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domingo, 5 de abril de 2009

“Offshores” religiosos

No Afeganistão elaboram-se leis que obrigam as mulheres a terem relações sexuais pelo menos uma vez em quatro dias, a proibirem que saiam de casa sem ser acompanhadas por um elemento masculino da família, e para estudar, trabalhar ou ir ao médico só com autorização dos pais ou dos maridos. Uma lei aprovada no Parlamento, para satisfazer os xiitas que representam dez por cento da população. Regras próprias de um “offshore” religioso.
Fátima, uma muçulmana de Melilha, caiu nos braços “amorosos” de uma seita, Takfir Wal Hijra, a mais radical e extremista, que odeia todos os outros e que foi responsável pelo assassínio do seu noivo. Fátima, agora com 18 anos, conta como foi levada pela catequização. Inicialmente falaram-lhe de coisas bonitas e de bom, de Deus, do que esperavam dela e do que ela poderia dar a Deus e aos irmãos. Mais um “offshore” religioso.
Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo (que raio de nome!), que engloba um verdadeiro império em todos os sentidos, ao ponto dos “legionários” serem conhecidos, também, por “milionários de Cristo”, ia numa ascensão meteórica para, um dia, vir a ser um santo. Afinal não passava de um pederasta encartado, responsável por inúmeros abusos sexuais. E o papa anterior e o atual até sabiam! Mais um patrocinador de “offshore religioso”.
Manipular e instrumentalizar a credulidade de pessoas ou mesmo, nalguns casos, impor medidas legais para atingir certos objetivos é um sinal de profundo desrespeito pelos direitos dos cidadãos. Cada um é livre de fazer a sua escolha mas tem o direito de ser respeitado.
Um dos fenómenos que se prendem com este tipo de recrutamento tem a ver com a solidão e as carências de vária ordem que atingem os seres humanos.
Cheira a podridão, a solidão dói, o medo asfixia mas a sabujice triunfa.
Uma sociedade a esvaziar-se de princípios e valores, com perda de confiança, diminuição da solidariedade e vitória do medo, ameaça-nos com uma violência doentia.
Fenómenos de intimidação e de medo estão num crescendo exponencial, basta ver alguns episódios que nos cercam. Mas mesmo assim há quem não tenha medo, ou não se sinta intimidado, por bravura, por estupidez ou por necessidade. Aprecio os primeiros, lamento os segundos, entristece-me os últimos e abomino os que se aproveitam da fria solidão.
A solidão é muito perigosa e um petisco para seitas esfomeadas. Quando o Estado deixa de dar atenção e de proteger adequadamente os cidadãos há quem saiba atacar aproveitando a oportunidade para os manipular e explorar oferecendo este mundo e o outro, sobretudo este último. Sempre fica mais barato! Um bom negócio pescar almas. E nem é preciso que as seitas cumprem com as regras democráticas, se é que algum dia se preocuparam com isso, o que interessa é viver à custa da democracia, e conseguem-no com uma eficiência notável, mas ao menor sinal de perigo fingem que adormecem.
As palavras de muitos profetas e homens de bem estão disseminadas por todo o mundo e civilizações, acabando por serem incorporadas nas diferentes religiões. Partilham de algo em comum e de superior interesse para a humanidade. É fundamental para que a esperança não morra e para perpetuar o anseio de que melhores e mais saudáveis dias virão.
No nosso cantinho ocidental, ouvem-se vozes que obrigam a meditar sobre certos valores.
As Fátimas não devem ser instrumentalizadas, não é tolerável que se deixe andar por aí Marciais pederastas e não é admissível que se violem os direitos de mulheres com base em princípios religiosos, só para falar de muitos dos “offshores” religiosos que grassam por esse mundo fora e que são tão daninhos, ou mais, do que os outros que passaram a ser objeto de atenção à escala global. Além da crise económica, também há uma outra crise, a de valores, e esta última condiciona as demais...

1 comentário:

Suzana Toscano disse...

Caro Massano cardos, este alerta devia ser repetido muitas e muitas vezes, os offshores religiosos, ou que assim se qualificam, progridem quandoos valores que conhecíamos se anulam sem serem substituídos por outros que nos possam guiar e que provem ser melhores. Tasbém aqui não há "vazio de poder" e há sempre predadores à espreita de um belo terreno por cultivar, para se apoderar dele e ditar as suas leis. assistimos a isso todos os dias, como muito bem diz, e de muitas formas, tendemos a ser tolerantes, a achar que não se atrevem air longe de mais e um belo dia quando se dá por isso já estamos condicionados e já há uma quantidade de coisas que não é possível dizer ou fazer porque aliberdade foi reduzida.Sob a capa de religiões,ou de ausência delas, outras formas de domínio começam a surgir.