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sexta-feira, 13 de março de 2009

Não há palavras...

Quem é que pode ficar indiferente ao caso do bebé que morreu no interior do automóvel do seu pai porque este se esqueceu dele?
O que pode levar um pai a esquecer-se assim do seu bebé, a apagar da sua memória, durante horas a fio, que não tinha cumprido a rotina diária da manhã? Como é que não lhe veio à memória que não tinha retirado o filho do automóvel, caminhando com ele até à creche, deixando-o nas mãos de uma educadora, provavelmente despedindo-se dele com um beijinho e um até logo, e caminhar de novo até ao seu local de trabalho? Como é que não sentiu o desconforto de que alguma coisa naquela manhã não estava bem, que algo estava em falta? Porque é que "adormeceu"?
Há aqui algo de incompreensível, para o próprio pai que, certamente, amando o seu filho não sabe como foi capaz de cometer um erro tão brutal.
Ouvi umas pessoas discutirem, com um certo encolher de ombros, como que aceitando a fatalidade que não tem que surpreender, que a culpa de um tal comportamento está nas vidas agitadas destes tempos, na pressão permanente a que as pessoas estão sujeitas e nas dificuldades em conciliar a vida familiar e o trabalho. Comentavam que tudo é possível, que o mundo está de "pernas voltadas para o ar"! Ainda assim custa a aceitar que tanta coisa má seja responsável por esquecimentos tão desastrosos. Até porque, felizmente, acontecem raríssimas vezes.
Li no jornal que nos Estados Unidos um homem que se esqueceu do filho de tenra idade no automóvel durante nove horas, encontrado sem vida, foi julgado e absolvido de homicídio involuntário porque o juiz considerou que “nenhuma pena de prisão causaria mais dor do que aquela que o arguido já estava a sofrer”. Neste caso o pai estava convencido que tinha deixado o filho no infantário. Ficou provado que o pai (e a mãe) amava e cuidava bem do seu filho.
Tenho dificuldades em avaliar a tragédia humana destes casos, mas consigo pensar no sentimento de culpa que perseguirá estes pais para o resto das suas vidas.

11 comentários:

Bartolomeu disse...

Esquecimentos desastrosos que, mesmo quem por eles já passou, dificilmente consegue avaliar.
Ha uma boa vintena de anos, no "Cascais Shoping" andava com os meus 2 filhos ainda muito pequenos, a "fazer tempo" enquanto a minha mulher fazia compras numa loja e parámos em frente à montra de uma loja que vendia carros, aviões, etc. telecomandados. Passados poucos minutos, a minha atenção saltou para a montra de uma livraria. Automática e descontraídamente, rumei à montra da livraria, sem mais me lembrar que tinha os meus filhos comigo.
No entanto, passado algum tempo, assaltou-me a tal sensação esquisita de que algo não está bem e o mais caricato é que não conseguia perceber o quê. Era uma sensação algo semelhante aquela de quando vamos a sair de casa e achamos que nos estamos a esquecer de alguma coisa, colocamos a mão nos bolsos para confirmar se temos a carteira, a chave do carro, etc.
Quando derepente me lembrei que andava com os miudos é que foi o bom e o bonito. Parecia uma barata tonta a correr da esquerda para a direita, até me lembrar que tinha estado na montra do modelismo. Fui lá num pulo e aí o meu coração voltou a disparar, pouis o mais velho ainda estava pregado à montra, mas o mais novo nem sinal. Perguntei-lhe com toda a calma possível pelo irmão e ele apontou para um banco um pouco mais atrás e lá estáva o mais pequeno sentadinho, amuado por uma qualquer contrariedade com o irmão.
Meu Deus, aquele dia foi certemente o mais trágico da minha vida e ainda o mais feliz.
Sentei-me no mesmo banco com os dois miudos à espera que a minha mulher regressasse. quando ela apareceu, disparei-lhe imediatamente: não volto a vir às compras contigo ao shoping. -Porquê?
-Oh pá isto é uma confusão de gente e às tantas ainda perco os miudos.
Ela achou que era uma desculpa esfarrapada para não a acompanhar.
Compreendo perfeitamente a facilidade com que o pensamento e a atenção se dispersam sem que isso seja sinal de falta de amor ou cuidado para com os filhos. Em Portugal não existe o habito, mas em alguns países, quando as crianças ja andam, utilizam umas "trelas" para os ter sempre seguros. Por cá entende-se que as trelas servem para segurar os cães, mas sinceramente, entre não perder um filho e ouvir os "ladrares da caravana"... quero lá bem saber!

... disse...

É um pouco mais complexo do que diz aqui. Não faço esse julgamento tão rápido

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Nuno Nogueira Santos
Não há qualquer intenção de julgamento. Julgar competirá à justiça e não será tarefa fácil.
O que há é uma vontade de partilhar a minha perplexidade, dúvida, pena e compaixão.

PA disse...

estou completamente solidária com este Pai, que por mãos próprias, adquiriu o maior dos sentimentos de culpa e que o acompanhará na sua vida inteira.

quantos de nós, não cometemos falhas no cuidado dos nosso filhos e que só por sorte não deu para o azar ?

Só mesmo um esquecimento fruto sabe-se lá de que dose de stress pode explicar um acidente desta natureza.


Eu nunca aplicaria uma sanção a este Pai. Já tem o castigo na sua pp consciência, quanto baste... ad eternum.

Uma vez presenciei uma situação, em que uma criança se encontrava fechada dentro de um carro e chorava sózinha. Idade: cerca de 2 anos ou menos. Claro que me chamou a atenção, e não arredei pé dali, até perceber o que se estava a passar, começei por acenar-lhe com as chaves do meu carro para o distrair do choro. Mas não resultou. Bom, pensei para mim. Vou chamar a polícia, pq em alternativa a minha vontade era partir o vidro do carro e tirar o miúdo. Começou-me a faltar o ar e começei a ficar revoltada, pq era impensável que alguém deixasse ali aquele pequenote. Passaram entre 15 a 20 minutos. E o miúdo "berrava". Chega a polícia. E eu disse ou se parte o vidro ou os senhores arranjam uma forma de tirar a criança dali.

Pensava para mim, ... quando a mãe ou o pai chegarem vão ter que me ouvir.

Chega a mãmã. Tinha ido a uma Clínica marcar análises.

Juro que me apeteceu bater-lhe. Mas claro que não o fazia.NO entanto, disse-lhe:

- Olhe Minha Senhora, este seu comportamento deveria ser comunicado à Comissão de Protecção de Menores, porque revela da sua parte, a total incapacidade e ausência de sentido da responsabilidade, para cuidar de uma criança.

E virei costas, para não fazer ou dizer algum disparate.


O caso deste Pai é bem diferente, do esta senhora, que preferiu a comodidade de deixar o filho no carro, para não ter de o levar com ela.

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bartolomeu disse...

Caro Paulo,
Se o 4R constituísse uma comissão para avaliação da sua perspicácia e me convidasse para constituir o juri, atribuir-lhe-ia pelo seu julgamento, numa escala de 0 a 15, 5.
Isto porque, o significado da palavra "aluado", pode ser, fulano influenciado pela lua, com o cio, ou amalucado.
Como pertenço ao sígno do zodíaco que corresponde à casa do caranguejo e este sígno é regido pela Lua, posso atribuir-lhe a nota 5 acertivamente.
Mas é claro, que este considerando diz respeito únicamente à minha pessoa e nem ínfimamente ao colectivo de autores e comentadores que compõem esta "comunidade" bloguista e que tão amávelmente nos acolhe.

Suzana Toscano disse...

Um pessoa vê isto e tende a pensar "a mim não me acontecia, eu era lá capaz de me esquecer", mas há horas do diabo e todos nós conseguimos lembrar-nos de um ou outro episódio que, não fosse o diabo estar distraído nesse momento, poderiam ter sido uma catástrofe para as nossas vidas. O caro Bartolomeu conta aqui uma história que é quase banal, um segundo de distracção e as crianças somem-se, lembro-me bem como me criticavam por ser excessiva, quando estava com as minhas filhas concentrava-me nelas,tipo cão de guarda, e mesmo assim posso bem recordar dois ou três momentos de terror absoluto porque as perdi de vista. Um deles numa piscina em casa da minha irmã, enquanto eu secava a mais velha que já estava farta de tanto banho a outra, com três anos, foi atrás dos primos e saiu da zona onde tinha pé,por sorte um dos garotos viu-a afundar-se e largou aos gritos a chamar-me, nenhum dos adultos tinha dado por isso.
Talvez aquele pai não tivesse na sua rotina deixar a criança no infantário ou talvez estivesse mesmo tão alucinado com as suas obrigações profissionais que "bloqueou" outras obrigações, mesmo aquela fundamental.Que infelicidade!

Pedro disse...

Caro Bartolomeu,

Eu usei aluado com o sentido de distraído, que este significado não consta no wikidicionário é um facto. Mas como não tenho um dicionário de português à mão, não sei ao certo até que ponto o sentido distraído é defensável e também se o que o wiki diz faz sentido.

O termo aluado pode ser lido como pouco elogioso, mas obviamente não foi com este sentido que foi escrito.

Agora que a morte de vez em quando passa por perto de nós e dos nossos filhos isso é tão certo como estar vivo...

Cumprimentos,
Paulo

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caros Amigos
Foram deixados aqui episódios com crianças que poderiam ter um desfecho fatal. De facto, a vigilância permanente sobre as crianças é fundamental. Uma distracção, um comportamento facilitador pode redundar numa tragédia.
Mas não esqueçamos que há uma grande variedade de comportamentos possíveis de ser sancionados para situações também distintas aos quais devem corresponder uma graduação e uma ponderação distinta nos juízos a fazer e nas penas a aplicar.
Não esqueço o que passou, já lá vão uns anos, com uns amigos que perderam um filho de três anos pelo simples facto de a mãe ter, por segundos, atendido o telefone que tocava dentro de casa, movimento que se revelou suficiente para o miúdo correr livremente para se abeirar de uma bola que boiava na piscina!
O seu sofrimento foi tão grande que não haveria pena capaz de o aumentar. A dor permanecerá para toda a vida.

JR disse...

Boa tarde,

O programa Janela Aberta, do Rádio Clube Português, vem por este meio convidá-la para participar num espaço do programa dedicado à blogosfera.

Todas as quartas-feiras, às 15h30, juntamos dois bloggers para falar sobre um assunto que tenha gerado conversa nos blogs nacionais.

Esta semana (18/03) elegemos como assunto o caso da criança que morreu no interior do automóvel devido ao esquecimento do pai.

Estaria interessada em participar? O espaço tem cerca de 20 minutos e estaria à conversa com um outro blogger sobre esta temática.

Agradecemos a atenção, ficando a aguardar resposta, para o mail janelaaberta@radioclube.clix.pt.

Obrigada!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Agradeço o amável convite para participar no programa Janela Aberta. O 4R sente-se muito lisonjeado pela preferência.
Continuação de muitas felicidades para o programa Janela Aberta e, em particular, para o espaço dedicado à blogosfera.