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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A Mensagem de Medina Carreira

1. Vi ontem a parte da entrevista de Medina Carreira a um canal de TV e apercebi-me entretanto do eco que a essa entrevista foi dado noutros órgãos de comunicação social.
2. Tenho em alto apreço a honestidade intelectual do entrevistado bem como a frontalidade e rigor das opiniões que vem expressando, repetidamente, ao longo dos últimos anos.
3. Parece-me todavia que este tipo de discurso “meio catastrofista” envolve um risco elevado para a eficácia da Mensagem que pretende passar: de tanto ser repetido – e nada acontecer aparentemente – começa a não ser levado a sério, pode até ser motivo para comentários bem-humorados.
4. O maior problema é que M. Carreira tem razão em quase tudo aquilo que diz e, sendo assim, a Mensagem duríssima que emite deveria ter consequências...deveria acontecer alguma coisa...alguém nos círculos do poder deveria sentir-se suficientemente incomodado ao ponto de dar um grande murro na mesa, assumindo uma mudança radical nos hábitos de vida da classe política – o grande alvo, a final, da duríssima crítica de Medina.
5. Mas como nada acontece, como ninguém parece incomodar-se com os seus comentários, as pessoas começarão naturalmente a pensar que M. Carreira é exagerado...e qualquer dia pouca gente, ao nível da opinião pública, lhe dará ouvidos.
6. Estamos num ponto (não vou dizer que estamos a chegar ao ponto em que...porque já chegamos) em que por exemplo o problema económico nº1 do país, segundo M. Carreira – o endividamento ao exterior – já NÃO TEM SOLUÇÃO.
7. Ao dizer que já não tem solução quero significar, tão-somente, que o crescimento do endividamento externo vai prosseguir INEXORAVELMENTE ao longo dos próximos anos, a ritmo muito elevado (entre 8 a 12% do PIB anualmente) - não havendo política económica desta classe política que consiga inverter este processo...E após 2013, com o fim dos fundos estruturais (QREN) a situação agravar-se-á naturalmente.
8. Não podemos olvidar que 5% do PIB – com tendência para aumentar – são já destinados a pagar juros/rendimentos ao exterior, pelo que, para o endividamento ao exterior deixar de crescer as demais componentes da balança de pagamentos correntes (comercial+serviços+transferências unilaterais) deveriam registar um excedente equivalente – uma hipótese não só inverosímil como impossível...pois as demais componentes, em conjunto, são e continuarão também largamente deficitárias...
9. É neste quadro que a novela do nosso endividamento/empobrecimento vai continuar INEXORAVELMENTE, enquanto M. Carreira muito justamente esbraceja e protesta...mas alguém, sobretudo na classe política se preocupa com isso?! Ninguém quer saber...até ao dia em que a factura começar a pesar brutalmente...
10. O mais caricato ainda será, como aqui observei há tempos, quando a inviabilidade deste quadro absurdo de endividamento se revelar em toda a sua crueza, que os políticos do regime venham a voltar-se contra os “profetas da desgraça” como M. Carreira, acusando-os de causadores da desgraça por a terem anunciado antes do tempo...
11. Esperem pela volta...

8 comentários:

L M D disse...

Medina Carreira tem toda a razão, desde o 25 de Abril os sucessivos governos que nos têem (des)governado nunca se interessaram por mais nada do que defender os seus interesses próprios e dos amigalhaços, por que raio é que se vão interessar agora?
Quem governa irá certamente descredibilizar Medina Carreira, quem quer governar irá usar os seus argumentos... até chegar ao governo claro.

jotaC disse...

Caro Drº Tavares Moreira:
Apreciei todo o texto e gostei, particularmente, da subtileza do ponto 10, que entendi como uma premonição...aposto que irá acontecer.

luis cirilo disse...

Existiam (?) algumas culturas em que era tradição matar o mensageiro portador de más noticias.
Provavelmente,e se pensarmos bem lembramo-nos de alguns casos,a classe politica portuguesa já foi adoptando essas práticas há algum tempo.
Não literalmente,como nas culturas referidas,mas "matando" politicamente aqueles que teimam em ver que alguns reis vão nús.

CCz disse...

Quando oiço Medina Carreira lembro-me de Jonas e da cidade de Nínive.
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Os habitantes de Nínive eram diferentes dos portugueses.
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A Bíblia inclui um pequeno livro com três páginas que conta a história do profeta Jonas, aquele que foi engolido por uma baleia.
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Esse livro começa assim:
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"A PALAVRA do Senhor foi dirigida a Jonas, filho de Amitai, nestes têrmos: "Levanta-te, vai a Nínive, a grande cidade, e profere contra ela os teus oráculos, porque sua iniquidade chegou à minha presença."
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Jonas, que conhecia os ninivitas e não gostava deles, sabia que se eles ouvissem as suas profecias se arrependeriam e que Deus os pouparia. Vai daí, desobedeceu a Deus e fugiu em sentido contrário para outra cidade.
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Medina Carreira há anos que vem profetizando a desgraça, não é preciso ser profeta, está tudo escrito nas estrelas como um resultado, como uma consequência perfeitamente normal das escolhas que fazemos.
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Quando finalmente Jonas pregou a mensagem em Nínine "Daqui a quarenta dias Nínive será destruída"... Os ninivitas acreditaram e, proclamaram um jejum, vestindo-se de sacos desde o maior ao menor. Até o rei se levantou do trono, tirou o manto, cobriu-se de saco e sentou-se sobre cinza. Por fim, o rei decretou "Fica proibido aos homens e aos animais, tanto do gado maior como do menor, comer o que quer que seja, assim como pastar ou beber."
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Diante de uma tal atitude ninivita, vendo como renunciavam aos seus maus caminhos, Deus resolveu perdoar-lhes e poupar a cidade.
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Pacotão do betão, treta, conversa, está tudo louco, trapalhada, tarantantan, matulagem da rua, fazer caridade com dinheiro emprestado por estrangeiros, ... termos que Medina Carreira costuma usar com muita propriedade.
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Por que não podemos ser como os ninivitas e mudar de caminho?

Tonibler disse...

Ora, caro Tavares Moreira, ninguém discute a dívida do Mississipi...

Eu acho é que estamos a substimar a mentalidade do português. Se a dívida cresce 12% do PIB, eu diria que quem nos emprestou o dinheiro está com um grande problema. Nós não, nós não fomos feitos para resolver problemas. Nós somos verdadeiros europeítas que achamos que problemas são para serem resolvidos no âmbito da grande construção europeia e, nesse âmbito, não é lícito que se discuta a dívida do Miss... de Portugal!

Tavares Moreira disse...

Bem lembrado, caro L M D.
Caro jotaC, já somos dois a apostar...
Caro luis cirilo, a quem o diz, a quem o diz...
Caro Ccz, muito mas muito sugestiva mesmo essa sua invocação bíblica (a.t.)de Jonas e dos ninivistas...o problema é que entre nós ninguém acredita que daqui a 40, 400 ou 4000 dias haverá "choro e ranger de dentes"...vidé a festarola com os enganadores 0,3% no Pib...zinho...
Caro Tonibler, registo seu inspirado bom humor e a lembrança do velho Mississipi, direi mesmo do nosso querido Mississipi, que tem inspirado os nossos maiores pensadores económicos e que tem iluminado o nosso Caminho de sucesso económico de forma tão auspiciosa...

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Nas situações de emergência, por vezes é necessário dar um berro, para se evitar um mal maior. Aliás, até podemos ser punidos se não envidarmos todos os esforços para conseguir evitar esse mal maior.
Nesse sentido, tenho que comentar que o Dr Medina Carreira não está a ser frontal, mas sim, avisar da forma adequada face á situação em que nos encontramos, para os perigos que estamos a correr.
Vamos viver momentos muito complicados, porque as suas previsões supõem a estabilidade dos pressupostos, isto é, que a situação internacional em geral e a europeia em particular, não sofrerão modificações. Mesmo com essa condicionante benigna, temos apenas mais três anos, ora com tanta coisa pode correr mal, o que pressupõe que poderá mesmo correr, volto a repetir, vamos ter uns anos muito complicados pela frente.
Cumprimentos
joão

Tavares Moreira disse...

Caro João,

Parece-me que estamos dizendo a mesma coisa, por terminologias paralelas: M. Carreira é frontal e, enquanto frontal, "avisa de forma adequada face à situação em que nos encontramos...".
Está de acordo?