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segunda-feira, 20 de abril de 2009

Críticas do Presidente, estatísticas "rosa" e lnhas de crédito

1. O Presidente da República proferiu, na última 6ª Feira, um conjunto de declarações geralmente interpretadas, mal ou bem, como a mais aberta crítica até hoje dirigida à acção do executivo.
2. Uma das críticas aponta a obsessiva preocupação com as estatísticas que o executivo terá vindo a demonstrar, parecendo mais interessado na qualidade das estatísticas do que na efectiva resolução dos problemas sociais ou económicos que essas estatísticas oficialmente reflectem.
3. Tenho a noção de que existe de facto uma quase paranóia oficial em melhorar dados estatísticos, não poucas vezes à revelia da qualidade das soluções adoptadas, nos mais diferentes domínios da governação.
4. Existem inúmeros casos desse curioso fenómeno do foro “neurológico-político”, a que à falta de melhor poderemos denominar de estatísticas "rosa”, começando pelo campo da educação – a famosa melhoria das estatísticas dos resultados das provas de matemática à custa da simplificação excessiva dos exames – até às ultra-protegidas estatísticas do desemprego e às saborosas reformas da administração pública em que as estatísticas da eliminação nominal de serviços não têm qualquer correspondência na redução de estruturas e, em muitos casos, resultam mesmo em estruturas bem menos eficientes que as anteriores.
5. Depara-se hoje mais um caso deste tipo de estatísticas “rosa” envolvendo as famosas linhas de crédito que têm sido anunciadas a ritmo de enxurrada, supostamente dirigidas a combater os efeitos da crise económica que tem atingido mais duramente os sectores expostos à concorrência, como aqui temos assinalado, com particular dureza as PME’s e as micro-empresas.
6. Segundo a estatística agora divulgada, cerca de 25.000 empresas, sobretudo PME’s, teriam já utilizado essas linhas, beneficiando assim dos apoios contra a crise...
7. Todavia, destacados dirigentes empresariais, com relevo para Henrique Neto, cuja independência de opinião é bem conhecida, vêm negar os benefícios que as fontes oficiais pretendem associar a esta estatística, afirmando que os principais beneficiários destas linhas não são as empresas mas sim...os bancos!
8. Estou em crer que neste caso as razões se repartem pelos dois lados - o que não retira a qualidade “rosa” a estas estatísticas...
9. Não custa admitir que as tais 25.000 empresas, mais ou menos (o número nem me impressiona nem me merece muita confiança, mas isso pouco importa) tenham tido acesso às linhas de crédito, embora pense que muitas mais ficaram excluídas por não cumprirem os requisitos de acesso...
10. Mas também não custa aceitar que os bancos tenham aproveitado a situação para substituir crédito não garantido ou mal garantido por crédito concedido ao abrigo das linhas em que uma parcela elevada é suportada pelos mecanismos de garantia mútua.
11. Este último dado não deve admirar, pois nada obsta que as linhas de crédito sejam utilizadas para satisfazer compromissos financeiros vencidos ou em vencimento...as empresas necessitam de cumprir e os bancos não perdem a oportunidade!
12. Temos é de nos preparar para mais, provavelmente muitas mais estatísticas "rosa”!

6 comentários:

Tonibler disse...

25000 empresas a candidatar-se e a cumprir qualquer requisito estatal de questionários e patetices do género levava mais de 4 anos a aprovar metade. Não há 25000 empresas reais que se dessem ao trabalho de preencher a papelada toda. E, finalmente, não há 25000 empresas que estejam interessadas em linhas de crédito que não sejam a fundo perdido (esse fantástico eufemismo para "dinheiro dado"). Esse número é, obviamente, falso, como seria um que apontasse 25000 portugueses que se dedicam à fusão nuclear fria.

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,

Não tenho argumentos para o contrariar, pois o meu conhecimento do tema, na vertente "impacto da medida" se encontra limitado a esta estatística "rosa"...
A sua interpretação sugere que a razão estará mais do lado de Henrique Neto do que do lado da propaganda oficial, sendo porventura majoritários os casos em que a utilização da linha terá ocorrido mais por interesse dos bancos (não estou a dizer exclusivamente) do que por interesse das empresas...
Quanto ao número 25.000 admito que estejamos perante mais um caso de "confabulação numérica" em que S. Exas. se têm mostrado bastante pródigos...com a colaboração "infantil" dos "media", bem entendido...

André disse...

Caro Tavares Moreira,

Ao que parece a declaração de Cavaco incomodou Sócrates, e muito! Teve direito aquelas respostas bem conhecidas do nosso primeiro, usando léxico que até à pouco só era utilizado por B. Bastos.

Quanto à ineficácia das linhas de crédito, já tinha sido falado aqui neste blog, à época do lançamento da PME Investe não sei quantos.
Escuso-me de mais palavras porque Cavaco disse tudo e bem!

Tavares Moreira disse...

Caro André,

Estava aqui a magicar...porque não propor a nomeação de Olegário Benquerença para a distinta função de coordenador geral das estatísticas "rosa"?
Seria uma distinção bem merecida e até pode acontecer que o cavalheiro, com a destreza que evidencia para não descortinar faltas na grande área, se mostre especialmente habilitado a ver tudo de tons rosa...facilitando a produção de estatísticas com esse mesmo "tom"!
Que dirá o Pinho Cardão desta sugestão? Estou certo de que aplaudirá!

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

O problema com as "estatísticas" rosa é exactamente esse o problema: tratam-se de "estatísticas". No curso frequentado pelo actual primeiro ministro, possivelemente falhou a parte da aula onde ensina que os dados devem reflectir realidades que possam ser contextualizadas.
Vamos aos exemplos que são importantes:
Foram ajudadas 25.000 empresas que representam, grosso modo, 10% do total de empresas activas, (isto é juridica e fiscalmente vivas), em Portugal. Mas qual a percentagem do PIB que estas representam: 10%, 15% 30%? Que sectores e em que proporção?
Existem vários programas e muitos milhões, no entanto tambem existe uma enorme decallage entre o anunciado e o realizado:
Apoio ao sector automóvel, anunciado, em Outubro, Novembro, reivindicado pelas empresas em Janeiro, tendo o início da implementação sido concretizaado em inícios de Março. (A propósito, não se admire que os lay offs, neste sector se intensifiquem em Abril, Maio e Junho, porque o programa alcançará a sua maturidade nesses meses-até ao momento beneficiaram as empresas que tinham candiadturas à formação ultimadas, depois vêm as outras).
Apoios às exportações, seguros de crédito, anunciados quase mil milhões, mas vá lá pedir o seguro para uma operação para país terceiro, ou tem pedigree até à quinta geração, priva intimamente com o soba local e, pode assegurar que mesmo que o país vá à bancarrota voçê será pago, ou nem lhe respondem, respondem tarde ou então, estudam demasiado a operação.
Reestruturação da Administração Pública, leia um artigo interessantíssimo do editorial do Público de hoje, para perceber o que se passa nesta área. Basicamente baralham e tornam a dar,( de novo), as mesmas cartas, no que não são-completamente-originais, a novidade está em que o resultado, objectivo, é o seguinte: quando não estragam sobrepõem, quando sobrepõem não poupam.

No entanto, como dizem as "estatísticas" ajudaram 25.000 empresas, "deram" 2 mil milhões para apoios diversos e "reorganizaram" a Administração Pública e "simplificaram" a sua actividade.

E a afirmação do Sr Henrique Neto, face ao que lhe disse tem de ser partida em três partes, uma corresponde à verdade (na que corresponde a que os apoios não chegam às empresas, porque não são selectivos), outra que não corresponde à verdade( que o dinheiro fica nos bancos, porque, emprestar emprestam, mas aumentam o spread e asseguram que as dívidas antigas sejam pagas) e uma terceira que ninguêm sabe, nem o Governo : para que serviram, isto que efeitos tiveram, os dinheiros que foram disponibilizados.

Acho que deve pedir o Olegário, o Paixão, O Coroado e todos que considerar como exemplo de rigor e objectividade para arbitrar jogos de futebol, a contribuição para ajudar nessa árdua tarefa de "fazer" as "r«estatísticas" rosa.
Cumprimentos
João

Tavares Moreira disse...

Excelente contributo para a valorização deste tema, caro João...tb me parece que os trimestres mais próximos não serão famosos, longe disso...sobre este tema e se quiser ter a bondade, veja meu Post de hoje sobre a questão orçamental.