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quinta-feira, 19 de março de 2009

A "sabedoria de Salomão”

Elefantenhaus am Graben Viena

No decurso de um debate sobre Bento XVI e as suas polémicas afirmações sobre os preservativos e a sida, os argumentos apresentados por ambas as partes, os que condenam a atitude do chefe da Igreja Católica, entre os quais me incluo, e os que defendem a sua posição não são conciliáveis nem para lá caminham. Mas afinal por que é que não ocorreram mudanças nos envolvidos? No fundo, como é facilmente compreensível, ficou tudo na mesma. Presumo que foi devido à forma demasiado assertiva com que os dois grupos abordaram a questão. Se "tivéssemos" feito as “coisas” de forma sugerida, discreta, subliminar, às tantas seria muito mais eficaz do que dizer expressamente o que pensamos. Faço esta análise com base em Borges que afirma o seguinte: “Talvez o espírito humano tenha tendência para negar as afirmações perentórias. Lembrem-se do que disse Emerson: os argumentos não convencem ninguém. Não convencem ninguém porque são apresentados como argumentos. Assim olhámos para eles, ponderamo-los, viramo-los de todos os lados, e decidimos contra eles. Mas quando uma coisa é apenas dita ou – melhor ainda – insinuada, há uma espécie de hospitalidade na nossa imaginação. Ficamos prontos a aceitar”.
Apesar de tudo valeu a pena, não porque tivessem ocorrido quaisquer mudanças, nem vai haver, como é óbvio, mas pelo facto de Salomão, não o bíblico, mas o elefante ter entrado em cena e com ele Saramago e o próprio Jesus Cristo.
A história que nos foi contada, a da menina que o elefante com a sua tromba entregou à mãe é maravilhosa. O pai agradecido fez nascer mais um monumento em homenagem ao nosso Salomão, "O elefante diplomata", presente na fachada da sua casa, a famosa “Elefantenhaus am Graben” de Viena.
Saramago na “A Viagem do Elefante” colocou na boca do Arquiduque Maximiliano rasgados cumprimentos ao condutor do animal o qual se apressou a dizer que tinha feito muito pouco, o mérito era todo do elefante.
A hospitalidade com que foi recebida a comitiva ainda está presente na imaginação dos descendentes que o nosso autor maior aproveita para a refrescar atribuindo ao Arquiduque uma das mais poderosas afirmações que devem nortear as nossas existências: “Se cada um de nós fizesse o muito pouco que lhe compete, o mundo estaria muito melhor.”
Quem diria que um elefante de verdade pode comportar-se num mundo de cristal sem fazer estragos? Antes pelo contrário! Será que o facto de ter sido batizado de Salomão terá tido alguma influência?

14 comentários:

Helder Ferreira disse...

Uma leitura interessante sobre o assunto. E não é que o Papa até pode estar certo?

http://www.usaid.gov/our_work/global_health/aids/Countries/africa/uganda_report.pdf

Bartolomeu disse...

É como diz, caríssimo Professor Massano Cardoso, ha razões que a razão desconhece e em boa verdade, a humanidade ainda não é mais que um recem-nascido "arriscando" os primeiros choros, mas animada por uma força invencível... chamemos-lhe fé... mas acima de tudo não percamos nunca a noção de fraternidade, foi essa creio (acredito, tenho fé) que o Nazareno desejou semear pelo mundo.

Pedro disse...
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Bartolomeu disse...

Meu amigo Paulo,
Descartar o chefe supremo da igreja católica, herdeiro da cadeira de S. Pedro, como se dum padre de província se tratasse (considera obscuro, um padre de província?)seria um sinal de completa incultura. Pelo contrário, e por não se tratar de um padre de aldeia é que esta troca de opiniões ganhou dimensão perante as declarações de um homem de quem se espera uma atitude humanista e em paridade com a realidade. O absurdo das declarações papais, situa-se unicamente na irredutibilidade da sua posição contra o uso de um artigo que apesar de de não ser seguro a 100% é por certo mais infalível que a aderência à prática da abstinência sexual, ou(e) da monogamia. Por isso terminei um comentário no anterior post do Sr. Professor Massano Cardoso, perguntando se unicamente por vontade do Santo Padre será possível que um leão deixe de caçar, uma hiena de rir, ou uma giboia de rastejar.
Ás tantas... é possível, quem sabe, afinal ele é santo... Santo António não conseguiu que os peixes falassem!? E S. Francisco, os lobos!? Então!?

Pedro disse...
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Bartolomeu disse...

Problema nenhum, caro Paulo, desde que monogamia faça parte da cultura desse povo, católico.
Caso contrário, é mais imediato o efeito do uso do preservativo, que a "evangelização e conversão" à monogamia e "consequentemente" à restrição da actividade sexual a um só parceiro.

Félix Esménio disse...

Reduzir este debate a um niilismo ético ou ontológico é como negar a existência do arco-íris.
Os problemas, tal como as soluções, não devem ser vistos a preto e branco.
O valor dos princípios pode, para alguns, ser absoluto. Eu prefiro acreditar que existe uma hierarquia objectiva e outra subjectiva. Por exemplo: a defesa da vida humana é, para mim, um valor inquestionável, apesar de, em muitas circunstâncias, a fidelidade a este valor ser penosa, incómoda, a roçar o insuportável. Quando falamos de violação, principalmente de crianças, homicídio, terrorismo, genocídio, etc., é difícil permanecer fiel ao valor da vida das pessoas (“monstros”) que perpetram esses crimes. Se assim é quando me encontro na posição de observador, imagino o que seria se a vítima me fosse próxima…
O uso do preservativo como instrumento de deboche existencial, ou sexual, parece-me injustificado, pois, mais do que fazer parte da solução constitui uma das causas da degradação e infelicidade humanas. Contrariamente, o uso do preservativo como parte de uma política de saúde pública, orientada para a defesa da vida humana, para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (incluindo também aqui os casais ditos “normais” ou tradicionais) e para o planeamento familiar, é, mais do que um uso cultural “moderno”, uma necessidade.
Não faz sentido, neste caso concreto, a defesa absoluta do princípio da abstinência ou do não uso do preservativo, mesmo que à luz de ideais religiosos orientados para a consagração do amor perfeito ou divinal. Esta posição, mesmo que admissível, no plano da exegese geral e abstracta, é sempre deletéria quando confrontada com as estatísticas da mortalidade em África. Dirão alguns que as campanhas orientadas para o uso massivo do preservativo não estão a resolver o problema da Sida, antes concorrendo para a continuidade de práticas sexuais descuidadas e para o enriquecimento de laboratórios farmacêuticos. Será verdade, mas apenas uma parte da verdade. Não é menos verdade que o uso do preservativo, por si só, pode ajudar a salvar muitas vidas de pessoas inocentes e pouco informadas. Não defendo o relativismo totalitário mas sim o personalismo intransigente. Nestas matérias alguma prudência e continência só podem contribuir para a eficácia e credibilidade da mensagem da Igreja, para o desanuviamento de tensões infundadas e para a paz social que se impõe em contextos muito conturbados como o que actualmente vivemos.

Lusibero disse...

PROF.MASSANO e BARTOLOMEU:deixo-vos um humilde comentário no texto sobre poesia de Maria Quintans

Pedro disse...
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Bartolomeu disse...

Caro Paulo,
Existe um problema de saúde entre outros, que afecta a população do mundo inteiro, chama-se SIDA.
A medicina, não a religião, estudou-lhe as causas e a morfologia do contágio, estudou ainda os processos de tratamento.
A medicina aconselha como medida mais eficaz e urgente para combater o contágio e a disseminação da doença, que se utilize o preservativo durante o acto sexual.
A medicina não contesta a utilidade da moralidade nas relações humanas, tão pouco a prática da monogamia, muito menos a deontologia cristã, ou de outras religiões.
A medicina compreende que para se salvar vidas humanas é necessário agir com prontidão e da forma mais eficaz.
A medicina não interfere nem opina acerca da doutrina de qualquer religião, a medicina não aconselha os crentes de qualquer religião a modificarem as suas crenças ou os seus cultos, a medicina demonstra que a solução para controlar o aumento de uma doença que não pára de vitimar seres humanos, está para já, no uso do preservativo em qualquer tipo de relação sexual.
Tão simples quanto isto meu amigo Paulo.

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Suzana Toscano disse...

CAros Bartolomeu, Paulo e FelixIsmenio, excelente troca de argumentos, até apetece dizer que todos têm razão, creio que será a conclusão mais acertada, ouvir todos e ponderar nos argumentos que podem esclarecer o tema, dando força a todos os meios que possam contribuir para combater o flagelo.

Yuri Nunes disse...

Caro Paulo, (coisa de quem que parecer culto!)
você fala sempre dizendo que a porcentagem é de 90%, verdade e mentira, na verdade é de 90 a 95, e que nessa comparação com casais em que um dos é portador do vírus a taxa real é MENOS que 1% então quando colocar algo nao puxe para o seu lado os dados, coloque o que de fato É!
E porque seria de certo aceitar a abstinência antes do casamento se personagens mesmo da bíblia não faziam? a bíblia é um livro escrito por alguém que está contando a história de outro (o que altera algumas coisas), sem contar o fato da época na qual eles viviam, então se você pegar um livro mitológico você levará tudo ao pé da letra(?!), a bíblia é para ser interpretada e não levada ao pé da letra, isso de sexo depois do casamento é uma formar de "obrigar" aqueles que queriam por desejo cometer o tal "PECADO" e não o faziam por medo de ir para o inferno, e claro quem se casa paga algo a igreja! (NÃO SOU ATEU! Eu fiz primeira eucaristia e tudo mais, mas prefiro tirar minhas próprias conclusões sobre o que de fato aconteceu e acreditar no que eu interpretei de todas religiões, para mim todas tem alguma parte da verdade), isso foi só para falar sobre essa balela das igrejas(outras religiões creem no mesmo) de só fazer depois de casar...voltando ao assunto, uma pessoa pode pegar AIDS (e diversas outras doenças) sem ter tidos qualquer relação, então o que garante que aquela pessoa virgem não foi infectada (você deve conhecer as outras formas, mais raras, de contágio), então o mais seguro é se usar a camisinha e o mais divertido é fazer quando você tiver vontade, e claro o parceiro também (para o seu exemplo da roleta russa uma resposta: melhor viajar 3000km de carro usando o cinto do que tentar essa peregrinação a pé ;D)
e não seja preconceituoso com a poligamia! se eu fosse poligamico todas minhas mulheres assumiriam um plano superior, eu aceito a poligamia desde que não seja imposta, se a mulher aceitar (ou o homem no caso de poligamia de vários homens) porque não? tem coisa pior que acontece e não ficam com tanta frescura! (a e existe alguns lugares onde a poligamia é por escolha, um desses lugares é no interior dos EUA)

NÃO É CRIME TER RELAÇÕES COM VÁRIOS PARCEIROS (AO MESMO TEMPO OU NÃO),então é camisinha na "cabeça" (com o perdão do trocadilho) e muita felicidade!

PS.:Agora me responda, o que é realmente seguro?
andar na rua? (não existe a chance de você tropeçar e dar de cabeça numa quina e morrer =O, NÃO SAIA MAIS DE CASA!)
ir para a igreja? (já tiveram vários desabamentos de edificações, então uma igreja também pode cair, ah claro, tome cuidado para nao tropeçar na rua!!
AMIGO NADA É 100% SEGURO!!

OBS.: ADOREI O QUE O FELIX DISSE, porque seriam os homens seres mais dignos que os animais?! Nem irei escrever nada porque você disse muito bem!

Yuri Nunes disse...

OBS.: O amigo Paulo falou que o Irã é o país mais civilizado dos mulçumanos??
AHH TÁ, ainda beeem, afinal essa notícia retrata apenas a civilidade do país: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1197160-5602,00-SAIBA+COMO+O+TWITTER+AJUDA+O+POVO+IRANIANO+A+COMBATER+A+CENSURA.html


TOTALMENTE CIVILIZADO!!