Eu era um “workaholic” e trabalhava 10-12 h por dia, precisava de me sentir útil e agora sinto que a sociedade não precisa de mim. Envelhece-se muito mais depressa quando se está desempregado, mesmo que se tente manter activo uma pessoa afunda-se.O meu irmão arranjou trabalho num fabricante de automóveis, disse que o contrato é de 8 h/dia mas trabalha 12 h sem intervalo de almoço, ao princípio aguentou mas acabou por adoecer, as pessoas que têm trabalho agora têm que manter a cabeça baixa e fazer tudo o que lhes pedem porque estão a competir com pessoas que aceitam a metade do salário mínimo. Duas jovens lá da fábrica agora trabalham como mulheres de limpeza, mas apenas três horas por dia e isso não dá para viver.
Eu sei que nunca mais vou ganhar o que antes tinha, mas tenho imensas capacidades: trabalhei como director de produção, logística, máquinas, finanças, área comercial, tenho uma experiência profissional fantástica mas afinal não tenho nem uma migalha. Preciso de voltar a trabalhar rapidamente senão torno-me desempregado permanente. Mantivemos o carro para o caso de encontrarmos emprego em Londres.
Na minha idade, não posso viver na caravana para sempre, se tivesse agora trinta anos não me preocupava nada, tinha a vida inteira à frente para trabalhar, mas só me restam cinco anos. Eu sou uma pessoa positiva, mas é muito difícil, uma pessoa fica afectada física e mentalmente e é claro que isso também afecta o relacionamento. Eu preciso de acreditar no futuro mas agora não tenho nada. Eu não consigo enfatizar o suficiente quanto quero ir trabalhar.”

quinta-feira, 19 de março de 2009

O cartão e o cidadão: a culpa é do sistema!...

Vai de mal a pior a minha sina quando contacto os serviços públicos. Ontem foi o que se viu. Em Janeiro, aqui, ali e acolá, contei as peripécias rocambolescas de três pedidos de cartão do cidadão no espaço de um mês, da multa que tive que pagar por terem roubado o primeiro, da não validação do segundo pelo facto de os serviços me terem fotografado com óculos, quando o deviam ter feito sem esse apêndice e da nova requisição.
Pois bem, recebi hoje uma cartinha cheia de códigos, o da morada, o da autenticação, o da assinatura digital e o do cancelamento, e em que me avisavam que o terceiro cartãozinho estava à disposição na Loja do Cidadão. Lá fui, de imediato, em busca do almejado documento. Tirada a senha, esperei, durante 70 minutos, a minha vez. Logo que me chamaram, e devidamente sentado, entreguei o aviso, o funcionário foi buscar o cartão a uma caixa e tratou de o introduzir na ranhura de uma máquina para o desbloquear e validar.
-Não lhe posso dar já o cartão, disse-me. Não pode? Porquê, se recebi o aviso para o levantar? É que o cartão não foi ainda desbloqueado. Vai dar-me o seu contacto, e nós vamos chamá-lo na altura oportuna...Está a brincar comigo! Já perdi demasiado tempo, há dois meses não pude levantá-lo porque um colega seu tirou a fotografia com óculos, esperei agora mais de uma hora... Telefone para os serviços, para solucionarem o assunto!...Não está nas minhas mãos…Se não está, chame o seu Chefe...
E lá fui conduzido à Coordenadora. Repetiu-me o mesmo discurso, teria que voltar quando me telefonassem, e até me dispensavam da bicha, seria logo atendido…Mas isto acontece muita vez ou foi uma excepção? É normal acontecer…Então o caso é mais grave. Quem é o responsável? Não há!...É o sistema!...O sistema, qual sistema? O sistema informático...
Ah, é o sistema!…E já falou com o Chefe do sistema? Sabe... Acontece que o sistema por vezes atrasa, tem avarias...Não podemos fazer nada…Claro, se o culpado é o sistema, não pode ser sancionado, a não ser com uma marretada!... Mas eu, eu, o que é que posso fazer? Pode reclamar no livro amarelo…Para quê? O livro não faz parte do sistema?
Já com pouca reacção, a Coordenadora voltou a assegurar-me que me chamariam em breve e seria atendido de imediato!...
E cá estou mais uma vez sem o desejado cartão!…
Mas que raio de sistema!…Agora com o pomposo nome de Instituto dos Registos e do Notariado!...Cujo Presidente, ele próprio, assinou a carta para levantar um cartão que os seus serviços não validaram para poder ser levantado!...Que praga de serviços públicos!...

A "sabedoria de Salomão”

Elefantenhaus am Graben Viena

No decurso de um debate sobre Bento XVI e as suas polémicas afirmações sobre os preservativos e a sida, os argumentos apresentados por ambas as partes, os que condenam a atitude do chefe da Igreja Católica, entre os quais me incluo, e os que defendem a sua posição não são conciliáveis nem para lá caminham. Mas afinal por que é que não ocorreram mudanças nos envolvidos? No fundo, como é facilmente compreensível, ficou tudo na mesma. Presumo que foi devido à forma demasiado assertiva com que os dois grupos abordaram a questão. Se "tivéssemos" feito as “coisas” de forma sugerida, discreta, subliminar, às tantas seria muito mais eficaz do que dizer expressamente o que pensamos. Faço esta análise com base em Borges que afirma o seguinte: “Talvez o espírito humano tenha tendência para negar as afirmações perentórias. Lembrem-se do que disse Emerson: os argumentos não convencem ninguém. Não convencem ninguém porque são apresentados como argumentos. Assim olhámos para eles, ponderamo-los, viramo-los de todos os lados, e decidimos contra eles. Mas quando uma coisa é apenas dita ou – melhor ainda – insinuada, há uma espécie de hospitalidade na nossa imaginação. Ficamos prontos a aceitar”.
Apesar de tudo valeu a pena, não porque tivessem ocorrido quaisquer mudanças, nem vai haver, como é óbvio, mas pelo facto de Salomão, não o bíblico, mas o elefante ter entrado em cena e com ele Saramago e o próprio Jesus Cristo.
A história que nos foi contada, a da menina que o elefante com a sua tromba entregou à mãe é maravilhosa. O pai agradecido fez nascer mais um monumento em homenagem ao nosso Salomão, "O elefante diplomata", presente na fachada da sua casa, a famosa “Elefantenhaus am Graben” de Viena.
Saramago na “A Viagem do Elefante” colocou na boca do Arquiduque Maximiliano rasgados cumprimentos ao condutor do animal o qual se apressou a dizer que tinha feito muito pouco, o mérito era todo do elefante.
A hospitalidade com que foi recebida a comitiva ainda está presente na imaginação dos descendentes que o nosso autor maior aproveita para a refrescar atribuindo ao Arquiduque uma das mais poderosas afirmações que devem nortear as nossas existências: “Se cada um de nós fizesse o muito pouco que lhe compete, o mundo estaria muito melhor.”
Quem diria que um elefante de verdade pode comportar-se num mundo de cristal sem fazer estragos? Antes pelo contrário! Será que o facto de ter sido batizado de Salomão terá tido alguma influência?

Assaltado o Tribunal de Caldas da Rainha

Não se percebe porque razão insistem os orgãos de comunicação social em dar notícias de factos banais.

A ética de curto prazo

Ao folhear um jornal deparei com uma estonteante sucessão de opiniões/notícias – é cada vez mais difícil distinguir umas e outras – que assumem agora diagnósticos óbvios e críticas ferozes ao que antes louvavam e recomendavam como guia e exemplo.
É hoje quase pacífico que foi um erro as remunerações dos gestores reflectirem directamente os resultados do ano de gestão, numa lógica de causa-efeito absurda e leviana. Visto do alto desta crise, até é difícil de acreditar como é que só raras vozes ousaram falar no assunto, para logo serem abafadas pelo coro de escandalizados e modernos entendidos.
Mas a questão subsiste e está na base, nem sempre audível, das discussões em torno dos prémios de produtividade ou da quantificação dos objectivos nas avaliações de todos os grupos profissionais.
Por um lado, podemos legitimamente questionar-nos se teria sido bem aceite socialmente que essas mesmas remunerações fossem mais prudentes mas mesmo assim elevadas o suficiente para manter o estímulo e reconhecer o talento com que se contava por parte do gestor, ainda que o resultado devesse ser aguardado a mais longo prazo. Ou seja, em vez de “pagar à vista” teriam os accionistas tido a capacidade de apostar longamente nos gestores seguros mas pouco espectaculares? O mais certo é que, perante um crescimento sensato mas contínuo, os ganhos distribuídos fossem considerados pouco brilhantes e os salários dos gestores fossem mantidos injustamente baixos, avaliados pelo decepcionante curto prazo em vez de o serem pelo promissor longo prazo. Talvez fossem mesmo substituídos com impaciência, hoje ninguém tem tempo para muitas reflexões nem para aguardar resultados, seja no futebol, seja na política, seja nos negócios.
Por outro lado, com os lucros ou as estatísticas mensais a crescer (?) e as engenharias financeiras a dar conta do recado, ninguém tinha a ousadia de dizer que o rei ia nú, tal como todos aplaudiam os sucessivos planos de redução de efectivos baseados na saída maciça dos mais antigos trocados por mais novos com salários mais baixos ou mesmo só estagiários e temporários. Do mesmo modo ainda que a concorrência garantida por regras puramente objectivas levou ao afastamento de fornecedores que, podendo embora vender mais caro, eram confiáveis e fiéis aos seus clientes e não meros vendedores de produtos, sem memória nem pergaminhos. Só para falar dos exemplos mais gritantes, porque esta alucinação colectiva justificou muitos disparates, na altura baptizados de estratégias eficazes e urgentes.
O imediatismo e a lógica material invadiram tudo, não foram só as remunerações dos gestores de topo nem a distribuição do valor aos accionistas, estes serão, uma vez mais, o reflexo mais imediatamente perceptível do reinado do sucesso fácil sem visão de futuro.
Acho muito bem que se apele à ética e que se volte a colocar na cadeia de valor muitos dos valores que foram decretados como estéreis.
Mas a ponta visível deste icebergue não pode esgotar as atenções críticas nem se pode esperar que seja só por aí que se volte à normalidade. O retorno da ética não se reduz aos efeitos de curto prazo…

quarta-feira, 18 de março de 2009

Praga de serviços públicos!...

Tendo que efectuar uma escritura de partilhas, tratei de actualizar previamente alguns artigos urbanos, enviando à Repartição de Finanças os respectivos justificativos. Passado algum tempo, e com data de 26 de Outubro de 2006, recebi as Cadernetas Prediais com a identificação dos prédios e os dados referentes às alterações efectuadas.
Para a escritura, obviamente, o Notário exigiu Declarações das Finanças recentes, que foram emitidas anteriormente à data da celebração da mesma, em 21 de Dezembro de 2007.
Pensava eu ser essa escritura o terminar de uma odisseia de longuíssimo esforço de acertos que levei a cabo entre a Repartição de Finanças, Notário e Conservatória, de forma a poderem ajustar-se os termos que satisfizessem as necessidades ou “caprichos” de cada um dos serviços, incapazes de dialogar entre si.
Odisseia que, afinal, não terminou. Há dias, a Conservatória anunciou-me a impossibilidade de alguns registos. Nem queria acreditar e lá tive que andar mais de 600 quilómetros para compreender a dificuldade. Que era simples. A Conservadora não podia fazer o registo, pois os dados das Finanças constantes da escritura não coincidiam com os que a Conservadora obteve das mesmas Finanças. É que as Declarações acima referidas emitidas pouco antes da escritura e entregues ao Notário, e que este tomou naturalmente como boas, mantinham as descrições anteriores às actualizações que essas mesmas Finanças já tinham anteriormente efectuado e que constavam da nova Caderneta Predial já em minha posse um ano antes!...
Fui obrigado a fazer uma escritura de rectificação e a pagar imposto de selo por um erro de que as próprias Finanças são as únicas culpadas.
Decidi apresentar à repartição a factura do imposto, do custo da escritura, das deslocações e estadias e da perda de tempo. Sei que vai ser uma luta, mas vou travá-la!...
Face ao tormento que o cidadão médio e comum passa com os serviços públicos, não se pode estranhar o ódio que muitos desses serviços justamente concitam. Ódio que obviamente merecem!...

Crise: primeiras luzes ao fundo do túnel?

1. Foram ontem divulgados dois indicadores – (i) um índice das expectativas económicas de especialistas financeiros para os próximos 6 meses na Alemanha e (ii) o número da construção de casas novas nos USA – que surpreenderam pela positiva.
2. No primeiro caso, trata-se de um indicador divulgado pelo instituto de análise económica ZEW, com sede em Manheim, que serve como barómetro da tendência cíclica. O respectivo valor subiu pelo 5º mês consecutivo, fornecendo uma noção de que a “bottom line” da crise na Alemanha não estará longe...
3. No segundo caso, trata-se de uma melhoria registada em Fevereiro na construção de casas novas, a primeira dos últimos 8 meses – uma melhoria de 22% em relação a Janeiro, aparentemente justificada pela redução dos custos de construção que estimulou a industria a produzir mais - invertendo uma forte queda que, com pouquíssimas interrupções, vem de Janeiro de 2007.
4. São ainda indicadores ténues e parciais...mas é sempre assim que se iniciam os novos ciclos...há que aguardar novos sinais para ver se o anúncio de melhorias tem continuidade ou se pelo contrário são pequenas luzes que se apagam...
5. Em sentido contrário, a equipa económica de Obama parece estar com dificuldade em definir um programa de saneamento do sector financeiro que seja convincente – parece existir nesta altura em Washington uma certa confusão em relação ao que cumpre fazer para restituir a saúde a um sistema financeiro dizimado por tantos escândalos e por perdas excepcionalmente elevadas.
6. E da Alemanha chegam vozes críticas quanto às medidas de apoio à economia decididas pela administração Obama – o Prof Christoph Schmidt, principal conselheiro económico da Chanceler alemã lançou um público aviso quanto aos efeitos inflacionistas dessas medidas.
7. O Prof Schmidt não deixou de sugerir eventual intencionalidade nesses efeitos inflacionistas como forma de ajudar a pagar os juros da dívida americana, que deverão registar uma forte subida em consequência da maciça emissão de dívida para o financiamento das medidas de apoio ao sector financeiro e a sectores não financeiros.
8. Era muito importante que as pequenas luzes ao fundo do túnel se intensificassem pois de outro modo, com os desentendimentos entre políticos de um lado e do outro do Atlântico a acentuar-se, a crise agradecerá...
9. Felizmente por cá continuamos no mais seguro dos mundos...o Governo está preparado para o pior, soube-se hoje...e agora promete a redução a 50% no valor da prestação dos empréstimos para compra de casa de que sejam devedores famílias com pelo menos 1 desempregado...
10. Fica-se sem saber se é redução definitiva ou se corresponde a uma moratória parcial da dívida durante 2 anos....ou se, feitas as contas no fim, nem uma coisa nem outra como noutras promessas...Eleições obrigam!

Falta de lei ou falta de Estado?

Continua a polémica sobre a "nova" lei das armas, como aqui se relata.
A questão, mais uma vez, não é de falta de lei, mas de falta de quem a aplique, pelo que a questão de saber se fica bem ou se fica mal incluir matéria penal no regime que regula a posse e utilização de armas, é uma daquelas polémicas que só se entende no actual contexto porque é bem conhecida a inclinação dos nossos parlamentares para o que é secundário.
Polémica e objecto de um vigoroso protesto, deveria ser a passividade como as autoridades toleram as batalhas entre grupos rivais, em plena rua, com utilização de verdadeiros arsenais de armas de fogo.
Polémico deveria ser o estado a que chegou o Estado, que nem a paz, a segurança e a tranquilidade públicas consegue garantir com os nossos impostos.
Polémico deveria ser o fenómeno de, em Portugal, país de pacatos cidadãos e de brandos costumes, para vencer o medo e conviver com o clima de insegurança, ter passado a existir um maior número de seguranças privados do que de polícias.
Polémica deveria ser a manutenção no cargo do MAI, mesmo depois de considerar que se regista um animador decréscimo das cifras negras da criminalidade após ser confrontado com os números que nos dizem que no ano transacto ocorreram mais de 2 crimes violentos por hora!
A discussão parlamentar sobre a "nova" lei das armas desvia a atenção do essencial e cauciona a estratégia do governo que, quando as políticas se revelam erradas, vê sempre na falta de lei a desculpa. Neste como noutros casos não existe falta de lei, existe sim falta de autoridade do Estado, uma fraqueza progressivamente acentuada que, numa conjuntura de maior sofrimento social, é o melhor estímulo para o crescimento da criminalidade.